terça-feira, 15 de setembro de 2009

OS GAROTOS PÓS DITADURA

Edmílson Martins

Eles tinham 10, 15, 18, 20 anos..., no final da ditadura militar, em 1985. Eu e muitos companheiros lutáramos durante mais de 20 anos pelo restabelecimento das liberdades em nosso país. Enfrentáramos prepotência, sofrêramos perseguições, prisões, torturas e mortes, tudo para que eles pudessem participar livremente como cidadãos.
Com alegria, já os víamos participando do movimento de organização dos grêmios estudantis, centros acadêmicos e da União Nacional dos Estudantes. Nos colégios, quando não podiam se reunir nas salas, por causa da repressão dos diretores, reuniam-se no pátio, na hora do recreio.
Em 1985, já participaram do movimento pelas Diretas Já. Ficávamos contentes quando os víamos interessados em participar das discussões políticas, das campanhas eleitorais e do Movimento Popular.
Quando, em 1979/80, surgiu o PT com propostas de mudanças e participação popular, lá estavam eles nos núcleos de base e atividades de rua. E, em 1989, na candidatura de Lula a presidente da República, que trazia um projeto de renovação, a participação dos jovens foi maciça, com entusiasmo contagiante.
Em 1991, foram eles para as ruas, aos milhares, exigir o afastamento do presidente Collor. Já mostravam consciência política e desejo ardente de exercer a cidadania
Hoje, o PT e outros partidos que incentivavam a participação cidadã e a organização permanente dos Movimentos Populares estão no poder. Mas não há mais núcleos de base, nem atividades de ruas. Não há grêmios, não há movimento estudantil. Aqueles meninos de 10, 15, 18, 20 anos, hoje têm entre 33 e 43 anos e deviam estar nos sindicatos, nos partidos políticos, nos movimentos populares. Os meninos de hoje, entre 10 e 20 anos deviam estar no Movimento Estudantil e nas atividades políticas e sociais. Não estão.
O que aconteceu? Onde estão os nossos jovens e adolescentes? Já não ouvimos mais os seus gritos nas ruas, suas algazarras. Não vemos mais sua rebeldia cidadã, sua participação coletiva. Ai da sociedade cuja juventude silencia! O futuro será sombrio.
Os que hoje estão no poder e que defendiam a abertura democrática e dos canais de participação coletiva, necessários para o crescimento da sociedade parecem que esqueceram suas raízes e traíram os princípios pelos quais lutaram. E são, em grande parte, responsáveis pelo refluxo da organização dos movimentos populares. Pois o incentivo ao desenvolvimento da organização popular, o fortalecimento dos sindicatos de trabalhadores, a criação de espaços de participação coletiva dos jovens, tudo foi inexplicavelmente suspenso. Ou, talvez, tudo tenha sido propositalmente suspenso. Para atender a que interesses? Tudo isso merece uma séria reflexão e responsabilização. Há que haver explicações.
Na trajetória de combate à ditadura, cantávamos as músicas “apesar de você”, “Pra não dizer que não falei de flores”, “O bêbado e o Equilibrista”, “Cálice”, “O que será que será”, “Sabiá”, etc. Será que vamos ter de cantar tudo de novo? Ou nunca devíamos ter parado de cantá-las?
“Caminhando e cantando e seguindo a canção”... ”Apesar de você...” ”Vai passar nessa avenida um samba popular...” “Como é difícil acordar calado...” “Não há de ser inutilmente a esperança...” ”E todos os meninos vão desembestar...” “E todos os destinos irão se encontrar...” E assim por diante.

Rio, 20 /01/2009 E

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