Edmilson Martins
O Congresso vai votar
Um Projeto popular
Por exigência do povo,
Que assinando Ficha Limpa,
Diz: comigo ninguém brinca,
Desejo Congresso novo.
Nosso povo fez campanha
Com interesse, sem manha,
Conseguiu assinaturas,
Trabalhou, não descansou.
Com força, denunciou
Nossas velhas estruturas.
Queremos um Brasil limpo.
Nosso povo é distinto,
Desaprova coisa suja.
Amamos nossa bandeira,
Não admitimos sujeira
Maculando dita cuja.
Mandato é pra servir,
Política pra gerir
Interesses da nação.
Deputado, senador,
Pilantra, enganador
Não tem nossa aprovação.
Ao presidente da Câmara
O povo, que não quer trama,
Entregou o seu Projeto.
Deixou um recado claro
Ao deputado preclaro:
Somos gente não objeto.
Ficaremos bem atentos,
Não esperamos portentos,
Mas que cumpram seu dever
Câmara dos Deputados
E também nosso Senado.
Assim é que deve ser.
Nas próximas eleições,
Sem permitir ilusões,
Queremos bons candidatos.
Não queremos ser lesados,
Chega de ser enganados
Cansamos de ser cordatos.
Rio, 13/10/2009
" Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". (Cora Coralina)
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
SODOMA, ANJOS E FICHA LIMPA
Por Edmílson Martins de Oliveira
Dois mil anos antes de Cristo.
“O Senhor Deus apareceu a Abrahão”. Assim: “Abrahão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se e os acolheu, oferecendo água , comida e repouso”
“O Senhor disse a Abrahão:” É imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande. “Vou lá para verificar se realmente suas obras correspondem ao clamor que chegou até mim. E os homens levantaram-se e partiram para Sodoma.”
“Abrahão ficou em presença do Senhor, aproximou-se Dele e disse: “Faríeis o justo perecer com o ímpio? Talvez haja 50 justos na cidade, fá-los-eis perecer? Não perdoaríeis antes a cidade, em atenção aos 50 justos que nela se poderiam encontrar? O Senhor disse: ”Se eu encontrar em Sodoma 50 justos, perdoarei a toda a cidade em atenção a eles”.
Na verdade, Abrahão não acreditava que havia justos em Sodoma, a não ser o seu sobrinho Ló e filhas. Por isso, foi indagando se o Senhor não destruiria a cidade se houvesse 45, ou ... 40, ou...30, ou...20, ou...10 justos. Deus, por fim, respondeu que se houvesse 10 justos não destruiria a cidade, por causa dos 10 justos. Abrahão, com tristeza, voltou para casa e o Senhor se retirou.
E os anjos, que tinham partido na direção de Sodoma para verificar suas obras, acabaram destruindo-a, com uma chuva de enxofre e fogo, por causa dos pecados dos seus habitantes, que eram muito grandes. Somente se salvaram Ló e suas duas filhas. Sua mulher, que era de Sodoma, virou estátua de sal, porque na fuga olhou para trás
Quatro mil anos depois.
Estávamos na rua fazendo a Campanha Ficha Limpa, quando se aproximaram três homens. Depois de saudá-los e oferecer-lhes água e cafezinho, explicamos a eles que estávamos lutando para impedir que políticos com ficha suja se candidatem a qualquer cargo eleitoral. E os convidamos a subscrever o projeto de lei de iniciativa popular.
. Eles então disseram:
- Não temos título de eleitor. Em nosso país não há necessidade de eleições. Lá, todos são fraternos e justos, tudo é igualmente de todos e somos um só coração. Há respeito mútuo e tudo é consenso.
- E o que fazem por aqui? – perguntamos.
- Estamos indo a Brasília para verificar se o clamor que chegou até o Senhor Deus é verdade. Se assim for, o Senado e a Câmara serão exterminados, por que o seu pecado é muito grande. Aqueles senhores já passaram do limite, já fizeram dos atos ilícitos um hábito. Eles dão mau exemplo ao nosso povo. Primeiro, foi a história do mensalão, na Câmara, no PT e no governo, depois aquela pouca vergonha no Senado com Renan Calheiros, agora, esse escândalo do Sarney. E tudo no maior cinismo. Ninguém sabe de nada... Ninguém viu nada... Tudo é lícito... Vale tudo... Agem como bandidos e dão uma de “mocinhos”. Cometem os mesmos erros dos seus antecessores.
- Mas Senhor, – replicamos – no Congresso ainda há alguns justos. Serão exterminados por causa dos corruptos?
- Será que lá há mesmo alguns justos? – indagaram os homens. Abrahão buscou 10 justos em Sodoma e não encontrou, por isso, a cidade foi destruída. E Lula já disse que na Câmara tinha 300 picaretas. Hoje, deve ter muito mais, porque o Lula tornou-se aliado deles, generalizando a picaretagem. Lula combatia as maracutaias, mas relaxou. Por isso, o grupo dos picaretas, certamente, cresceu. E pra completar, a Câmara acaba de aprovar as tais “Regras Eleitorais”, favorecendo práticas políticas imorais, eticamente inaceitáveis.
Então insistimos:
- Senhor, nós conhecemos alguns políticos justos. Inclusive, vários deles estão na Campanha Ficha Limpa. (E mostramos uma foto do ato público ficha limpa, ocorrido em Brasília, em que aparece o deputado Chico Alencar ao lado do bispo, secretário da CNBB, d. Dimas, do advogado Aristides Junqueira, do ator Milton Gonçalves e outros).
- Mas aí nessa foto só vemos um parlamentar (apontando para o Chico). Onde estão os outros? – perguntaram.
- Temos informações de que alguns outros estavam lá, só não apareceram na foto – respondemos.
E os anjos foram a Brasília e constataram que no Congresso, no meio de tanta corrupção, tem mais de 10 justos. Por isso, por causa deles, não o destruíram. E nos estimularam a continuarmos na luta de salvação, sem olharmos para trás, para não virarmos estátuas de sal.
Mas advertiram:
- Prestem atenção nos exemplos da História, no que aconteceu a Sodoma e Gomorra, no desmoronamento do Império Romano, no desmonte da experiência socialista do leste europeu. Esses e outros impérios pereceram por causa dos seus pecados, porque não andaram nos caminhos da justiça. Sucumbirão as sociedades cujos fundamentos são a ganância, a busca do poder do dinheiro e do lucro, a ambição de dominar. Serão destruídas pelos seus próprios erros. Perecerão por desrespeitarem a dignidade do ser humano e as leis do Criador.
E recomendaram:
- Vão em frente, não desistam, combatam o mal que corrói as instituições representativas, que foram criadas para ajudar a construir a sociedade, não deixem que elas cheguem à situação de Sodoma e Gomorra. Combatam os atos secretos, o tráfico de influência, o nepotismo, o patrimonialismo, as doações ocultas de campanha, o clientelismo, em fim, combatam a corrupção generalizada na política brasileira. Aliás, passamos pela Câmara e presenciamos o discurso do Chico Alencar, denunciando essas irregularidades, atribuídas, também, ao Sarney, presidente do Senado. Gostamos. Nessa luta o Senhor Deus estará sempre presente.
Os homens foram embora e nós continuamos na Campanha Ficha Limpa, tentando livrar nossas instituições políticas daqueles que envergonham a nação, espalhando a corrupção, contaminando nosso povo, atrapalhando a construção da sociedade justa e causando irritação no Senhor Deus e nas pessoas de bem e de boa vontade, que são muitas em nosso país.
Edmílson Martins de Oliveira (Rio, setembro de 2009 )
Dois mil anos antes de Cristo.
“O Senhor Deus apareceu a Abrahão”. Assim: “Abrahão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se e os acolheu, oferecendo água , comida e repouso”
“O Senhor disse a Abrahão:” É imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande. “Vou lá para verificar se realmente suas obras correspondem ao clamor que chegou até mim. E os homens levantaram-se e partiram para Sodoma.”
“Abrahão ficou em presença do Senhor, aproximou-se Dele e disse: “Faríeis o justo perecer com o ímpio? Talvez haja 50 justos na cidade, fá-los-eis perecer? Não perdoaríeis antes a cidade, em atenção aos 50 justos que nela se poderiam encontrar? O Senhor disse: ”Se eu encontrar em Sodoma 50 justos, perdoarei a toda a cidade em atenção a eles”.
Na verdade, Abrahão não acreditava que havia justos em Sodoma, a não ser o seu sobrinho Ló e filhas. Por isso, foi indagando se o Senhor não destruiria a cidade se houvesse 45, ou ... 40, ou...30, ou...20, ou...10 justos. Deus, por fim, respondeu que se houvesse 10 justos não destruiria a cidade, por causa dos 10 justos. Abrahão, com tristeza, voltou para casa e o Senhor se retirou.
E os anjos, que tinham partido na direção de Sodoma para verificar suas obras, acabaram destruindo-a, com uma chuva de enxofre e fogo, por causa dos pecados dos seus habitantes, que eram muito grandes. Somente se salvaram Ló e suas duas filhas. Sua mulher, que era de Sodoma, virou estátua de sal, porque na fuga olhou para trás
Quatro mil anos depois.
Estávamos na rua fazendo a Campanha Ficha Limpa, quando se aproximaram três homens. Depois de saudá-los e oferecer-lhes água e cafezinho, explicamos a eles que estávamos lutando para impedir que políticos com ficha suja se candidatem a qualquer cargo eleitoral. E os convidamos a subscrever o projeto de lei de iniciativa popular.
. Eles então disseram:
- Não temos título de eleitor. Em nosso país não há necessidade de eleições. Lá, todos são fraternos e justos, tudo é igualmente de todos e somos um só coração. Há respeito mútuo e tudo é consenso.
- E o que fazem por aqui? – perguntamos.
- Estamos indo a Brasília para verificar se o clamor que chegou até o Senhor Deus é verdade. Se assim for, o Senado e a Câmara serão exterminados, por que o seu pecado é muito grande. Aqueles senhores já passaram do limite, já fizeram dos atos ilícitos um hábito. Eles dão mau exemplo ao nosso povo. Primeiro, foi a história do mensalão, na Câmara, no PT e no governo, depois aquela pouca vergonha no Senado com Renan Calheiros, agora, esse escândalo do Sarney. E tudo no maior cinismo. Ninguém sabe de nada... Ninguém viu nada... Tudo é lícito... Vale tudo... Agem como bandidos e dão uma de “mocinhos”. Cometem os mesmos erros dos seus antecessores.
- Mas Senhor, – replicamos – no Congresso ainda há alguns justos. Serão exterminados por causa dos corruptos?
- Será que lá há mesmo alguns justos? – indagaram os homens. Abrahão buscou 10 justos em Sodoma e não encontrou, por isso, a cidade foi destruída. E Lula já disse que na Câmara tinha 300 picaretas. Hoje, deve ter muito mais, porque o Lula tornou-se aliado deles, generalizando a picaretagem. Lula combatia as maracutaias, mas relaxou. Por isso, o grupo dos picaretas, certamente, cresceu. E pra completar, a Câmara acaba de aprovar as tais “Regras Eleitorais”, favorecendo práticas políticas imorais, eticamente inaceitáveis.
Então insistimos:
- Senhor, nós conhecemos alguns políticos justos. Inclusive, vários deles estão na Campanha Ficha Limpa. (E mostramos uma foto do ato público ficha limpa, ocorrido em Brasília, em que aparece o deputado Chico Alencar ao lado do bispo, secretário da CNBB, d. Dimas, do advogado Aristides Junqueira, do ator Milton Gonçalves e outros).
- Mas aí nessa foto só vemos um parlamentar (apontando para o Chico). Onde estão os outros? – perguntaram.
- Temos informações de que alguns outros estavam lá, só não apareceram na foto – respondemos.
E os anjos foram a Brasília e constataram que no Congresso, no meio de tanta corrupção, tem mais de 10 justos. Por isso, por causa deles, não o destruíram. E nos estimularam a continuarmos na luta de salvação, sem olharmos para trás, para não virarmos estátuas de sal.
Mas advertiram:
- Prestem atenção nos exemplos da História, no que aconteceu a Sodoma e Gomorra, no desmoronamento do Império Romano, no desmonte da experiência socialista do leste europeu. Esses e outros impérios pereceram por causa dos seus pecados, porque não andaram nos caminhos da justiça. Sucumbirão as sociedades cujos fundamentos são a ganância, a busca do poder do dinheiro e do lucro, a ambição de dominar. Serão destruídas pelos seus próprios erros. Perecerão por desrespeitarem a dignidade do ser humano e as leis do Criador.
E recomendaram:
- Vão em frente, não desistam, combatam o mal que corrói as instituições representativas, que foram criadas para ajudar a construir a sociedade, não deixem que elas cheguem à situação de Sodoma e Gomorra. Combatam os atos secretos, o tráfico de influência, o nepotismo, o patrimonialismo, as doações ocultas de campanha, o clientelismo, em fim, combatam a corrupção generalizada na política brasileira. Aliás, passamos pela Câmara e presenciamos o discurso do Chico Alencar, denunciando essas irregularidades, atribuídas, também, ao Sarney, presidente do Senado. Gostamos. Nessa luta o Senhor Deus estará sempre presente.
Os homens foram embora e nós continuamos na Campanha Ficha Limpa, tentando livrar nossas instituições políticas daqueles que envergonham a nação, espalhando a corrupção, contaminando nosso povo, atrapalhando a construção da sociedade justa e causando irritação no Senhor Deus e nas pessoas de bem e de boa vontade, que são muitas em nosso país.
Edmílson Martins de Oliveira (Rio, setembro de 2009 )
terça-feira, 15 de setembro de 2009
SAUDADES DO BANCO DO BRASIL
Edmilson Martins
Tenho saudades do Banco do Brasil do passado. Não é saudosismo, mas saudade terna, memória viva, boas lembranças que bem poderiam iluminar o presente. Dizia-se que o banco era uma mãe. Havia verdades nessa observação, embora, em alguns momentos, agisse como madrasta, digamos, generosa. Mas, de um modo geral, o banco era pai e mãe, generoso para com seus funcionários, valorizados como parte integrante do seu patrimônio.
Toda a trajetória de vida no Banco do Brasil começava na preparação para o concurso. Eram pelo menos quatro anos de estudo específico - a duração de um curso universitário. Não havia exigência de conclusão do Ensino Médio, (ou Científico, naquela época). Muitos foram aprovados no concurso apenas com a conclusão do Curso Ginasial ( hoje, Fundamental). Mas as matérias exigidas eram as do Ensino Médio: Português, Matemática, Contabilidade, Francês, Inglês e datilografia. Era um concurso difícil. Os candidatos tinham que estudar muito. Quem podia pagava cursinho, quem não podia estudava sozinho. Eu, por exemplo, estudei sozinho. Foram longas noites e longos fins de semana de estudo. As provas eram assim: uma redação, questões de gramática, dez problemas de Matemática, dez questões de Contabilidade, textos de Inglês e Francês para traduzir. Datilografia, 150 toques, mínimo, por minuto, com duração de 6 minutos. As provas valiam 100 pontos cada, com média geral de 60 pontos. Todos os rascunhos acompanhavam as provas e, em Matemática, os problemas tinham que ser desenvolvidos no rascunho.
A aprovação no concurso era uma grande emoção, porque era a realização de um sonho. Era, talvez, o melhor emprego do país. A emoção era ampla. Emocionava-se o candidato, emocionava-se a família, emocionavam-se os amigos. Lembro-me que meus pais espalharam entre todos os seus amigos e parentes: “Edmílson, nosso filho, passou no concurso do Banco do Brasil!”. Era uma festa.
