Por Edmílson Martins
Há mais ou menos 2.700 anos, houve uma grande assembleia no Céu, convocada pela Trindade Santíssima. Estavam presentes o Pai, o Filho, o Espírito Santo, os anjos e todos os santos do Céu. O assunto do dia era o Planeta Terra.
Os relatórios diziam que no Planeta Terra a situação estava difícil. A humanidade estava confusa, como ovelhas sem pastor. O povo estava tateando na escuridão, precisando de luz.
Disse o Pai:“Criamos a Terra com tudo que é necessário para uma boa convivência. Não deixamos nada faltar. Criamos o homem e a mulher à nossa imagem e semelhança e os colocamos na terra para administrá-la. Mas Lúcifer (Satã), o inimigo do Reino, com inveja, induziu-os a aceitarem coisas de que não precisavam. Foi tão poderoso o seu marketing que eles caíram na armadilha e se afastaram do Paraíso.
Lúcifer dividiu a comunidade humana, jogando uns contra os outros. Lembrem-se de que Adão acusou Eva e esta acusou a serpente. Caindo nas armadilhas, os homens afastaram-se do Projeto da criação, ficaram à mercê das ações diabólicas e se tornaram confusos e infelizes.
Com isso, Lúcifer pensou que dominaria o mundo, esquecendo-se de que fora expulso do Céu, juntamente com seus seguidores, por causa dos seus desejos orgulhosos. Inseminou nos homens a inveja, a gula, a preguiça, o orgulho, a luxúria, a ira e a preguiça. Mas enganou-se, pensando que abandonaríamos nossos filhos.
Não quisemos ser autoritários, atuando diretamente contra Satanás. Para liquidá-lo, achamos por bem agir juntos com nossos filhos, feitos à nossa imagem e semelhança. Escolhemos homens de boa vontade, fiéis ao Projeto do Reino, para ajudar o povo na caminhada de volta ao Paraíso.”
Falaram então os principais líderes da humanidade, fiéis ao Projeto do Senhor Deus, contando as suas experiências.
Primeiro falou Noé, o justo, discorrendo sobre a corrupção da sociedade da sua época, da construção da arca, do dilúvio, da salvação da sua família e das espécies que pôde reunir. Disse que não pôde salvar os que não quiseram aceitar as propostas do Reino de Deus. E falou do Projeto da Nova Criação, desenvolvido conforme recomendação do Senhor. Finalizou dizendo que a ação de Lúcifer continuou e quase todo o povo se corrompeu, induzido a alianças espúrias, e se afastou do Projeto da Nova Criação.
Em seguida, falou o patriarca Abrahão, o homem da fé, contando o desempenho da missão que lhe foi confiada: a organização de um povo que seria portador do Projeto do Reino, que tem por objetivo refazer nos homens a imagem e semelhança de Deus, desfigurada pelo pecado. Disse que a caminhada foi difícil, mas, com a ajuda do Senhor Deus, os avanços foram significativos.
Depois falou Moisés, relatando a luta de libertação do povo organizado por Abrahão, escravo no Egito durante 500 anos. Contou sobre os desafios, a organização do povo, a travessia do Mar Vermelho, os obstáculos na caminhada pelo deserto, as tentações, a corrupção, etc. Disse que, apesar das ações nefastas dos inimigos do Reino, a luta continuou rumo à Terra Prometida.
Falaram os juízes, pessoas iluminadas e fiéis, escolhidas por Deus para ajudar o povo a se libertar da idolatria, que impedia a liberdade e a vida. De vez em quando, o povo se afastava do Projeto de Deus e se aliava aos ídolos da ganância, das riquezas e do poder e se corrompia. Os juízes contaram suas experiências e os avanços e recuos do povo.
Alguns reis, também fiéis ao Projeto do Reino, a começar por Davi, falaram da sua luta à frente do povo, tentando mantê-lo na caminhada, dentro do Plano de Deus. Disseram que o período dos reis foi difícil, mas houve avanços.
Diante de todos os relatos, viu a Trindade Santa que, realmente, desde a queda de Adão e Eva, Satanás estava dificultando a volta da humanidade ao Paraíso.
- Como toda a ação dos nossos enviados não foi suficiente para sanar os problemas - disse o Pai- resolvemos intervir diretamente para libertar nossos filhos e todo o Planeta das garras da escravidão. Ouvimos os clamores do nosso povo. Vamos salvá-lo e destruir os que destroem a Terra. Um dos membros da Trindade irá visitar a Terra para redimir toda a humanidade. O Filho vai pessoalmente, em nome da Trindade, visitar nosso povo, orientá-lo e reuni-lo em torno do Projeto do Reino, pois queremos toda a família unida e reunida.
- Mas antes - esclareceu o Pai - faremos suscitar porta-vozes que anunciarão a ida do Filho. Escolheremos homens iluminados e os orientaremos no sentido de prepararem o povo para a visita.
Assim, vieram os profetas e realizaram o trabalho de preparação. Foram 700 anos de conscientização. Eles anunciaram a vinda de Jesus Cristo, o libertador.
No tempo determinado por Deus, na plenitude dos tempos, um membro da Trindade Santíssima, o Filho, veio para a terra em forma humana e tomou o nome de Jesus. Veio para ficar junto da humanidade até à concretização final do Projeto do Reino.
Com a vinda do Filho, tudo ficou claro: Deus nunca abandona suas criaturas. O poder de Satanás (Lúcifer) não prevalecerá. “Deus, com a força do seu braço, derrubou dos tronos os poderosos e elevou os humildes. Saciou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”, proclamou Maria Santíssima, mãe de Jesus.
Pois bem, a celebração anual do nascimento de Jesus Cristo, é a renovação da certeza da vitória do amor, da justiça e da paz. Jesus veio para restabelecer o Reino de Deus. Jesus Cristo é Deus conosco, conduzindo-nos à vitória final da liberdade e da justiça. Ele mesmo disse: “Não tenham medo, estarei sempre com vocês”.
O Natal é sempre a renovação da alegria de termos Deus entre nós. Ele, na sua suprema bondade, infinito amor, humildade e compaixão, veio para andar conosco, orientando-nos e nos dando força na caminhada rumo ao Reino. Por isso os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”.
Esta é a mensagem do Nascimento de Jesus: como Deus se solidariza, num grande gesto amoroso de doação, vindo até nós, compreendendo, perdoando nossas fraquezas e nos ajudando, também nós devemos nos solidarizar com nossos irmãos, amando-os, compreendendo-os, perdoando-os e ajudando-os em suas dificuldades.
Rio, dezembro (Natal) de 2011
" Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". (Cora Coralina)
sábado, 17 de dezembro de 2011
PADRE MONTENEGRO-MISSA 30 DIAS
Por Edmílson Martins
Montenegro lá no Céu
Vendo esta celebração
Está ouvindo este cordel
Que traduz recordação
Parece que o vejo agora
Aqui bem perto de nós
Dizendo Nossa Senhora
Nós recorremos a vós
Seu testemunho de padre
Muito marcou gerações
Sua postura e bondade
Marcou nossos corações
As celebrações tranqüilas
Seu canto desafinado
Tudo nele era partilha
Os erros são perdoados
Na paróquia todo dia
Atendendo quem chagava
Para todos era guia
Junto com todos rezava
Ele também caminhava
No trabalho pastoral
As famílias visitava
Com sol, chuva, temporal
Na paróquia não cobrava
Casamento ou batizado
Na Providência esperava
Que Tudo fosse arranjado
Era sempre generoso
Solidário, disponível
Algumas vezes teimoso
Porém mantendo alto nível
Conservemos sua memória
Não devemos esquecer
Pois é vulto da História
Muito fez por merecer
Os versos deste cordel
São sincera homenagem
Ao Monte, que está no Céu
Depois de longa viagem.
Rio, 18 de dezembro de 2011
Montenegro lá no Céu
Vendo esta celebração
Está ouvindo este cordel
Que traduz recordação
Parece que o vejo agora
Aqui bem perto de nós
Dizendo Nossa Senhora
Nós recorremos a vós
Seu testemunho de padre
Muito marcou gerações
Sua postura e bondade
Marcou nossos corações
As celebrações tranqüilas
Seu canto desafinado
Tudo nele era partilha
Os erros são perdoados
Na paróquia todo dia
Atendendo quem chagava
Para todos era guia
Junto com todos rezava
Ele também caminhava
No trabalho pastoral
As famílias visitava
Com sol, chuva, temporal
Na paróquia não cobrava
Casamento ou batizado
Na Providência esperava
Que Tudo fosse arranjado
Era sempre generoso
Solidário, disponível
Algumas vezes teimoso
Porém mantendo alto nível
Conservemos sua memória
Não devemos esquecer
Pois é vulto da História
Muito fez por merecer
Os versos deste cordel
São sincera homenagem
Ao Monte, que está no Céu
Depois de longa viagem.
Rio, 18 de dezembro de 2011
NATAL OUTRA VEZ
Por Edmílson Martins
1. O Natal está chegando
Propondo uma vida nova
Se não crescermos mudando
O mundo não se renova.
2. Pois é! Outra vez Natal
Que celebramos de novo
É Deus, que sendo legal,
Vem visitar o seu povo.
3. Jesus Cristo nasceu nobre
No calor dos animais
Depois disse: seja pobre
E viva com muita paz.
4. Jesus nascendo na gruta
Numa simples manjedoura
Vem transformar força bruta
Em muita ação criadora.
5. O sentido do Natal
Com a vinda de Jesus
É restauração total
Não consumo que reduz.
6. Hoje o Natal de Jesus
Que veio para restaurar
È mercado que conduz
A muita coisa comprar.
7. No mundo do capital
Tudo é lucro e mercado
Também o nosso Natal
É por comércio usado.
8. Essa cultura do ter
Faz esquecer os valores
Leva muitos a não ser
E a viver com dissabores.
9. O povo influenciado
Por propaganda Global
Não escuta o que é falado.
Na mensagem de Natal:
10. Seja simples, seja puro
Seja justo com seu irmão
. Seja bom, seja maduro
Não pratique corrupção
11. O Natal lembra a história
Do defensor da verdade
É bom respeito à memória
Do Mártir da liberdade.
12. Vida reta defendeu
Com muita força e coragem
Crucificado morreu
Mas não abriu mão da mensagem.
13. Tal exemplo de Jesus
Precisamos imitar
Carreguemos nossa cruz
Não podemos fraquejar.
14. Vigiar com atenção
Também rezar disse o Mestre
Pra vencer a tentação
Dos poderosos terrestres.
15. Feliz Natal para todos
Com bastante inspiração
Pra combatermos o lodo
Que atrapalha a construção.
Rio, dezembro de 2011
1. O Natal está chegando
Propondo uma vida nova
Se não crescermos mudando
O mundo não se renova.
2. Pois é! Outra vez Natal
Que celebramos de novo
É Deus, que sendo legal,
Vem visitar o seu povo.
3. Jesus Cristo nasceu nobre
No calor dos animais
Depois disse: seja pobre
E viva com muita paz.
4. Jesus nascendo na gruta
Numa simples manjedoura
Vem transformar força bruta
Em muita ação criadora.
5. O sentido do Natal
Com a vinda de Jesus
É restauração total
Não consumo que reduz.
6. Hoje o Natal de Jesus
Que veio para restaurar
È mercado que conduz
A muita coisa comprar.
7. No mundo do capital
Tudo é lucro e mercado
Também o nosso Natal
É por comércio usado.
8. Essa cultura do ter
Faz esquecer os valores
Leva muitos a não ser
E a viver com dissabores.
9. O povo influenciado
Por propaganda Global
Não escuta o que é falado.
Na mensagem de Natal:
10. Seja simples, seja puro
Seja justo com seu irmão
. Seja bom, seja maduro
Não pratique corrupção
11. O Natal lembra a história
Do defensor da verdade
É bom respeito à memória
Do Mártir da liberdade.
12. Vida reta defendeu
Com muita força e coragem
Crucificado morreu
Mas não abriu mão da mensagem.
13. Tal exemplo de Jesus
Precisamos imitar
Carreguemos nossa cruz
Não podemos fraquejar.
14. Vigiar com atenção
Também rezar disse o Mestre
Pra vencer a tentação
Dos poderosos terrestres.
15. Feliz Natal para todos
Com bastante inspiração
Pra combatermos o lodo
Que atrapalha a construção.
Rio, dezembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
JOSÉ RAYMUNDO DA SILVA
A VINDA, A CAMINHADA E A CHEGADA
(Por Edmílson Martins)
José Raymundo da Silva, companheiro bancário, esteve em missão aqui na terra durante 86 anos e nove meses. Nasceu em São José do Egito, agreste pernambucano. Filho de pais pobres, veio para o nosso planeta, como todo ser humano, a serviço da liberdade e da vida. Por isso, lutou pelo direito de todos a uma vida digna, sendo intransigente defensor da Justiça e da Paz.
Cumpriu intensamente sua tarefa missionária. Foi sindicalista, político, dirigente sindical e partidário. Constituiu uma linda família e junto com ela trabalhou na construção da sociedade livre e democrática. Nessa luta, como diz uma música muito cantada na Igreja, “semeou consciência nos caminhos do povo; enfrentou tramas e prepotência dos que temem o novo; quebrou as algemas, recusou laços e esquemas; foi além das fronteiras, espalhou boa-nova”; resistiu às grandes tribulações. Foi preso político e torturado algumas vezes. Alguns anos viveu na clandestinidade, outros, fora de sua pátria. Mas, teimoso na esperança, nunca desistiu da luta pelas liberdades. Combateu o bom combate, completou a corrida e partiu. Foi ver outras paisagens e receber a coroa da glória, deixando saudades, amizades e história, levando muita bagagem. Foi encontrar muitos companheiros que por aqui passaram e deixaram sua marca nas lutas de libertação.
Ao contrário da composição “A triste partida”, de Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga, em que uma família nordestina parte com tristeza para São Paulo, “pra viver ou morrer”, o Zé Raymundo partiu com alegria, porque, ao contrário da música de Chico Buarque (“O velho”), nada foi escrito em vão, nunca se escondeu, sempre se comprometeu e nunca se guardou do carnaval, da brincadeira. Partiu para outro mundo para viver uma vida plena e eterna.
Vejo o Zé chegando ao Céu para iniciar nova vida:
- Bom dia, companheiro Pedro.
- Bom dia, Zé (com afetuoso abraço), seja bem-vindo!
- Companheiro Pedro, eu sou bancário e líder sindical - quis explicar-se o Zé.
- Eu sei Zé, entra, o pessoal tá te esperando.
- Mas eu sou comunista e me disseram que comunista não entra no Céu!
- Esquece isso, Zé, entra logo rapaz, os companheiros estão à tua espera.
O Zé Raymundo entrou e deparou-se com uma grande multidão com vestes brancas, reunida em assembleia, declarada permanente, sem dirigentes nem dirigidos. Todos estavam irmanados num só coração, buscando formas de ajudar a humanidade a encontrar soluções para os graves problemas que lhe atingem. O Zé foi saudado com uma grande salva de palmas. Os companheiros mais chegados foram abraçá-lo. Entre eles estavam: Aluízio Palhano, José Toledo, Olympio de Melo, Campbel, Pereirinha, José Rodrigues, Roberto Martins, Imbiriba (bancários), Luiz Maranhão, D. Helder, Alceu de Amoroso Lima, Prestes, etc. E na grande assembleia, o Zé pôde ver o Gandhi, Luther King, Che Guevara, Lenine, Marx, João XXIII, Paulo VI e muitas outras pessoas de boa vontade que aqui lutaram pelas liberdades. No meio da multidão, reverenciado por todos e muito atento, estava Jesus Cristo, já sem as marcas das terríveis torturas sofridas na crucificação.
Convidado a falar, o Zé Raymundo fez um relato sobre a situação do nosso planeta, mostrando os estragos provocados pela ganância, avidez de lucro, riqueza e poder do dragão da maldade. Lembrou o que o companheiro João falou no seu Apocalipse: “É tempo de destruir os sistemas que destroem a terra”. E referiu-se ainda ao que Maria, mãe de Jesus (presente na assembleia), falou no Hino “Magnificat”: “O Senhor, com a força do seu braço, derruba os poderosos e eleva os humildes, sacia de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias”. No relato, propôs iniciativas para ajudar as pessoas de boa vontade a construírem a sociedade livre, justa e democrática e a derrotarem os perversos sistemas que destroem a terra.
Os oradores sucederam-se, apresentando as boas-vindas ao Zé, apoiando efusivamente as propostas por ele apresentadas. E Jesus dirigindo-se a ele, disse: “companheiro, você é um dos bem-aventurados, porque tem fome e sede de justiça, porque lutou pela paz e foi perseguido por causa da luta pela liberdade. Seja bem-vindo”.
O José Raymundo está Lá, junto dos bons companheiros, que nos inspiram com seus exemplos e nos dão força para continuarmos na luta até a vitória final contra a Besta do Apocalipse que, com sua propaganda ideológica, sustenta poderes absolutos.
O Neoliberalismo (a Besta) a serviço do capitalismo (o Dragão), hoje, apresenta o mal com aparência de bem para levar as pessoas a aceitarem os sistemas políticos desumanos. A Besta tenta controlar a ação e o pensamento da humanidade, com a manipulação.
Foi desses problemas que o José Raymundo falou, com muita veemência, à grande multidão de companheiros naquela assembleia permanente, pedindo solidariedade para com todos os povos da Terra, pela salvação do Planeta.
Rio, outubro de 2011
(Por Edmílson Martins)
José Raymundo da Silva, companheiro bancário, esteve em missão aqui na terra durante 86 anos e nove meses. Nasceu em São José do Egito, agreste pernambucano. Filho de pais pobres, veio para o nosso planeta, como todo ser humano, a serviço da liberdade e da vida. Por isso, lutou pelo direito de todos a uma vida digna, sendo intransigente defensor da Justiça e da Paz.
Cumpriu intensamente sua tarefa missionária. Foi sindicalista, político, dirigente sindical e partidário. Constituiu uma linda família e junto com ela trabalhou na construção da sociedade livre e democrática. Nessa luta, como diz uma música muito cantada na Igreja, “semeou consciência nos caminhos do povo; enfrentou tramas e prepotência dos que temem o novo; quebrou as algemas, recusou laços e esquemas; foi além das fronteiras, espalhou boa-nova”; resistiu às grandes tribulações. Foi preso político e torturado algumas vezes. Alguns anos viveu na clandestinidade, outros, fora de sua pátria. Mas, teimoso na esperança, nunca desistiu da luta pelas liberdades. Combateu o bom combate, completou a corrida e partiu. Foi ver outras paisagens e receber a coroa da glória, deixando saudades, amizades e história, levando muita bagagem. Foi encontrar muitos companheiros que por aqui passaram e deixaram sua marca nas lutas de libertação.
Ao contrário da composição “A triste partida”, de Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga, em que uma família nordestina parte com tristeza para São Paulo, “pra viver ou morrer”, o Zé Raymundo partiu com alegria, porque, ao contrário da música de Chico Buarque (“O velho”), nada foi escrito em vão, nunca se escondeu, sempre se comprometeu e nunca se guardou do carnaval, da brincadeira. Partiu para outro mundo para viver uma vida plena e eterna.
Vejo o Zé chegando ao Céu para iniciar nova vida:
- Bom dia, companheiro Pedro.
- Bom dia, Zé (com afetuoso abraço), seja bem-vindo!
- Companheiro Pedro, eu sou bancário e líder sindical - quis explicar-se o Zé.
- Eu sei Zé, entra, o pessoal tá te esperando.
- Mas eu sou comunista e me disseram que comunista não entra no Céu!
