domingo, 20 de outubro de 2013

CELULARES III





Maurício Pássaro

CELULARES III
Tá ligado?

              Maurício Pássaro

A reunião estava marcada para as nove. Cada diretor, diretamente de sua filial, em seu estado, participando da teleconferência. Ao vivo e em cores. Tempo real. A era da tecnologia.
...
O Chefe estipulou uma pauta. Assuntos importantes deveriam ser tratados, demandas estratégicas, novos nichos de mercado, a logística do transporte... O chefe pensa em tudo.

Doze telas são abertas e nelas doze representantes, aqueles que dirigem o negócio fora da matriz (e são conhecidos como "os apóstolos"). O Chefe quer saber por que o grupo de clientes do setor Sul não fechou contrato. E logo se apresentou alguém, numa das telas, para explicar as razões:

- O Departamento jurídico. Advogados demais...
- Realoque metade deles para o setor de fronteiras.
- Certo, Chefe.

A Phirma tinha prestígio no mercado, tinha solidez. E também a melhor estrutura de informática – hoje, o calcanhar-de-aquiles de qualquer empreendimento de sucesso. O Chefe foi orientado, por um supervisor, a investir em equipamentos eletrônicos de última geração, talvez um satélite próprio ou um acelerador de partículas. Quem imaginaria, não muito tempo atrás, que uma reunião importante de negócios pudesse acontecer virtualmente, com os participantes reais interagindo de longe? Economia fantástica de tempo. Os engarrafamentos de trânsito causam prejuízo de bilhões de reais, e os homens sérios de negócio não têm direito a esse luxo.

A concorrência não dá tréguas: ela obriga o Chefe a seguir os passos tecnológicos. A espionagem avança no mundo, ele teve que desenvolver sistema de segurança para bloquear os hackers da Casa Branca. E depois que a roda redonda se mostrou melhor e mais eficiente que a roda quadrada, quem vai continuar com a primeira? Pois, o Chefe adora inovação. É homem de visão. Poucos assim, neste mundo.

Por isso, depois que o governador mandou instalar o bloqueador de sinais de celular nos presídios, não teve jeito, o Chefe teve que fazer investimento em T.I. De um presídio de segurança máxima, ele administra seus negócios pelo país e o mundo. Assaltos, sequestros, golpes do telefone, campanhas eleitorais, lobbies em legislativos, muita coisa.

Diretores e gerentes regionais da Phirma já propuseram ao Chefe outro endereço para se estabelecer, mas ele é esperto: em que outro lugar usufruirá a segurança máxima e a tranquilidade para trabalhar sossegado?

O Chefe está achando o mundo muito violento. E o trânsito...



Maurício Pássaro


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