No banco, a emoção da posse e do primeiro dia de trabalho. O ambiente era de boas vindas, com apresentações aos colegas mais antigos, que tratavam de favorecer a ambientação do novo colega. O ambiente de trabalho facilitava o relacionamento entre os colegas, era fraterno. O banco pagava bem. Eram três salários de gratificação anual, mais o décimo terceiro e, às vezes, tinha uma gratificação extra. E havia licença-prêmio- três meses a cada cinco anos-, cinco dias de abono por ano e aos dez anos de trabalho, o funcionário tinha direito a se inscrever para adquirir o financiamento da casa própria pela Previ. O empréstimo acontecia, geralmente, entre um e dois anos após a inscrição. Havia um Quadro de carreira regular, com promoções automáticas.
Além das vantagens financeiras e das boas condições de trabalho, o novo funcionário já encontrava no Banco do Brasil uma tradição de luta do funcionalismo em defesa dos seus direitos e do banco, enquanto instituição dedicada ao serviço do povo e ao desenvolvimento do país. A Previ, a Cassi , outras organizações sociais e a manutenção, por muito tempo, de uma estrutura salarial sólida, são frutos dessa luta, empreendida através da história.. Foram muitos, e acho que ainda hoje são, os lideres sindicais, políticos, sociais e os valores acadêmicos, artísticos e literários surgidos entre o funcionalismo do Banco do Brasil. Não foi por acaso que a repressão da ditadura militar agiu com tanta violência dentro do banco, punindo, demitindo e prendendo funcionários ativistas.
Tomei posse no banco em 1963, na Agência Madureira-RJ, depois transferido para a Agência Centro-Rio, onde me aposentei em 1987. Participei ativamente do movimento sindical e até fui presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, em 1972 – bem no tempo da “ditadura escancarada”(como diz Hélio Gaspare). Foi em função dessa participação que escrevi o livro “Bancários – Anos de resistência -1964-1979”, editado pelo Sindicato dos Bancários –RJ.
Foram 30 anos de vida bancária, com 24 anos no Banco do Brasil. Foram 30 anos de aprendizado, de boa convivência, de luta, de alegrias e decepções, de vitórias e derrotas, sem dúvida, com saldo positivo. Valeu a pena? Respondo com o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Com as mudanças havidas no banco e no tratamento aos seus funcionários, em decorrência da implantação do Sistema Neoliberal, que prioriza o lucro, em detrimento dos valores humanos, a situação mudou... pra pior. Não sei se os colegas que se aposentarão no futuro guardarão as mesmas saudades que guardo do passado, como funcionário daquela instituição. Mas acho que o funcionalismo de hoje pode e deve lutar com todas as suas forças e a capacidade que tem, para que a sua vida no banco deixe saudades que sejam memória viva para as futuras gerações. O Banco do Brasil sempre foi, e creio que é e sempre será um celeiro de cidadãos e cidadãs conscientes da sua cidadania e dedicados ao crescimento humano da nossa sociedade e ao desenvolvimento do nosso país. Que assim seja .
Edmílson Martins de Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2006.
Tenho saudades do Banco do Brasil do passado. Não é saudosismo, mas saudade terna, memória viva, boas lembranças que bem poderiam iluminar o presente. Dizia-se que o banco era uma mãe. Havia verdades nessa observação, embora, em alguns momentos, agisse como madrasta, digamos, generosa. Mas, de um modo geral, o banco era pai e mãe, generoso para com seus funcionários, valorizados como parte integrante do seu patrimônio.
Toda a trajetória de vida no Banco do Brasil começava na preparação para o concurso. Eram pelo menos quatro anos de estudo específico - a duração de um curso universitário. Não havia exigência de conclusão do Ensino Médio, (ou Científico, naquela época). Muitos foram aprovados no concurso apenas com a conclusão do Curso Ginasial ( hoje, Fundamental). Mas as matérias exigidas eram as do Ensino Médio: Português, Matemática, Contabilidade, Francês, Inglês e datilografia. Era um concurso difícil. Os candidatos tinham que estudar muito. Quem podia pagava cursinho, quem não podia estudava sozinho. Eu, por exemplo, estudei sozinho. Foram longas noites e longos fins de semana de estudo. As provas eram assim: uma redação, questões de gramática, dez problemas de Matemática, dez questões de Contabilidade, textos de Inglês e Francês para traduzir. Datilografia, 150 toques, mínimo, por minuto, com duração de 6 minutos. As provas valiam 100 pontos cada, com média geral de 60 pontos. Todos os rascunhos acompanhavam as provas e, em Matemática, os problemas tinham que ser desenvolvidos no rascunho.
A aprovação no concurso era uma grande emoção, porque era a realização de um sonho. Era, talvez, o melhor emprego do país. A emoção era ampla. Emocionava-se o candidato, emocionava-se a família, emocionavam-se os amigos. Lembro-me que meus pais espalharam entre todos os seus amigos e parentes: “Edmílson, nosso filho, passou no concurso do Banco do Brasil!”. Era uma festa.
No banco, a emoção da posse e do primeiro dia de trabalho. O ambiente era de boas vindas, com apresentações aos colegas mais antigos, que tratavam de favorecer a ambientação do novo colega. O ambiente de trabalho facilitava o relacionamento entre os colegas, era fraterno. O banco pagava bem. Eram três salários de gratificação anual, mais o décimo terceiro e, às vezes, tinha uma gratificação extra. E havia licença-prêmio- três meses a cada cinco anos-, cinco dias de abono por ano e aos dez anos de trabalho, o funcionário tinha direito a se inscrever para adquirir o financiamento da casa própria pela Previ. O empréstimo acontecia, geralmente, entre um e dois anos após a inscrição. Havia um Quadro de carreira regular, com promoções automáticas.
Além das vantagens financeiras e das boas condições de trabalho, o novo funcionário já encontrava no Banco do Brasil uma tradição de luta do funcionalismo em defesa dos seus direitos e do banco, enquanto instituição dedicada ao serviço do povo e ao desenvolvimento do país. A Previ, a Cassi , outras organizações sociais e a manutenção, por muito tempo, de uma estrutura salarial sólida, são frutos dessa luta, empreendida através da história.. Foram muitos, e acho que ainda hoje são, os lideres sindicais, políticos, sociais e os valores acadêmicos, artísticos e literários surgidos entre o funcionalismo do Banco do Brasil. Não foi por acaso que a repressão da ditadura militar agiu com tanta violência dentro do banco, punindo, demitindo e prendendo funcionários ativistas.
Tomei posse no banco em 1963, na Agência Madureira-RJ, depois transferido para a Agência Centro-Rio, onde me aposentei em 1987. Participei ativamente do movimento sindical e até fui presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, em 1972 – bem no tempo da “ditadura escancarada”(como diz Hélio Gaspare). Foi em função dessa participação que escrevi o livro “Bancários – Anos de resistência -1964-1979”, editado pelo Sindicato dos Bancários –RJ.
Foram 30 anos de vida bancária, com 24 anos no Banco do Brasil. Foram 30 anos de aprendizado, de boa convivência, de luta, de alegrias e decepções, de vitórias e derrotas, sem dúvida, com saldo positivo. Valeu a pena? Respondo com o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Com as mudanças havidas no banco e no tratamento aos seus funcionários, em decorrência da implantação do Sistema Neoliberal, que prioriza o lucro, em detrimento dos valores humanos, a situação mudou... pra pior. Não sei se os colegas que se aposentarão no futuro guardarão as mesmas saudades que guardo do passado, como funcionário daquela instituição. Mas acho que o funcionalismo de hoje pode e deve lutar com todas as suas forças e a capacidade que tem, para que a sua vida no banco deixe saudades que sejam memória viva para as futuras gerações. O Banco do Brasil sempre foi, e creio que é e sempre será um celeiro de cidadãos e cidadãs conscientes da sua cidadania e dedicados ao crescimento humano da nossa sociedade e ao desenvolvimento do nosso país. Que assim seja .
Edmílson Martins de Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2006.
RESGATAR OS VALORES DA NOSSA HISTÓRIA
Edmílson Martins
Julho de 1964. O tempo estava nublado e frio no Rio de Janeiro. Em todo o país, também, o tempo político andava nublado e a temperatura morna, em conseqüência do golpe militar iniciado no dia 31 de março e completado no dia da mentira – 1º de abril, evidenciando que a chamada “Revolução Redentora” significava uma grande mentira.
Num certo dia daquele mês de julho, na agência do Banco do Brasil, na Tijuca, estava eu diante do inspetor da Comissão Geral de Inquérito que apurava a participação de funcionários do Banco do Brasil nas greves de bancários. A participação social e política dos bancários fora intensa nos anos anteriores ao golpe. Eu tinha feito um requerimento de férias, que precisava do “de acordo” do inspetor.
- O senhor participou da última greve de bancários, certo? – perguntou o inspetor (sisudo, autoritário e arrogante), com uma lista de nomes sobre a mesa.
- Certo – respondi.
- Mas o senhor, com menos de um ano de Banco do Brasil, já participando de greve?
- Sim, a greve era para todos os bancários, independente do tempo de trabalho.
- Mas a greve foi decretada pelos comunistas!
- A greve foi decretada pela categoria bancária, em assembléia com mais de 15 mil bancários – retruquei.
- O senhor foi induzido pelos comunistas?
- A minha participação foi consciente e espontânea. Questão de reivindicação e defesa de direitos trabalhistas.
- Por que, se os funcionários do Banco do Brasil já ganham bem? – indagou o inspetor – já em voz alta e tom autoritário.
- Por respeito a uma decisão da assembléia e porque entendia ser a greve justa – respondi.
- Mas a greve era política – falou o inspetor, repreensivo, como se política fosse crime.
- Para mim, a greve foi uma decisão extrema, motivada pela intransigência dos banqueiros, diante das justas reivindicações dos bancários.
O inspetor manuseou as folhas de papel, verificou alguns nomes sublinhados de vermelho e perguntou se eu conhecia alguns deles. Respondi que conhecia todos. Eram colegas do Banco do Brasil e sindicalistas.
Parou de fazer perguntas, anotou alguma coisa na lista de nomes, olhou para mim, denotando algum espanto e (talvez) simpatia e disse:
- Pode ir colega. Boas férias.
Despedi-me e saí da sala. No corredor, encontrei um colega, que me contou que ao ser interrogado pelo inspetor dissera que a sua participação nas greves teria sido para desestabilizar o Governo João Goulart, que servia ao comunismo. Havia mesmo um esquema para desestabilizar o governo, organizado pelo sistema capitalista. É triste saber que trabalhadores participaram daquela terrível manobra.
Quando voltei para a agência de Madureira, onde trabalhava, encontrei os colegas apreensivos, porque também tinham participado das greves.
- O que o inspetor quis saber? – indagavam uns.
- Houve alguma ameaça de punição? Indagavam outros.
O clima era de frustração. O medo tomava conta de todos (medo que até hoje reflete na sociedade). A ditadura se estabelecia, impondo a derrota, a frustração e o medo. Pela mentira, pela força bruta, pela covardia.
A mim e a outros companheiros que buscavam resistir ao golpe, muitos diziam, como na música “Ronda” de Adoniram Barbosa: “Desistam, essa busca é inútil.” Mas não desistíamos. Foram 20 anos de resistência, de enfrentamentos, com perseguições, prisões, torturas, mortes, “cenas de sangue” – não “em um bar da Avenida São João”, mas nos porões da ditadura -, vitórias e derrotas.
Naqueles tempos de luta e resistência havia motivações e referências históricas vivas, que animavam toda a caminhada como: a resistência dos vietnamitas ao império americano; a revolução cubana, enfrentando heroicamente a ofensiva americana; o posicionamento da Igreja Católica, tendo à frente o papa João XXXIII, na defesa da justiça social, com as encíclicas sociais “Mater ET Magister”, “Pacem in Terris” e “Populorum Progressio”; as figuras históricas e combativas de d. Helder Câmara, do pastor americano Martin Luther King, do “pequeno” grande general vietnamita Giap – a raposa das selvas -, do bravo Che Guevara, etc. Entre nós permaneceram vivos o idealismo e combatividade de muitos companheiros sindicalistas, líderes populares e políticos. Uns ligados ao pensamento marxista e outros aos ideais cristãos, participantes de movimentos sociais da Igreja Católica. Todos imbuídos do sentimento de participação na pluralidade e universalidade, propostos pela Igreja, tendo em vista a coexistência pacífica entre pessoas e povos de boa vontade.
Nesse sentido, ressalte-se a compreensão e disposição de Luiz Maranhão, líder marxista que se empenhou, junto com Alceu de Amoroso Lima, pensador e líder católico, d. Hélder Câmara e outras lideranças , pela unidade de marxistas, cristãos e pessoas de boa vontade pela defesa das liberdades democráticas.
Entre outros exemplos que são referência histórica, podemos citar d Eugênio Sales, que sendo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro , sem alardes, de maneira discreta, acolheu e ajudou milhares de refugiados políticos, perseguidos por ditaduras latino-americanas, usando o cargo de cardeal a serviço do bem, como foi ensinado por Jesus Cristo; D. Evaristo Arns, cardeal de São Paulo que encabeçou o grupo “Tortura Nunca Mais”, denunciando os crimes da ditadura militar, etc.
Os ambiciosos do poder, do dinheiro e do lucro, impõem, hoje, uma “nova” ideologia, uma “nova” cultura. Substituem o “penso, logo sou” pelo “sinto, logo sou”, e pelo “consumo, logo existo”, que significa trocar os valores perenes pelos passageiros, pelo “aqui e agora”. Significa substituir o pensamento, a reflexão pelo sensível corporal, pelo consumismo. Daí o desprezo pelos valores do passado, pelas figuras que plantaram as bases da nossa História. São os valores da chamada sociedade pós-moderna, que estimula simplesmente o consumo e o prazer. Isso atende em cheio aos interesses gananciosos do capitalismo neoliberal, que considera o ser humano simplesmente como instrumento de lucro e dominação.
Por isso, rompendo o esquema do capitalismo neoliberal, precisamos resgatar os valores da nossa História, necessários para animar o nosso povo na luta pela construção da sociedade livre e democrática.
Por exemplo, o que mantém viva a doutrina cristã, apesar das distorções de muitos dos seus seguidores, é a guarda cuidadosa da memória de Jesus, da sua luta e de seu sacrifício pelo bem da humanidade. Também a guarda da memória e do testemunho dos verdadeiros discípulos, que ao longo da História, com muitos mártires, empenharam-se na construção do projeto de sociedade, onde todos tenham vida em abundância, proposto pelo Mestre Jesus.
Rio, março de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
Julho de 1964. O tempo estava nublado e frio no Rio de Janeiro. Em todo o país, também, o tempo político andava nublado e a temperatura morna, em conseqüência do golpe militar iniciado no dia 31 de março e completado no dia da mentira – 1º de abril, evidenciando que a chamada “Revolução Redentora” significava uma grande mentira.
Num certo dia daquele mês de julho, na agência do Banco do Brasil, na Tijuca, estava eu diante do inspetor da Comissão Geral de Inquérito que apurava a participação de funcionários do Banco do Brasil nas greves de bancários. A participação social e política dos bancários fora intensa nos anos anteriores ao golpe. Eu tinha feito um requerimento de férias, que precisava do “de acordo” do inspetor.