- Esquece isso, Zé, entra logo rapaz, os companheiros estão à tua espera.
O Zé Raymundo entrou e deparou-se com uma grande multidão com vestes brancas, reunida em assembleia, declarada permanente, sem dirigentes nem dirigidos. Todos estavam irmanados num só coração, buscando formas de ajudar a humanidade a encontrar soluções para os graves problemas que lhe atingem. O Zé foi saudado com uma grande salva de palmas. Os companheiros mais chegados foram abraçá-lo. Entre eles estavam: Aluízio Palhano, José Toledo, Olympio de Melo, Campbel, Pereirinha, José Rodrigues, Roberto Martins, Imbiriba (bancários), Luiz Maranhão, D. Helder, Alceu de Amoroso Lima, Prestes, etc. E na grande assembleia, o Zé pôde ver o Gandhi, Luther King, Che Guevara, Lenine, Marx, João XXIII, Paulo VI e muitas outras pessoas de boa vontade que aqui lutaram pelas liberdades. No meio da multidão, reverenciado por todos e muito atento, estava Jesus Cristo, já sem as marcas das terríveis torturas sofridas na crucificação.
Convidado a falar, o Zé Raymundo fez um relato sobre a situação do nosso planeta, mostrando os estragos provocados pela ganância, avidez de lucro, riqueza e poder do dragão da maldade. Lembrou o que o companheiro João falou no seu Apocalipse: “É tempo de destruir os sistemas que destroem a terra”. E referiu-se ainda ao que Maria, mãe de Jesus (presente na assembleia), falou no Hino “Magnificat”: “O Senhor, com a força do seu braço, derruba os poderosos e eleva os humildes, sacia de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias”. No relato, propôs iniciativas para ajudar as pessoas de boa vontade a construírem a sociedade livre, justa e democrática e a derrotarem os perversos sistemas que destroem a terra.
Os oradores sucederam-se, apresentando as boas-vindas ao Zé, apoiando efusivamente as propostas por ele apresentadas. E Jesus dirigindo-se a ele, disse: “companheiro, você é um dos bem-aventurados, porque tem fome e sede de justiça, porque lutou pela paz e foi perseguido por causa da luta pela liberdade. Seja bem-vindo”.
O José Raymundo está Lá, junto dos bons companheiros, que nos inspiram com seus exemplos e nos dão força para continuarmos na luta até a vitória final contra a Besta do Apocalipse que, com sua propaganda ideológica, sustenta poderes absolutos.
O Neoliberalismo (a Besta) a serviço do capitalismo (o Dragão), hoje, apresenta o mal com aparência de bem para levar as pessoas a aceitarem os sistemas políticos desumanos. A Besta tenta controlar a ação e o pensamento da humanidade, com a manipulação.
Foi desses problemas que o José Raymundo falou, com muita veemência, à grande multidão de companheiros naquela assembleia permanente, pedindo solidariedade para com todos os povos da Terra, pela salvação do Planeta.
Rio, outubro de 2011
PADRE ANTÔNIO MONTENEGRO- a caminhada e a chegada no Céu
Por Edmílson Martins
O Montenegro partiu
Pois completou a corrida
Para o céu ele subiu
Onde tem boa acolhida.
Por aqui peregrinou
A serviço de Jesus
Gentes várias ajudou
A carregar sua cruz.
Para algumas gerações
O Evangelho anunciou
Falou muito aos corações
A todos Cristo levou.
Crianças, jovens, adultos
Foram por ele afagados
Esteve ao lado dos cultos
E também dos não letrados.
Fez questão de viver pobre
Como Jesus preferiu
Teve sempre gestos nobres
Mesmo com quem o agrediu.
Sempre guardou coerência
Na vida sacerdotal
Cumprindo sempre exigência
Dos Planos de Pastoral.
A serviço do Evangelho
Muito amigo conquistou
Criança, jovem e velho
Com ternura acarinhou.
Hoje o Céu está com festa
Os anjos cantam em coro
Os santos fazem seresta
Pois lá chegou um calouro.
Vejo o padre Montenegro
Chegando de bicicleta
- São Pedro, bom dia meu nego!
- Bom dia, meu teimoso atleta!
-Entre na sua morada
Todos estão lhe esperando
Festejam sua chegada
A festa já tá rolando.
Rio,15/11/2011
O Montenegro partiu
Pois completou a corrida
Para o céu ele subiu
Onde tem boa acolhida.
Por aqui peregrinou
A serviço de Jesus
Gentes várias ajudou
A carregar sua cruz.
Para algumas gerações
O Evangelho anunciou
Falou muito aos corações
A todos Cristo levou.
Crianças, jovens, adultos
Foram por ele afagados
Esteve ao lado dos cultos
E também dos não letrados.
Fez questão de viver pobre
Como Jesus preferiu
Teve sempre gestos nobres
Mesmo com quem o agrediu.
Sempre guardou coerência
Na vida sacerdotal
Cumprindo sempre exigência
Dos Planos de Pastoral.
A serviço do Evangelho
Muito amigo conquistou
Criança, jovem e velho
Com ternura acarinhou.
Hoje o Céu está com festa
Os anjos cantam em coro
Os santos fazem seresta
Pois lá chegou um calouro.
Vejo o padre Montenegro
Chegando de bicicleta
- São Pedro, bom dia meu nego!
- Bom dia, meu teimoso atleta!
-Entre na sua morada
Todos estão lhe esperando
Festejam sua chegada
A festa já tá rolando.
Rio,15/11/2011
CORDEL ANIVERSÁRIO DO MAURÍCIO
Por Edmílson Martins
Maurício,
No dia quinze de novembro
Você nasceu na Lagoa
E falou logo (me lembro):
Tou chegando numa boa!
...
No hospital dos bancários
Lá na Rodrigo de Freitas
No berço entre bebês vários
Você ficou bem na espreita
Olhando barcos no mar
Do qual a Lagoa é um braço
Você pensava em nadar
Levando ao mar seu abraço.
Parabéns Maurício filho
Pelo seu aniversário
Continue com o seu brilho
Que começou no berçário
--
"Da plenitude, a plenitude surge.
Tirando-se a plenitude da plenitude,
Somente a plenitude resta".
Aulas de yoga
Maurício,
No dia quinze de novembro
Você nasceu na Lagoa
E falou logo (me lembro):
Tou chegando numa boa!
...
No hospital dos bancários
Lá na Rodrigo de Freitas
No berço entre bebês vários
Você ficou bem na espreita
Olhando barcos no mar
Do qual a Lagoa é um braço
Você pensava em nadar
Levando ao mar seu abraço.
Parabéns Maurício filho
Pelo seu aniversário
Continue com o seu brilho
Que começou no berçário
--
"Da plenitude, a plenitude surge.
Tirando-se a plenitude da plenitude,
Somente a plenitude resta".
Aulas de yoga
CORDEL DA REFORMA POLÍTICA
(Por Edmílson Martins)
O Brasil pede socorro
Lança grito comovente:
Acuda se não eu morro!
Quero ser país decente.
Construir um novo Estado
Deixando o velho de lado
É de extrema importância
Pois o sistema atual
De cunho neoliberal
Só nos causa insegurança.
A Igreja tem razão
Política é serviço
É trabalho e construção
Precisa ser compromisso.
Política pra valer
Ajuda a gente crescer
Só enriquece a nação
Não mantém povo enganado
Não deixa cabra safado
Praticar corrupção.
Mas os nossos governantes,
Que servem aos poderosos,
Do povo ficam distantes
Fingindo ser generosos.
Não permitem as mudanças
Pra sustentar a ganância
Do usurário banqueiro
Que deseja sempre mais
Passando muitos pra trás
Pra ter seu pirão primeiro.
E sendo assim, não tem jeito
Temos todos que lutar
Pra salvar nossos direitos
Para a vida melhorar.
Estamos equivocados
Esperando deputados
Confiando em senadores
Em partidos corrompidos,
Que enganam entes sofridos,
Que nos causam dissabores.
Ponhamos um fim à farra
Com o dinheiro do povo
Mesmo que seja na marra
Começar tudo de novo.
Um grito de indignação
Soando feito trovão
Precisa surgir da gente
Queremos reforma já!
É desejo popular
E tem que ser bem urgente.
Um sistema democrático
Preferência da nação
Não pode ser burocrático
Nem também tapeação
Com poderes viciados
E cretinos endeusados.
Chega de hipocrisia
Não dá mais pra tolerar
Precisamos acabar
Com a grande covardia.
Uma reforma política
Depende de nossa ação
Não adianta só crítica
Nem mostrar desilusão.
Carece coragem e luta
Não ter medo da disputa
Acreditar na vitória
Exigir de forma dura
Nunca perder a ternura
Ter esperança na glória.
Rio, setembro de 2011
O Brasil pede socorro
Lança grito comovente:
Acuda se não eu morro!
Quero ser país decente.
Construir um novo Estado
Deixando o velho de lado
É de extrema importância
Pois o sistema atual
De cunho neoliberal
Só nos causa insegurança.
A Igreja tem razão
Política é serviço
É trabalho e construção
Precisa ser compromisso.
Política pra valer
Ajuda a gente crescer
Só enriquece a nação
Não mantém povo enganado
Não deixa cabra safado
Praticar corrupção.
Mas os nossos governantes,
Que servem aos poderosos,
Do povo ficam distantes
Fingindo ser generosos.
Não permitem as mudanças
Pra sustentar a ganância
Do usurário banqueiro
Que deseja sempre mais
Passando muitos pra trás
Pra ter seu pirão primeiro.
E sendo assim, não tem jeito
Temos todos que lutar
Pra salvar nossos direitos
Para a vida melhorar.
Estamos equivocados
Esperando deputados
Confiando em senadores
Em partidos corrompidos,
Que enganam entes sofridos,
Que nos causam dissabores.
Ponhamos um fim à farra
Com o dinheiro do povo
Mesmo que seja na marra
Começar tudo de novo.
Um grito de indignação
Soando feito trovão
Precisa surgir da gente
Queremos reforma já!
É desejo popular
E tem que ser bem urgente.
Um sistema democrático
Preferência da nação
Não pode ser burocrático
Nem também tapeação
Com poderes viciados
E cretinos endeusados.
Chega de hipocrisia
Não dá mais pra tolerar
Precisamos acabar
Com a grande covardia.
Uma reforma política
Depende de nossa ação
Não adianta só crítica
Nem mostrar desilusão.
Carece coragem e luta
Não ter medo da disputa
Acreditar na vitória
Exigir de forma dura
Nunca perder a ternura
Ter esperança na glória.
Rio, setembro de 2011
COMBATE À CORRUPÇÃO
Por Edmílson Martins (outubro 2011)
Todo o povo brasileiro
Marcha contra a corrupção
Que enfraquece toda a gente
Enlameia nossa nação
Deixa todos vulneráveis
Produzindo podridão.
Com tanta patifaria
Nosso país se desfaz
Todos ficam engasgados
E ninguém aguenta mais
O povo forte esmorece
Até se sente incapaz.
O sistema corruptor
Mancha todas as instâncias
Corroendo alma das gentes
Com muita sede e ganância
Causando-nos tanto mal
Com perdas em abundância.
Um país que não tem ética
Não sobrevive, não cresce
Será sempre país pobre
Que não sobe, sempre desce
Torna-se escravo dos outros
Nenhum crédito merece.
O Brasil de encantos mil
Tem tudo pra progredir
Nosso povo corajoso
Não quer esmolas pedir
É bom e trabalhador
Só quer na vida subir.
Quer trabalhar sossegado
Viver com honestidade
Construir sua família
Com lisura e liberdade
Produzir muitos bons frutos
Viver sem ansiedade.
Porém, todo o nosso povo
Se mostra muito indignado
Resolve não tolerar
As farras de deputados
Manobras do Executivo
Conivência do Senado.
Vai combater fichas sujas
Pois quer política limpa
Só quer político ético
Com o país não se brinca
Deseja ser respeitado
Sem a lama que respinga.
Mas é preciso entender
Que o combate à corrupção
Somente com passeata
Não vai trazer solução
Precisamos ter cuidado
Fazendo organização.
Passeatas simplesmente
Ficarão só na emoção
E serão manipuladas
Com malícia do dragão
É bom alertar o povo
Chamando-o pra reflexão.
É necessário lembrar
Que ser contra a corrupção
Não é ser contra a política
Mas contra todo ladrão
Queremos os bons políticos
E sadia instituição.
Todo o povo brasileiro
Marcha contra a corrupção
Que enfraquece toda a gente
Enlameia nossa nação
Deixa todos vulneráveis
Produzindo podridão.
Com tanta patifaria
Nosso país se desfaz
Todos ficam engasgados
E ninguém aguenta mais
O povo forte esmorece
Até se sente incapaz.
O sistema corruptor
Mancha todas as instâncias
Corroendo alma das gentes
Com muita sede e ganância
Causando-nos tanto mal
Com perdas em abundância.
Um país que não tem ética
Não sobrevive, não cresce
Será sempre país pobre
Que não sobe, sempre desce
Torna-se escravo dos outros
Nenhum crédito merece.
O Brasil de encantos mil
Tem tudo pra progredir
Nosso povo corajoso
Não quer esmolas pedir
É bom e trabalhador
Só quer na vida subir.
Quer trabalhar sossegado
Viver com honestidade
Construir sua família
Com lisura e liberdade
Produzir muitos bons frutos
Viver sem ansiedade.
Porém, todo o nosso povo
Se mostra muito indignado
Resolve não tolerar
As farras de deputados
Manobras do Executivo
Conivência do Senado.
Vai combater fichas sujas
Pois quer política limpa
Só quer político ético
Com o país não se brinca
Deseja ser respeitado
Sem a lama que respinga.
Mas é preciso entender
Que o combate à corrupção
Somente com passeata
Não vai trazer solução
Precisamos ter cuidado
Fazendo organização.
Passeatas simplesmente
Ficarão só na emoção
E serão manipuladas
Com malícia do dragão
É bom alertar o povo
Chamando-o pra reflexão.
É necessário lembrar
Que ser contra a corrupção
Não é ser contra a política
Mas contra todo ladrão
Queremos os bons políticos
E sadia instituição.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
CORDEL DA RESSURREIÇÃO
RESSURREIÇÃO E VIDA
( Por Edmílson Martins)
Ressurreição minha gente
Proclama libertação
Livra corações e mentes
Do medo e da prisão.
Ressurreição é resposta
Fazendo valer proposta
Do Deus da liberdade
Que vence a desesperança
Deposita a confiança
Com bastante autoridade
.
Cristo Jesus ao morrer
Eternizou nossa vida
E Fez a morte perder
A pretensão homicida
O tal sistema perverso
Perdeu não tem retrocesso
Deus mostra com a vida
Que a morte não tem poder
E faz de tudo pra ver
A vida fortalecida.
O louco poder humano
Que pensa dominar tudo
Não percebe seu engano
Fica cego, surdo, mudo.
A Justiça sempre vence
A força do Amor convence
A certeza vence o medo
Tudo fica muito claro
E com certeza declaro
viver bem não tem segredo.
Ressuscitar é mostrar
Que a vida tem seu valor
Que é preciso lutar
Para manter seu vigor
Deus criou só a vida
A morte é descabida
É uma coisa inventada
É fruto da prepotência
Que só gera violência
E vida não preservada.
Nosso povo brasileiro
Precisa ressuscitar
Acordando bem ligeiro
Para a vida preservar.
O mau sistema político
Que faz nosso viver crítico
Tem que logo ser mudado
Porque todo o nosso povo
Precisa nascer de novo
Logo ser ressuscitado.
Rio, 28 de abril de 2011
( Por Edmílson Martins)
Ressurreição minha gente
Proclama libertação
Livra corações e mentes
Do medo e da prisão.
Ressurreição é resposta
Fazendo valer proposta
Do Deus da liberdade
Que vence a desesperança
Deposita a confiança
Com bastante autoridade
.
Cristo Jesus ao morrer
Eternizou nossa vida
E Fez a morte perder
A pretensão homicida
O tal sistema perverso
Perdeu não tem retrocesso
Deus mostra com a vida
Que a morte não tem poder
E faz de tudo pra ver
A vida fortalecida.
O louco poder humano
Que pensa dominar tudo
Não percebe seu engano
Fica cego, surdo, mudo.
A Justiça sempre vence
A força do Amor convence
A certeza vence o medo
Tudo fica muito claro
E com certeza declaro
viver bem não tem segredo.
Ressuscitar é mostrar
Que a vida tem seu valor
Que é preciso lutar
Para manter seu vigor
Deus criou só a vida
A morte é descabida
É uma coisa inventada
É fruto da prepotência
Que só gera violência
E vida não preservada.
Nosso povo brasileiro
Precisa ressuscitar
Acordando bem ligeiro
Para a vida preservar.
O mau sistema político
Que faz nosso viver crítico
Tem que logo ser mudado
Porque todo o nosso povo
Precisa nascer de novo
Logo ser ressuscitado.
Rio, 28 de abril de 2011
sábado, 10 de setembro de 2011
O elogio da violência e da morte
O ELOGIO DA VIOLÊNCIA E DA MORTE
Ou “o assassinato de Bin Laden”
Edmílson Martins (08/052011)
No século VI antes de Cristo, o profeta Isaías já proclamava a vitória da vida sobre a morte. “O Senhor fará desaparecer a morte para sempre” (Is 15,25.8) Jesus, no momento da sua prisão, assim falou: “Quem usa a espada, morrerá pela espada, advertindo o discípulo Simão Pedro, que puxou a espada e cortou a orelha de um dos soldados, tentando reagir à prisão. Jesus reagiu àquela violência de forma pacífica e ressuscitou para mostrar que a vida prevalece sobre a morte. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos”- dissera o Mestre em outra ocasião (Lc 20,38).
Paulo apóstolo, que com violência perseguira os cristãos, convertido alguns anos após a ressurreição de Jesus, interroga e desafia: “Morte, onde está tua vitória?” Morte, onde está o teu grilhão?”(1cor 15,55-56).
No Século XX, surgiram os profetas da não-violência: Gandhi, líder pacifista indiano –morto por um ato violento-, Martin Luther King, pastor e líder pacifista americano- também vítima da violência-, Dom Helder Câmara, bispo da Igreja Católica, entre outros. Eles pregaram com muita veemência a luta pela paz, através de métodos pacíficos, mostrando a necessidade da compreensão e respeito entre os seres humanos. Ensinaram que os homens foram criados para a vida em liberdade, no clima de fraternidade e partilha.
Podemos ver na Bíblia, no Gênese, que Deus criou a vida e que o ser humano foi criado para viver em harmonia consigo mesmo, com o seu próximo, com a natureza e com o Criador. A morte aparece quando o homem torna-se autossuficiente, transformando as relações de fraternidade em relações de poder e opressão e a relação de partilha em exploração do homem pelo homem.
Mas o ser humano, colocado no Jardim do Edem para administrá-lo e cultivá-lo, pouco aprendeu sobre a valorização e cultivo da vida. Continua vivendo o culto da morte, apoiando projetos e ações violentas que matam milhares de pessoas todos os dias.
E assim, a nação mais poderosa e autossuficiente da terra, acompanhada de outras nações também poderosas, espalha a violência por todos os recantos, hipocritamente em nome da paz e, se dizendo cristã, em nome de Deus.
Na segunda metade do Século XX, a partir de 1960, fomentou ditaduras na América Latina, usando a mentira do combate ao comunismo, com opressão, perseguição, torturas e mortes; ocupou militarmente o Vietnam do Sul, provocando uma das guerras mais sangrentas da História, com a crueldade e matança de milhares de vietnamitas e morte de muitos jovens americanos; invadiu o mundo árabe, com ocupações violentas no Iraque e Afeganistão, implantando o terror, com a morte de milhares de pessoas.
