terça-feira, 12 de novembro de 2013

SORRIA, VOCÊ ESTÁ... II


SORRIA, VOCÊ ESTÁ...  II

O obsceno sinal do dedo

 

Acaba de sair na imprensa: pesquisa revela que os cariocas são vigiados por setecentas mil câmeras – um equipamento de segurança para cada grupo de nove habitantes. Conclusão parcial: sempre haverá alguém que terá visto você coçando discretamente, às vezes não tanto discretamente, o nariz.

 

A sala mais divertida de um shopping não é a do cinema, mas a da central dos vídeos de segurança. Cansado de ver filmes, painéis de filmes, sacos de pipoca e portas do banheiro com a estampa colorida dos heróis dos filmes, o funcionário do cinema, em sua meia-hora restante de almoço, corre para a central. É um rito secreto. O leitor não será mais o mesmo, depois de saber dessas coisas.

 

Isto é, você irá ao cinema com outros olhos. Com olhos que olham aqueles que olham. Talvez, tenha de suportar um desencanto. Ou, não. O fato de saber que há olhos vendo você lhe concede um poder superior: tudo acontece sob o seu conhecimento, você sabe mais que os outros, os distraídos, e enxerga através das paredes; sabe que por trás delas há olhos e pode lidar com isso, a seu favor.

 

Resista neste momento à cena já ultrapassada de dar tchauzinho ou fazer caretas. O sinal de coraçãozinho com as mãos, apontando depois para a tela, é ridículo, por favor, não faça. Apenas, sorria, pois você está sendo filmado. Deixe que esses olhos ocultos pensem que você não está nem aí.

 

Agora, se você for mal atendido na bilheteria ou na fila da pipoca, pare a meio metro de uma parede, olhe fixamente para o meio dela e faça aquele famoso sinal do dedo.

 

Do dedo polegar virado para baixo. Você foi filmado e não sorriu. Não curtiu.

 

 

Maurício Pássaro

www.acolunadoservidor.com

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