SORRIA,
VOCÊ ESTÁ... II
O
obsceno sinal do dedo
Acaba de sair na imprensa: pesquisa revela
que os cariocas são vigiados por setecentas mil câmeras – um equipamento de
segurança para cada grupo de nove habitantes. Conclusão parcial: sempre haverá
alguém que terá visto você coçando discretamente, às vezes não tanto
discretamente, o nariz.
A sala mais divertida de um shopping não é a
do cinema, mas a da central dos vídeos de segurança. Cansado de ver filmes,
painéis de filmes, sacos de pipoca e portas do banheiro com a estampa colorida
dos heróis dos filmes, o funcionário do cinema, em sua meia-hora restante de
almoço, corre para a central. É um rito secreto. O leitor não será mais o
mesmo, depois de saber dessas coisas.
Isto é, você irá ao cinema com outros olhos.
Com olhos que olham aqueles que olham. Talvez, tenha de suportar um desencanto.
Ou, não. O fato de saber que há olhos vendo você lhe concede um poder superior:
tudo acontece sob o seu conhecimento, você sabe mais que os outros, os
distraídos, e enxerga através das paredes; sabe que por trás delas há olhos e
pode lidar com isso, a seu favor.
Resista neste momento à cena já ultrapassada
de dar tchauzinho ou fazer caretas. O sinal de coraçãozinho com as mãos,
apontando depois para a tela, é ridículo, por favor, não faça. Apenas, sorria,
pois você está sendo filmado. Deixe que esses olhos ocultos pensem que você não
está nem aí.
Agora, se você for mal atendido na bilheteria
ou na fila da pipoca, pare a meio metro de uma parede, olhe fixamente para o
meio dela e faça aquele famoso sinal do dedo.
Do dedo polegar virado para baixo. Você foi
filmado e não sorriu. Não curtiu.
Maurício Pássaro
www.acolunadoservidor.com
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