Tudo isso com fundamentações falsas e mentirosas, trazendo como conseqüência outras ações violentas, como a tragédia das torres gêmeas em Nova Iorque, em 2001 e muitos outros atentados terroristas pelo mundo afora.
Agora esse país, além de fomentar guerras e sistemas econômicos perniciosos às comunidades humanas e à convivência social, vangloria-se pelo assassinato do suposto líder terrorista Bin Laden e estimula o culto da morte, com o presidente Obama sendo popularizado como herói, por ser o cérebro desse assassinato, atentado tão terrorista quanto o atribuído ao Bin Laden.
Hoje, todos os veículos de comunicação são utilizados para valorizar a morte como vitória da paz, influenciando milhões de pessoas em todo o planeta. O mundo torna-se uma grande arena do Império Romano, quando as multidões, incentivadas pelo imperador, divertiam-se com os leões estrangulando pessoas ou com os gladiadores se matando em lutas cruéis.
Com essa estupidez o imperador se tornava popular, como hoje o presidente Obama se torna popular com a prática de um ato cruel e sanguinário.
Esse esquema de violência organizado por essas nações poderosas, usado como arma de dominação, está causando estragos nas relações humanas em todo o planeta. O instinto de violência disseminado por esse esquema apodera-se da sociedade, provocando o caos generalizado. E as pessoas, sem saber por que, se agridem e se matam.
Como ensina o Documento de Aparecida, organizado pela Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, há que se escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte. Caminhos da morte são os que traçam uma cultura animada pelos ídolos do poder, da riqueza e da ganância, que usam a violência como arma para suas conquistas. Caminhos de vida são os que traçam uma cultura animada pela pregação e realização da paz, da justiça, da não-violência e da harmonia entre os seres humanos, diz o documento.
O elogio da violência, ou seja, o culto da crueldade não pode continuar, porque valoriza os caminhos que traçam a cultura da morte. É preciso valorizar a cultura da vida e respeitar a criatura humana, feita para viver na harmonia e na paz. “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”, disse Jesus Cristo.
A paz não se conquista com guerras ou confrontos violentos, mas com projetos que promovam o ser humano e a harmonia social. “Justiça é o novo nome da paz”, já disse o papa Paulo V1. E hoje, mais do que nunca, é necessário lutar para a construção de um mundo mais justo e fraterno, porque “Quem quer a paz luta pela Justiça”, advertiu o papa.
Ou “o assassinato de Bin Laden”
Edmílson Martins (08/052011)
No século VI antes de Cristo, o profeta Isaías já proclamava a vitória da vida sobre a morte. “O Senhor fará desaparecer a morte para sempre” (Is 15,25.8) Jesus, no momento da sua prisão, assim falou: “Quem usa a espada, morrerá pela espada, advertindo o discípulo Simão Pedro, que puxou a espada e cortou a orelha de um dos soldados, tentando reagir à prisão. Jesus reagiu àquela violência de forma pacífica e ressuscitou para mostrar que a vida prevalece sobre a morte. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos”- dissera o Mestre em outra ocasião (Lc 20,38).
Paulo apóstolo, que com violência perseguira os cristãos, convertido alguns anos após a ressurreição de Jesus, interroga e desafia: “Morte, onde está tua vitória?” Morte, onde está o teu grilhão?”(1cor 15,55-56).
No Século XX, surgiram os profetas da não-violência: Gandhi, líder pacifista indiano –morto por um ato violento-, Martin Luther King, pastor e líder pacifista americano- também vítima da violência-, Dom Helder Câmara, bispo da Igreja Católica, entre outros. Eles pregaram com muita veemência a luta pela paz, através de métodos pacíficos, mostrando a necessidade da compreensão e respeito entre os seres humanos. Ensinaram que os homens foram criados para a vida em liberdade, no clima de fraternidade e partilha.
Podemos ver na Bíblia, no Gênese, que Deus criou a vida e que o ser humano foi criado para viver em harmonia consigo mesmo, com o seu próximo, com a natureza e com o Criador. A morte aparece quando o homem torna-se autossuficiente, transformando as relações de fraternidade em relações de poder e opressão e a relação de partilha em exploração do homem pelo homem.
Mas o ser humano, colocado no Jardim do Edem para administrá-lo e cultivá-lo, pouco aprendeu sobre a valorização e cultivo da vida. Continua vivendo o culto da morte, apoiando projetos e ações violentas que matam milhares de pessoas todos os dias.
E assim, a nação mais poderosa e autossuficiente da terra, acompanhada de outras nações também poderosas, espalha a violência por todos os recantos, hipocritamente em nome da paz e, se dizendo cristã, em nome de Deus.
Na segunda metade do Século XX, a partir de 1960, fomentou ditaduras na América Latina, usando a mentira do combate ao comunismo, com opressão, perseguição, torturas e mortes; ocupou militarmente o Vietnam do Sul, provocando uma das guerras mais sangrentas da História, com a crueldade e matança de milhares de vietnamitas e morte de muitos jovens americanos; invadiu o mundo árabe, com ocupações violentas no Iraque e Afeganistão, implantando o terror, com a morte de milhares de pessoas.
Tudo isso com fundamentações falsas e mentirosas, trazendo como conseqüência outras ações violentas, como a tragédia das torres gêmeas em Nova Iorque, em 2001 e muitos outros atentados terroristas pelo mundo afora.
Agora esse país, além de fomentar guerras e sistemas econômicos perniciosos às comunidades humanas e à convivência social, vangloria-se pelo assassinato do suposto líder terrorista Bin Laden e estimula o culto da morte, com o presidente Obama sendo popularizado como herói, por ser o cérebro desse assassinato, atentado tão terrorista quanto o atribuído ao Bin Laden.
Hoje, todos os veículos de comunicação são utilizados para valorizar a morte como vitória da paz, influenciando milhões de pessoas em todo o planeta. O mundo torna-se uma grande arena do Império Romano, quando as multidões, incentivadas pelo imperador, divertiam-se com os leões estrangulando pessoas ou com os gladiadores se matando em lutas cruéis.
Com essa estupidez o imperador se tornava popular, como hoje o presidente Obama se torna popular com a prática de um ato cruel e sanguinário.
Esse esquema de violência organizado por essas nações poderosas, usado como arma de dominação, está causando estragos nas relações humanas em todo o planeta. O instinto de violência disseminado por esse esquema apodera-se da sociedade, provocando o caos generalizado. E as pessoas, sem saber por que, se agridem e se matam.
Como ensina o Documento de Aparecida, organizado pela Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, há que se escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte. Caminhos da morte são os que traçam uma cultura animada pelos ídolos do poder, da riqueza e da ganância, que usam a violência como arma para suas conquistas. Caminhos de vida são os que traçam uma cultura animada pela pregação e realização da paz, da justiça, da não-violência e da harmonia entre os seres humanos, diz o documento.
O elogio da violência, ou seja, o culto da crueldade não pode continuar, porque valoriza os caminhos que traçam a cultura da morte. É preciso valorizar a cultura da vida e respeitar a criatura humana, feita para viver na harmonia e na paz. “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”, disse Jesus Cristo.
A paz não se conquista com guerras ou confrontos violentos, mas com projetos que promovam o ser humano e a harmonia social. “Justiça é o novo nome da paz”, já disse o papa Paulo V1. E hoje, mais do que nunca, é necessário lutar para a construção de um mundo mais justo e fraterno, porque “Quem quer a paz luta pela Justiça”, advertiu o papa.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
TRAGÉDIA NA SERRA
CORDEL DA TRAGÉDIA SERRANA
Edmílson Martins -25/01/2011
A tragédia na serra
Oh Deus! Que horror!
Acabou com muitas vidas,
Semeando muita dor.
Famílias destroçadas
Com fim em pleno vigor.
Não vamos buscar culpados,
Diz a gente conformada.
Precisamos é ajudar.
E esquecer gente safada?
Culpados ficam impunes,
Com gente prejudicada?
Por crime de omissão
Alguém tem que responder.
O primeiro responsável
É quem está no poder,
Que pra salvar interesses
Deixa a coisa acontecer.
O desastre ocorreu
E não vamos lamentar,
Mas exigir dos governos
O dever de governar.
Vamos cobrar os cuidados
Que eles devem cultivar.
Precisamos ajudar,
Mas sem acomodação.
Ajudar, mas combatendo
A perversa corrupção
Dos que enriquecem fácil
À custa da arrumação.
O nosso governador,
Também nosso presidente,
Prefeitos, parlamentares,
Todos estavam cientes
Dos problemas do serrado,
Porém, não foram previdentes.
O povo precisa ver
E prestar muita atenção
No fazer dos governantes
Do Estado, da nação.
Exigir fidelidade
Às promessas de eleição.
Rio, 25/01/2011
Edmílson Martins -25/01/2011
A tragédia na serra
Oh Deus! Que horror!
Acabou com muitas vidas,
Semeando muita dor.
Famílias destroçadas
Com fim em pleno vigor.
Não vamos buscar culpados,
Diz a gente conformada.
Precisamos é ajudar.
E esquecer gente safada?
Culpados ficam impunes,
Com gente prejudicada?
Por crime de omissão
Alguém tem que responder.
O primeiro responsável
É quem está no poder,
Que pra salvar interesses
Deixa a coisa acontecer.
O desastre ocorreu
E não vamos lamentar,
Mas exigir dos governos
O dever de governar.
Vamos cobrar os cuidados
Que eles devem cultivar.
Precisamos ajudar,
Mas sem acomodação.
Ajudar, mas combatendo
A perversa corrupção
Dos que enriquecem fácil
À custa da arrumação.
O nosso governador,
Também nosso presidente,
Prefeitos, parlamentares,
Todos estavam cientes
Dos problemas do serrado,
Porém, não foram previdentes.
O povo precisa ver
E prestar muita atenção
No fazer dos governantes
Do Estado, da nação.
Exigir fidelidade
Às promessas de eleição.
Rio, 25/01/2011
SAUDADES DO BANCO DO BRASIL
SAUDADES DO BANCO DO BRASIL
Edmílson Martins (2006)
Tenho saudades do Banco do Brasil do passado. Não é saudosismo, mas saudade terna, memória viva, boas lembranças que bem poderiam iluminar o presente. Dizia-se que o banco era uma mãe. Havia verdades nessa observação, embora, em alguns momentos, agisse como madrasta, digamos, generosa. Mas, de um modo geral, o banco era pai e mãe, generoso para com seus funcionários, valorizados como parte integrante do seu patrimônio.
Toda a trajetória de vida no Banco do Brasil começava na preparação para o concurso. Eram pelo menos quatro anos de estudo específico - a duração de um curso universitário. Não havia exigência de conclusão do Ensino Médio, (ou Científico, naquela época). Muitos foram aprovados no concurso apenas com a conclusão do Curso Ginasial ( hoje, Fundamental). Mas as matérias exigidas eram as do Ensino Médio: Português, Matemática, Contabilidade, Francês, Inglês e datilografia. Era um concurso difícil. Os candidatos tinham que estudar muito. Quem podia pagava cursinho, quem não podia estudava sozinho. Eu, por exemplo, estudei sozinho. Foram longas noites e longos fins de semana de estudo. As provas eram assim: uma redação, questões de gramática, dez problemas de Matemática, dez questões de Contabilidade, textos de Inglês e Francês para traduzir. Datilografia, 150 toques, mínimo, por minuto, com duração de 6 minutos. As provas valiam 100 pontos cada, com média geral de 60 pontos. Todos os rascunhos acompanhavam as provas e, em Matemática, os problemas tinham que ser desenvolvidos no rascunho.
A aprovação no concurso era uma grande emoção, porque era a realização de um sonho. Era, talvez, o melhor emprego do país. A emoção era ampla. Emocionava-se o candidato, emocionava-se a família, emocionavam-se os amigos. Lembro-me que meus pais espalharam entre todos os seus amigos e parentes: “Edmílson, nosso filho, passou no concurso do Banco do Brasil!”. Era uma festa.
No banco, a emoção da posse e do primeiro dia de trabalho. O ambiente era de boas vindas, com apresentações aos colegas mais antigos, que tratavam de favorecer a ambientação do novo colega. O ambiente de trabalho facilitava o relacionamento entre os colegas, era fraterno. O banco pagava bem. Eram três salários de gratificação anual, mais o décimo terceiro e, às vezes, tinha uma gratificação extra. E havia licença-prêmio- três meses a cada cinco anos-, cinco dias de abono por ano e aos dez anos de trabalho, o funcionário tinha direito a se inscrever para adquirir o financiamento da casa própria pela Previ. O empréstimo acontecia, geralmente, entre um e dois anos após a inscrição. Havia um Quadro de carreira regular, com promoções automáticas.
Além das vantagens financeiras e das boas condições de trabalho, o novo funcionário já encontrava no Banco do Brasil uma tradição de luta do funcionalismo em defesa dos seus direitos e do banco, enquanto instituição dedicada ao serviço do povo e ao desenvolvimento do país. A Previ, a Cassi , outras organizações sociais e a manutenção, por muito tempo, de uma estrutura salarial sólida, são frutos dessa luta, empreendida através da história.. Foram muitos, e acho que ainda hoje são, os lideres sindicais, políticos, sociais e os valores acadêmicos, artísticos e literários surgidos entre o funcionalismo do Banco do Brasil. Não foi por acaso que a repressão da ditadura militar agiu com tanta violência dentro do banco, punindo, demitindo e prendendo funcionários ativistas.
Tomei posse no banco em 1963, na Agência Madureira-RJ, depois transferido para a Agência Centro-Rio, onde me aposentei em 1987. Participei ativamente do movimento sindical e até fui presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, em 1972 – bem no tempo da “ditadura escancarada”(como diz Hélio Gaspare). Foi em função dessa participação que escrevi o livro “Bancários – Anos de resistência -1964-1979”, editado pelo Sindicato dos Bancários –RJ.
Foram 30 anos de vida bancária, com 24 anos no Banco do Brasil. Foram 30 anos de aprendizado, de boa convivência, de luta, de alegrias e decepções, de vitórias e derrotas, sem dúvida, com saldo positivo. Valeu a pena? Respondo com o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Com as mudanças havidas no banco e no tratamento aos seus funcionários, em decorrência da implantação do Sistema Neoliberal, que prioriza o lucro, em detrimento dos valores humanos, a situação mudou... pra pior. Não sei se os colegas que se aposentarão no futuro guardarão as mesmas saudades que guardo do passado, como funcionário daquela instituição. Mas acho que o funcionalismo de hoje pode e deve lutar com todas as suas forças e a capacidade que tem, para que a sua vida no banco deixe saudades que sejam memória viva para as futuras gerações. O Banco do Brasil sempre foi, e creio que é e sempre será um celeiro de cidadãos e cidadãs conscientes da sua cidadania e dedicados ao crescimento humano da nossa sociedade e ao desenvolvimento do nosso país. Que assim seja .
Edmílson Martins de Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2006.
Edmílson Martins (2006)
Tenho saudades do Banco do Brasil do passado. Não é saudosismo, mas saudade terna, memória viva, boas lembranças que bem poderiam iluminar o presente. Dizia-se que o banco era uma mãe. Havia verdades nessa observação, embora, em alguns momentos, agisse como madrasta, digamos, generosa. Mas, de um modo geral, o banco era pai e mãe, generoso para com seus funcionários, valorizados como parte integrante do seu patrimônio.
Toda a trajetória de vida no Banco do Brasil começava na preparação para o concurso. Eram pelo menos quatro anos de estudo específico - a duração de um curso universitário. Não havia exigência de conclusão do Ensino Médio, (ou Científico, naquela época). Muitos foram aprovados no concurso apenas com a conclusão do Curso Ginasial ( hoje, Fundamental). Mas as matérias exigidas eram as do Ensino Médio: Português, Matemática, Contabilidade, Francês, Inglês e datilografia. Era um concurso difícil. Os candidatos tinham que estudar muito. Quem podia pagava cursinho, quem não podia estudava sozinho. Eu, por exemplo, estudei sozinho. Foram longas noites e longos fins de semana de estudo. As provas eram assim: uma redação, questões de gramática, dez problemas de Matemática, dez questões de Contabilidade, textos de Inglês e Francês para traduzir. Datilografia, 150 toques, mínimo, por minuto, com duração de 6 minutos. As provas valiam 100 pontos cada, com média geral de 60 pontos. Todos os rascunhos acompanhavam as provas e, em Matemática, os problemas tinham que ser desenvolvidos no rascunho.
A aprovação no concurso era uma grande emoção, porque era a realização de um sonho. Era, talvez, o melhor emprego do país. A emoção era ampla. Emocionava-se o candidato, emocionava-se a família, emocionavam-se os amigos. Lembro-me que meus pais espalharam entre todos os seus amigos e parentes: “Edmílson, nosso filho, passou no concurso do Banco do Brasil!”. Era uma festa.
No banco, a emoção da posse e do primeiro dia de trabalho. O ambiente era de boas vindas, com apresentações aos colegas mais antigos, que tratavam de favorecer a ambientação do novo colega. O ambiente de trabalho facilitava o relacionamento entre os colegas, era fraterno. O banco pagava bem. Eram três salários de gratificação anual, mais o décimo terceiro e, às vezes, tinha uma gratificação extra. E havia licença-prêmio- três meses a cada cinco anos-, cinco dias de abono por ano e aos dez anos de trabalho, o funcionário tinha direito a se inscrever para adquirir o financiamento da casa própria pela Previ. O empréstimo acontecia, geralmente, entre um e dois anos após a inscrição. Havia um Quadro de carreira regular, com promoções automáticas.
Além das vantagens financeiras e das boas condições de trabalho, o novo funcionário já encontrava no Banco do Brasil uma tradição de luta do funcionalismo em defesa dos seus direitos e do banco, enquanto instituição dedicada ao serviço do povo e ao desenvolvimento do país. A Previ, a Cassi , outras organizações sociais e a manutenção, por muito tempo, de uma estrutura salarial sólida, são frutos dessa luta, empreendida através da história.. Foram muitos, e acho que ainda hoje são, os lideres sindicais, políticos, sociais e os valores acadêmicos, artísticos e literários surgidos entre o funcionalismo do Banco do Brasil. Não foi por acaso que a repressão da ditadura militar agiu com tanta violência dentro do banco, punindo, demitindo e prendendo funcionários ativistas.
Tomei posse no banco em 1963, na Agência Madureira-RJ, depois transferido para a Agência Centro-Rio, onde me aposentei em 1987. Participei ativamente do movimento sindical e até fui presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, em 1972 – bem no tempo da “ditadura escancarada”(como diz Hélio Gaspare). Foi em função dessa participação que escrevi o livro “Bancários – Anos de resistência -1964-1979”, editado pelo Sindicato dos Bancários –RJ.
Foram 30 anos de vida bancária, com 24 anos no Banco do Brasil. Foram 30 anos de aprendizado, de boa convivência, de luta, de alegrias e decepções, de vitórias e derrotas, sem dúvida, com saldo positivo. Valeu a pena? Respondo com o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Com as mudanças havidas no banco e no tratamento aos seus funcionários, em decorrência da implantação do Sistema Neoliberal, que prioriza o lucro, em detrimento dos valores humanos, a situação mudou... pra pior. Não sei se os colegas que se aposentarão no futuro guardarão as mesmas saudades que guardo do passado, como funcionário daquela instituição. Mas acho que o funcionalismo de hoje pode e deve lutar com todas as suas forças e a capacidade que tem, para que a sua vida no banco deixe saudades que sejam memória viva para as futuras gerações. O Banco do Brasil sempre foi, e creio que é e sempre será um celeiro de cidadãos e cidadãs conscientes da sua cidadania e dedicados ao crescimento humano da nossa sociedade e ao desenvolvimento do nosso país. Que assim seja .