- O senhor participou da última greve de bancários, certo? – perguntou o inspetor (sisudo, autoritário e arrogante), com uma lista de nomes sobre a mesa.
- Certo – respondi.
- Mas o senhor, com menos de um ano de Banco do Brasil, já participando de greve?
- Sim, a greve era para todos os bancários, independente do tempo de trabalho.
- Mas a greve foi decretada pelos comunistas!
- A greve foi decretada pela categoria bancária, em assembléia com mais de 15 mil bancários – retruquei.
- O senhor foi induzido pelos comunistas?
- A minha participação foi consciente e espontânea. Questão de reivindicação e defesa de direitos trabalhistas.
- Por que, se os funcionários do Banco do Brasil já ganham bem? – indagou o inspetor – já em voz alta e tom autoritário.
- Por respeito a uma decisão da assembléia e porque entendia ser a greve justa – respondi.
- Mas a greve era política – falou o inspetor, repreensivo, como se política fosse crime.
- Para mim, a greve foi uma decisão extrema, motivada pela intransigência dos banqueiros, diante das justas reivindicações dos bancários.
O inspetor manuseou as folhas de papel, verificou alguns nomes sublinhados de vermelho e perguntou se eu conhecia alguns deles. Respondi que conhecia todos. Eram colegas do Banco do Brasil e sindicalistas.
Parou de fazer perguntas, anotou alguma coisa na lista de nomes, olhou para mim, denotando algum espanto e (talvez) simpatia e disse:
- Pode ir colega. Boas férias.
Despedi-me e saí da sala. No corredor, encontrei um colega, que me contou que ao ser interrogado pelo inspetor dissera que a sua participação nas greves teria sido para desestabilizar o Governo João Goulart, que servia ao comunismo. Havia mesmo um esquema para desestabilizar o governo, organizado pelo sistema capitalista. É triste saber que trabalhadores participaram daquela terrível manobra.
Quando voltei para a agência de Madureira, onde trabalhava, encontrei os colegas apreensivos, porque também tinham participado das greves.
- O que o inspetor quis saber? – indagavam uns.
- Houve alguma ameaça de punição? Indagavam outros.
O clima era de frustração. O medo tomava conta de todos (medo que até hoje reflete na sociedade). A ditadura se estabelecia, impondo a derrota, a frustração e o medo. Pela mentira, pela força bruta, pela covardia.
A mim e a outros companheiros que buscavam resistir ao golpe, muitos diziam, como na música “Ronda” de Adoniram Barbosa: “Desistam, essa busca é inútil.” Mas não desistíamos. Foram 20 anos de resistência, de enfrentamentos, com perseguições, prisões, torturas, mortes, “cenas de sangue” – não “em um bar da Avenida São João”, mas nos porões da ditadura -, vitórias e derrotas.
Naqueles tempos de luta e resistência havia motivações e referências históricas vivas, que animavam toda a caminhada como: a resistência dos vietnamitas ao império americano; a revolução cubana, enfrentando heroicamente a ofensiva americana; o posicionamento da Igreja Católica, tendo à frente o papa João XXXIII, na defesa da justiça social, com as encíclicas sociais “Mater ET Magister”, “Pacem in Terris” e “Populorum Progressio”; as figuras históricas e combativas de d. Helder Câmara, do pastor americano Martin Luther King, do “pequeno” grande general vietnamita Giap – a raposa das selvas -, do bravo Che Guevara, etc. Entre nós permaneceram vivos o idealismo e combatividade de muitos companheiros sindicalistas, líderes populares e políticos. Uns ligados ao pensamento marxista e outros aos ideais cristãos, participantes de movimentos sociais da Igreja Católica. Todos imbuídos do sentimento de participação na pluralidade e universalidade, propostos pela Igreja, tendo em vista a coexistência pacífica entre pessoas e povos de boa vontade.
Nesse sentido, ressalte-se a compreensão e disposição de Luiz Maranhão, líder marxista que se empenhou, junto com Alceu de Amoroso Lima, pensador e líder católico, d. Hélder Câmara e outras lideranças , pela unidade de marxistas, cristãos e pessoas de boa vontade pela defesa das liberdades democráticas.
Entre outros exemplos que são referência histórica, podemos citar d Eugênio Sales, que sendo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro , sem alardes, de maneira discreta, acolheu e ajudou milhares de refugiados políticos, perseguidos por ditaduras latino-americanas, usando o cargo de cardeal a serviço do bem, como foi ensinado por Jesus Cristo; D. Evaristo Arns, cardeal de São Paulo que encabeçou o grupo “Tortura Nunca Mais”, denunciando os crimes da ditadura militar, etc.
Os ambiciosos do poder, do dinheiro e do lucro, impõem, hoje, uma “nova” ideologia, uma “nova” cultura. Substituem o “penso, logo sou” pelo “sinto, logo sou”, e pelo “consumo, logo existo”, que significa trocar os valores perenes pelos passageiros, pelo “aqui e agora”. Significa substituir o pensamento, a reflexão pelo sensível corporal, pelo consumismo. Daí o desprezo pelos valores do passado, pelas figuras que plantaram as bases da nossa História. São os valores da chamada sociedade pós-moderna, que estimula simplesmente o consumo e o prazer. Isso atende em cheio aos interesses gananciosos do capitalismo neoliberal, que considera o ser humano simplesmente como instrumento de lucro e dominação.
Por isso, rompendo o esquema do capitalismo neoliberal, precisamos resgatar os valores da nossa História, necessários para animar o nosso povo na luta pela construção da sociedade livre e democrática.
Por exemplo, o que mantém viva a doutrina cristã, apesar das distorções de muitos dos seus seguidores, é a guarda cuidadosa da memória de Jesus, da sua luta e de seu sacrifício pelo bem da humanidade. Também a guarda da memória e do testemunho dos verdadeiros discípulos, que ao longo da História, com muitos mártires, empenharam-se na construção do projeto de sociedade, onde todos tenham vida em abundância, proposto pelo Mestre Jesus.
Rio, março de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
REMOVENDO PEDRAS
Edmílson Martins
Edmílson Martins de Oliveira - julho de 2009
Quando eu era criança, ouvia histórias contadas pelos mais velhos. Histórias vividas por eles e por seus antepassados. Ouvia também as chamadas “estórias de Trancoso”: ficções com sabor de realidades. Lições de vida, transmissão de experiências e sabedoria passadas aos mais jovens. Hoje, já passando dos 70, percebo o quanto aqueles contadores de histórias e de estórias influenciaram no meu aprendizado. Por isso, hoje, eu conto histórias:
A partir do final de 1968 e durante os anos de 1970, principalmente no governo do general Médice, intensificou-se a repressão aos movimentos populares que resistiam à ditadura militar. A luz que se vislumbrava no final do túnel foi ofuscada por enormes pedras colocadas no caminho. O nosso país voltava à escuridão, dessa vez, total. O povo, que antevia uma luz, ficou nas trevas.
A perseguição política aos que não concordavam com o regime opressor atingiu duramente o povo brasileiro. Movimentos organizados foram desmantelados, ativistas foram presos e muitos, além de presos, torturados. Vários foram os assassinatos nos cárceres, praticados por carrascos do sistema da opressão. Outras pessoas, para não serem presas ou morrerem, exilaram-se. Foram silenciadas as principais lideranças do povo, que ficou sem vez e sem voz.
Mas o regime ditatorial não conseguiu calar a voz de todos. Muitos, mesmo na escuridão, procuraram organizar a luta de resistência. Tateando, procuraram tirar fogo das pedras, juntar gravetos e acender fogueiras. Com o uso da sabedoria e da criatividade, começaram a luta para remover as pedras do caminho em busca da luz.
Certa vez, a madre Teresa de Calcutá foi criticada por um jornalista:
- Irmã, com esse seu trabalho de assistência aos pobres, a senhora só está legitimando a exploração capitalista.
A madre, com a serenidade de quem, com convicção, fez a opção cristã pelos pobres, perguntou ao jornalista:
- Meu filho, quando a luz de sua casa apaga-se o que você faz?
- Acendo uma vela – respondeu o jornalista.
- Pois o mundo está sem luz e eu estou acendendo minha vela, acenda a sua também – devolveu a irmã.
Então era o que tínhamos que fazer: acender velas, porque o nosso país estava nas trevas. E cada um de nós devia fazer a sua parte. No escuro é que não podíamos permanecer. A escuridão provoca medo, produz incertezas, cria fantasmas, dá a sensação de insegurança. As pessoas, sem a luz, perdem o rumo, ficam confusas e, muitas vezes entram em pânico e perdem a noção do equilíbrio e desanimam. Era preciso agir e rápido, não deixar que o desânimo tomasse conta de todos.
Em casa, conversávamos eu e a Maria José sobre o que fazer. Eu tinha sofrido 46 dias de prisão por ser presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. A entidade estava sob intervenção do governo e a categoria bancária intimidada por força da perseguição política. Outras organizações populares estavam desmanteladas, os partidos políticos controlados. Até na Igreja estava difícil conversar sobre a realidade social e política do país. Estava difícil reunir até mesmo os ativistas que escaparam da grande tribulação.
Mas alguma coisa precisava ser feita. Não seria um poder medíocre, movido pela ganância, pela força do dinheiro e da injustiça que se sobreporia ao poder das ideias, da justiça e da esperança. Nossa convicção estava na força transformadora do Evangelho, que nos ensina: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. “Sede prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas” (MT 10). E mais: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). E “Vós sois o sal da terra e luz do mundo”. E “Passará o céu e a terra, mas minhas palavras não passarão”. São palavras do Mestre Jesus. Não haveria, portanto, nada a temer.
Lendo “Atos dos Apóstolos”, escrito pelo evangelista Lucas, refletimos sobre a ação dos primeiros cristãos, que se reuniam em casas de família para a oração, partilha e reflexão sobre os ensinamentos de Cristo, buscando forças para a missão que deviam desempenhar: a mudança do mundo. E chegamos à conclusão que podíamos reunir pessoas em nossa casa. Tínhamos que nos conscientizar dos dons do Espírito Santo e sermos criativos..
Levamos nossas reflexões a outras pessoas. Faríamos reuniões em casas de família. A princípio, em festinhas de aniversário. Enquanto comemorássemos, conversaríamos, analisaríamos a situação política e buscaríamos saídas. Inicialmente, o importante era reunirmos pessoas, juntar o rebanho disperso pelo ataque dos lobos. E começamos em nossa casa. Juntamos muitos amigos, independente de credo ou convicção política.
Com o tempo, as pedras foram sendo retiradas e as visões se clareando. Nas relações familiares estabelecemos uma trincheira de luta contra a ditadura. Nessas reuniões, podíamos reunir até os companheiros mais visados pelas forças da repressão. Com alguns ativistas, as discussões foram-se aprofundando. Com o pessoal da Igreja discutíamos o compromisso social dos cristãos, cuja missão é impregnar a sociedade do sentimento de solidariedade, justiça, esperança, liberdade e paz. Nessa reflexão tivemos a ajuda de alguns sacerdotes comprometidos com a Doutrina Social da Igreja. Nesse momento, a Igreja já começava a assumir a defesa do povo, reclamando o respeito aos direitos humanos.
E não podíamos deixar de aprofundar essas discussões com companheiros do movimento sindical, principalmente bancários. Inicialmente eram poucos, uns oito. Quase todos motivados por ideias marxistas, eram pessoas de boa vontade, com muita sede de justiça. Eram companheiros de luta, vítimas da perseguição política da ditadura militar.
Nós tínhamos plena consciência dos ensinamentos do Evangelho, dirigidos a todos os seres humanos. “Glória Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” - disseram os anjos aos pastores, ao anunciarem o nascimento de Cristo. Lembrávamos também do sermão da Montanha, que dizia: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.”; Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Aqueles companheiros estavam enquadrados nesses princípios evangélicos: eram homens de boa vontade, integrados na luta pela justiça social, por isso, sofriam perseguições. Eram homens de bem, companheiros de luta. Podíamos e devíamos acolhê-los em nossa casa. Tínhamos que andar todos juntos.
Assim, a nossa casa transformou-se num centro de resistência à ditadura. A princípio, com o país ainda no escuro, tateávamos, com reuniões disfarçadas. Mas, à medida que as pedras iam sendo removidas, a luz aparecia e as reuniões tornavam-se mais abertas e amplas E, a partir de reuniões como as nossas, cresceu o movimento de articulação, que muito contribuiu para a conquista da reabertura democrática.
Estou contando essas coisas, não por simples lembrança, ou saudosismo, mas para valorizar a nossa memória e dizer que as pedras ainda não foram totalmente retiradas e a luz do final do túnel ainda não resplandece completamente. Dia após dia, os inimigos da liberdade colocam pedras no caminho, tentando obstruir a caminhada do povo rumo à liberdade plena. O trabalho de remoção é permanente e deve reunir sempre, em mutirão, todas as pessoas que lutam pela liberdade, todos os homens e mulheres de boa vontade.
Edmílson Martins de Oliveira - julho de 2009
Quando eu era criança, ouvia histórias contadas pelos mais velhos. Histórias vividas por eles e por seus antepassados. Ouvia também as chamadas “estórias de Trancoso”: ficções com sabor de realidades. Lições de vida, transmissão de experiências e sabedoria passadas aos mais jovens. Hoje, já passando dos 70, percebo o quanto aqueles contadores de histórias e de estórias influenciaram no meu aprendizado. Por isso, hoje, eu conto histórias:
A partir do final de 1968 e durante os anos de 1970, principalmente no governo do general Médice, intensificou-se a repressão aos movimentos populares que resistiam à ditadura militar. A luz que se vislumbrava no final do túnel foi ofuscada por enormes pedras colocadas no caminho. O nosso país voltava à escuridão, dessa vez, total. O povo, que antevia uma luz, ficou nas trevas.
A perseguição política aos que não concordavam com o regime opressor atingiu duramente o povo brasileiro. Movimentos organizados foram desmantelados, ativistas foram presos e muitos, além de presos, torturados. Vários foram os assassinatos nos cárceres, praticados por carrascos do sistema da opressão. Outras pessoas, para não serem presas ou morrerem, exilaram-se. Foram silenciadas as principais lideranças do povo, que ficou sem vez e sem voz.
Mas o regime ditatorial não conseguiu calar a voz de todos. Muitos, mesmo na escuridão, procuraram organizar a luta de resistência. Tateando, procuraram tirar fogo das pedras, juntar gravetos e acender fogueiras. Com o uso da sabedoria e da criatividade, começaram a luta para remover as pedras do caminho em busca da luz.
Certa vez, a madre Teresa de Calcutá foi criticada por um jornalista:
- Irmã, com esse seu trabalho de assistência aos pobres, a senhora só está legitimando a exploração capitalista.
A madre, com a serenidade de quem, com convicção, fez a opção cristã pelos pobres, perguntou ao jornalista:
- Meu filho, quando a luz de sua casa apaga-se o que você faz?
- Acendo uma vela – respondeu o jornalista.
- Pois o mundo está sem luz e eu estou acendendo minha vela, acenda a sua também – devolveu a irmã.
Então era o que tínhamos que fazer: acender velas, porque o nosso país estava nas trevas. E cada um de nós devia fazer a sua parte. No escuro é que não podíamos permanecer. A escuridão provoca medo, produz incertezas, cria fantasmas, dá a sensação de insegurança. As pessoas, sem a luz, perdem o rumo, ficam confusas e, muitas vezes entram em pânico e perdem a noção do equilíbrio e desanimam. Era preciso agir e rápido, não deixar que o desânimo tomasse conta de todos.
