ESPÍRITO DE NATAL
ESPÍRITO DE NATAL
Comemorando o nascimento do PAPAI NOEL
O espírito natalino chega às repartições públicas. Como é lindo de se ver o Papai Noel enfeitando os vidros, empunhando sua charrete dourada carregada por sorridentes renas alegres. O calor sub-saárico de 50 graus do ambiente até faz derreter a neve sobre a qual escorrega o velhinho. Como é sabido, o ar-condicionado da repartição é um aparelho que funciona somente no inverno. Ho! Ho! Ho!
Época em que aquele espírito aflora. Durante o ano inteiro, foi um funcionário pisando no pescoço do outro, falando mal do outro, mas nada disso importa, pois é natal. Não somente, mas é verão, décimo terceiro no bolso, finais de campeonatos, big brother, reveillón, muita praia e, já, já, o carnaval. Passando a época do rei momo, resta a ressaca do ano, e logo outro ano começa. O espírito de esperança, então, é esquecido dentro de algum armário empoeirado, à espera do próximo natal, que, como todos sabem, é a data em que se comemora o nascimento sagrado do Papai Noel.
Antes disso, porém, o espírito se estabelece com muita beleza e harmonia. Com ele, o “amigo oculto”. O ritual do amigo oculto é muito antigo. Vem de uma época remota, em que havia amizade explícita. Cientistas encontraram resquícios da substância em cavernas próximas ao norte do Canadá. Com o tempo, ela se ocultou sob o gelo.
Os funcionários se reúnem na sala, entre computadores e mesas, após o expediente, cada qual com o seu embrulho colorido fechado por um lindo laço brilhante. Todos imbuídos de um sincero sentimento de amor; chega-se a ouvir no ar o badalo mágico de um sino de igreja, acompanhado de coral de crianças e virgens vestais. O amigo oculto começa:
- O meu amigo oculto é uma pessoa muito boa. Fez fofoca de mim o ano inteiro, mas no fundo me adora, eu sinto. Eu até cheguei a encomendar um trabalho na macumba, mas não deu certo, ele não morreu, só ficou de cama dois meses, mas não morreu...
Oferecidas as pistas, alguém na turma arrisca um palpite, e assume a descrição, rindo de alegria, para receber o presente.
- Sou eu! Sou eu!
- Nããããããããooooooooo...! Não é você!
E todo mundo: “Ahhhhh...” Mais alguns detalhes são revelados; o ritual avança. Não tem graça dizer de uma só vez quem é o amigo.
- Ele é amigo do prefeito e fez campanha pra ele...
- Ah! É o Vandercréusson! Vander! Créusson! Vander! Créusson!
Aí, vai o Vandercréusson, pega o embrulho, sacode a caixa, encosta no ouvido e, sorridente, pergunta:
- Não é uma bomba, não, né? Olha...
Risadas. Alguém grita no fundo da sala “é antraz!” Gargalhadas. O espírito natalino. Ele guarda o presente na bolsa e pega o presente do seu amigo oculto.
- O meu amigo oculto é uma mulher muito especial. Tem dois metros de altura... Quer dizer, com o sapato salto alto. Sem o calço, é do tamanho desta mesa. Usa minissaia e controla os marmanjos com o seu sorrisinho de piriguete...
E todos: “Ahhhh...!” É a dona Bovarrida! Bova! Bova! Bova!
O ritual demora em média meia hora. É preciso sobrar tempo para o que realmente importa – que é beber e comer. A ceia está pronta, na sala do RH, não cabe nem mais uma empadinha de frango. Sem falar da geladeira, que está abarrotada de bebida.
São essas reuniões que fazem lembrar o espírito de solidariedade e amor que grassa nas repartições, ao longo do ano. E tudo abençoado pelas mãos bondosas do governo, que prometeu aquele aumento de salário há três natais.
O aumento ainda não veio. Ficou congelado no Pólo Norte. Um frio danado.
Maurício Pássarowww.acolunadoservidor.com
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