Edmílson Martins de Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2006.
ENTREVISTA -PREVI
ARTES :: VERSO E PROSA (site da Caixa de Previdência dos Funcs.do B.Brasil (PREVI)
Edmilson Martins (Leia a entrevista) 2009
Aposentado alfabetizado pelo irmão mais velho teve garra para se tornar escritor
A infância difícil no interior do Ceará e os demais desafios que a vida lhe impôs não foram capazes de impedir que Edmílson Martins se aproximasse da literatura. O escritor, que aprendeu a ler com o mais velho dos 17 irmãos e começou a estudar aos 12 anos, foi aprovado no Banco do Brasil em 1960. Foram 27 anos de BB até que ele se aposentasse como escriturário da agência Rio, no centro da capital fluminense. Em 1963, este cearense de Milagres, no sertão do estado, descobre o gosto pela escrita num curso de literatura e português. Martins passa então a elaborar editoriais para o jornalzinho da paróquia em que participava no Méier, no Rio de Janeiro (RJ), cidade onde vive até hoje, e a escrever artigos para o informativo do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
As conquistas não param por aí e em 2004 Martins lança o livro Bancários – anos de resistência 1964/1979. As experiências de vida foram direcionando a preferência do aposentado ao escrever. Seus temas principais são política, questões sociais e religião. ”Todos juntos, representam as principais dimensões humanas”, acredita o escritor, que pretende estimular a reflexão do leitor.
Entrevista:
O que te inspira a escrever?
O sentimento religioso, que, a meu ver, está no interior do ser humano. A questão política, porque é uma dimensão humana – o homem é um ser político, como disse Aristóteles. Finalmente, os fatos sociais, o cotidiano, o trabalho e as relações humanas me inspiram porque o escritor é um observador da vida em sociedade.
Fale sobre seu livro.
Até agora tenho um livro publicado, Bancários – anos de resistência 1964/1979. O tema é a resistência à ditadura militar. Conto a luta dos bancários – ativistas sindicais – do Rio de Janeiro pelo restabelecimento das liberdades democráticas em nosso país. É basicamente uma obra autobiográfica. Foi publicado em 2004, com edição patrocinada pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
O que a experiência de publicar um livro te proporcionou?
Muita alegria por expressar minhas experiências de vida e visão de mundo. Ao ver minha obra pronta, senti alívio, emoção e vitória. O exercício de escrever também é muito gostoso. Quanto mais se escreve, mais se tem vontade.
Acesse o blog de Edmílson Martins. Contato direto com o escritor também pelo e-mail edmaroliv@yahoo.com.br.
Edmilson Martins (Leia a entrevista) 2009
Aposentado alfabetizado pelo irmão mais velho teve garra para se tornar escritor
A infância difícil no interior do Ceará e os demais desafios que a vida lhe impôs não foram capazes de impedir que Edmílson Martins se aproximasse da literatura. O escritor, que aprendeu a ler com o mais velho dos 17 irmãos e começou a estudar aos 12 anos, foi aprovado no Banco do Brasil em 1960. Foram 27 anos de BB até que ele se aposentasse como escriturário da agência Rio, no centro da capital fluminense. Em 1963, este cearense de Milagres, no sertão do estado, descobre o gosto pela escrita num curso de literatura e português. Martins passa então a elaborar editoriais para o jornalzinho da paróquia em que participava no Méier, no Rio de Janeiro (RJ), cidade onde vive até hoje, e a escrever artigos para o informativo do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
As conquistas não param por aí e em 2004 Martins lança o livro Bancários – anos de resistência 1964/1979. As experiências de vida foram direcionando a preferência do aposentado ao escrever. Seus temas principais são política, questões sociais e religião. ”Todos juntos, representam as principais dimensões humanas”, acredita o escritor, que pretende estimular a reflexão do leitor.
Entrevista:
O que te inspira a escrever?
O sentimento religioso, que, a meu ver, está no interior do ser humano. A questão política, porque é uma dimensão humana – o homem é um ser político, como disse Aristóteles. Finalmente, os fatos sociais, o cotidiano, o trabalho e as relações humanas me inspiram porque o escritor é um observador da vida em sociedade.
Fale sobre seu livro.
Até agora tenho um livro publicado, Bancários – anos de resistência 1964/1979. O tema é a resistência à ditadura militar. Conto a luta dos bancários – ativistas sindicais – do Rio de Janeiro pelo restabelecimento das liberdades democráticas em nosso país. É basicamente uma obra autobiográfica. Foi publicado em 2004, com edição patrocinada pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
O que a experiência de publicar um livro te proporcionou?
Muita alegria por expressar minhas experiências de vida e visão de mundo. Ao ver minha obra pronta, senti alívio, emoção e vitória. O exercício de escrever também é muito gostoso. Quanto mais se escreve, mais se tem vontade.
Acesse o blog de Edmílson Martins. Contato direto com o escritor também pelo e-mail edmaroliv@yahoo.com.br.
CONVITE A UM POETA (
CONVITE A UM POETA
Edmílson Martins (abril 2008)
Poeta, esses seus poemas
Vão dar o que falar
Mas, por favor não tema
Todo mundo vai gostar.
Dessa poesia o povo gosta
porque ela tem proposta
É uma mensagem quente
Uma reunião vamos reralizar
Com participação de Chico Alencar
Venha conversar com a gente
Virá uma turma com muita disposição
Com o Chico pensar a cidade que queremos
Certamente o seu livro gerará reflexão
e através dele muito aprenderemos.
Suas poesias têm a cara do povo
Pois representam o novo
O Rio busca nova liderança
O povo anda muito cansado
De ser sempre enganado
O Chico prefeito é a esperança.
Poeta, venha com alegria
Para nossa satisfação
Falar de sua poesia
Que tem conteúdo e ação.
Venha e traga companheiros
Precisamos de mais parceiros
O encontro terá muita arte
Haverá política e cultura
Café doce, sem rapadura
Outros poetas também farão parte.
Edmílson Martins (abril 2008)
Poeta, esses seus poemas
Vão dar o que falar
Mas, por favor não tema
Todo mundo vai gostar.
Dessa poesia o povo gosta
porque ela tem proposta
É uma mensagem quente
Uma reunião vamos reralizar
Com participação de Chico Alencar
Venha conversar com a gente
Virá uma turma com muita disposição
Com o Chico pensar a cidade que queremos
Certamente o seu livro gerará reflexão
e através dele muito aprenderemos.
Suas poesias têm a cara do povo
Pois representam o novo
O Rio busca nova liderança
O povo anda muito cansado
De ser sempre enganado
O Chico prefeito é a esperança.
Poeta, venha com alegria
Para nossa satisfação
Falar de sua poesia
Que tem conteúdo e ação.
Venha e traga companheiros
Precisamos de mais parceiros
O encontro terá muita arte
Haverá política e cultura
Café doce, sem rapadura
Outros poetas também farão parte.
APRENDENDO A DIZER NÃO
APRENDENDO A DIZER NÃO
Edmílson Martins
“Sentindo que a violência/Não dobraria o operário/Um dia tentou o patrão/Dobrá-lo de modo contrário/De sorte que o foi levando/Ao alto da construção/E num momento de tempo/Mostrou-lhe toda a região/E apontando-a ao operário/Fez-lhe esta declaração:/ - Dar-te-ei todo esse poder/E a sua satisfação/Porque a mim me foi entregue/E dou-o a quem quiser/Dou-te tempo de lazer/Dou-te tempo de mulher/Portanto, tudo o que ver/Será teu se me adorares/E, ainda mais, se abandonares/O que te fez dizer não.”
(Operário em construção – Vinícius de
Morais )
O povo queria ser
Em seu destino mandar
Queria muito crescer
Pois tinha amor para dar
Porém um golpe sangrento
Atrapalhou seu intento
Disseram: revolução!
Proclamaram redentora
E do povo salvadora
Sendo grande enganação
Por causa da violência
O povo ficou calado
Não praticou resistência
Porque foi silenciado
A chamada redentora
Com a força coatora
Procurou desmantelar
Toda a organização
E poder de decisão
Para o povo controlar
Mas o povo pensativo
Aos poucos foi despertando
Do passado combativo
Pouco a pouco foi lembrando
Trabalhadores pacatos
Agindo nos sindicatos
Com as reivindicações
Os estudantes ativos
Não queriam ser cativos
Mas sim participações
Cresciam intensamente
Os gritos de rebeldia
Número de resistentes
Aumentava todo dia
Mas ditadura sangrenta
Sem moral e violenta
Partiu para a repressão
Prendeu, torturou, matou
Sonhos bons arrebentou
Implantando sujeição
Com a dura repressão
Houve certo retraimento
O povo na escuridão
Entrou em recolhimento
Mas o tempo foi passando
E as visões se clareando
Outra vez foi ressurgindo
A vontade de lutar
Pra fazer tudo mudar
Continuou resistindo
A ditadura sentindo
Que com toda a violência
Tava o povo resistindo
Agiu com mais indecência
Fingindo ser democrática
Oferecendo na prática
O poder de decisão
Tudo lhe seria dado
Se acatasse de bom grado
Interesses do patrão
O povo sempre discreto
E na sua solidão
Indiferente, indireto
Respondeu dizendo não
Mas a ditadura esperta
Logo dirigiu oferta
às lideranças do povo
Algumas não aceitaram
Muitas Outras vacilaram
Outras fugiram do novo
E o PT disse sim
- Operários no poder!
Mesmo submissos assim
Famosos podemos ser
Ditadura continua
O povo saiu da rua
A corrupção é patente
Participação murchou
Trabalhador recuou
O banqueiro tá contente
Ser governo desse jeito
Com toda essa submissão
Para nós não é direito
Porque é escravidão
Ser governo assimilado
É querer ser humilhado
Por sistema corrompido
É aceitar tentação
Pra cair na corrupção
Trair povo destemido
Assim agem resistentes
Hoje na situação
Esqueceram tão somente
Que sofreram repressão
Administrando sistema
Que com seu estratagema
Mantém a dominação
Alimentando ganância
Sem pudor com arrogância
Roubando população
Assim fazemos apelo
A quem tem bom coração
Áquela gente de zelo
Livre da tribulação
Para que façamos força
Pra reunir nossas forças
Para juntos sendo fortes
Conquistar a liberdade
Erradicar a maldade
Que nos causa muitas mortes.
Rio, maio de 2011
“A paz é fruto da justiça”
Edmílson Martins
“Sentindo que a violência/Não dobraria o operário/Um dia tentou o patrão/Dobrá-lo de modo contrário/De sorte que o foi levando/Ao alto da construção/E num momento de tempo/Mostrou-lhe toda a região/E apontando-a ao operário/Fez-lhe esta declaração:/ - Dar-te-ei todo esse poder/E a sua satisfação/Porque a mim me foi entregue/E dou-o a quem quiser/Dou-te tempo de lazer/Dou-te tempo de mulher/Portanto, tudo o que ver/Será teu se me adorares/E, ainda mais, se abandonares/O que te fez dizer não.”
(Operário em construção – Vinícius de
Morais )
O povo queria ser
Em seu destino mandar
Queria muito crescer
Pois tinha amor para dar
Porém um golpe sangrento
Atrapalhou seu intento
Disseram: revolução!
Proclamaram redentora
E do povo salvadora
Sendo grande enganação
Por causa da violência
O povo ficou calado
Não praticou resistência
Porque foi silenciado
A chamada redentora
Com a força coatora
Procurou desmantelar
Toda a organização
E poder de decisão
Para o povo controlar
Mas o povo pensativo
Aos poucos foi despertando
Do passado combativo
Pouco a pouco foi lembrando
Trabalhadores pacatos
Agindo nos sindicatos
Com as reivindicações
Os estudantes ativos
Não queriam ser cativos
Mas sim participações
Cresciam intensamente
Os gritos de rebeldia
Número de resistentes
Aumentava todo dia
Mas ditadura sangrenta
Sem moral e violenta
Partiu para a repressão
Prendeu, torturou, matou
Sonhos bons arrebentou
Implantando sujeição
Com a dura repressão
Houve certo retraimento
O povo na escuridão
Entrou em recolhimento
Mas o tempo foi passando
E as visões se clareando
Outra vez foi ressurgindo
A vontade de lutar
Pra fazer tudo mudar
Continuou resistindo
A ditadura sentindo
Que com toda a violência
Tava o povo resistindo
Agiu com mais indecência
Fingindo ser democrática
Oferecendo na prática
O poder de decisão
Tudo lhe seria dado
Se acatasse de bom grado
Interesses do patrão
O povo sempre discreto
E na sua solidão
Indiferente, indireto
Respondeu dizendo não
Mas a ditadura esperta
Logo dirigiu oferta
às lideranças do povo
Algumas não aceitaram
Muitas Outras vacilaram
Outras fugiram do novo
E o PT disse sim
- Operários no poder!
Mesmo submissos assim
Famosos podemos ser
Ditadura continua
O povo saiu da rua
A corrupção é patente
Participação murchou
Trabalhador recuou
O banqueiro tá contente
Ser governo desse jeito
Com toda essa submissão
Para nós não é direito
Porque é escravidão
Ser governo assimilado
É querer ser humilhado
Por sistema corrompido
É aceitar tentação
Pra cair na corrupção
Trair povo destemido
Assim agem resistentes
Hoje na situação
Esqueceram tão somente
Que sofreram repressão
Administrando sistema
Que com seu estratagema
Mantém a dominação
Alimentando ganância
Sem pudor com arrogância
Roubando população
Assim fazemos apelo
A quem tem bom coração
Áquela gente de zelo
Livre da tribulação
Para que façamos força
Pra reunir nossas forças
Para juntos sendo fortes
Conquistar a liberdade
Erradicar a maldade
Que nos causa muitas mortes.
Rio, maio de 2011
“A paz é fruto da justiça”
RESPOSTA A UM POETA (CORDEL)
TRAGÉDIA NA SERRA ( RESPOSTA A UM POETA)
Por Edmílson Martins
Maurício d’Oliveira
Mais novo cordelista
É escritor de primeira
É também bom jornalista.
Respondeu o meu cordel
Sem provocar escarcéu.
Analisou com cuidado –
Com muita sabedoria,
Falando de profecia –
Tragédia do serrado.
Sim, o tempo tá mudado
Devido poluição
Porém, tem cabra safado
Causando a corrupção.
Temos participação
Por pecado de Adão,
Mas há perversa serpente
Com veneno semeando,
Com maldade tapiando,
Pervertendo toda a gente.
A burrice é um enigma
Que não deixam decifrar.
Esse outro paradigma
Uns não deixam aclarar
Jesus Cristo condenou,
E nunca titubeou,
Escribas e fariseus
Que cegavam todo o povo,
Não deixavam ver o novo,
O pleno Reino de Deus.
Jesus Cristo falou claro,
Nada ficou por falar
E nosso amigo preclaro
Não veio para julgar,
Mas advertiu com rigor
Os que sem nenhum pudor
Levam a fazer pecados
As pessoas indefesas,
Os que vivem na pobreza,
Assim serão condenados.
Revolução é a mudança
Que Jesus Cristo pregou.
Espero na Esperança,
Na revolução do amor.
Construir um novo mundo,
Sem permitir vagabundo,
Nem a torre de babel.
Sustar condição atroz
Depende de todos nós,
Ao escolhermos o céu.
Bela contribuição
Desse jovem jornalista
Menino que é filhão
Dum escritor cordelista.
Nas rimas alternadas,
Também nas emparelhadas,
Maurício demonstrou,
Com muita indignação,
Que a tal destruição
Muito o incomodou.
Edmílson Martins
Rio, 28/01/2011
Por Edmílson Martins
Maurício d’Oliveira
Mais novo cordelista
É escritor de primeira
É também bom jornalista.
Respondeu o meu cordel
Sem provocar escarcéu.
Analisou com cuidado –
Com muita sabedoria,
Falando de profecia –
Tragédia do serrado.
Sim, o tempo tá mudado
Devido poluição
Porém, tem cabra safado
Causando a corrupção.
Temos participação
Por pecado de Adão,
Mas há perversa serpente
Com veneno semeando,
Com maldade tapiando,
Pervertendo toda a gente.
A burrice é um enigma
Que não deixam decifrar.
Esse outro paradigma
Uns não deixam aclarar
Jesus Cristo condenou,
E nunca titubeou,
Escribas e fariseus
Que cegavam todo o povo,
Não deixavam ver o novo,
O pleno Reino de Deus.
Jesus Cristo falou claro,
Nada ficou por falar
E nosso amigo preclaro
Não veio para julgar,
Mas advertiu com rigor
Os que sem nenhum pudor
Levam a fazer pecados
As pessoas indefesas,
Os que vivem na pobreza,
Assim serão condenados.
Revolução é a mudança
Que Jesus Cristo pregou.
Espero na Esperança,
Na revolução do amor.
Construir um novo mundo,
Sem permitir vagabundo,
Nem a torre de babel.
Sustar condição atroz
Depende de todos nós,
Ao escolhermos o céu.
Bela contribuição
Desse jovem jornalista
Menino que é filhão
Dum escritor cordelista.
Nas rimas alternadas,
Também nas emparelhadas,
Maurício demonstrou,
Com muita indignação,
Que a tal destruição
Muito o incomodou.
Edmílson Martins
Rio, 28/01/2011
CORDEL DA TURMA 72 (ll)
CORDEL DA TURMA 72 (II)
Edmílson Martins
Seis meses esperamos
Até chegar o momento
Devagar todos chegamos
Para mais um evento
Da turma setenta e dois
Que vê antes e depois
Que sempre guarda saudade
Daqueles velhos amigos
E mantém sempre consigo
Uma profunda amizade.
Foram bons tempos de sonhos
E de muitos sonhos belos
Nem sempre sonhos risonhos
Às vezes verde-amarelos.
Mas foram sonhos bonitos
Sonhos verdes infinitos
Sempre bons e memoráveis
Sonhos belos enobrecem
Quem os tem não envelhece
Vive tempos agradáveis.
Reunimos outra vez
A turma sempre crescente
Num sábado fim de mês
Em clima alegre e contente
Para matar a saudade
Do tempo da faculdade
Daquelas noites fagueiras
Das aulas de Português
Do carnê no fim do mês
Dos papos e brincadeiras
Ao lembrarmos professores
Relembramos as matérias
Eram todos bons senhores
Que animavam a galera
O bom professor Junito
Nos ensinava bonito
Literatura Latina
Jesus mestre de Linguística
Zé Maria de estilística
Literatura Marina
Luiz Antonio o bom
Professor de Português
Mestre Amaro no tom
O completava de vez
Davam Literatura
Os mestres de envergadura
Paranhos a Brasileira
Mestra Rosa a Portuguesa
Zé Guilherme com destreza
A Teoria vanguardeira
Os outros mestres também
Nunca vamos esquecer
Pois nos fizeram bem
Transmitindo seu saber
Márcio nos ensinou
E muito nos ajudou
A ensinar Português
Caetana, Nelson também
Ensinaram muito bem
De forma muito cortês
Agora vou terminar
Este cordel bem rimado
Sendo muito bom lembrar
Essas coisas do passado
O papo foi tão gostoso
E rolou tão carinhoso
Que queremos repetir
Ficamos bem animados
Temos encontro marcado
Num esperado porvir
Rio, 30 de abril de 2011
Edmílson Martins
Seis meses esperamos
Até chegar o momento
Devagar todos chegamos
Para mais um evento
Da turma setenta e dois
Que vê antes e depois
Que sempre guarda saudade
Daqueles velhos amigos
E mantém sempre consigo
Uma profunda amizade.