Em casa, conversávamos eu e a Maria José sobre o que fazer. Eu tinha sofrido 46 dias de prisão por ser presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. A entidade estava sob intervenção do governo e a categoria bancária intimidada por força da perseguição política. Outras organizações populares estavam desmanteladas, os partidos políticos controlados. Até na Igreja estava difícil conversar sobre a realidade social e política do país. Estava difícil reunir até mesmo os ativistas que escaparam da grande tribulação.
Mas alguma coisa precisava ser feita. Não seria um poder medíocre, movido pela ganância, pela força do dinheiro e da injustiça que se sobreporia ao poder das ideias, da justiça e da esperança. Nossa convicção estava na força transformadora do Evangelho, que nos ensina: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. “Sede prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas” (MT 10). E mais: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). E “Vós sois o sal da terra e luz do mundo”. E “Passará o céu e a terra, mas minhas palavras não passarão”. São palavras do Mestre Jesus. Não haveria, portanto, nada a temer.
Lendo “Atos dos Apóstolos”, escrito pelo evangelista Lucas, refletimos sobre a ação dos primeiros cristãos, que se reuniam em casas de família para a oração, partilha e reflexão sobre os ensinamentos de Cristo, buscando forças para a missão que deviam desempenhar: a mudança do mundo. E chegamos à conclusão que podíamos reunir pessoas em nossa casa. Tínhamos que nos conscientizar dos dons do Espírito Santo e sermos criativos..
Levamos nossas reflexões a outras pessoas. Faríamos reuniões em casas de família. A princípio, em festinhas de aniversário. Enquanto comemorássemos, conversaríamos, analisaríamos a situação política e buscaríamos saídas. Inicialmente, o importante era reunirmos pessoas, juntar o rebanho disperso pelo ataque dos lobos. E começamos em nossa casa. Juntamos muitos amigos, independente de credo ou convicção política.
Com o tempo, as pedras foram sendo retiradas e as visões se clareando. Nas relações familiares estabelecemos uma trincheira de luta contra a ditadura. Nessas reuniões, podíamos reunir até os companheiros mais visados pelas forças da repressão. Com alguns ativistas, as discussões foram-se aprofundando. Com o pessoal da Igreja discutíamos o compromisso social dos cristãos, cuja missão é impregnar a sociedade do sentimento de solidariedade, justiça, esperança, liberdade e paz. Nessa reflexão tivemos a ajuda de alguns sacerdotes comprometidos com a Doutrina Social da Igreja. Nesse momento, a Igreja já começava a assumir a defesa do povo, reclamando o respeito aos direitos humanos.
E não podíamos deixar de aprofundar essas discussões com companheiros do movimento sindical, principalmente bancários. Inicialmente eram poucos, uns oito. Quase todos motivados por ideias marxistas, eram pessoas de boa vontade, com muita sede de justiça. Eram companheiros de luta, vítimas da perseguição política da ditadura militar.
Nós tínhamos plena consciência dos ensinamentos do Evangelho, dirigidos a todos os seres humanos. “Glória Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” - disseram os anjos aos pastores, ao anunciarem o nascimento de Cristo. Lembrávamos também do sermão da Montanha, que dizia: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.”; Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Aqueles companheiros estavam enquadrados nesses princípios evangélicos: eram homens de boa vontade, integrados na luta pela justiça social, por isso, sofriam perseguições. Eram homens de bem, companheiros de luta. Podíamos e devíamos acolhê-los em nossa casa. Tínhamos que andar todos juntos.
Assim, a nossa casa transformou-se num centro de resistência à ditadura. A princípio, com o país ainda no escuro, tateávamos, com reuniões disfarçadas. Mas, à medida que as pedras iam sendo removidas, a luz aparecia e as reuniões tornavam-se mais abertas e amplas E, a partir de reuniões como as nossas, cresceu o movimento de articulação, que muito contribuiu para a conquista da reabertura democrática.
Estou contando essas coisas, não por simples lembrança, ou saudosismo, mas para valorizar a nossa memória e dizer que as pedras ainda não foram totalmente retiradas e a luz do final do túnel ainda não resplandece completamente. Dia após dia, os inimigos da liberdade colocam pedras no caminho, tentando obstruir a caminhada do povo rumo à liberdade plena. O trabalho de remoção é permanente e deve reunir sempre, em mutirão, todas as pessoas que lutam pela liberdade, todos os homens e mulheres de boa vontade.
OS GAROTOS PÓS DITADURA
Edmílson Martins
Eles tinham 10, 15, 18, 20 anos..., no final da ditadura militar, em 1985. Eu e muitos companheiros lutáramos durante mais de 20 anos pelo restabelecimento das liberdades em nosso país. Enfrentáramos prepotência, sofrêramos perseguições, prisões, torturas e mortes, tudo para que eles pudessem participar livremente como cidadãos.
Com alegria, já os víamos participando do movimento de organização dos grêmios estudantis, centros acadêmicos e da União Nacional dos Estudantes. Nos colégios, quando não podiam se reunir nas salas, por causa da repressão dos diretores, reuniam-se no pátio, na hora do recreio.
Em 1985, já participaram do movimento pelas Diretas Já. Ficávamos contentes quando os víamos interessados em participar das discussões políticas, das campanhas eleitorais e do Movimento Popular.
Quando, em 1979/80, surgiu o PT com propostas de mudanças e participação popular, lá estavam eles nos núcleos de base e atividades de rua. E, em 1989, na candidatura de Lula a presidente da República, que trazia um projeto de renovação, a participação dos jovens foi maciça, com entusiasmo contagiante.
Em 1991, foram eles para as ruas, aos milhares, exigir o afastamento do presidente Collor. Já mostravam consciência política e desejo ardente de exercer a cidadania
Hoje, o PT e outros partidos que incentivavam a participação cidadã e a organização permanente dos Movimentos Populares estão no poder. Mas não há mais núcleos de base, nem atividades de ruas. Não há grêmios, não há movimento estudantil. Aqueles meninos de 10, 15, 18, 20 anos, hoje têm entre 33 e 43 anos e deviam estar nos sindicatos, nos partidos políticos, nos movimentos populares. Os meninos de hoje, entre 10 e 20 anos deviam estar no Movimento Estudantil e nas atividades políticas e sociais. Não estão.
O que aconteceu? Onde estão os nossos jovens e adolescentes? Já não ouvimos mais os seus gritos nas ruas, suas algazarras. Não vemos mais sua rebeldia cidadã, sua participação coletiva. Ai da sociedade cuja juventude silencia! O futuro será sombrio.
Os que hoje estão no poder e que defendiam a abertura democrática e dos canais de participação coletiva, necessários para o crescimento da sociedade parecem que esqueceram suas raízes e traíram os princípios pelos quais lutaram. E são, em grande parte, responsáveis pelo refluxo da organização dos movimentos populares. Pois o incentivo ao desenvolvimento da organização popular, o fortalecimento dos sindicatos de trabalhadores, a criação de espaços de participação coletiva dos jovens, tudo foi inexplicavelmente suspenso. Ou, talvez, tudo tenha sido propositalmente suspenso. Para atender a que interesses? Tudo isso merece uma séria reflexão e responsabilização. Há que haver explicações.
Na trajetória de combate à ditadura, cantávamos as músicas “apesar de você”, “Pra não dizer que não falei de flores”, “O bêbado e o Equilibrista”, “Cálice”, “O que será que será”, “Sabiá”, etc. Será que vamos ter de cantar tudo de novo? Ou nunca devíamos ter parado de cantá-las?
“Caminhando e cantando e seguindo a canção”... ”Apesar de você...” ”Vai passar nessa avenida um samba popular...” “Como é difícil acordar calado...” “Não há de ser inutilmente a esperança...” ”E todos os meninos vão desembestar...” “E todos os destinos irão se encontrar...” E assim por diante.
Rio, 20 /01/2009 E
Eles tinham 10, 15, 18, 20 anos..., no final da ditadura militar, em 1985. Eu e muitos companheiros lutáramos durante mais de 20 anos pelo restabelecimento das liberdades em nosso país. Enfrentáramos prepotência, sofrêramos perseguições, prisões, torturas e mortes, tudo para que eles pudessem participar livremente como cidadãos.
Com alegria, já os víamos participando do movimento de organização dos grêmios estudantis, centros acadêmicos e da União Nacional dos Estudantes. Nos colégios, quando não podiam se reunir nas salas, por causa da repressão dos diretores, reuniam-se no pátio, na hora do recreio.
Em 1985, já participaram do movimento pelas Diretas Já. Ficávamos contentes quando os víamos interessados em participar das discussões políticas, das campanhas eleitorais e do Movimento Popular.
Quando, em 1979/80, surgiu o PT com propostas de mudanças e participação popular, lá estavam eles nos núcleos de base e atividades de rua. E, em 1989, na candidatura de Lula a presidente da República, que trazia um projeto de renovação, a participação dos jovens foi maciça, com entusiasmo contagiante.
Em 1991, foram eles para as ruas, aos milhares, exigir o afastamento do presidente Collor. Já mostravam consciência política e desejo ardente de exercer a cidadania
Hoje, o PT e outros partidos que incentivavam a participação cidadã e a organização permanente dos Movimentos Populares estão no poder. Mas não há mais núcleos de base, nem atividades de ruas. Não há grêmios, não há movimento estudantil. Aqueles meninos de 10, 15, 18, 20 anos, hoje têm entre 33 e 43 anos e deviam estar nos sindicatos, nos partidos políticos, nos movimentos populares. Os meninos de hoje, entre 10 e 20 anos deviam estar no Movimento Estudantil e nas atividades políticas e sociais. Não estão.
O que aconteceu? Onde estão os nossos jovens e adolescentes? Já não ouvimos mais os seus gritos nas ruas, suas algazarras. Não vemos mais sua rebeldia cidadã, sua participação coletiva. Ai da sociedade cuja juventude silencia! O futuro será sombrio.
Os que hoje estão no poder e que defendiam a abertura democrática e dos canais de participação coletiva, necessários para o crescimento da sociedade parecem que esqueceram suas raízes e traíram os princípios pelos quais lutaram. E são, em grande parte, responsáveis pelo refluxo da organização dos movimentos populares. Pois o incentivo ao desenvolvimento da organização popular, o fortalecimento dos sindicatos de trabalhadores, a criação de espaços de participação coletiva dos jovens, tudo foi inexplicavelmente suspenso. Ou, talvez, tudo tenha sido propositalmente suspenso. Para atender a que interesses? Tudo isso merece uma séria reflexão e responsabilização. Há que haver explicações.
Na trajetória de combate à ditadura, cantávamos as músicas “apesar de você”, “Pra não dizer que não falei de flores”, “O bêbado e o Equilibrista”, “Cálice”, “O que será que será”, “Sabiá”, etc. Será que vamos ter de cantar tudo de novo? Ou nunca devíamos ter parado de cantá-las?
“Caminhando e cantando e seguindo a canção”... ”Apesar de você...” ”Vai passar nessa avenida um samba popular...” “Como é difícil acordar calado...” “Não há de ser inutilmente a esperança...” ”E todos os meninos vão desembestar...” “E todos os destinos irão se encontrar...” E assim por diante.
Rio, 20 /01/2009 E
O MESMO PALCO, AS MESMAS TRAGÉDIAS
Edmílson Martins
Sábado, 8 horas da manhã, no centro da cidade, Av. Presidente Vargas, ao lado da igreja da Candelária. Embaixo de marquises de prédios onde funcionam bancos- poderosos agentes do mercado financeiro- crianças, jovens e adultos amontoados no chão, dormindo.
Ia eu passando e de repente um garoto:
- Tio me dá um trocado aí?
- Pra que você quer um trocado?
- Pra tomar um café, tô com fome, tio.
- Olha aqui, o pessoal da prefeitura está tirando os meninos das ruas, certamente, oferecendo uma vida melhor. Não chegaram até você e seus amigos aí?
- É ruim, tio, eles maltratam a gente! Não quero sair daqui não!
- Quem maltrata vocês?
- Esses home do governo, tio.
Aí eu me lembrei do triste episódio ocorrido em 1963, no governo Carlos Lacerda. Com o pretexto de “limpeza” da cidade, muitos mendigos foram retirados das ruas. Vários deles apareceram mortos no Rio da Guarda. Foram colocados dentro de sacos de estopa, amarrados e jogados no rio.
Lembrei-me também que, ali, ao lado da igreja da Candelária, naquele ambiente contraditório de instituições financeiras, que acumulam grandes fortunas, de crianças de ruas que passam fome e dormem ao relento, muitos fatos ocorreram nos últimos 40 anos. Fatos que denunciam muito bem as contradições do modelo de sociedade predominante em nosso país há centenas de anos.
Naquele palco do centro financeiro, foram organizadas, entre 1960/63, grandes greves de bancários, que denunciavam a ganância dos banqueiros, reivindicavam um novo modelo econômico e melhores condições de vida.
Em 1968, ao redor da igreja da Candelária, presenciei a ação da cavalaria do Exército, espancando e pisoteando pessoas que saíam da missa de sétimo dia do estudante Edson Luís do Nascimento, que fora morto pela polícia, na repressão ao Movimento Estudantil.
Em 1993, bem ao lado da igreja, aconteceu a terrível “chacina dos meninos da Candelária”. Oito meninos foram covardemente assassinados pela polícia, enquanto dormiam.
Os tempos mudaram, mas não mudou a realidade. Profundas contradições continuam marcando a nossa sociedade. Hoje, presenciamos, naquele mesmo ambiente financeiro, ao lado da igreja da Candelária, ironicamente, meninos, meninas, jovens e adultos que passam fome e dormem embaixo de marquises de grandes edifícios, onde permanece o mesmo poder econômico que continua determinando o modelo de sociedade em que vivemos: injusto, perverso e excludente. São moradores de rua, que não aceitam ser recolhidos pela prefeitura porque têm medo de que aconteça com eles o mesmo que aconteceu com os mendigos da época do Governo Lacerda.
Triste a sociedade que não confia em seus governantes. Tristes os governantes que não inspiram a confiança dos seus governados.
E o garoto falou:
- É ruim, tio, eles maltratam a gente!
Rio, 14 de janeiro de 2009
Sábado, 8 horas da manhã, no centro da cidade, Av. Presidente Vargas, ao lado da igreja da Candelária. Embaixo de marquises de prédios onde funcionam bancos- poderosos agentes do mercado financeiro- crianças, jovens e adultos amontoados no chão, dormindo.
Ia eu passando e de repente um garoto:
- Tio me dá um trocado aí?
- Pra que você quer um trocado?
- Pra tomar um café, tô com fome, tio.
- Olha aqui, o pessoal da prefeitura está tirando os meninos das ruas, certamente, oferecendo uma vida melhor. Não chegaram até você e seus amigos aí?
- É ruim, tio, eles maltratam a gente! Não quero sair daqui não!
- Quem maltrata vocês?
- Esses home do governo, tio.
Aí eu me lembrei do triste episódio ocorrido em 1963, no governo Carlos Lacerda. Com o pretexto de “limpeza” da cidade, muitos mendigos foram retirados das ruas. Vários deles apareceram mortos no Rio da Guarda. Foram colocados dentro de sacos de estopa, amarrados e jogados no rio.
Lembrei-me também que, ali, ao lado da igreja da Candelária, naquele ambiente contraditório de instituições financeiras, que acumulam grandes fortunas, de crianças de ruas que passam fome e dormem ao relento, muitos fatos ocorreram nos últimos 40 anos. Fatos que denunciam muito bem as contradições do modelo de sociedade predominante em nosso país há centenas de anos.
Naquele palco do centro financeiro, foram organizadas, entre 1960/63, grandes greves de bancários, que denunciavam a ganância dos banqueiros, reivindicavam um novo modelo econômico e melhores condições de vida.
Em 1968, ao redor da igreja da Candelária, presenciei a ação da cavalaria do Exército, espancando e pisoteando pessoas que saíam da missa de sétimo dia do estudante Edson Luís do Nascimento, que fora morto pela polícia, na repressão ao Movimento Estudantil.
Em 1993, bem ao lado da igreja, aconteceu a terrível “chacina dos meninos da Candelária”. Oito meninos foram covardemente assassinados pela polícia, enquanto dormiam.
Os tempos mudaram, mas não mudou a realidade. Profundas contradições continuam marcando a nossa sociedade. Hoje, presenciamos, naquele mesmo ambiente financeiro, ao lado da igreja da Candelária, ironicamente, meninos, meninas, jovens e adultos que passam fome e dormem embaixo de marquises de grandes edifícios, onde permanece o mesmo poder econômico que continua determinando o modelo de sociedade em que vivemos: injusto, perverso e excludente. São moradores de rua, que não aceitam ser recolhidos pela prefeitura porque têm medo de que aconteça com eles o mesmo que aconteceu com os mendigos da época do Governo Lacerda.
Triste a sociedade que não confia em seus governantes. Tristes os governantes que não inspiram a confiança dos seus governados.
E o garoto falou:
- É ruim, tio, eles maltratam a gente!
Rio, 14 de janeiro de 2009
O MENINO DA GRUTA
(Edmilson Martins de Oliveira)
Lá estava Ele. Agasalhado numa manjedoura, no calor do feno. Vigoroso, olhinhos brilhantes, batendo com os pezinhos, mãozinhas buliçosas, acenando para os animais, que estavam presentes, dando boas-vindas ao seu criador.
O galo rapidamente anunciara: “Cristo nasceu”!! A vaca perguntara: “Onde”! A ovelha respondera: “Em Belém”! E logo os animais se reuniram em volta do recém-nascido. De humanos somente seus pais: José e Maria.
Estava ali o Menino Deus, que visitava seu mundo, seu povo e as demais criaturas, acolhido pelos animais e pela natureza. Atônito, ao ver a realidade da humanidade, dedo em riste, interpelava os seres humanos: “O que vocês fizeram com o mundo? Fiz tudo certinho. “Criei a terra, enchi rios, fiz as serras, não deixei nada faltar”. E eis o que vejo: “tanto horror perante os céus”. Ódios, vinganças, guerras fratricidas, irmãos matando irmãos, homens escravizando outros homens. Criei todos iguais. Por que tanta desigualdade? Criei tudo para todos. Por que alguns têm mais do que necessitam e muitos passam necessidades? Com tantos bens, tanta fartura, como podem crianças morrerem de fome? Vocês maltratam os animais e depredam a natureza que criei com tanto carinho. Coloquei vocês no mundo para o administrarem e serem felizes, amando e vivendo a vida. Mas vocês não se amam, não escolheram a vida, por isso são infelizes.
Os animais o ouviam, o louvavam e o aplaudiam. E o Menino continuava na sua admoestação: “Vim visitá-los e queria encontrá-los em harmonia com vocês mesmos, com a natureza criada e com seu criador. Mas só vejo desarmonia. Tudo criei e não encontrei uma casa para nascer. Meus pais bateram de porta em porta e não encontraram acolhimento. Oh! Deus, que horror! Parei de insistir. Resolvi nascer entre os animais. Esses sim, são fiéis, simples, vivem em harmonia com a natureza e com seu criador. Estão aqui ao meu lado e me reverenciam. Ah! os pastores – homens simples como as ovelhas – também estão aqui. Vejo que são exceção. São “civilizados como os animais”.
“Pois bem, - continuou o Deus Menino - vim visitar o mundo, esperando uma grande festa de recepção e o encontro assim: bagunçado, desordenado, dilacerado. Venho aos meus e não sou recebido. Como já disse, criei tudo, não deixei nada faltar e nas casas não posso entrar. É duro! É difícil aceitar isso!”
E, diante de José e Maria – seus pais -, dos pastores, dos animais e dos magos, que tinham acabado de chegar, guiados pela estrela, que indicava o nascimento de um grande rei, ponderou, na sua infinita misericórdia, o Deus Menino: “Acho que vocês, precisam nascer outra vez. Começar tudo de novo. E, apesar da péssima acolhida, da incompreensão e da infidelidade, quero dizer que os amo e quero ajudá-los a se reabilitarem. Vocês têm capacidade de reabilitação, pois assim os criei. Posso lhes dizer que, apesar da queda, tudo pode ser recomeçado. Vocês podem reconquistar a felicidade. Embora possam ser interrompidos antes de terminar, não tenham medo. Façam sempre da interrupção um caminho novo, do sonho uma ponte e da procura um encontro, pois no final da caminhada temos um encontro marcado no Reino de Deus, onde não haverá desarmonia nem tristeza”.
Essa foi a mensagem trazida por aquele Menino nascido na gruta de Belém, na simplicidade dos animais. Ali surgiu o recomeço, a pedra fundamental para o reerguimento da humanidade, a luta pela construção do Reino de Deus - o Reino da justiça, do amor e da paz. E nós somos todos operários dessa construção. “Operários em construção”. Com o Menino da gruta, começa uma Nova História e nasce a esperança de um mundo novo, a ser construído com a participação de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. A partir do nascimento na gruta, muitas coisas aconteceram e estão acontecendo e acontecerão...HH
Água Santa (RJ), 30/12/2008
Edmilson Martins de Oliveira
Lá estava Ele. Agasalhado numa manjedoura, no calor do feno. Vigoroso, olhinhos brilhantes, batendo com os pezinhos, mãozinhas buliçosas, acenando para os animais, que estavam presentes, dando boas-vindas ao seu criador.
O galo rapidamente anunciara: “Cristo nasceu”!! A vaca perguntara: “Onde”! A ovelha respondera: “Em Belém”! E logo os animais se reuniram em volta do recém-nascido. De humanos somente seus pais: José e Maria.
Estava ali o Menino Deus, que visitava seu mundo, seu povo e as demais criaturas, acolhido pelos animais e pela natureza. Atônito, ao ver a realidade da humanidade, dedo em riste, interpelava os seres humanos: “O que vocês fizeram com o mundo? Fiz tudo certinho. “Criei a terra, enchi rios, fiz as serras, não deixei nada faltar”. E eis o que vejo: “tanto horror perante os céus”. Ódios, vinganças, guerras fratricidas, irmãos matando irmãos, homens escravizando outros homens. Criei todos iguais. Por que tanta desigualdade? Criei tudo para todos. Por que alguns têm mais do que necessitam e muitos passam necessidades? Com tantos bens, tanta fartura, como podem crianças morrerem de fome? Vocês maltratam os animais e depredam a natureza que criei com tanto carinho. Coloquei vocês no mundo para o administrarem e serem felizes, amando e vivendo a vida. Mas vocês não se amam, não escolheram a vida, por isso são infelizes.
Os animais o ouviam, o louvavam e o aplaudiam. E o Menino continuava na sua admoestação: “Vim visitá-los e queria encontrá-los em harmonia com vocês mesmos, com a natureza criada e com seu criador. Mas só vejo desarmonia. Tudo criei e não encontrei uma casa para nascer. Meus pais bateram de porta em porta e não encontraram acolhimento. Oh! Deus, que horror! Parei de insistir. Resolvi nascer entre os animais. Esses sim, são fiéis, simples, vivem em harmonia com a natureza e com seu criador. Estão aqui ao meu lado e me reverenciam. Ah! os pastores – homens simples como as ovelhas – também estão aqui. Vejo que são exceção. São “civilizados como os animais”.
“Pois bem, - continuou o Deus Menino - vim visitar o mundo, esperando uma grande festa de recepção e o encontro assim: bagunçado, desordenado, dilacerado. Venho aos meus e não sou recebido. Como já disse, criei tudo, não deixei nada faltar e nas casas não posso entrar. É duro! É difícil aceitar isso!”
E, diante de José e Maria – seus pais -, dos pastores, dos animais e dos magos, que tinham acabado de chegar, guiados pela estrela, que indicava o nascimento de um grande rei, ponderou, na sua infinita misericórdia, o Deus Menino: “Acho que vocês, precisam nascer outra vez. Começar tudo de novo. E, apesar da péssima acolhida, da incompreensão e da infidelidade, quero dizer que os amo e quero ajudá-los a se reabilitarem. Vocês têm capacidade de reabilitação, pois assim os criei. Posso lhes dizer que, apesar da queda, tudo pode ser recomeçado. Vocês podem reconquistar a felicidade. Embora possam ser interrompidos antes de terminar, não tenham medo. Façam sempre da interrupção um caminho novo, do sonho uma ponte e da procura um encontro, pois no final da caminhada temos um encontro marcado no Reino de Deus, onde não haverá desarmonia nem tristeza”.
Essa foi a mensagem trazida por aquele Menino nascido na gruta de Belém, na simplicidade dos animais. Ali surgiu o recomeço, a pedra fundamental para o reerguimento da humanidade, a luta pela construção do Reino de Deus - o Reino da justiça, do amor e da paz. E nós somos todos operários dessa construção. “Operários em construção”. Com o Menino da gruta, começa uma Nova História e nasce a esperança de um mundo novo, a ser construído com a participação de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. A partir do nascimento na gruta, muitas coisas aconteceram e estão acontecendo e acontecerão...HH
Água Santa (RJ), 30/12/2008
Edmilson Martins de Oliveira
LEMBRAR É COMBATER, ESQUECER É ADMITIR
Edmilson Martins
Se alguém duvidar do que vou contar, antecipo prudente: “meninos, eu vi”, como disse o velho timbira, do poema de Gonçalves Dias, quando contava aos moços da sua tribo a memória e a bravura do moço guerreiro, do velho tupi.
Foi no dia 31 de março de 1964. O país acordou sentindo um cheiro de enxofre, de coisa ruim no ar. As nuvens negras que no céu surgiam denunciavam o começo de mau tempo, com chuvas, trovoadas, relâmpagos e tempestades. Algo de podre existia no meio das elites civis e militares. Um golpe tinha sido tramado e estava sendo realizado contra o presidente João Goulart e contra o povo brasileiro. A democracia seria gravemente ferida pelos podres poderes.
O país entrava em rebuliço. Tropas nas estradas, quartéis de prontidão, declarações pró e contra o governo, chamada de greve geral, conclamações à resistência, etc. Uma confusão generalizada. Foi um dia de expectativas.
No dia primeiro de abril, tudo estava consumado. Perpetrava-se o hediondo crime contra as liberdades em nosso país. Começava o retardamento da caminhada do povo rumo à libertação. O serviço de meteorologia da opressão anunciava tempo ruim por muitos anos. E assim aconteceu. Instalou-se a ditadura militar.
Era primeiro de abril e tudo parecia uma grande mentira, mas era verdade. Nas ruas estavam tanques, canhões, metralhadoras, fuzis e soldados. O povo, chamado a reagir, não respondeu. A reação ficou por conta das lideranças dos movimentos organizados, que foram para as ruas, mas não resistiram à pressão dos tanques e canos dos canhões, metralhadoras e fuzis.
No Rio de Janeiro, a praça da Cinelândia foi palco de tentativa de resistência. Para lá foram lideranças sindicais, estudantis e de outros movimentos sociais. E como não poderia deixar de acontecer, lá estavam vários representantes da combativa categoria bancária do Rio de Janeiro. Mas aquele movimento de resistência só durou até o momento em que a praça foi cercada por tanques, canhões, fuzis e metralhadoras. Ficaram o grito de indignação, a frustração momentânea e a disposição de resistir de outra maneira, o que ocorreu nos 20 anos seguintes.
Os cristãos, todo ano, por esta época, lembram o cruel assassinado de Jesus Cristo, ocorrido há quase dois mil anos, condenado à morte porque pregava a libertação dos prisioneiros e oprimidos, a restituição da vista aos cegos e anunciava aos pobres a boa nova da liberdade. E apresentava um projeto que previa a construção de uma sociedade nova, justa, fraterna e solidária. Mas os cristãos não só denunciam o crime praticado contra Jesus Cristo. Principalmente, anunciam e comemoram o que vem depois - a vitória da liberdade. A ressurreição torna claros os caminhos da vida e derrota os esquemas que traçam os caminhos da morte. Os opressores pensaram que, com a morte de Cristo, matariam os anseios de liberdade existentes no povo. Enganaram-se. O projeto da sociedade justa lançado por Jesus Cristo permaneceu vivo e a luta pela libertação continuou forte e definitiva.
Assim também é sempre necessário lembrar o que ocorreu em 1964 e refletirmos. Os mesmos interesses que assassinaram Jesus Cristo, crucificaram a democracia e pensaram que os anseios de liberdade do povo brasileiro estavam mortos. Enganaram-se. A vontade de ser livre ressurgiu e a luta continuou. O povo, com sua criatividade, sua coragem e persistência, sua participação nos movimentos populares, nas organizações dos trabalhadores (mesmo reprimidas), nos movimentos da Igreja, nas atividades intelectuais foram pouco a pouco desmontando as estruturas do regime opressor, que, por fim, desmoronou.
Enfrentamos prepotências, experimentamos torturas, mortes e prisões, dormimos no frio chão, sofremos humilhações. Tudo para sermos livres, independentes, donos do nosso destino. Valeu a pena? Lembrando o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Por fim, essa mancha e página infeliz da nossa História - 0s 20 anos de ditadura militar-, com as “tenebrosas transações”, que tanto prejudicaram o nosso país e o desenvolvimento social do nosso povo, não pode ser uma “passagem desbotada da memória de nossas novas gerações “. Devem estar sempre presentes em nossa memória as graves conseqüências da ditadura, para não permitirmos que nunca mais aquilo aconteça.
Por outro lado, a luta de resistência derrotou a ditadura militar, mas não derrotou ainda a ditadura econômica - dos banqueiros, do mercado de capitais, do capitalismo internacional -, que continua gerando a exclusão, os baixos salários, o desemprego, a fome, a miséria, a violência e a submissão. Por isso, é preciso continuar resistindo, com muita intensidade. E com mais criatividade e sabedoria, porque os opressores, hoje, usam para dominar, as poderosas armas da tecnologia e da comunicação, que eles controlam.
Rio de Janeiro. 26 de março de 2008
Edmílson Martins de Oliveira
Se alguém duvidar do que vou contar, antecipo prudente: “meninos, eu vi”, como disse o velho timbira, do poema de Gonçalves Dias, quando contava aos moços da sua tribo a memória e a bravura do moço guerreiro, do velho tupi.
Foi no dia 31 de março de 1964. O país acordou sentindo um cheiro de enxofre, de coisa ruim no ar. As nuvens negras que no céu surgiam denunciavam o começo de mau tempo, com chuvas, trovoadas, relâmpagos e tempestades. Algo de podre existia no meio das elites civis e militares. Um golpe tinha sido tramado e estava sendo realizado contra o presidente João Goulart e contra o povo brasileiro. A democracia seria gravemente ferida pelos podres poderes.
O país entrava em rebuliço. Tropas nas estradas, quartéis de prontidão, declarações pró e contra o governo, chamada de greve geral, conclamações à resistência, etc. Uma confusão generalizada. Foi um dia de expectativas.