Foram bons tempos de sonhos
E de muitos sonhos belos
Nem sempre sonhos risonhos
Às vezes verde-amarelos.
Mas foram sonhos bonitos
Sonhos verdes infinitos
Sempre bons e memoráveis
Sonhos belos enobrecem
Quem os tem não envelhece
Vive tempos agradáveis.
Reunimos outra vez
A turma sempre crescente
Num sábado fim de mês
Em clima alegre e contente
Para matar a saudade
Do tempo da faculdade
Daquelas noites fagueiras
Das aulas de Português
Do carnê no fim do mês
Dos papos e brincadeiras
Ao lembrarmos professores
Relembramos as matérias
Eram todos bons senhores
Que animavam a galera
O bom professor Junito
Nos ensinava bonito
Literatura Latina
Jesus mestre de Linguística
Zé Maria de estilística
Literatura Marina
Luiz Antonio o bom
Professor de Português
Mestre Amaro no tom
O completava de vez
Davam Literatura
Os mestres de envergadura
Paranhos a Brasileira
Mestra Rosa a Portuguesa
Zé Guilherme com destreza
A Teoria vanguardeira
Os outros mestres também
Nunca vamos esquecer
Pois nos fizeram bem
Transmitindo seu saber
Márcio nos ensinou
E muito nos ajudou
A ensinar Português
Caetana, Nelson também
Ensinaram muito bem
De forma muito cortês
Agora vou terminar
Este cordel bem rimado
Sendo muito bom lembrar
Essas coisas do passado
O papo foi tão gostoso
E rolou tão carinhoso
Que queremos repetir
Ficamos bem animados
Temos encontro marcado
Num esperado porvir
Rio, 30 de abril de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
JOSÉ RODRIGUES
(Depoimento do companheiro e amigo Elso Rodrigues-Banco Real) (2010(
Esse companheiro, uma grande liderança no Banco Ítalo Belga e na categoria bancária, pagou o preço pelo seu destemido enfrentamento aos poderosos.
No sindicato dos bancários, editava, juntamente com Roberto Martins e Imbiriba da Rocha, o Jornal Bancário, nas gestões de José de Andrade Guedes e de Edmílson Martins (1968/72)
Naquela época, imperava a linha dura do regime militar. Zé Rodrigues, como era conhecido, criou a coluna “De Banco em Banco”, com muito sucesso na categoria. Nela, criticava duramente os banqueiros, que, apadrinhados pelo regime, praticavam arbitrariedades dentro dos bancos e, nas entrelinhas, dava espetadelas no modelo econômico do governo militar, que arrochava os trabalhadores e os amordaçava.
Zé Rodrigues tinha uma profunda consciência de classe e foi um dos primeiros a clamar pela anistia no Brasil, através do Jornal Bancário. Essa sua atuação destemida, através do sindicato, causou grande reação da parte dos opressores. O Banco Ítalo Belga, onde trabalhou durante quase trinta anos, demitiu-o por justa causa, usando os recursos do sistema repressor
Mesmo assim, fora do banco, perseguido pelo regime e incompreendido pelos familiares, continuou na luta pela libertação dos companheiros diretores destituídos do sindicato pela intervenção, presos e processados na Segunda Auditoria da Marinha. O Zé Rodrigues programou várias campanhas de finanças para custear os honorários dos advogados que defendiam os nossos companheiros. Resistiu o quanto pôde, enquanto manteve vivo o sonho de ver o país livre, democrático e justo.
Ao se sentir frustrado em seus sonhos, sofreu uma forte pressão psicológica. Perseguido por todos os lados, foi forçado a desistir da vida e, assim, praticou o seu último ato de protesto contra a ditadura militar.
Procurou-me, numa tarde triste e chuvosa, do ano de 1975, lá Banco Real, como, aliás, vinha fazendo todos os dias, e me disse que não estava mais agüentando a pressão e que, inclusive, os familiares o culpavam pelas dificuldades que estavam vivendo. Olhou bem para mim e disse:
- Vim me despedir de você.
- Você vai viajar – perguntei.
- Mais ou menos isso – respondeu.
- Não se afaste de mim agora, preciso de sua orientação – pedi-lhe.
- Fique tranqüilo, eu sempre estarei com você – retrucou.
Eu, embora estranhando aquela conversa, bem diferentes das anteriores, fiquei tranqüilo e o aconselhei a ir para casa descansar. No dia seguinte, ele não apareceu, no outro dia também não. No terceiro dia, chegou a notícia de que o Zé fora encontrado enforcado, numa casa em construção, na Ilha do Governador, onde residia. Havia no seu peito uma faixa que dizia: ANISTIA.
Tombava ali aquele grande guerreiro, sendo mais uma vítima do perverso regime político implantado no Brasil, que trouxe muitos problemas para o povo. brasileiro
O nosso companheiro José Rodrigues foi um bravo, um herói de nosso povo, da categoria bancária e da classe trabalhadora. Ele merece ser reverenciado pelos trabalhadores e pela nação brasileira.
Esse companheiro, uma grande liderança no Banco Ítalo Belga e na categoria bancária, pagou o preço pelo seu destemido enfrentamento aos poderosos.
No sindicato dos bancários, editava, juntamente com Roberto Martins e Imbiriba da Rocha, o Jornal Bancário, nas gestões de José de Andrade Guedes e de Edmílson Martins (1968/72)
Naquela época, imperava a linha dura do regime militar. Zé Rodrigues, como era conhecido, criou a coluna “De Banco em Banco”, com muito sucesso na categoria. Nela, criticava duramente os banqueiros, que, apadrinhados pelo regime, praticavam arbitrariedades dentro dos bancos e, nas entrelinhas, dava espetadelas no modelo econômico do governo militar, que arrochava os trabalhadores e os amordaçava.
Zé Rodrigues tinha uma profunda consciência de classe e foi um dos primeiros a clamar pela anistia no Brasil, através do Jornal Bancário. Essa sua atuação destemida, através do sindicato, causou grande reação da parte dos opressores. O Banco Ítalo Belga, onde trabalhou durante quase trinta anos, demitiu-o por justa causa, usando os recursos do sistema repressor
Mesmo assim, fora do banco, perseguido pelo regime e incompreendido pelos familiares, continuou na luta pela libertação dos companheiros diretores destituídos do sindicato pela intervenção, presos e processados na Segunda Auditoria da Marinha. O Zé Rodrigues programou várias campanhas de finanças para custear os honorários dos advogados que defendiam os nossos companheiros. Resistiu o quanto pôde, enquanto manteve vivo o sonho de ver o país livre, democrático e justo.
Ao se sentir frustrado em seus sonhos, sofreu uma forte pressão psicológica. Perseguido por todos os lados, foi forçado a desistir da vida e, assim, praticou o seu último ato de protesto contra a ditadura militar.
Procurou-me, numa tarde triste e chuvosa, do ano de 1975, lá Banco Real, como, aliás, vinha fazendo todos os dias, e me disse que não estava mais agüentando a pressão e que, inclusive, os familiares o culpavam pelas dificuldades que estavam vivendo. Olhou bem para mim e disse:
- Vim me despedir de você.
- Você vai viajar – perguntei.
- Mais ou menos isso – respondeu.
- Não se afaste de mim agora, preciso de sua orientação – pedi-lhe.
- Fique tranqüilo, eu sempre estarei com você – retrucou.
Eu, embora estranhando aquela conversa, bem diferentes das anteriores, fiquei tranqüilo e o aconselhei a ir para casa descansar. No dia seguinte, ele não apareceu, no outro dia também não. No terceiro dia, chegou a notícia de que o Zé fora encontrado enforcado, numa casa em construção, na Ilha do Governador, onde residia. Havia no seu peito uma faixa que dizia: ANISTIA.
Tombava ali aquele grande guerreiro, sendo mais uma vítima do perverso regime político implantado no Brasil, que trouxe muitos problemas para o povo. brasileiro
O nosso companheiro José Rodrigues foi um bravo, um herói de nosso povo, da categoria bancária e da classe trabalhadora. Ele merece ser reverenciado pelos trabalhadores e pela nação brasileira.
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Por Edmílson Martins – (2010)
Prezado Ivan, as matérias que você escreve na coluna “Bloco Europeu”, do jornal Tereceiro Tempo, são verdadeiras aulas de História Contemporânea. Quem dera as novas gerações as lessem! Acabo de ler o que você relata sobre a guerra do Vietnam. Fiquei emocionado. Porque, nas décadas de 60 e 70 do século passado, acompanhei de perto a bravura do povo vietnamita, a ação dos Vietcongs, etc. Lembro-me dos monges budistas incendiando-se em praça pública, em gestos de protesto, com grande repercussão mundial, tentando mostrar o que disse d. Luiz Cappio, o bispo de Barra-BA, na greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco: “Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho”.
Lembro-me das grandes figuras do General Giap e Ho Chi Minh (aquele que ilumina), homens de grande estatura humana e política. Li, na época, de um fôlego, o livro de Bertrand Russel “Crimes de Guerra no Vietnam”, que foi um grande veículo de denúncia das atrocidades praticadas pelos Estados Unidos contra o povo vietnamita. Lembro-me também daquelas fotos terríveis: do jovem sendo arrastado pelo tanque e da criança incendiada pela bomba de napalm.
Todos esses fatos sensibilizaram e mobilizaram o mundo. A resistência do povo do Vietnam, por décadas, foi um grande exemplo para a humanidade. Exemplo de bravura, de dignidade, de crença na capacidade humana de conquista da liberdade, que jamais pode ser esquecido. E aí está o papel da História: lembrar os bons exemplos do passado para ajudar na construção do presente e do futuro e, também, os maus exemplos para que nunca mais se repitam.
Obs.: Se você quiser publicar este comentário...
Abraços
Edmílson
Prezado Ivan, as matérias que você escreve na coluna “Bloco Europeu”, do jornal Tereceiro Tempo, são verdadeiras aulas de História Contemporânea. Quem dera as novas gerações as lessem! Acabo de ler o que você relata sobre a guerra do Vietnam. Fiquei emocionado. Porque, nas décadas de 60 e 70 do século passado, acompanhei de perto a bravura do povo vietnamita, a ação dos Vietcongs, etc. Lembro-me dos monges budistas incendiando-se em praça pública, em gestos de protesto, com grande repercussão mundial, tentando mostrar o que disse d. Luiz Cappio, o bispo de Barra-BA, na greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco: “Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho”.
Lembro-me das grandes figuras do General Giap e Ho Chi Minh (aquele que ilumina), homens de grande estatura humana e política. Li, na época, de um fôlego, o livro de Bertrand Russel “Crimes de Guerra no Vietnam”, que foi um grande veículo de denúncia das atrocidades praticadas pelos Estados Unidos contra o povo vietnamita. Lembro-me também daquelas fotos terríveis: do jovem sendo arrastado pelo tanque e da criança incendiada pela bomba de napalm.
Todos esses fatos sensibilizaram e mobilizaram o mundo. A resistência do povo do Vietnam, por décadas, foi um grande exemplo para a humanidade. Exemplo de bravura, de dignidade, de crença na capacidade humana de conquista da liberdade, que jamais pode ser esquecido. E aí está o papel da História: lembrar os bons exemplos do passado para ajudar na construção do presente e do futuro e, também, os maus exemplos para que nunca mais se repitam.
Obs.: Se você quiser publicar este comentário...
Abraços
Edmílson
HERÓIS DA LIBERDADE
Por Edmílson Martins de Oliveira
Estes tempos, de ditadura econômica, de globalização, de neoliberalismo (que tudo privatiza e diminui o Estado), da ideologia do mercado (que privilegia o capital e o lucro, com grande exclusão e marginalização social de milhões de brasileiros), nos remetem ao tempo da colonização, da exploração de nossas riquezas pelos descobridores, da escravização dos povos indígenas e dos africanos.
Mas nos lembram também os heróis de nossa pátria, os que lutaram pela liberdade, pela justiça e pela independência. E parafraseando Castro Alves, o poeta da liberdade, que, clamando contra a escravidão, pedia a Colombo que fechasse as portas dos seus mares e a Andrada que arrancasse o pendão dos ares, está na hora de dizer: “Levantai-vos heróis de nossa pátria! Tiradentes! vem organizar outra vez a Inconfidência: “Tal hora é o batizado”; Zumbir! vem, com tua utopia e teus companheiros, organizar outro Quilombo dos Palmares; Frei Caneca, padre Mororó, Ibiapina! venham organizar outra Confederação do Equador; Cavaleiro da Esperança! vem organizar outra coluna para clamar pela liberdade e independência de nosso país; d. Hélder Câmara - profeta da paz e da não – violência -! vem dizer tudo outra vez; Alceu de Amoroso Lima, Sobral Pinto, Luiz Maranhão e - incansáveis defensores da liberdade -! voltem. Drummond! volte, com sua poesia libertadora, nascida do seu vasto e livre coração: “Mundo, mundo, vasto mundo... mais vasto é o meu coração”. Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga! voltem, com o seu canto/lamento/protesto que vai fundo aos sentimentos humanos de liberdade: “Quando oiei a terra ardendo... “Eu perguntei, ai a Deus do céu, ai por que tamanha judiação”. Ou “Mas doutô uma esmola a um homem que é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
Enfim, que voltem todos os nossos antepassados que lutaram pela construção e liberdade de nosso país. Líderes operários, poetas populares, artistas, jornalistas, escritores, homens e mulheres do povo! voltem. Socorro! A opressão do capitalismo neoliberal está esmagadora, sufocando a nossa memória, impedindo o surgimento de novos valores, escondendo às novas gerações os valores do passado, impondo falsos valores do presente.
Os valores perenes da nossa tradição histórica, cultural, política, construídos, com muita luta, por nossos antepassados estão sendo substituídos por valores medíocres, descartáveis, sem futuro. A política de qualidade acabou, os políticos éticos e combativos são raros, a cultura, a arte popular, os costumes, os valores que sempre contribuíram para o engrandecimento de nosso povo estão desaparecendo, usurpados pelo dragão da maldade.
Voltem, heróis, ajudem os poucos combatentes que hoje resistem, a duras penas, para salvar a memória do nosso país e a dignidade de nossa gente. Pois são poucos os que tentam escapar da grande tribulação, das garras do dragão, do esmagador rolo compressor da ganância capitalista. Disse Bertolt Brecht: “Triste um povo que precisa de heróis”. Tudo bem. Mas nosso povo precisa da ajuda dos seus heróis para se tornar livre da necessidade de heróis.
Os que hoje resistem tentam fazer o que fazia o velho timbira, do poema de Gonçalves Dias, que animava os jovens da tribo, lembrando a memória dos seus antepassados, a bravura dos seus guerreiros, as lutas e glórias do seu povo: “Um velho timbira, coberto de glória,/Guardou a memória/Do moço guerreiro, do velho tupi! E a noite, nas tabas, se alguém duvidava/Do que ele contava, dizia prudente:- “Meninos, eu vi”.
É isso. Ao invocarmos os nossos combatentes do passado, queremos dizer que eles estão presentes entre nós, porque a causa que eles defenderam é a nossa causa, a luta que eles empreenderam é a nossa luta. Eles lutaram pela liberdade e foram incansáveis. E estão presentes quando neles nos inspiramos e continuamos a sua luta. Não podemos nunca permitir que apaguem a nossa memória. Um povo que não preserva sua memória e sua cultura é presa fácil dos dominadores.
Edmílson Martins de Oliveira
Maio de 2009
Estes tempos, de ditadura econômica, de globalização, de neoliberalismo (que tudo privatiza e diminui o Estado), da ideologia do mercado (que privilegia o capital e o lucro, com grande exclusão e marginalização social de milhões de brasileiros), nos remetem ao tempo da colonização, da exploração de nossas riquezas pelos descobridores, da escravização dos povos indígenas e dos africanos.
Mas nos lembram também os heróis de nossa pátria, os que lutaram pela liberdade, pela justiça e pela independência. E parafraseando Castro Alves, o poeta da liberdade, que, clamando contra a escravidão, pedia a Colombo que fechasse as portas dos seus mares e a Andrada que arrancasse o pendão dos ares, está na hora de dizer: “Levantai-vos heróis de nossa pátria! Tiradentes! vem organizar outra vez a Inconfidência: “Tal hora é o batizado”; Zumbir! vem, com tua utopia e teus companheiros, organizar outro Quilombo dos Palmares; Frei Caneca, padre Mororó, Ibiapina! venham organizar outra Confederação do Equador; Cavaleiro da Esperança! vem organizar outra coluna para clamar pela liberdade e independência de nosso país; d. Hélder Câmara - profeta da paz e da não – violência -! vem dizer tudo outra vez; Alceu de Amoroso Lima, Sobral Pinto, Luiz Maranhão e - incansáveis defensores da liberdade -! voltem. Drummond! volte, com sua poesia libertadora, nascida do seu vasto e livre coração: “Mundo, mundo, vasto mundo... mais vasto é o meu coração”. Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga! voltem, com o seu canto/lamento/protesto que vai fundo aos sentimentos humanos de liberdade: “Quando oiei a terra ardendo... “Eu perguntei, ai a Deus do céu, ai por que tamanha judiação”. Ou “Mas doutô uma esmola a um homem que é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
Enfim, que voltem todos os nossos antepassados que lutaram pela construção e liberdade de nosso país. Líderes operários, poetas populares, artistas, jornalistas, escritores, homens e mulheres do povo! voltem. Socorro! A opressão do capitalismo neoliberal está esmagadora, sufocando a nossa memória, impedindo o surgimento de novos valores, escondendo às novas gerações os valores do passado, impondo falsos valores do presente.
Os valores perenes da nossa tradição histórica, cultural, política, construídos, com muita luta, por nossos antepassados estão sendo substituídos por valores medíocres, descartáveis, sem futuro. A política de qualidade acabou, os políticos éticos e combativos são raros, a cultura, a arte popular, os costumes, os valores que sempre contribuíram para o engrandecimento de nosso povo estão desaparecendo, usurpados pelo dragão da maldade.
Voltem, heróis, ajudem os poucos combatentes que hoje resistem, a duras penas, para salvar a memória do nosso país e a dignidade de nossa gente. Pois são poucos os que tentam escapar da grande tribulação, das garras do dragão, do esmagador rolo compressor da ganância capitalista. Disse Bertolt Brecht: “Triste um povo que precisa de heróis”. Tudo bem. Mas nosso povo precisa da ajuda dos seus heróis para se tornar livre da necessidade de heróis.
Os que hoje resistem tentam fazer o que fazia o velho timbira, do poema de Gonçalves Dias, que animava os jovens da tribo, lembrando a memória dos seus antepassados, a bravura dos seus guerreiros, as lutas e glórias do seu povo: “Um velho timbira, coberto de glória,/Guardou a memória/Do moço guerreiro, do velho tupi! E a noite, nas tabas, se alguém duvidava/Do que ele contava, dizia prudente:- “Meninos, eu vi”.
É isso. Ao invocarmos os nossos combatentes do passado, queremos dizer que eles estão presentes entre nós, porque a causa que eles defenderam é a nossa causa, a luta que eles empreenderam é a nossa luta. Eles lutaram pela liberdade e foram incansáveis. E estão presentes quando neles nos inspiramos e continuamos a sua luta. Não podemos nunca permitir que apaguem a nossa memória. Um povo que não preserva sua memória e sua cultura é presa fácil dos dominadores.