No dia primeiro de abril, tudo estava consumado. Perpetrava-se o hediondo crime contra as liberdades em nosso país. Começava o retardamento da caminhada do povo rumo à libertação. O serviço de meteorologia da opressão anunciava tempo ruim por muitos anos. E assim aconteceu. Instalou-se a ditadura militar.
Era primeiro de abril e tudo parecia uma grande mentira, mas era verdade. Nas ruas estavam tanques, canhões, metralhadoras, fuzis e soldados. O povo, chamado a reagir, não respondeu. A reação ficou por conta das lideranças dos movimentos organizados, que foram para as ruas, mas não resistiram à pressão dos tanques e canos dos canhões, metralhadoras e fuzis.
No Rio de Janeiro, a praça da Cinelândia foi palco de tentativa de resistência. Para lá foram lideranças sindicais, estudantis e de outros movimentos sociais. E como não poderia deixar de acontecer, lá estavam vários representantes da combativa categoria bancária do Rio de Janeiro. Mas aquele movimento de resistência só durou até o momento em que a praça foi cercada por tanques, canhões, fuzis e metralhadoras. Ficaram o grito de indignação, a frustração momentânea e a disposição de resistir de outra maneira, o que ocorreu nos 20 anos seguintes.
Os cristãos, todo ano, por esta época, lembram o cruel assassinado de Jesus Cristo, ocorrido há quase dois mil anos, condenado à morte porque pregava a libertação dos prisioneiros e oprimidos, a restituição da vista aos cegos e anunciava aos pobres a boa nova da liberdade. E apresentava um projeto que previa a construção de uma sociedade nova, justa, fraterna e solidária. Mas os cristãos não só denunciam o crime praticado contra Jesus Cristo. Principalmente, anunciam e comemoram o que vem depois - a vitória da liberdade. A ressurreição torna claros os caminhos da vida e derrota os esquemas que traçam os caminhos da morte. Os opressores pensaram que, com a morte de Cristo, matariam os anseios de liberdade existentes no povo. Enganaram-se. O projeto da sociedade justa lançado por Jesus Cristo permaneceu vivo e a luta pela libertação continuou forte e definitiva.
Assim também é sempre necessário lembrar o que ocorreu em 1964 e refletirmos. Os mesmos interesses que assassinaram Jesus Cristo, crucificaram a democracia e pensaram que os anseios de liberdade do povo brasileiro estavam mortos. Enganaram-se. A vontade de ser livre ressurgiu e a luta continuou. O povo, com sua criatividade, sua coragem e persistência, sua participação nos movimentos populares, nas organizações dos trabalhadores (mesmo reprimidas), nos movimentos da Igreja, nas atividades intelectuais foram pouco a pouco desmontando as estruturas do regime opressor, que, por fim, desmoronou.
Enfrentamos prepotências, experimentamos torturas, mortes e prisões, dormimos no frio chão, sofremos humilhações. Tudo para sermos livres, independentes, donos do nosso destino. Valeu a pena? Lembrando o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Por fim, essa mancha e página infeliz da nossa História - 0s 20 anos de ditadura militar-, com as “tenebrosas transações”, que tanto prejudicaram o nosso país e o desenvolvimento social do nosso povo, não pode ser uma “passagem desbotada da memória de nossas novas gerações “. Devem estar sempre presentes em nossa memória as graves conseqüências da ditadura, para não permitirmos que nunca mais aquilo aconteça.
Por outro lado, a luta de resistência derrotou a ditadura militar, mas não derrotou ainda a ditadura econômica - dos banqueiros, do mercado de capitais, do capitalismo internacional -, que continua gerando a exclusão, os baixos salários, o desemprego, a fome, a miséria, a violência e a submissão. Por isso, é preciso continuar resistindo, com muita intensidade. E com mais criatividade e sabedoria, porque os opressores, hoje, usam para dominar, as poderosas armas da tecnologia e da comunicação, que eles controlam.
Rio de Janeiro. 26 de março de 2008
Edmílson Martins de Oliveira
FATOS QUE CLAMAM AOS CÉUS POR JUSTIÇA
Por Edmilson Martins
Bush diz que invadiu o Iraque e matou mais de 100 mil pessoas por engano
O presidente Bush, cinicamente, confessou que determinou a invasão no Iraque, baseado em informações falsas dos serviços de inteligência, sobre a existência de armas de destruição em massa. Quer dizer: com base numa mentira levou à morte quase 100 mil iraquianos e quase 5 mil soldados americanos.
Tenente confessa que torturou guerrilheiros
O tenente da reserva José Gomes Jimenes em depoimento na Comissão Especial de Anistia:
- Confesso que torturei. Já pedi perdão a Deus. E descreve como torturou um camponês. E fala sobre assassinatos de guerrilheiros. Uma coisa repugnante. Declarações frias e monstruosas.
Paulo Pereira da Silva-deputado federal, acusado de corrupção, com provas evidentes, é absolvido pela Comissão de Ética da Câmara. E aparece sorrindo em manchetes de jornais, abraçado pelo Vicentinho –dep. Federal do PT.
Foram fatos como esses que causou forte indignação no poeta Castro Alves, há 140 anos e o levou a escrever poemas de protesto contra o horror da escravidão.
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor, Deus!
Se é loucura...se é verdade
Tanto horror perante os céus.”
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro...ou se é verdadeTanto horror perante os céus”.
Bush diz que invadiu o Iraque e matou mais de 100 mil pessoas por engano
O presidente Bush, cinicamente, confessou que determinou a invasão no Iraque, baseado em informações falsas dos serviços de inteligência, sobre a existência de armas de destruição em massa. Quer dizer: com base numa mentira levou à morte quase 100 mil iraquianos e quase 5 mil soldados americanos.
Tenente confessa que torturou guerrilheiros
O tenente da reserva José Gomes Jimenes em depoimento na Comissão Especial de Anistia:
- Confesso que torturei. Já pedi perdão a Deus. E descreve como torturou um camponês. E fala sobre assassinatos de guerrilheiros. Uma coisa repugnante. Declarações frias e monstruosas.
Paulo Pereira da Silva-deputado federal, acusado de corrupção, com provas evidentes, é absolvido pela Comissão de Ética da Câmara. E aparece sorrindo em manchetes de jornais, abraçado pelo Vicentinho –dep. Federal do PT.
Foram fatos como esses que causou forte indignação no poeta Castro Alves, há 140 anos e o levou a escrever poemas de protesto contra o horror da escravidão.
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor, Deus!
Se é loucura...se é verdade
Tanto horror perante os céus.”
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro...ou se é verdadeTanto horror perante os céus”.
ÉRAMOS JOVENS E QUERÍAMOS MUDAR O MUNDO
Por Edmilson Martins de Oliveira
O ano de 1960 iniciava uma década de efervescência social e política. Eu e outros companheiros jovens pertencíamos a uma geração que queria mudar o mundo. Participando de movimentos da Igreja Católica, éramos animados pelas propostas do Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII. Ele convidava todas as pessoas de boa vontade e todos os povos para a “imensa tarefa de restaurar as relações de convivência humana na base da verdade, justiça, amor e liberdade”. Mostrava a necessidade de se construir a paz e a coexistência pacífica e civilizada entre todos os seres humanos. Promovendo o rejuvenescimento da face de Cristo, evocava a força transformadora do Evangelho e lembrava aos cristãos a missão de construir o Reino de Deus na terra, agindo no mundo conforme a proposta libertadora de Jesus Cristo, sempre repleto de eterna juventude. Deveríamos ser fermento na massa.
Cresceu a participação da juventude, quando sentiu que poderia ser agente das mudanças, das conquistas sociais e da construção da sociedade. Com a sua sensibilidade, energia e disposição, os jovens partiram para a ação, mostrando que tinham capacidade e visão de mundo, podendo apontar rumos de mudanças. Não nos conformávamos com o mundo do jeito que estava. Tinha que mudar.
Inicialmente, éramos seis jovens: eu, Paulo Pacheco, Luiz Carlos Joras, Alfredo Antas Reis, José Aquiles Leal, José Pacheco. Na Congregação Mariana da igreja do Imaculado Coração de Maria, no Méier, participávamos de profundas reflexões nas manhãs de domingo, à luz do Evangelho e do Concílio, sobre o papel dos cristãos no mundo. Deveriam ser testemunhas de Cristo na sociedade, agentes de construção da justiça e da paz. Assim mostravam o Evangelho e os recentes documentos sociais da Igreja: as encíclicas “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris”.
A juventude estudantil participava das atividades políticas através da UNE (União Nacional dos Estudantes) e de outras organizações de estudantes secundaristas. Alguns de nós participavam também de atividades estudantis políticas através da JEC (Juventude Estudantil Católica), JUC (Juventude Universitária Católica) e JOC (Juventude Operária Católica). Eu, como outros, participava das atividades sindicais e até cheguei a ser presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro em 1972.
A partir de 1964, aconteceram os golpes militares na América Latina, a intensificação da luta de resistência dos vietnamitas contra o imperialismo americano, as guerras no Oriente Médio, explosão do movimento negro nos Estados Unidos. Isso tudo fazia crescer na juventude, ainda mais, a consciência de que o mundo precisava mudar e o sonho de liberdade e a esperança aumentava.
Éramos seis e queríamos ser multiplicados, na convicção de que “grande é a messe e poucos os operários”. E fomos à praça em busca de mais operários. E então vários outros jovens, sedentos de participação, surgiram. Entre eles destacaram-se: Carlos Alberto Gonçalves, Getúlio Drumond, Cláudio Campos, Maria Lídia Galvão, Maria Inez Serapião, Maria Sílvia, Maria Lúcia e Walter Joras, João Alfredo, Luiz Pacheco, Victor Freeland, Maria Inês Pacheco, Butch e Ângela, Zezé e Helói, Maria José Martins, Hugo, Luiz Paulo Correa, Elesbão, Chico Alencar, Alfredo Maciel, Mário Silveira, Neusa Pacheco, Edu e Cecília, Flávio do Nascimento, Genésia Vasconcelos. E fomos acompanhados e orientados por joviais padres como: Pe.Celso José Pinto (hoje aposentado como arcebispo de Teresina), Pe. Antônio Montenegro de Aguiar, Pe. Daniel de Castro (falecido), Pe. Bruno Trombeta (falecido), Pe.José Meireles e outros.
Durante alguns anos, esses jovens, combativos, permaneceram juntos e animaram muitos outros jovens a se integrarem no sonho da construção do mundo justo, fraterno e solidário. Com a publicação da Encíclica Populorum Progressio, do papa Paulo VI, sempre atual, defendendo o desenvolvimento integral do homem e o desenvolvimento da solidariedade universal, procuramos assumir como tarefa a renovação da ordem temporal, tentando imbuir de espírito cristão a mentalidade e os costumes, as leis e as estruturas sociais e políticas. Pois a encíclica nos convidava a ser fermento no mundo e a todas as pessoas de boa vontade a lutar por uma civilização solidária.
Alguns de nós se formaram engenheiros, outros, professores, outros, médicos e outros exerceram profissões diversas, levando, cada um, para sua profissão e para sua comunidade de vida, esse espírito evangélico de construtor do Reino de Deus. Alguns ingressaram nas atividades sindicais, políticas e partidárias, movimentos populares, etc. Todos se destacaram em suas profissões e atividades sociais. E alguns se destacaram na atuação política e partidária, como Chico Alencar-professor de História e escritor - que já exerceu dois mandatos de vereador, um de deputado estadual e está no segundo mandato de deputado federal. Também o Luiz Paulo Correa da Rocha – engenheiro - que já exerceu vários mandatos de deputado estadual, já tendo sido vice-governador do Rio de Janeiro e duas vezes secretário de estado.
Hoje, sexagenários, alguns até septuagenários, não nos conformamos com o mundo do jeito que está, mas guardamos a convicção de que, como o semeador do Evangelho, semeamos a semente e, talvez, parte tenha caído à beira do caminho, outra em terreno pedregoso, outra entre os espinhos, mas sabemos que boa parte caiu em terreno fértil. A colheita? Deixemos a Quem de direito. Fizemos o que tínhamos que fazer.
Concluindo: queríamos realmente mudar o mundo. Alimentamos esse sonho e investimos nesse projeto, mantendo sempre a certeza de que esse investimento não tinha um sentido passageiro ou imediato. Mas sim um processo de construção de tempo indefinido, permanente e eterno. Para nós, não existia, nem existe a questão do tempo, mas os valores eternos ontem, hoje e sempre. Insistimos, por isso, na convicção de que o sonho de mudança continuará, porque mudar é sempre um desejo e necessidade do ser humano. Como disse d. Hélder Câmara – eterno jovem e portador de eterna esperança- ”Quem não precisa de conversão?”
Assim, os jovens não devem se conformar com o mundo do jeito que ele está. Precisam sonhar, alimentar a utopia de que um mundo melhor é possível e lutar com entusiasmo e esperança, sem pressa, sem a ânsia de resultados imediatos. É preciso pensar e sonhar grande. Só luta com ardor quem pensa em coisas grandes e tem sonhos belos.
Rio, março de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
O ano de 1960 iniciava uma década de efervescência social e política. Eu e outros companheiros jovens pertencíamos a uma geração que queria mudar o mundo. Participando de movimentos da Igreja Católica, éramos animados pelas propostas do Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII. Ele convidava todas as pessoas de boa vontade e todos os povos para a “imensa tarefa de restaurar as relações de convivência humana na base da verdade, justiça, amor e liberdade”. Mostrava a necessidade de se construir a paz e a coexistência pacífica e civilizada entre todos os seres humanos. Promovendo o rejuvenescimento da face de Cristo, evocava a força transformadora do Evangelho e lembrava aos cristãos a missão de construir o Reino de Deus na terra, agindo no mundo conforme a proposta libertadora de Jesus Cristo, sempre repleto de eterna juventude. Deveríamos ser fermento na massa.
Cresceu a participação da juventude, quando sentiu que poderia ser agente das mudanças, das conquistas sociais e da construção da sociedade. Com a sua sensibilidade, energia e disposição, os jovens partiram para a ação, mostrando que tinham capacidade e visão de mundo, podendo apontar rumos de mudanças. Não nos conformávamos com o mundo do jeito que estava. Tinha que mudar.
Inicialmente, éramos seis jovens: eu, Paulo Pacheco, Luiz Carlos Joras, Alfredo Antas Reis, José Aquiles Leal, José Pacheco. Na Congregação Mariana da igreja do Imaculado Coração de Maria, no Méier, participávamos de profundas reflexões nas manhãs de domingo, à luz do Evangelho e do Concílio, sobre o papel dos cristãos no mundo. Deveriam ser testemunhas de Cristo na sociedade, agentes de construção da justiça e da paz. Assim mostravam o Evangelho e os recentes documentos sociais da Igreja: as encíclicas “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris”.
A juventude estudantil participava das atividades políticas através da UNE (União Nacional dos Estudantes) e de outras organizações de estudantes secundaristas. Alguns de nós participavam também de atividades estudantis políticas através da JEC (Juventude Estudantil Católica), JUC (Juventude Universitária Católica) e JOC (Juventude Operária Católica). Eu, como outros, participava das atividades sindicais e até cheguei a ser presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro em 1972.
A partir de 1964, aconteceram os golpes militares na América Latina, a intensificação da luta de resistência dos vietnamitas contra o imperialismo americano, as guerras no Oriente Médio, explosão do movimento negro nos Estados Unidos. Isso tudo fazia crescer na juventude, ainda mais, a consciência de que o mundo precisava mudar e o sonho de liberdade e a esperança aumentava.
Éramos seis e queríamos ser multiplicados, na convicção de que “grande é a messe e poucos os operários”. E fomos à praça em busca de mais operários. E então vários outros jovens, sedentos de participação, surgiram. Entre eles destacaram-se: Carlos Alberto Gonçalves, Getúlio Drumond, Cláudio Campos, Maria Lídia Galvão, Maria Inez Serapião, Maria Sílvia, Maria Lúcia e Walter Joras, João Alfredo, Luiz Pacheco, Victor Freeland, Maria Inês Pacheco, Butch e Ângela, Zezé e Helói, Maria José Martins, Hugo, Luiz Paulo Correa, Elesbão, Chico Alencar, Alfredo Maciel, Mário Silveira, Neusa Pacheco, Edu e Cecília, Flávio do Nascimento, Genésia Vasconcelos. E fomos acompanhados e orientados por joviais padres como: Pe.Celso José Pinto (hoje aposentado como arcebispo de Teresina), Pe. Antônio Montenegro de Aguiar, Pe. Daniel de Castro (falecido), Pe. Bruno Trombeta (falecido), Pe.José Meireles e outros.
Durante alguns anos, esses jovens, combativos, permaneceram juntos e animaram muitos outros jovens a se integrarem no sonho da construção do mundo justo, fraterno e solidário. Com a publicação da Encíclica Populorum Progressio, do papa Paulo VI, sempre atual, defendendo o desenvolvimento integral do homem e o desenvolvimento da solidariedade universal, procuramos assumir como tarefa a renovação da ordem temporal, tentando imbuir de espírito cristão a mentalidade e os costumes, as leis e as estruturas sociais e políticas. Pois a encíclica nos convidava a ser fermento no mundo e a todas as pessoas de boa vontade a lutar por uma civilização solidária.
Alguns de nós se formaram engenheiros, outros, professores, outros, médicos e outros exerceram profissões diversas, levando, cada um, para sua profissão e para sua comunidade de vida, esse espírito evangélico de construtor do Reino de Deus. Alguns ingressaram nas atividades sindicais, políticas e partidárias, movimentos populares, etc. Todos se destacaram em suas profissões e atividades sociais. E alguns se destacaram na atuação política e partidária, como Chico Alencar-professor de História e escritor - que já exerceu dois mandatos de vereador, um de deputado estadual e está no segundo mandato de deputado federal. Também o Luiz Paulo Correa da Rocha – engenheiro - que já exerceu vários mandatos de deputado estadual, já tendo sido vice-governador do Rio de Janeiro e duas vezes secretário de estado.
Hoje, sexagenários, alguns até septuagenários, não nos conformamos com o mundo do jeito que está, mas guardamos a convicção de que, como o semeador do Evangelho, semeamos a semente e, talvez, parte tenha caído à beira do caminho, outra em terreno pedregoso, outra entre os espinhos, mas sabemos que boa parte caiu em terreno fértil. A colheita? Deixemos a Quem de direito. Fizemos o que tínhamos que fazer.
Concluindo: queríamos realmente mudar o mundo. Alimentamos esse sonho e investimos nesse projeto, mantendo sempre a certeza de que esse investimento não tinha um sentido passageiro ou imediato. Mas sim um processo de construção de tempo indefinido, permanente e eterno. Para nós, não existia, nem existe a questão do tempo, mas os valores eternos ontem, hoje e sempre. Insistimos, por isso, na convicção de que o sonho de mudança continuará, porque mudar é sempre um desejo e necessidade do ser humano. Como disse d. Hélder Câmara – eterno jovem e portador de eterna esperança- ”Quem não precisa de conversão?”
Assim, os jovens não devem se conformar com o mundo do jeito que ele está. Precisam sonhar, alimentar a utopia de que um mundo melhor é possível e lutar com entusiasmo e esperança, sem pressa, sem a ânsia de resultados imediatos. É preciso pensar e sonhar grande. Só luta com ardor quem pensa em coisas grandes e tem sonhos belos.
Rio, março de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
A IRRITAÇÃO DO SENHOR DEUS - Edmílson Martins
“O Senhor irritou-se contra Salomão, por se ter seu coração desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe aparecera duas vezes e lhe tinha proibido expressamente que se unisse a deuses estranhos. O Senhor disse-lhe então: “Já que procedeste assim, e não guardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e dá-lo a teu servo”.
Mais tarde, disse o Senhor a Jeroboão, rei de Israel, que tinha sido servo de Salomão:
“Elevei-te do meio do povo, para fazer de ti o príncipe do meu povo de Israel, mas fizeste maiores males que todos os que te precederam, e chegaste até a fazer para ti deuses estranhos e figuras fundidas. Por isso, abandonarei Israel por causa dos pecados de Jeroboão, que pecou e arrastou também Israel ao seu pecado”.
Isso aconteceu no Século X antes de Cristo. Séculos depois, ou seja, no Século XV1, da era cristã, Camões dizia, nos Lusíadas, referindo-se ao desastrado rei Dom Fernando, de Portugal: “Um fraco rei faz fraca a forte gente”.
Hoje, passados 2009 anos da vinda de Cristo, o Senhor está dizendo ao governo Lula:
“Você foi escolhido para governar o Brasil, com o objetivo de retomar a caminhada do meu povo rumo à liberdade, interrompida em 1964 pela ditadura militar, mas desviou-se dos meus caminhos, tornando-se aliado dos que cultuam deuses estranhos, bezerros de ouro, ídolos do poder do dinheiro e do lucro, impregnados da ambição de dominar.
Meu povo, escravizado durante 38 anos, precisava de condições para conquistar sua libertação. Você foi escolhido para criar essas condições. Mas você se afastou de mim e do povo e se aliou àqueles que sempre o mantiveram na escravidão. Como Salomão e Jeroboão, você me trocou por falsos deuses, tornou-se idólatra e está arrastando meu povo à idolatria do consumismo, da superficialidade, da vida sem rumo, do individualismo, do espetáculo. E com isso, o que está acontecendo? A corrupção, a violência, a insegurança, o pessimismo, a descrença e a desesperança.
Você deixou de ser meu companheiro, porque se afastou da luta de libertação do povo oprimido. O que você oferece ao meu povo não é o que eu quero para ele. Lembra-se da tentação no deserto? “Nem só de pão vive o homem”. Quero-o livre, crescendo em dignidade, por isso o fiz à minha imagem e semelhança. Como você está fazendo não ajuda o povo a ser livre, a “fazer com o seu braço o seu viver”. Você está fazendo o que sempre fizeram aqueles que desprezam o povo, com falsas soluções, para mantê-lo sob seu domínio.
O seu governo foi estabelecido para combater o capital especulativo e a concentração de riquezas e promover justa distribuição de renda. Nunca, como agora, os banqueiros e o grande capital foram tão beneficiados, com lucros exagerados; Devia em seu governo, crescer a participação e organização dos trabalhadores, tornando os sindicatos fortes, mas os trabalhadores estão cada vez mais apáticos, desorganizados e os sindicatos cada vez mais fracos; No seu governo devia crescer a participação política do povo, mas está crescendo a desilusão, a indiferença e até o nojo da política; Você foi escolhido, para combater a corrupção, a falta de ética e a pequenez na política, mas em seu governo tudo isso cresceu. E a saúde pública, a educação e as relações sociais não estão bem. E o seu governo tinha o objetivo de construir uma sociedade socialmente justa, com boa saúde, educação de qualidade, sólidas e fraternas relações sociais.
Não estou satisfeito com seu governo, que não está cumprindo a justiça que meus profetas anunciaram, confirmada por Meu Filho, em sua visita à terra. Lembra-se do que Ele disse? “O Espírito do Senhor me ungiu e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para anunciar aos oprimidos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos”. É isso que eu quero para o meu povo: a libertação. E que ele tenha vida em abundância, sem amarras, com possibilidades de crescimento.
Estou triste com você, mas ofereço-lhe uma oportunidade de recuperação. Volte para os meus caminhos, afaste-se dos falsos deuses, saia das alianças espúrias, fique ao lado do povo, não vale a governabilidade a qualquer preço, não tenha medo. Se você abraçar o meu projeto, cumprir os meus mandamentos, governar com o meu povo, ajudando-o a ser livre, estarei sempre ao seu lado, fortalecendo e protegendo o seu governo, como estive ao lado de Davi, que me foi fiel”.
Esse é o recado do Senhor Deus, que deve estar mesmo irritado com o que ocorre em nosso país, como esteve irritado com Salomão e Jeroboão pela infidelidade aos mandamentos propostos. Na verdade, Deus não abandonou o povo de Israel, foi este, arrastado pelos pecados dos seus governos, que abandonou o Senhor Deus.
A corrupção existente nos poderes executivo, e legislativo, em todas as instâncias, em nosso país, está corroendo a alma da nação e, como Jeroboão, arrastando o povo ao pecado, enfraquecendo sua personalidade (“um fraco rei faz fraca a forte gente”). E Deus deve estar mesmo indignado e triste ao ver que seus filhos desprezam o seu projeto de Justiça, trocando-o por projetos oferecidos por falsos deuses, por ídolos, que os levam à desilusão, ao desastre e à infelicidade.
Edmilson Martins de Oliveira
Rio, agosto de 2009
Mais tarde, disse o Senhor a Jeroboão, rei de Israel, que tinha sido servo de Salomão:
“Elevei-te do meio do povo, para fazer de ti o príncipe do meu povo de Israel, mas fizeste maiores males que todos os que te precederam, e chegaste até a fazer para ti deuses estranhos e figuras fundidas. Por isso, abandonarei Israel por causa dos pecados de Jeroboão, que pecou e arrastou também Israel ao seu pecado”.
Isso aconteceu no Século X antes de Cristo. Séculos depois, ou seja, no Século XV1, da era cristã, Camões dizia, nos Lusíadas, referindo-se ao desastrado rei Dom Fernando, de Portugal: “Um fraco rei faz fraca a forte gente”.
Hoje, passados 2009 anos da vinda de Cristo, o Senhor está dizendo ao governo Lula:
“Você foi escolhido para governar o Brasil, com o objetivo de retomar a caminhada do meu povo rumo à liberdade, interrompida em 1964 pela ditadura militar, mas desviou-se dos meus caminhos, tornando-se aliado dos que cultuam deuses estranhos, bezerros de ouro, ídolos do poder do dinheiro e do lucro, impregnados da ambição de dominar.
Meu povo, escravizado durante 38 anos, precisava de condições para conquistar sua libertação. Você foi escolhido para criar essas condições. Mas você se afastou de mim e do povo e se aliou àqueles que sempre o mantiveram na escravidão. Como Salomão e Jeroboão, você me trocou por falsos deuses, tornou-se idólatra e está arrastando meu povo à idolatria do consumismo, da superficialidade, da vida sem rumo, do individualismo, do espetáculo. E com isso, o que está acontecendo? A corrupção, a violência, a insegurança, o pessimismo, a descrença e a desesperança.
Você deixou de ser meu companheiro, porque se afastou da luta de libertação do povo oprimido. O que você oferece ao meu povo não é o que eu quero para ele. Lembra-se da tentação no deserto? “Nem só de pão vive o homem”. Quero-o livre, crescendo em dignidade, por isso o fiz à minha imagem e semelhança. Como você está fazendo não ajuda o povo a ser livre, a “fazer com o seu braço o seu viver”. Você está fazendo o que sempre fizeram aqueles que desprezam o povo, com falsas soluções, para mantê-lo sob seu domínio.
O seu governo foi estabelecido para combater o capital especulativo e a concentração de riquezas e promover justa distribuição de renda. Nunca, como agora, os banqueiros e o grande capital foram tão beneficiados, com lucros exagerados; Devia em seu governo, crescer a participação e organização dos trabalhadores, tornando os sindicatos fortes, mas os trabalhadores estão cada vez mais apáticos, desorganizados e os sindicatos cada vez mais fracos; No seu governo devia crescer a participação política do povo, mas está crescendo a desilusão, a indiferença e até o nojo da política; Você foi escolhido, para combater a corrupção, a falta de ética e a pequenez na política, mas em seu governo tudo isso cresceu. E a saúde pública, a educação e as relações sociais não estão bem. E o seu governo tinha o objetivo de construir uma sociedade socialmente justa, com boa saúde, educação de qualidade, sólidas e fraternas relações sociais.
Não estou satisfeito com seu governo, que não está cumprindo a justiça que meus profetas anunciaram, confirmada por Meu Filho, em sua visita à terra. Lembra-se do que Ele disse? “O Espírito do Senhor me ungiu e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para anunciar aos oprimidos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos”. É isso que eu quero para o meu povo: a libertação. E que ele tenha vida em abundância, sem amarras, com possibilidades de crescimento.
Estou triste com você, mas ofereço-lhe uma oportunidade de recuperação. Volte para os meus caminhos, afaste-se dos falsos deuses, saia das alianças espúrias, fique ao lado do povo, não vale a governabilidade a qualquer preço, não tenha medo. Se você abraçar o meu projeto, cumprir os meus mandamentos, governar com o meu povo, ajudando-o a ser livre, estarei sempre ao seu lado, fortalecendo e protegendo o seu governo, como estive ao lado de Davi, que me foi fiel”.
Esse é o recado do Senhor Deus, que deve estar mesmo irritado com o que ocorre em nosso país, como esteve irritado com Salomão e Jeroboão pela infidelidade aos mandamentos propostos. Na verdade, Deus não abandonou o povo de Israel, foi este, arrastado pelos pecados dos seus governos, que abandonou o Senhor Deus.
A corrupção existente nos poderes executivo, e legislativo, em todas as instâncias, em nosso país, está corroendo a alma da nação e, como Jeroboão, arrastando o povo ao pecado, enfraquecendo sua personalidade (“um fraco rei faz fraca a forte gente”). E Deus deve estar mesmo indignado e triste ao ver que seus filhos desprezam o seu projeto de Justiça, trocando-o por projetos oferecidos por falsos deuses, por ídolos, que os levam à desilusão, ao desastre e à infelicidade.
Edmilson Martins de Oliveira
Rio, agosto de 2009
CORDEL POLÍTICO - Edmilson Martins
Agora vou contar tudo
Nada tenho a esconder
Nosso povo anda mudo
Mas muito tem pra dizer.
Hoje falta segurança
Vivemos todos trancados
Em casa sempre pensando
Com saudade do passado.
Não quero ser saudosista
Nem ao passado voltar
Mas algo me diz: não desista
A coisa tem que mudar.
Não ficamos na calçada
Curtindo belo luar
Nem vemos a criançada
Ao nosso redor brincar.
Ontem ladrão de galinha
Hoje ladrão de gravata
Rouba a republiquinha
E ainda conta bravata.
Educação no Brasil
Deixa muito a desejar
Escola ficou senil
Faz tudo, menos pensar.
Professores preparados?
No Brasil só temos cobras!
Escolas para o mercado
Também temos de sobra.
Baixa remuneração
Mestres desestimulados
Jovens sem educação
Para empresa preparados.
2.
A nossa saúde pública
Anda distante do povo
A vergonha da República
Que merece sangue novo.
Obrigação do Estado
Que tem dinheiro do povo
Saúde virou mercado
Como feijão, carne e ovo.
Trabalhador só produz
Para dá lucro ao patrão
Criatividade e luz
Não é permitido não.