Edmílson Martins de Oliveira
Maio de 2009
ENTREVISTA COM RENATO LIMA (bancário)
EDMÍLSON MARTINS DE OLIVEIRA – Nascido no Ceará em 1938, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1960. Trabalhou no Banco de Credito Real de Minas Gerais em 1960 e 1961. Em 1962 ingressou no Banco do Estado da Guanabara (BEG). Ingressou em 1963 no Banco do Brasil, por onde se aposentou. Participou da direção do Sindicato de Bancários do Rio de Janeiro nos mandatos de 1968/1971, como suplente do Conselho Fiscal; mandato 1971/1974, como Presidente do Sindicato. Quatro meses após a posse, o sindicato sofre nova intervenção do Ministério do Trabalho e Edmílson é cassado e preso. Retornou à direção do sindicato em 1979, quando a categoria elegeu uma chapa de oposição aos representantes da intervenção, como membro efetivo do Conselho Fiscal. Edmílson é ativo militante católico, casado com Maria José e pai de quatro filhos, professor de Português e Literatura e autor do livro “Bancários: Anos de Resistência (1964 – 1979)”.
Ficha da Entrevista:
Nome: Edmílson Martins de Oliveira
Endereço: Rua Doutor Leal, nº 526, apto. 101; Engenho de Dentro; Rio de Janeiro.
Telefone: 22893272
Duração: 04 horas
Local: Rua Garcia Vasquez, 129 – Água Santa, Rio de Janeiro.
Data: 26/06/2006.
Nº de fitas: 02 (60 minutos cada)
Pesquisa e Roteiros: Renato Lima
Entrevistador: Renato Lima
Texto: data – 29/06/2006
Conferência de Fidelidade: data
Leitura Final: data
Carta de Cessão: data – 26/06/2006.
Número de páginas transcritas: 22
Observações:
Entrevista com Edmílson Martins de Oliveira, que contou também com a participação de sua esposa Maria José, realizada em 26 de junho de 2006 na residência do casal em Água Santa, por Renato Lima.
Fita I, lado A:
Renato: Hoje conversaremos sobre o fato de você ser um cearense do Crato, casado com a Maria José, e iremos até onde você quiser.
Edmílson: Pois é, então eu vou começar seguindo mesmo esse roteiro que você nos mandou, falando de socialização; posição da família no processo de formação, religião, influências etc. Vou começar pela minha história de vida: Sou lá do Ceará, nasci na roça, bem no sertão, no polígono das secas, num lugar chamado Ipueiras, município de Milagres, cidadezinha perto de Crato. E lá vivi, até os 12 anos de idade, na roça, distante inclusive da cidadezinha de Milagres, duas horas de viagem a cavalo, pois, naquela época, os meios de transporte eram o burro, o jegue. Então, a gente gastava duas ou três horas para chagar na cidade. E o meu pai era um homem do trabalho: ele adorava o trabalho. Pobre e de família pobre, camponês nascido de família também camponesa, a vida dele era o trabalho na roça. E ele adorava o trabalho na roça; ele acreditava no trabalho na roça; ele até dizia assim: “Se todo mundo ficar na cidade, quem é que vai plantar pras pessoas comerem?” E minha mãe falava: “mas a gente precisa estudar, os meninos precisam estudar também”, e ele dizia ”Não, a gente tem que trabalhar. Primeiro, porque a gente não tem condições para eles estudarem, a gente não tem condições de ir para a cidade para eles estudarem, então, todos têm que trabalhar aqui”. Mas a situação era tão difícil na roça, no campo, era seco, não chovia, e nós éramos dezessete filhos.
Renato: Quantos homens e quantas mulheres?
Edmílson: Treze homens e quatro mulheres. Até agora morreu um só, com 81 anos. E, na roça, nós trabalhávamos muito, mas não havia resultados. Meu pai tinha uma pequena gleba de terra no meio do latifúndio. Então, havia uma pressão terrível do latifúndio para tirar a gente de lá. E meu pai trabalhava, pedia empréstimo no Banco do Brasil para plantar, plantava, mas as chuvas não vinham: perdia tudo e ficava devendo, com dificuldades. Assim, meus irmãos mais velhos foram saindo de lá: uns vieram para São Paulo, para Mato Grosso, para trabalhar no algodão.
Renato: Eles foram trabalhar em outros estados, mas também na agricultura?
Edmílson: É. E assim foram sumindo. Mas um dos meus irmãos resolveu ir para a cidade do Crato, onde uma tia morava há uns quarenta quilômetros da cidade, na roça. E meu irmão resolveu ir para lá, para trabalhar na roça durante o dia e, à noite, ir estudar na cidade. E fez isso: esse meu irmão, Agostinho, começou a fazer o primário com 20 anos. E foi assim que ele acabou se estabelecendo na cidade, arrumou um emprego numa loja, se formou como “guarda-livro”, que naquela época era como se chamava o contador ou técnico em contabilidade. Certa vez ele foi lá onde nós morávamos, eu tinha uns 11 ou 12 anos e já estava alfabetizado: sabia o “a,b,c”, lia, escrevia o nome, e ele me viu tentando escrever e lendo as coisas que apareciam, e resolveu me levar para Crato: “Vamos para lá, você vai estudar, e tal”. Eu tinha 12 anos e comecei a estudar lá. Quando eu fiz 16/17 anos, arrumei emprego em lojas de comércio e, mais tarde, um emprego num banco particular: comecei a ser bancário em 1958.
Renato: Você lembra o nome do banco?
Edmílson: Era o Banco de Crédito Comercial, um banco lá do Ceará que hoje não existe mais: foi encampado por outros. Passei numa prova e fui trabalhar nesse banco. Nesta altura, 58, 59, eu me formei como Técnico em Contabilidade na Escola Técnica de Comercio da Associação dos Empregados do Comércio de Crato. Formei-me em 59 e, eu e meus colegas contemporâneos lá de Crato, tínhamos uma perspectiva de mudar de vida, de melhorar, e estudávamos. Como havia poucos concursos naquela época nessa região, todos sonhávamos em prestar concurso para o Banco do Brasil, mas nunca aparecia o concurso por lá. E esse meu irmão, depois, veio para o Rio de Janeiro e daqui me escreveu, dizendo que viesse também, porque aqui havia mais perspectivas, mais possibilidade de concursos, e eu vim também. Larguei o banco, que era um banco particular, regional, local, e o salário muito baixo, e como eu já tinha essa visão de progredir na vida, ter um emprego mais estável, meu sonho era entrar para o Banco do Brasil. O sonho da moçada daquela época era o Banco do Brasil, principalmente os que não podiam cursar Medicina ou Engenharia, essas profissões que só quem tinha dinheiro podia fazer. Então, eu vim para o Rio de Janeiro.
Renato: E isso foi em que ano?
Edmílson: Foi em março de 1960. Escrevi para o meu irmão e disse que vinha em março. Aí, comecei a me preparar e, quando eu fui comprar a passagem de ônibus, um rodoviário me disse: “Olha, está complicada a viagem, as estradas estão ruins com as chuvas e os ônibus estão levando de 15 a 20 dias para chegar no Rio de Janeiro”. E eu estava ansioso para vir e decidi que tinha que ir de avião, mas não tinha dinheiro. Pedi a meu pai, que também não tinha, mas disse que ia pedir emprestado: fez um empréstimo no Banco do Brasil e me deu o dinheiro. Três dias antes de partir, eu mandei um telegrama para o meu irmão: “Tal dia, a tal hora, eu estarei chegando aí no aeroporto Santos Dumont”. Mandei o telegrama e vim, crente que meu irmão tinha recebido o recado. Não conhecia nada aqui: a maior cidade que eu conhecia era Crato. Peguei um avião em Crato (da empresa Real) que levou 10 horas para chegar ao Rio. Saí de lá às 9 horas e cheguei no Santos Dumont às 20:00 horas: um mundo completamente estranho para mim. Procurei meu irmão e nada. Eu vinha com um jornalista de lá que já morava aqui: trabalhava na Agência Nacional. Ele ficou preocupado e, a partir do endereço que eu tinha, procurou numa lista telefônica e telefonou para um telefone próximo, de um vizinho, e meu irmão foi chamado. Isso já eram 9 horas da noite e meu irmão chegou ao aeroporto às dez da noite. E foi assim que eu cheguei ao Rio para “ganhar a vida”, como se dizia.
Renato: E ele morava aonde?
Edmílson: Em Todos os Santos, onde eu fui morar também, na casa dele. Lá em Crato eu ganhava salário mínimo e ele disse que aqui eu ganharia mais em qualquer emprego. Continuei a estudar, sempre com o objetivo de passar para o Banco do Brasil. Como não tinha dinheiro para pagar um curso, eu estudava sozinho, numas apostilas, que eram feitas em São Paulo para o concurso do BB: eram quatro livros com Inglês e Francês e, na parte de matemática, havia mil problemas para resolver. Naquele tempo o concurso pedia Francês e Inglês e caíam dez problemas de matemática, além de Português e Contabilidade: eu decorava aquilo tudo, estudava sozinho e, ainda lembro, resolvi aqueles problemas todos quatro vezes (chegava ao final e recomeçava tudo). Fiquei quatro anos em cima daquilo (o tempo de uma faculdade). Mas levei seis meses para arranjar um emprego por aqui. Já estava até ficando desanimado, até que arrumei um emprego numa empresa, mas apareceu um concurso público para o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Fiz o concurso, passei e fui trabalhar na Rio Branco, onde trabalhavam, naquela época, o Toledo e o atual senador João Alberto. Sabe quem é ele?
Renato: Não.
Edmílson: Ele era sindicalista, de esquerda, organizava um jornalzinho de banco com o Toledo, agitava muito, o pessoal antigo o conheceu. Aí veio o Golpe de 64, não sei se ele foi demitido. Depois ele voltou para o Maranhão, juntou-se à família do José Sarney e se lançou na política: ainda hoje é afilhado do Sarney, já foi eleito deputado Federal, Governador e hoje ele é senador pelo PMDB. Mas, voltando, depois fiz concurso para o banco do estado, o BEG (Banco do Estado da Guanabara), e trabalhei na ag. de Campo Grande e depois na avenida Rio Branco, na matriz.
Renato: Em que ano?
Edmílson: Bom, Trabalhei em 60 e 61 no Banco de Crédito Real e no BEG em 62. Aí veio o concurso para o Banco do Brasil e eu entrei em 63.
Renato: Mas, voltando às influências:
Edmilson: Penso que a gente sempre sofre várias influências pela vida, e a primeira é, geralmente, a da família. O meu pai era uma pessoa assim: super exigente em termos de honestidade; trabalhador que acreditava no trabalho como um valor. Acho até que, naquela época, se ele tivesse noção do marxismo, certamente seria um marxista, pelo valor que dava ao trabalho. Mas ele não tinha essas noções, não tinha instrução escolar quase nenhuma, aprendeu a ler, a escrever e a contar com o pai dele. Mas tinha essa visão de vida, valorizava o trabalho, um sentimento de dignidade humana e solidariedade. Certo dia, até, eu trabalhava no banco lá em Crato fazendo cadastros e fui pedir, no Banco do Brasil, a informação cadastral dele, e veio lá, num dos históricos: “Homem bom, muito generoso, tão bom que, às vezes, faz negócios com prejuízos para ajudar a outros”. E eu guardei isso: ele era intransigente quanto à dignidade do homem, a correção, o valor da palavra empenhada: ele pedia dinheiro emprestado e, sem nada escrito, no período combinado ele ia lá e pagava. E eu acho que isso fez a minha cabeça: valores como solidariedade, respeito à dignidade humana, generosidade, conciliação. Meu pai era sempre chamado para resolver pendências dos vizinhos. O avô dela, da Maria José, também era assim.
Maria José: É, o meu avô materno. Ele era lá de Minas, de Santa Bárbara do Oeste. Antigamente era assim, não é? As pessoas que tinham um pouco mais de projeção na comunidade (o professor, o padre, um advogado), eram chamadas para arbitrar as questões na comunidade. O nome dele era Tomás Martins e era filho de italianos.
Edmílson: Então, o meu pai era assim, intransigente em relação à questão da honra, era também muito negociador, conciliador, tinha liderança na região dele, era respeitado. E eu acho que herdei um pouco disso dele: negociador, conseguia entrosar as pessoas, uma espécie de liderança, muito respeitado naquela região, a intransigência na defesa dos direitos. Eu me lembro que os outros pequenos proprietários da região foram vendendo, as suas glebas para os latifundiários e ele acabou ficando sozinho, a gleba de terra que ele comprou acabou ficando espremida entre as terras dos grandes latifúndios. Aí, o dono do latifúndio tentou comprar a terra dele, mas ele não vendeu, com aquela preocupação de ficar para os filhos, para ganharmos nossas vidas. Mas esse latifundiário, quando não conseguia comprar, ia tomando “na marra”, passando cercas. Ele tinha poder e muitos reclamavam, mas não adiantava nada. E assim ele fez com meu pai: passou a cerca numa parte do terreno. Meu pai reclamou, mas não adiantou, foi uma peleja na justiça, mas, como eles dominavam a justiça local, não adiantou nada e meu pai acabou perdendo. E, como eles sentiram que foi fácil, passaram outra cerca que tomava quase dois terços do terreninho de meu pai. Aí, meu pai mandou meu irmão mais velho dar um recado para esse latifundiário: “diga a ele que, amanhã, nós vamos lá derrubar a cerca e quem mais for para lá”. Meu pai tinha um rifle velho, nem sei se aquilo atirava. No dia seguinte, ainda de madrugada, meu pai pegou o rifle e algumas foices e machados, juntou os filhos maiores de quinze anos e foi, decidido, para derrubar a cerca. Eu, entusiasmado, queria ir também, mas fiquei com os outros menores e minha mãe. E eles foram lá, derrubaram a cerca e não apareceu ninguém para impedir. Eu lembro que, essa decisão de garantir os seus direitos, isso me marcou muito. Voltando aqui para o Rio, 1960, eu já andava meio desanimado com aquela dificuldade de arranjar emprego. Cheguei em março e em julho ainda não tinha arrumado nada. Falava para o meu irmão e, um dia, ele me levou a uma reunião dos Congregados Marianos, congregação a qual ele pertencia e que tinha um grupo de jovens muito animado que se reunia depois da missa de domingo. Chegamos à missa, sete horas da manhã, e realmente havia um grupo de jovens que recebia as pessoas que chegavam e chamando para a reunião depois da missa. E nós fomos: havia uns trinta jovens e teve uma palestra onde o palestrante falou da mudança do mundo, na transformação da sociedade, do dever que todos tínhamos de trabalhar para mudar a sociedade para melhor, mais justa, com mais igualdade entre as pessoas.
Fita I, lado B:
Edmílson: Enfim, se falava da necessidade de trabalhar pela transformação do mundo, do papel que todos temos nesse sentido, sobretudo os cristãos e pessoas de boa-vontade. E aquele pessoal novo que estava lá participava, fazia perguntas e falavam que as congregações marianas da Igreja Católica foram fundadas por grupos de jovens, em Roma, que estavam preocupados com as mudanças sociais no mundo, e que fundaram essas congregações para se preparar, para se mudarem e mudar o mundo também. E o papo foi por aí. Nesse dia, eu me lembro que saí entusiasmado, cheio de vontade. E, a partir daí, começou mudar a minha visão de vida: eu, que tinha vindo para o Rio para “ganhar a vida”, arrumar um emprego e um salário bom, entrar para o Banco do Brasil, já fiquei um pouco estremecido e minha visão de vida começou a mudar. Já não bastava mais ter um bom emprego, tinha mais alguma coisa, aquilo que mexeu comigo naquela reunião. E, a partir daí, eu comecei a participar das reuniões, dos movimentos, debater as questões colocadas. E, para completar, veio o Concílio Ecumênico Vaticano Segundo, que veio “botando pra quebrar”, exigindo mudanças no mundo.
Renato: Era baseado na encíclica “Rerum Novarum” ou “Mater et Magistra”?
Edmílson: A encíclica “Rerum Novarum” é de Leão XIII, de 1894. Aí, veio o Concilio Ecumênico, com o Papa João XXIII, em 1962 ou 1963, lembrando a “Rerum Novarum”, com a “Mater et Magistra”, “Pacem in Terris”, abrindo a Igreja para o mundo.
Renato: Esse Papa tinha umas posições muito interessantes.
Edmílson: É, ele marcou uma época, não só para Igreja Católica, mas para o mundo.
Renato: Ele retomou um rumo para a Igreja num momento complicado, não é?
Edmílson: É, abriu a Igreja para o mundo, pois o Papa anterior, o Pio XII, era muito ligado no céu e desligado dos problemas da terra. E o João XXIII veio ligando a Igreja ao céu e à terra, dizendo que é preciso que a gente cuide disso aqui. E esse Concilio Ecumênico veio em um momento em que havia muitas tentativas de mudanças no mundo: a Revolução Cubana, com Fidel Castro; o assassinato de Kennedy; Martin Lutherking; os questionamentos contra a guerra do Vietnã. Isso tudo estava nesse bojo e influenciou toda a juventude daquela época. E aquele momento me influenciou muito e, a partir daí, eu fiquei mais voltado para a questão social. E, ainda no Banco de Crédito Real, eu já comecei a entrar no movimento sindical.
Renato: Foi levado por alguém?
Edmílson: Ninguém me levou, foi o próprio momento. Isso foi em 1960, 1961 e o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro já estava bem atuante. Eu me lembro que a greve de 61 ou 62 mexeu muito, eu participei, as assembléias eram no salão do Automóvel Clube, e foi então que eu me associei ao Sindicato. E havia todas essas lideranças: o Palhano, Olympio de Melo, o Humberto Campbell, o Pereirinha, o Viégas. Havia um grupo muito atuante do Credireal, com o Toledo e o João Alberto também. A atuação desses companheiros me influenciou muito. E esse foi também o momento da transição do Jânio Quadros para o João Goulart: O Jango toma ou não toma posse; impede, não impede. Se discutia muito isso.
Renato: No Sindicato?
Edmílson: Não, dentro dos bancos. Mas o Sindicato, naquele momento, estava bem integrado nos movimentos políticos. Apoiava a posse do Jango, contra o golpismo. Eu ainda não tinha participação sindical, mas os panfletos do sindicato chegavam lá no banco. O sindicato tinha uma atuação bem de frente. Você falou da questão de visão de mundo: na verdade, aquelas lideranças daquele momento, da década de 60, que já vinham da década de 50, era uma liderança muito conscientizada politicamente. Estes que citei, por exemplo, e outros daquele tempo, eram lideranças que não faziam sindicalismo simplesmente no sentido do sindicato ser um órgão reivindicador de salário. Havia um sentido muito mais amplo do movimento dos trabalhadores: viam o sindicato como um instrumento de transformação da sociedade e não simplesmente para garantir emprego e salário. Isso funcionava, mas não era o principal. Tudo tinha que estar ligado a um sentido maior da sociedade: da dignidade do trabalho; do respeito à dignidade do trabalhador. O trabalhador, sendo a mola da produção e da construção da sociedade, tinha que ser respeitado como parte desse contexto, tinha que ser valorizado. Também se defendia muito, naquela época, a participação do trabalhador na gestão da empresa, eu me lembro. Então, toda essa efervescência política, desde a Revolução Cubana até a luta pela posse de João Goulart - porque eles queriam dar o golpe ali, o golpe de 64 era para ser dado ali, na renúncia de Jânio Quadros, impedir a posse de João Goulart – havia todo um clima, com o movimento dos trabalhadores rurais, as Ligas Camponesas, sobretudo em Pernambuco, com Francisco Julião. Havia uma grande efervescência, inclusive com a atuação da Igreja Católica, que tomava posição firme, a partir da ala mais progressista, liderada por Dom Élder Câmara, que incentivava a participação e a organização dos trabalhadores, no campo e nas cidades. E nós éramos influenciados por aquele momento, muitas lideranças sindicais, inclusive em outras categorias, surgiram a partir daquela efervescência política. Noutro dia, eu comentava com o Jorge Couto, que aquelas greves bancárias que nós vivemos eram movimentos não só de reivindicação de salário e por melhorias nas condições de trabalho: eram movimentos de conscientização política. Muitas lideranças surgiram nos piquetes. Hoje se paga pessoas para fazer piquete. Naquela época os trabalhadores se engajavam nos piquetes, no nosso caso bancários, e muitas lideranças surgiram nos piquetes, como o Percinoto, por exemplo.
Renato: E como isso se realizava: pela ação de estar nos piquetes, conversando com os outros, ou havia alguma que o sindicato fazia para atrair as pessoas, distribuindo, por exemplo, algum documento; fazendo alguma discussão; pessoas do sindicato que se dedicavam mais a atrair as novas lideranças?
Edmílson: Quando se preparava uma greve, pois a greve era preparada com antecedência, com a participação das comissões sindicais organizadas dentro dos bancos. O Banco do Brasil, por exemplo, tinha uma comissão sindical que tinha umas 250 pessoas; o BEG também tinha uma muito atuante; o Banco de Crédito Real e outros. E, quando se decidia uma greve, antes passava por uma discussão interna em todas as comissões e, nessas discussões, a orientação da direção sindical – porque a direção sindical não era simplesmente a diretoria, porque a diretoria dirigia o sindicato com todas essas comissões de base - antes ouvia esse pessoal todo. Eram verdadeiras assembléias para discutir antes de decidir uma greve e, nessas condições, se debatia a necessidade da organização para a greve ser vitoriosa, como uma necessidade para o crescimento do movimento dos trabalhadores. E, geralmente, nos piquetes, para os quais os bancários eram convidados a participar, em cada piquete havia um coordenador, uma pessoa politizada, com essa visão de organização, de atrair as pessoas. Eu me lembro que o Percinoto contava que o Arildo Dória coordenava o piquete onde ele participava. E o trabalho não era só de conscientizar os trabalhadores do piquete, mas também a população sobre o porquê da greve, de sua justeza. Daí, a denúncia dos banqueiros, dos altos lucros, das tramóias: se fazia um verdadeiro trabalho político nos momentos de greve. O pessoal ia passando e se empolgava, o bancário acabava se integrando aos piquetes, era uma coisa impressionante. E foi nessa efervescência política que surgiram muitas lideranças. E isso também me influenciou, como a muita gente que surgiu naquele momento. Mas com o golpe de 64, quando a repressão veio baixando o cacete, muita gente que surgiu naquele momento, que estava participando, se recolheu por causa do medo. E as lideranças que não se recolheram, que continuaram participando de alguma forma, foram exatamente os que tinham mais visão política, mais consciência ideológica. O Viégas, por exemplo, um marxista de corpo e alma, ideológico, com uma visão de mundo ampla. Como eram o Palhano, o Campbell, o Toledo, e muitos outros. Eu não tinha essa visão marxista da vida, mas tinha a visão cristã que, em muitos casos, se assemelha à marxista. O pessoal sempre me convidava para entrar para o Partido – na década de 60 o Partido era clandestino, mas existia – e eu sempre alegava: Primeiro, eu não sou marxista. Ideologicamente eu sou cristão – existe aquela pequena diferença entre a espiritualidade e o ateísmo, que, naquele tempo, era mais forte. Mas não é por isso não: eu estou satisfeito com a minha condição de cristão, porque acho que o que a filosofia cristã me oferece para a mudança do mundo se iguala com a que vocês também defendem. Na verdade, o que nós defendemos é a mesma coisa: defendemos um mundo mais justo; com igualdade entre as pessoas; com respeito à dignidade; uma sociedade onde não haja patrão nem empregado, não é isso? Então eu não preciso entrar para o Partido para estar lutando junto. E eles me davam razão e não insistiam mais. E vamos andar juntos porque defendemos as mesmas coisas. Eu acho que algumas diferenças são muito teóricas. Na prática, no contexto da luta por um mundo melhor – eu já tinha essa visão – isso de fé e ateísmo não atrapalha muito não. Eu conversava com meus amigos do Partido, que essa visão que existia sobre os marxistas que os taxava de ateus, contra Deus, contra a família, contra a espiritualidade. Eu, simplesmente, não via isso: eram preocupados com as pessoas, tinham famílias bem estruturadas, cuidavam uns dos outros. Isso era tudo mentira e o pessoal tinha uma filosofia, tinha consistência. E é isso que se defende na Igreja Católica: a necessidade do preparo interior para você poder superar as dificuldades da realidade do mundo. Quem não tem essa visão de vida transcendental – e o marxismo é transcendente, porque todas as filosofias de vida, preocupadas com a transformação do mundo são transcendentais, mesmo que diga que não tenha Deus, mas ela é além do humano, do simplesmente material. E eu dizia para o meu amigo Fagundes: “Não há nada mais transcendental que o marxismo. Um marxista é tão transcendental quanto um cristão”. Porque, por exemplo, agüentar o que o Che Guevara agüentou, enfrentar aquele estilo de vida que ele assumiu, que ele optou, como ele agüentou, e dar a própria vida. Eu tenho um filho que é funcionário da justiça, é também sindicalista, e dizia que o Guevara era mais herói do que Cristo. E eu falo: “aí você já está exagerando!”. Mas ele largou sua posição, largou um cargo de ministro em Cuba, para se dedicar à revolução continental, que ele acreditava, e ir lutar nas selvas da Bolívia. Isso é ser transcendentalista. Eu argumentava isso com alguns camaradas: ninguém agüenta fazer uma coisa dessas se não tiver um ideal transcendental. Então, esse pessoal teve essa época que favoreceu.
Renato: Você quer dizer a conjuntura dessa época, como você descreveu?
Edmílson: É, a conjuntura. Tinha um companheiro do Banco do Brasil, o Roberto Martins, que se dedicava ao movimento sindical, ele coordenava o pessoal do Partidão no Sindicato dos Bancários. E ele tinha uma capacidade de trabalho impressionante: o jornal Bancário, que hoje é feito todo eletronicamente, ele, o José Rodrigues e o Imbiriba (Antonio Imbiriba da Rocha), os três faziam todo o jornal. A gente até colaborava, escrevíamos um artigo ou outro, mas eram os três que faziam tudo mesmo.
Renato: E eles eram diretores do Sindicato?
Edmílson: Não, nenhum deles. O Imbiriba era do Banco da Amazônia (Basa) e foi, antes de 64, Deputado Estadual lá no Pará, acho que pelo PTB. Depois do golpe ele veio para o Rio de Janeiro. E, tanto ele como o Roberto Martins, nunca quiseram ser diretores do Sindicato. Na verdade, eles atuavam como assessores da diretoria na minha gestão.
Renato: Mas em que condições? Eles tinham liberação dos bancos? Recebiam pela assessoria que prestavam?
Edmílson: Não, eles não eram remunerados nem tinham liberação dos bancos. Cumpriam o expediente nos bancos em que trabalhavam e depois iam para o sindicato. Os diretores também não recebiam nada, eram só liberados para o trabalho sindical.
Renato: Mas o Sindicato tinha essa figura de assessor no quadro funcional?
Edmílson: Não. Eles estavam assessores para nos ajudar, porque eram mais experientes politicamente.
Fita II, lado A:
Renato: Você dizia que essas pessoas não eram funcionárias do sindicato; que atuavam como assessores como uma forma de militância.
Edmílson: É, pela sua experiência sindical, seu conhecimento, visão de mundo, eles ajudavam a diretoria. Então, o Roberto Martins, o Imbiriba e o José Rodrigues faziam o jornal Bancário: eles tinham uma capacidade de trabalho muito grande. Esse José Rodrigues, por exemplo, era poliglota: sabia Inglês, Francês, Russo, Alemão, latim e grego. Ele era do Banco Ítalo-Belga e era um estudioso: vivia estudando. Tinha uma visão muito forte de sindicalismo e política e era o revisor do jornal, além de fazer a coluna “De banco em banco”, muito lida e apreciada pelos bancários. Eles três faziam o jornal; revisavam as matérias; levavam para a gráfica e acompanhavam a impressão até de madrugada. E eles já faziam isso antes da minha gestão: desde a direção anterior, a do Guedes, que eles assessoravam a diretoria do sindicato. O Zé Rodrigues era um bravo. Ele enfrentava a direção do Banco Ítalo-Belga, com suas arbitrariedades, sozinho e, fiel às suas convicções, morreu vítima da opressão dos banqueiros e da ditadura. O Zé Rodrigues merece a homenagem da categoria bancária. Se a geração de hoje o conhecesse o admiraria muito.
Renato: Mas você vinha falando daquela conjuntura anterior, quando você e outros começaram a se formar sindicalmente: como foi isso?
Edmílson: Eu dizia que aquela efervescência do movimento sindical do início da década de 60 influenciou muito na minha participação. Isso e as mudanças na orientação da Igreja Católica, o incentivo do Concílio Vaticano II pela participação dos cristãos na mudança do mundo, nos movimentos sociais, sindicais e populares. E foi assim que eu me conscientizei e iniciei a minha atuação, me aproximei do movimento sindical e comecei a ter uma participação mais de frente, pois, até aquele momento, (1961, 62) eu era sindicalizado e participava das greves, mas não tinha muito envolvimento. A partir de 1963 é que eu comecei a participar das assembléias, das reuniões de banco, do sindicato. Mas, aí, veio o Golpe de 64, as perseguições e a debandada geral: Palhano e Viégas foram para o exílio; Pereirinha e Campbell foram presos. Daqueles que tinham uma atuação mais de frente, os que não se exilaram foram presos. O Olympio de Melo o único que não foi preso nem se exilou, mas, acho que, por ele ter sido Juiz Classista no Tribunal Superior do Trabalho, é que não fizeram nada com ele. Mas, mesmo assim, também não pode ter mais atuação nenhuma. Então esse pessoal todo foi banido do movimento, restando uma militância que não estava à frente da direção do sindicato: aquela militância dos piquetes, das comissões sindicais de banco, que, por não estarem à frente do sindicato, não eram muito visados pela repressão. Então, Degerando, Fagundes, Jorge Couto, Percinoto, Barata, José Rodrigues, além do pessoal mais ligado à direita, como eram o Laécio, o Cardoso, o Guedes.
Renato: Estes também se organizavam como católicos lá no sindicato?
Edmílson: Sim, mas era um grupo mais conservador. Alguns eram anti-comunistas.
Renato: Havia algum outro grupo de católicos mais progressistas que atuavam organizadamente no sindicato?
Edmílson: Atuando organizadamente, não. No Sindicato dos Bancários, atuando organizadamente só os católicos mais conservadores, mais à direita: eles se organizavam em torno da Associação de Bancários Católicos.
Renato: Que já vinha de uma tradição mais antiga, não é?
Edmílson: É, era mais antiga. Eles tinham uma capacidade extraordinária de reunir bancários católicos. Todo ano, no dia de Corpus Christi, essa Associação, onde estavam o Guedes, o Laécio, o Alceu João Batista, Xerez, Cardoso e outros, reunia 10 mil bancários na Igreja da Candelária para fazer a Páscoa dos Bancários: tinha uma missa e todos comungavam. Mas, naquela época, eu já criticava essa prática de vivência cristã, que não se comprometia em nada com a mudança do mundo, da sociedade. Assumiam, simplesmente, essa coisa muito ritualística.
Maria José: Obrigatória, não é? Isto é, é um mandamento da Igreja Católica: confessar e comungar pelo menos uma vez por ano, na Páscoa da ressurreição.
Edmílson: É, obrigatória e superficial, sem compromisso de mudança. A igreja progressista, a igreja realmente comprometida com Cristo, sempre disse que Cristo foi crucificado justamente por seu compromisso com o mundo, com a humanidade, com as mudanças. E foram aqueles que não aceitavam mudanças na sociedade daquela época que o mataram. Como matam até hoje, como mataram o Che Guevara e matam muitos até hoje. Nós já criticávamos muito isso: não tem sentido ser católico, comungar e ir à missa todo domingo e não se comprometer com a mudança da sociedade: é uma contradição. E nessa época eu já criticava isso: esse pessoal que se diz cristão, que vai à Candelária, descomprometido com o movimento sindical para mudar a história dos trabalhadores, dos bancários. Eu dizia aos meus companheiros da Igreja: quem eu vejo participar são os marxistas, que são ateus, mas participam de corpo e alma.
Maria José: Mas nessa época já havia, como o bispo de São Paulo, Dom Evaristo, cristãos comprometidos.
Edmílson: É, havia, mas no Sindicato, o que havia mais organizado eram os conservadores.
Maria José: E o Edmilson, como militante cristão lá no Sindicato, atuava sozinho.
Edmílson: E, depois de 64, os que restaram da militância sindical eram aqueles formados nos piquetes, que se reaglutinaram e pressionaram para que houvesse eleição, pois o sindicato estava sob intervenção. Foi exatamente depois do golpe de 64, com a intervenção, que entrou esse pessoal ligado à Associação de Bancários Católicos, como o Alceu João Batista. Ele não apareceu como interventor, mas influiu na indicação dos interventores, porque ele era liderança desse movimento. E o Guedes estava junto desse grupo. Mas em 66, depois do golpe, havia ainda alguma margem de atuação dos movimentos sociais, até pelas contradições e disputas internas entre os grupos que apoiaram o Golpe de 64: Entre os militares e os civis; entre os grupos de pressão, Lacerda. Então, diante da pressão, eles concordaram em estabelecer uma eleição. Aí, se formaram duas chapas: Uma encabeçada pelo José de Andrade Guedes, onde entraram o Alceu João Batista, o Zimerman, o Laécio, esse pessoal mais conservador. E uma outra, do pessoal da esquerda, era encabeçada pelo Jales Assunção. Tanto o Guedes quanto o Jales eram do Banco do Brasil. Quando houve a eleição, a categoria votou em peso na chapa mais progressista, porque os componentes da outra chapa não tinham tradição sindical na categoria: eles nunca ocuparam direção sindical, nunca ganharam uma eleição na categoria. Mas, terminada a eleição, como eles viram que iam perder, o delegado do trabalho mandou anular a eleição, sem sequer permitir a abertura das urnas para a contagem dos votos. Anulada a eleição, esse mesmo delegado regional do trabalho chamou os representantes das duas chapas e disse: só vai ter nova eleição se houver chapa única. Não pode haver disputa, vocês têm que se acertar. A questão, então, era garantir a presença dessa direita na direção do Sindicato. Naquele momento houve muita discussão, muitas divergências, mas depois de uma avaliação de ordem mais política, mais geral, de que não tinha como enfrentar a ditadura “no peito e na raça”. Ia morrer todo mundo, pois eles vieram para ficar, pelo menos por algum tempo. E se chegou à conclusão de que era melhor compor do que manter o Sindicato sob intervenção. E fomos negociar a chapa com o pessoal da direita.
Renato: Nessa época não houve divisão no campo da esquerda?
Edmílson: Não, a esquerda estava unida, junta. Naquela época a hegemonia era do PCbão. Além do Partidão, havia o PCBR, do Mariguhella e o PCdoB, que ainda eram muito fracos, não tinham atuação nos bancários. O Toledo, depois, foi para o PCdoB, mas ele era sozinho. As divisões vieram depois, mas as discussões de fundo já estavam colocadas. Se avaliou muito sobre se nós tínhamos condições para fazer um enfrentamento mais aberto à ditadura. E os militantes da Igreja Católica - como o pessoal da Ação Católica Operária (ACO), da Juventude Operária Católica (JOC), da Juventude Universitária Católica (JUC), os bispos mais progressistas - chegamos à conclusão, inclusive, de que não tínhamos condições para dar passos mais ousados. Como o povo não estava preparado para esse enfrentamento, não adiantava as lideranças radicalizarem que acabariam indo à frente sozinhos. Vão “levar pau” sozinhos. Precisávamos é construir a resistência, ver os caminhos que poderíamos tomar. Nós dizíamos: “vamos ter de engolir muitos sapos”. E optamos por negociar com nossos adversários para não ficarmos isolados do povo, que é o que interessava à ditadura. Decidimos que não íamos perder nosso espaço junto ao povo, junto à categoria bancária, que iríamos continuar nosso trabalho, mais devagar, mas consistente. E fomos negociar a chapa, chamamos todo mundo e fomos negociar. Nessa época eu não participava diretamente dessas negociações, mas o pessoal me contava. Tinha o Fagundes, companheiro muito valoroso nesta década de 60. Ele é pouco valorizado, mas foi um cara importantíssimo: dedicado, aguerrido, participante nessas horas de dificuldades. Trabalhávamos na mesma agência e conversávamos sobre tudo. Ele era um cristão marxista. Era espírita, até hoje é. E me colocava por dentro de tudo. As duas partes negociaram e concordaram no seguinte: o Jales e o Guedes, que encabeçavam as duas chapas, concordaram em não vir como cabeça de chapa. O grupo do Guedes apresentou o Ney Pimenta, o Cardoso, e o Orlando Freitas Gomes. E o nosso pessoal colocou o Roberto Percinoto e o Mauro Cavalcante. Nessa época a executiva era composta por cinco diretores. O mandato era de dois anos, gestão 67 a 68. A intervenção, feita em 64, tinha se prolongado até esse ano de 66. Essa chapa toma posse no final de 66, em dezembro, fruto dessa conciliação. Então, a militância dos dois grupos se juntou para assessorar essa diretoria, que era pouco experiente.
Fita II, lado B:
Edmílson: Então, como eu dizia, essa diretoria, que era encabeçada pelo Ney Pimenta, era frágil. E o pessoal resolveu acompanhar, de perto, a atuação dela. Então, nós fazíamos reuniões semanais no Sindicato com todo mundo para monitorar e assessorar a gestão dessa diretoria. E discutia-se desde os problemas da categoria até as questões administrativas. E cada um queria dar sua opinião, as reuniões eram intermináveis, acabavam tarde. Mas as questões discutidas, as propostas, acabavam não sendo encaminhadas pela diretoria, onde o grupo deles, que era menor e menos representativo, tinha maioria. E o Percinoto, o Mauro e o Degerando, que estava liberado pela Federação, mas fazia trabalho de base lá no Sindicato, se destacavam por sua atuação. Eles saíam para a rua, com a bandinha, iam de porta em porta visitando os bancos, no centro e nos bairros. E, nessa época, isso era uma atuação fantástica.
Renato: Você me falou de um caso de desfalque no Sindicato, como é essa história?
Edmílson: Eu não vou citar nomes, mas era pessoa do Sindicato, ligada a esse grupo mais conservador, que, como se descobriu e comprovou, havia desviado um dinheiro do sindicato. E o caso foi apurado, o sujeito reconheceu, assumiu a culpa, disse que pagava e tal. Mas, e aí? O quê fazer com ele? Esse era o impasse: ele é denunciado, expulso da direção e demitido, com a declaração da diretoria que o afastava por roubo ou então a gente negocia com ele, que paga o que deve ao Sindicato e renuncia. O problema era que, se fosse denunciado, teria que ser comunicado o motivo à Delegacia Regional do Trabalho, o que certamente abria espaço para o Ministério decretar nova intervenção na entidade e afastando a diretoria toda por corrupção. Além disso, os banqueiros também poderiam se aproveitar disso para demitir o bancário e desmoralizar o Sindicato. Então, optou-se pela negociação com ele, que ressarciu o sindicato e se exonerou. Mas você não cite nomes, por favor.