O nosso governo Lula
Que seria solução
Bem cedo virou gandula
Dando bola pro patrão.
O programa fome zero
Não salva da opressão
O povo, pra ser sincero,
Precisa de educação.
Gente precisa de pão
Mas também de liberdade
Só comida e sujeição
Acaba sendo maldade.
Política é coisa nobre
Aqui virou corrupção
Não tem vez o povo pobre
O jovem não tem opção.
Política é coisa séria
Não para arrumação
Mal feita produz miséria
Enche o bolso do ladrão.
3.
Mandato parlamentar
É para servir ao povo
Não é para enganar
Precisa de sangue novo.
O sindicalismo atual
A vergonha da História
Com pelego cordial
Macula nossa memória.
Num tempo de resistência
Ao regime militar
Lutou-se com insistência
Para aquilo acabar.
Muitos dos que resistiram
Àquele podre poder
Da luta já desistiram
Preferiram esquecer.
Clamavam de forma ardente:
O povo tem que lutar
Contra qualquer que sustente
Ditadura militar
Hoje na situação
Fazem o povo calar
Luta e organização
Tentam desestimular.
No combate à repressão
Condenavam o banqueiro
Hoje - quanta decepção!
Até lhe emprestam dinheiro.
Lutamos na resistência
Ao regime militar.
Gritemos com insistência:
As coisas têm que mudar.
4.
Não há mudança sabemos
Lá de cima para baixo
Na força do povo cremos
Ou ficamos cabisbaixos.
O mandato popular
Pelo povo concedido
Não pode funcionar
Sem que ele seja ouvido.
Sem a participação
De forma bem efetiva
Toda e qualquer falação
É coisa que não cativa.
Acreditemos no povo
Com sua capacidade
Para criar algo novo
Com labuta e lealdade.
O povo sabe o que quer
Não quer ser manipulado
Não precisa de chofer
Deseja ser respeitado.
Pra terminar vou dizer
Com muita sinceridade
O homem precisa crer
Na sua capacidade.
Ser humano foi criado
Para viver solidário
Não pra viver isolado
Nem para ser um otário.
Rio, 25 de maio de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
Nada tenho a esconder
Nosso povo anda mudo
Mas muito tem pra dizer.
Hoje falta segurança
Vivemos todos trancados
Em casa sempre pensando
Com saudade do passado.
Não quero ser saudosista
Nem ao passado voltar
Mas algo me diz: não desista
A coisa tem que mudar.
Não ficamos na calçada
Curtindo belo luar
Nem vemos a criançada
Ao nosso redor brincar.
Ontem ladrão de galinha
Hoje ladrão de gravata
Rouba a republiquinha
E ainda conta bravata.
Educação no Brasil
Deixa muito a desejar
Escola ficou senil
Faz tudo, menos pensar.
Professores preparados?
No Brasil só temos cobras!
Escolas para o mercado
Também temos de sobra.
Baixa remuneração
Mestres desestimulados
Jovens sem educação
Para empresa preparados.
2.
A nossa saúde pública
Anda distante do povo
A vergonha da República
Que merece sangue novo.
Obrigação do Estado
Que tem dinheiro do povo
Saúde virou mercado
Como feijão, carne e ovo.
Trabalhador só produz
Para dá lucro ao patrão
Criatividade e luz
Não é permitido não.
O nosso governo Lula
Que seria solução
Bem cedo virou gandula
Dando bola pro patrão.
O programa fome zero
Não salva da opressão
O povo, pra ser sincero,
Precisa de educação.
Gente precisa de pão
Mas também de liberdade
Só comida e sujeição
Acaba sendo maldade.
Política é coisa nobre
Aqui virou corrupção
Não tem vez o povo pobre
O jovem não tem opção.
Política é coisa séria
Não para arrumação
Mal feita produz miséria
Enche o bolso do ladrão.
3.
Mandato parlamentar
É para servir ao povo
Não é para enganar
Precisa de sangue novo.
O sindicalismo atual
A vergonha da História
Com pelego cordial
Macula nossa memória.
Num tempo de resistência
Ao regime militar
Lutou-se com insistência
Para aquilo acabar.
Muitos dos que resistiram
Àquele podre poder
Da luta já desistiram
Preferiram esquecer.
Clamavam de forma ardente:
O povo tem que lutar
Contra qualquer que sustente
Ditadura militar
Hoje na situação
Fazem o povo calar
Luta e organização
Tentam desestimular.
No combate à repressão
Condenavam o banqueiro
Hoje - quanta decepção!
Até lhe emprestam dinheiro.
Lutamos na resistência
Ao regime militar.
Gritemos com insistência:
As coisas têm que mudar.
4.
Não há mudança sabemos
Lá de cima para baixo
Na força do povo cremos
Ou ficamos cabisbaixos.
O mandato popular
Pelo povo concedido
Não pode funcionar
Sem que ele seja ouvido.
Sem a participação
De forma bem efetiva
Toda e qualquer falação
É coisa que não cativa.
Acreditemos no povo
Com sua capacidade
Para criar algo novo
Com labuta e lealdade.
O povo sabe o que quer
Não quer ser manipulado
Não precisa de chofer
Deseja ser respeitado.
Pra terminar vou dizer
Com muita sinceridade
O homem precisa crer
Na sua capacidade.
Ser humano foi criado
Para viver solidário
Não pra viver isolado
Nem para ser um otário.
Rio, 25 de maio de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
CORDEL DOS APOSENTADOS - Edmílson Martins
Trabalhador brasileiro,
Corajoso, altaneiro,
Muito desconsiderado.
Chamado de vagabundo
Perante Deus e o mundo
Quando é aposentado.
Presidente sociólogo
Que governou em monólogo
Sem o povo escutar.
Nas aposentadorias
Fez bastante porcaria.
O povo o esquecerá.
O Fernando Cardoso
Prejudicou o idoso.
Hoje nosso presidente
Que já lutou por salário
Do nosso povo operário
Esqueceu a luta ardente.
Despreza nossos idosos,
Atende gananciosos,
Sem pena coloca veto
No projeto do Paim
Senador que, para mim,
Agiu de modo correto.
O congresso decidiu
Trabalhador aplaudiu.
Direitos dos aposentados
De terem justos salários
Defendem os operários,
Senadores, deputados.
Aposentados atentos
Não perderam seus talentos,
Estão se mobilizando
Para defender seus direitos,
Exigir mais respeito,
Nosso congresso apoiando.
Nosso povo aposentado,
Com provento defasado,
Faz apelo ao presidente
Para desistir do veto,
Concordar com o projeto
O qual dele tá pendente.
Fator previdenciário,
Que prejudica operário,
Precisa ser combatido,
Merece reprovação
E nossa condenação,
Também de qualquer partido.
Na lida desde criança,
Trabalhador enche a pança
Dos donos do capital.
Após tanto trabalhar,
Precisando descansar
Tem menosprezo total.
Quem inventou tal fator
Nunca foi trabalhador.
Certamente não conhece
Todo o cansaço e desgaste
Do homem feito guindaste
Cuja vida desfalece.
Rio, 13/06/2009
Corajoso, altaneiro,
Muito desconsiderado.
Chamado de vagabundo
Perante Deus e o mundo
Quando é aposentado.
Presidente sociólogo
Que governou em monólogo
Sem o povo escutar.
Nas aposentadorias
Fez bastante porcaria.
O povo o esquecerá.
O Fernando Cardoso
Prejudicou o idoso.
Hoje nosso presidente
Que já lutou por salário
Do nosso povo operário
Esqueceu a luta ardente.
Despreza nossos idosos,
Atende gananciosos,
Sem pena coloca veto
No projeto do Paim
Senador que, para mim,
Agiu de modo correto.
O congresso decidiu
Trabalhador aplaudiu.
Direitos dos aposentados
De terem justos salários
Defendem os operários,
Senadores, deputados.
Aposentados atentos
Não perderam seus talentos,
Estão se mobilizando
Para defender seus direitos,
Exigir mais respeito,
Nosso congresso apoiando.
Nosso povo aposentado,
Com provento defasado,
Faz apelo ao presidente
Para desistir do veto,
Concordar com o projeto
O qual dele tá pendente.
Fator previdenciário,
Que prejudica operário,
Precisa ser combatido,
Merece reprovação
E nossa condenação,
Também de qualquer partido.
Na lida desde criança,
Trabalhador enche a pança
Dos donos do capital.
Após tanto trabalhar,
Precisando descansar
Tem menosprezo total.
Quem inventou tal fator
Nunca foi trabalhador.
Certamente não conhece
Todo o cansaço e desgaste
Do homem feito guindaste
Cuja vida desfalece.
Rio, 13/06/2009
AQUELES GAROTOS -Edmilson Martins
Eram garotos e garotas que gostavam dos Beatles, dos Rolling Stones, dos Paralamas do Sucesso, do Rock dos anos de 1980/90. Alguns também gostavam dos Menudos (não se reprima...).
Os anos foram passando, as visões se clareando e eles, já adolescentes/jovens, começaram a gostar da MPB. Curtiram Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom, Vinícius, etc.
Os pais (alguns), militantes de movimentos sociais, políticos e religiosos, participavam da luta de resistência à ditadura militar, estabelecida no Brasil entre 1964 e 1985. Eram muitas reuniões: em casa, na igreja e em outros ambientes. Em muitas dessas reuniões, aqueles jovens/adolescentes estavam presentes.
O tempo foi passando, os garotos crescendo: em estatura, conhecimento e sabedoria. Escola, guitarra, violão, piano, grupos de jovens, Movimento Estudantil, tudo acontecia. A casa dos pais virou uma espécie de Centro Cultural-Político-Recreativo. Muitas discussões políticas, apresentações musicais, festas e outras atividades culturais.
Aqueles garotos e garotas, que brincavam na rua, fantasiavam-se de bate-bola, de bailarina, de baiana, no carnaval, que gostavam de Rock, dos Beatles, dos Rolling Stones e, depois, da MPB, do Blues, da música clássica e da literatura, sonhando, cresceram e amadureceram. Hoje, já passam dos trinta anos e estão engajados profissionalmente. São professores, jornalistas, cientistas sociais, escritores e, alguns, com formação em mestrado e doutorado. E muitos deles continuam com os sonhos dos Beatles, dos Rolling Stones, da MPB, dos clássicos, da literatura e não esqueceram a guitarra, o violão, o piano.
Hoje, já não vemos garotos e garotas como aqueles e aquelas que curtiam o rock, os Beatles, Rolling Stones, a MPB. As bandinhas de fundo de quintal acabaram, as guitarras e os violões, os pianos silenciaram. Os grupos que conversavam sobre religião, política e música já não existem mais. As festas de rua acabaram. A juventude está calada, a sociedade está mais triste. Parece até que chegou roda viva e carregou tudo pra lá.
Tenho saudades (e não é saudosismo) daqueles jovens, do barulho das guitarras, do violão, da bateria e do piano, da magia do rock, das bandas, da MPB, do Brasileirinho solado na guitarra, dos ensaios na garagem, das reuniões políticas/culturais embaixo da mangueira, das festas no quintal, das festas juninas e julinas nas ruas, dos movimentos de jovens da Igreja, do Movimento estudantil, etc.
Os anos foram passando, as visões se clareando e eles, já adolescentes/jovens, começaram a gostar da MPB. Curtiram Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom, Vinícius, etc.
Os pais (alguns), militantes de movimentos sociais, políticos e religiosos, participavam da luta de resistência à ditadura militar, estabelecida no Brasil entre 1964 e 1985. Eram muitas reuniões: em casa, na igreja e em outros ambientes. Em muitas dessas reuniões, aqueles jovens/adolescentes estavam presentes.
O tempo foi passando, os garotos crescendo: em estatura, conhecimento e sabedoria. Escola, guitarra, violão, piano, grupos de jovens, Movimento Estudantil, tudo acontecia. A casa dos pais virou uma espécie de Centro Cultural-Político-Recreativo. Muitas discussões políticas, apresentações musicais, festas e outras atividades culturais.
Aqueles garotos e garotas, que brincavam na rua, fantasiavam-se de bate-bola, de bailarina, de baiana, no carnaval, que gostavam de Rock, dos Beatles, dos Rolling Stones e, depois, da MPB, do Blues, da música clássica e da literatura, sonhando, cresceram e amadureceram. Hoje, já passam dos trinta anos e estão engajados profissionalmente. São professores, jornalistas, cientistas sociais, escritores e, alguns, com formação em mestrado e doutorado. E muitos deles continuam com os sonhos dos Beatles, dos Rolling Stones, da MPB, dos clássicos, da literatura e não esqueceram a guitarra, o violão, o piano.
Hoje, já não vemos garotos e garotas como aqueles e aquelas que curtiam o rock, os Beatles, Rolling Stones, a MPB. As bandinhas de fundo de quintal acabaram, as guitarras e os violões, os pianos silenciaram. Os grupos que conversavam sobre religião, política e música já não existem mais. As festas de rua acabaram. A juventude está calada, a sociedade está mais triste. Parece até que chegou roda viva e carregou tudo pra lá.
Tenho saudades (e não é saudosismo) daqueles jovens, do barulho das guitarras, do violão, da bateria e do piano, da magia do rock, das bandas, da MPB, do Brasileirinho solado na guitarra, dos ensaios na garagem, das reuniões políticas/culturais embaixo da mangueira, das festas no quintal, das festas juninas e julinas nas ruas, dos movimentos de jovens da Igreja, do Movimento estudantil, etc.
CORDEL E CULTURA -Edmilson Martins
Meninos, vou lhes falar,
Agora vou lhes contar
Neste cordel nordestino,
muitas coisas que aprendi
E nunca mais esqueci,
Desde o tempo de menino
Foi nessa literatura
que curti muita cultura.
Toda noite no sertão,
Com meu pai que está no céu
Recitei muito cordel
Pra fugir da solidão.
Com a luz de candeeiro,
Eu garoto bem fagueiro,
Toda noite recitava
Pras pessoas reunidas
As histórias compridas
Que todo mundo gostava.
Meus pais sempre convidavam
As pessoas que passavam
Para ouvir a leitura
Dos bons versos de cordel
Histórias no papel
Em boa literatura
Havia histórias engraçadas
Que causavam gargalhadas.
Todos ficavam contentes.
Ouviam com atenção
Aquela recitação
Ansiosos e frementes
Meus pais ficavam babando
Com o filho recitando.
E diziam com excesso:
Ele estuda lá no Crato,
Apesar de ser novato
Já recita com sucesso.
Rio, 08/05/2008
Agora vou lhes contar
Neste cordel nordestino,
muitas coisas que aprendi
E nunca mais esqueci,
Desde o tempo de menino
Foi nessa literatura
que curti muita cultura.
Toda noite no sertão,
Com meu pai que está no céu
Recitei muito cordel
Pra fugir da solidão.
Com a luz de candeeiro,
Eu garoto bem fagueiro,
Toda noite recitava
Pras pessoas reunidas
As histórias compridas
Que todo mundo gostava.
Meus pais sempre convidavam
As pessoas que passavam
Para ouvir a leitura
Dos bons versos de cordel
Histórias no papel
Em boa literatura
Havia histórias engraçadas
Que causavam gargalhadas.
Todos ficavam contentes.
Ouviam com atenção
Aquela recitação
Ansiosos e frementes
Meus pais ficavam babando
Com o filho recitando.
E diziam com excesso:
Ele estuda lá no Crato,
Apesar de ser novato
Já recita com sucesso.
Rio, 08/05/2008
Assinar:
Postagens (Atom)