Renato: Claro. A descrição da situação é que é interessante.
Edmílson: É, muito interessante, pois o que importava ali era manter o espaço da categoria. A questão deixou de ser moralista para ser política.
Renato: Você cita no seu livro a realização de uma Convenção dos Bancários em julho de 1967, e a Segunda Conferência Nacional de Dirigentes Sindicais, em novembro do mesmo ano, ambas no Sindicato dos Bancários. E geralmente não se tem idéia de que o movimento sindical, nessa época, realizasse grandes Encontros. Você pode nos falar um pouco disso?
Edmílson: É, eu tenho, inclusive, algumas matérias de jornais sobre esse assunto. Como você sabe, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro era uma referência nacional, não só para os bancários. Aqui, no Rio, era o centro dos acontecimentos políticos e culturais naquela época.
Renato: Como esses Encontros eram nacionais, como vocês se relacionavam com a delegação de São Paulo? Havia lideranças importantes que vinham de lá?
Edmílson: Havia muita colaboração, mas, depois do golpe de 64, São Paulo passou um período meio apagado em termos de movimento sindical.
Renato: Em 1968 também houve uma Convenção Interestadual da Federação e um Encontro Nacional, em julho, realizado em São Paulo. Havia muitos Encontros nessa época, mesmo depois do Golpe de 64?
Edmílson: Sim, porque, como eu falei, entre 66 e final de 68 houve um período de efervescência política e cultural, pois a ditadura ainda não estava consolidada. Foi justamente o AI5, decretado em dezembro de 1968, que consolidou a ditadura, como se diz, “o golpe dentro do golpe”, quando assume o grupo mais linha-dura do General Médici. Mas, neste período de 1966 até final de 68, houve muita efervescência política: os estudantes organizaram a famosa “Passeata dos Cem Mil”, o movimento de trabalhadores se manifestando nacionalmente, etc. A Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), por exemplo, foi fundada neste período, num congresso realizado, inclusive, lá no nosso sindicato.
Renato: Você também cita em seu livro que, em 71, três anos depois do AI5, já na sua gestão no sindicato, vocês faziam reuniões por banco com a participação de 60, 70 bancários. Como foi isso?
Edmílson: Pois é, a explicação é a seguinte: quando acabou aquela gestão de 1967 a 68, houve uma mudança nos Estatutos do Sindicato e o mandato passou a ser de três anos: 1968 a 71. Então, o pessoal fez um acordo com o José de Andrade Guedes, que, apesar de ter apoiado o golpe, estava desencantado com o regime e se afastou daquele grupo e se aproximou do nosso grupo. Então, o pessoal chamou ele para encabeçar uma chapa, mas, agora, com mais nomes comprometidos com o movimento sindical mais atuante. Assim, continuavam o Mauro, o Percinoto, o Degerando. Entrou uma indicação do Auri do Banco Lar Brasileiro, que era o Manoel Messias, o Fagundes, o Augusto César, do Banerj. Eu já entrava aí, como Suplente do Conselho Fiscal, com a Maria Emília. Ainda foi uma composição, onde o Laécio, o Sodré e o Ney Pimenta também participavam, mas agora sem expressão na chapa. Foi uma composição melhorada, mas o presidente ainda tinha muito poder, o Guedes era muito hábil, e manipulava. Era um período difícil, pois havia muita infiltração de gente do aparato repressivo nos sindicatos, inclusive o nosso. E o Sindicato foi se burocratizando.
Renato: Como era isso?
Edmílson: Por exemplo: assuntos relativos aos funcionários, se gastavam reuniões e mais reuniões discutindo a questão. O Guedes manipulava, com o poder da presidência que ocupava, e o pessoal ficava atolado na burocracia e o movimento junto à categoria ficava em segundo plano. Dessa forma, foi uma gestão relativamente tranqüila, mas sem muita ação sindical. A gente fazia muitos Encontros, mas era só coisa de cúpula, não repercutia na base.
Renato: Mas nesses Encontros tinha disputas de projetos políticos, de visões de mundo?
Edmílson: Tinha sim, mas era tudo muito misturado, tinha muito policial infiltrado, ficava todo mundo “pisando-em-ovos”, pois ninguém sabia quem era quem. Os movimentos estavam todos infiltrados pelo SNI. Mas aquela diretoria do Guedes, que nós achamos que poderia ser um passo à frente, foi muito complicada, controlada pela burocracia. E, para agravar ainda mais a situação, no primeiro semestre de 69, logo depois da decretação do AI5, destituíram o Percinoto, o Degerando e o Augusto César. E em agosto do mesmo ano, são presos pelo DOPS o Percinoto, o Auri, o Toledo, o Hélio França, os irmãos Marcos e José de carvalho e o Marchesini, todos nos locais de trabalho. E, com isso, o pessoal mais consistente da diretoria ficava perdido quanto à atuação no sindicato: levava para o grupo discutir, mas o momento era mesmo difícil. O Fagundes, por exemplo, começou a ter umas crises de vômitos. Foi ao médico e ele perguntou como estava no trabalho. Quando ele contou, o médico falou que, como ele estava trabalhando naquele clima, sempre contrariado, tendo que “engolir sapos” o tempo todo, os sapos que ele tinha que engolir estavam voltando, era a forma dele colocar para fora aquilo tudo por que estava passando no sindicato.
Renato: Foi isso que estimulou o pessoal a articular a sua chapa, em 1971, com um perfil mais sólido?
Edmílson: É. Dentro da relatividade das coisas, com um perfil melhor. O Fagundes, o Péricles e o Jorge Couto pressionavam por uma composição melhor, mas quem viria como cabeça de chapa? O presidente, como nós vimos, era um cargo fundamental, mas não havia um nome viável naquele quadro. Aí, sugeriram o meu nome e o pessoal da esquerda toda aceitou. Aí o Fagundes chegou no banco e me falou: olha, nós chegamos à conclusão que o melhor nome para cabeça de chapa é o seu. E eu levei um susto: “mas eu não tenho condições, não tenho experiência para assumir isso não”. E fui lá, numa reunião, onde eles colocaram a situação: “olha, nós precisamos de um cabeça de chapa que amplie, que não seja visado, que tenha capacidade de diálogo e seja correto e respeitado. E, nessas condições, achamos que o melhor nome é o seu”. Eu coloquei meus argumentos, então veio a pergunta: “pois então, qual é o nome que você sugere, dentro desse perfil que nós traçamos?”. Como eu não tinha a resposta, acabei sendo convencido a aceitar aquele enorme desafio. E fomos eleitos para o mandato de 1971 a 1974 com uma expressiva votação da categoria (cerca de 70% dos votos). Mas o Ministério do Trabalho impediu que o Jorge Couto, o Degerando, o Nelson Ferreira Pedrosa, o Vitoriano Xerez, o Péricles, o Nilson Tavares e o Fagundes tomassem posse. Isso foi um baque, mas, mesmo assim, nós tomamos posse. Com um presidente pouco conhecido e com o expurgo dos mais ligados à esquerda, os conservadores e os órgãos de repressão, penso eu, deviam achar que não havia mais riscos de ter uma direção que incomodasse, sobretudo depois de alguns anos sem problemas com o Sindicato dos Bancários, devido aos fatos que já mencionei. Mas, quando começamos nosso mandato, e tiramos a seguinte estratégia: Levantamos algumas ações que o Sindicato havia ganhado na justiça do trabalho e que os banqueiros, acobertados pela política econômica do regime, não cumpriam, e fomos cobrar das direções dos bancos. Com a resposta dos bancos, positiva ou negativa, fazíamos boletins e íamos aos locais de trabalho, conversando com os bancários e convocando os companheiros para reuniões na sede do Sindicato. O resultado é que, de janeiro a fevereiro, período em que não há campanha salarial, conseguimos realizar reuniões por banco com a presença de 50 a 60 bancários, apesar de todo o medo causado pela repressão. Organizamos o Sindicato e “botamos o bloco nas ruas”. Tudo que acontecia nos bancos, o sindicato estava lá: demissões, perseguição de trabalhador, trabalho fora do horário, até bebedor quebrado, o sindicato se fazia presente. Visitávamos as agências e departamentos, víamos as condições de trabalho do pessoal e, quando havia alguma irregularidade, denunciávamos e procurávamos as direções dos bancos, cobrávamos soluções dos banqueiros, da Delegacia do Trabalho e das autoridades, como você poderá ver mais detalhadamente no meu livro. Assim, eles devem ter percebido que cometeram um erro de avaliação ao dar posse àquela diretoria. E, quatro meses depois da nossa posse, o Sindicato sofreu nova intervenção. Eu, Imbiriba, Xerez e o Roberto Martins fomos presos e os demais diretores destituídos.
Ficha da Entrevista:
Nome: Edmílson Martins de Oliveira
Endereço: Rua Doutor Leal, nº 526, apto. 101; Engenho de Dentro; Rio de Janeiro.
Telefone: 22893272
Duração: 04 horas
Local: Rua Garcia Vasquez, 129 – Água Santa, Rio de Janeiro.
Data: 26/06/2006.
Nº de fitas: 02 (60 minutos cada)
Pesquisa e Roteiros: Renato Lima
Entrevistador: Renato Lima
Texto: data – 29/06/2006
Conferência de Fidelidade: data
Leitura Final: data
Carta de Cessão: data – 26/06/2006.
Número de páginas transcritas: 22
Observações:
Entrevista com Edmílson Martins de Oliveira, que contou também com a participação de sua esposa Maria José, realizada em 26 de junho de 2006 na residência do casal em Água Santa, por Renato Lima.
Fita I, lado A:
Renato: Hoje conversaremos sobre o fato de você ser um cearense do Crato, casado com a Maria José, e iremos até onde você quiser.
Edmílson: Pois é, então eu vou começar seguindo mesmo esse roteiro que você nos mandou, falando de socialização; posição da família no processo de formação, religião, influências etc. Vou começar pela minha história de vida: Sou lá do Ceará, nasci na roça, bem no sertão, no polígono das secas, num lugar chamado Ipueiras, município de Milagres, cidadezinha perto de Crato. E lá vivi, até os 12 anos de idade, na roça, distante inclusive da cidadezinha de Milagres, duas horas de viagem a cavalo, pois, naquela época, os meios de transporte eram o burro, o jegue. Então, a gente gastava duas ou três horas para chagar na cidade. E o meu pai era um homem do trabalho: ele adorava o trabalho. Pobre e de família pobre, camponês nascido de família também camponesa, a vida dele era o trabalho na roça. E ele adorava o trabalho na roça; ele acreditava no trabalho na roça; ele até dizia assim: “Se todo mundo ficar na cidade, quem é que vai plantar pras pessoas comerem?” E minha mãe falava: “mas a gente precisa estudar, os meninos precisam estudar também”, e ele dizia ”Não, a gente tem que trabalhar. Primeiro, porque a gente não tem condições para eles estudarem, a gente não tem condições de ir para a cidade para eles estudarem, então, todos têm que trabalhar aqui”. Mas a situação era tão difícil na roça, no campo, era seco, não chovia, e nós éramos dezessete filhos.
Renato: Quantos homens e quantas mulheres?
Edmílson: Treze homens e quatro mulheres. Até agora morreu um só, com 81 anos. E, na roça, nós trabalhávamos muito, mas não havia resultados. Meu pai tinha uma pequena gleba de terra no meio do latifúndio. Então, havia uma pressão terrível do latifúndio para tirar a gente de lá. E meu pai trabalhava, pedia empréstimo no Banco do Brasil para plantar, plantava, mas as chuvas não vinham: perdia tudo e ficava devendo, com dificuldades. Assim, meus irmãos mais velhos foram saindo de lá: uns vieram para São Paulo, para Mato Grosso, para trabalhar no algodão.
Renato: Eles foram trabalhar em outros estados, mas também na agricultura?
Edmílson: É. E assim foram sumindo. Mas um dos meus irmãos resolveu ir para a cidade do Crato, onde uma tia morava há uns quarenta quilômetros da cidade, na roça. E meu irmão resolveu ir para lá, para trabalhar na roça durante o dia e, à noite, ir estudar na cidade. E fez isso: esse meu irmão, Agostinho, começou a fazer o primário com 20 anos. E foi assim que ele acabou se estabelecendo na cidade, arrumou um emprego numa loja, se formou como “guarda-livro”, que naquela época era como se chamava o contador ou técnico em contabilidade. Certa vez ele foi lá onde nós morávamos, eu tinha uns 11 ou 12 anos e já estava alfabetizado: sabia o “a,b,c”, lia, escrevia o nome, e ele me viu tentando escrever e lendo as coisas que apareciam, e resolveu me levar para Crato: “Vamos para lá, você vai estudar, e tal”. Eu tinha 12 anos e comecei a estudar lá. Quando eu fiz 16/17 anos, arrumei emprego em lojas de comércio e, mais tarde, um emprego num banco particular: comecei a ser bancário em 1958.
Renato: Você lembra o nome do banco?
Edmílson: Era o Banco de Crédito Comercial, um banco lá do Ceará que hoje não existe mais: foi encampado por outros. Passei numa prova e fui trabalhar nesse banco. Nesta altura, 58, 59, eu me formei como Técnico em Contabilidade na Escola Técnica de Comercio da Associação dos Empregados do Comércio de Crato. Formei-me em 59 e, eu e meus colegas contemporâneos lá de Crato, tínhamos uma perspectiva de mudar de vida, de melhorar, e estudávamos. Como havia poucos concursos naquela época nessa região, todos sonhávamos em prestar concurso para o Banco do Brasil, mas nunca aparecia o concurso por lá. E esse meu irmão, depois, veio para o Rio de Janeiro e daqui me escreveu, dizendo que viesse também, porque aqui havia mais perspectivas, mais possibilidade de concursos, e eu vim também. Larguei o banco, que era um banco particular, regional, local, e o salário muito baixo, e como eu já tinha essa visão de progredir na vida, ter um emprego mais estável, meu sonho era entrar para o Banco do Brasil. O sonho da moçada daquela época era o Banco do Brasil, principalmente os que não podiam cursar Medicina ou Engenharia, essas profissões que só quem tinha dinheiro podia fazer. Então, eu vim para o Rio de Janeiro.
Renato: E isso foi em que ano?
Edmílson: Foi em março de 1960. Escrevi para o meu irmão e disse que vinha em março. Aí, comecei a me preparar e, quando eu fui comprar a passagem de ônibus, um rodoviário me disse: “Olha, está complicada a viagem, as estradas estão ruins com as chuvas e os ônibus estão levando de 15 a 20 dias para chegar no Rio de Janeiro”. E eu estava ansioso para vir e decidi que tinha que ir de avião, mas não tinha dinheiro. Pedi a meu pai, que também não tinha, mas disse que ia pedir emprestado: fez um empréstimo no Banco do Brasil e me deu o dinheiro. Três dias antes de partir, eu mandei um telegrama para o meu irmão: “Tal dia, a tal hora, eu estarei chegando aí no aeroporto Santos Dumont”. Mandei o telegrama e vim, crente que meu irmão tinha recebido o recado. Não conhecia nada aqui: a maior cidade que eu conhecia era Crato. Peguei um avião em Crato (da empresa Real) que levou 10 horas para chegar ao Rio. Saí de lá às 9 horas e cheguei no Santos Dumont às 20:00 horas: um mundo completamente estranho para mim. Procurei meu irmão e nada. Eu vinha com um jornalista de lá que já morava aqui: trabalhava na Agência Nacional. Ele ficou preocupado e, a partir do endereço que eu tinha, procurou numa lista telefônica e telefonou para um telefone próximo, de um vizinho, e meu irmão foi chamado. Isso já eram 9 horas da noite e meu irmão chegou ao aeroporto às dez da noite. E foi assim que eu cheguei ao Rio para “ganhar a vida”, como se dizia.
Renato: E ele morava aonde?
Edmílson: Em Todos os Santos, onde eu fui morar também, na casa dele. Lá em Crato eu ganhava salário mínimo e ele disse que aqui eu ganharia mais em qualquer emprego. Continuei a estudar, sempre com o objetivo de passar para o Banco do Brasil. Como não tinha dinheiro para pagar um curso, eu estudava sozinho, numas apostilas, que eram feitas em São Paulo para o concurso do BB: eram quatro livros com Inglês e Francês e, na parte de matemática, havia mil problemas para resolver. Naquele tempo o concurso pedia Francês e Inglês e caíam dez problemas de matemática, além de Português e Contabilidade: eu decorava aquilo tudo, estudava sozinho e, ainda lembro, resolvi aqueles problemas todos quatro vezes (chegava ao final e recomeçava tudo). Fiquei quatro anos em cima daquilo (o tempo de uma faculdade). Mas levei seis meses para arranjar um emprego por aqui. Já estava até ficando desanimado, até que arrumei um emprego numa empresa, mas apareceu um concurso público para o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Fiz o concurso, passei e fui trabalhar na Rio Branco, onde trabalhavam, naquela época, o Toledo e o atual senador João Alberto. Sabe quem é ele?
Renato: Não.
Edmílson: Ele era sindicalista, de esquerda, organizava um jornalzinho de banco com o Toledo, agitava muito, o pessoal antigo o conheceu. Aí veio o Golpe de 64, não sei se ele foi demitido. Depois ele voltou para o Maranhão, juntou-se à família do José Sarney e se lançou na política: ainda hoje é afilhado do Sarney, já foi eleito deputado Federal, Governador e hoje ele é senador pelo PMDB. Mas, voltando, depois fiz concurso para o banco do estado, o BEG (Banco do Estado da Guanabara), e trabalhei na ag. de Campo Grande e depois na avenida Rio Branco, na matriz.
Renato: Em que ano?
Edmílson: Bom, Trabalhei em 60 e 61 no Banco de Crédito Real e no BEG em 62. Aí veio o concurso para o Banco do Brasil e eu entrei em 63.
Renato: Mas, voltando às influências:
Edmilson: Penso que a gente sempre sofre várias influências pela vida, e a primeira é, geralmente, a da família. O meu pai era uma pessoa assim: super exigente em termos de honestidade; trabalhador que acreditava no trabalho como um valor. Acho até que, naquela época, se ele tivesse noção do marxismo, certamente seria um marxista, pelo valor que dava ao trabalho. Mas ele não tinha essas noções, não tinha instrução escolar quase nenhuma, aprendeu a ler, a escrever e a contar com o pai dele. Mas tinha essa visão de vida, valorizava o trabalho, um sentimento de dignidade humana e solidariedade. Certo dia, até, eu trabalhava no banco lá em Crato fazendo cadastros e fui pedir, no Banco do Brasil, a informação cadastral dele, e veio lá, num dos históricos: “Homem bom, muito generoso, tão bom que, às vezes, faz negócios com prejuízos para ajudar a outros”. E eu guardei isso: ele era intransigente quanto à dignidade do homem, a correção, o valor da palavra empenhada: ele pedia dinheiro emprestado e, sem nada escrito, no período combinado ele ia lá e pagava. E eu acho que isso fez a minha cabeça: valores como solidariedade, respeito à dignidade humana, generosidade, conciliação. Meu pai era sempre chamado para resolver pendências dos vizinhos. O avô dela, da Maria José, também era assim.
Maria José: É, o meu avô materno. Ele era lá de Minas, de Santa Bárbara do Oeste. Antigamente era assim, não é? As pessoas que tinham um pouco mais de projeção na comunidade (o professor, o padre, um advogado), eram chamadas para arbitrar as questões na comunidade. O nome dele era Tomás Martins e era filho de italianos.
Edmílson: Então, o meu pai era assim, intransigente em relação à questão da honra, era também muito negociador, conciliador, tinha liderança na região dele, era respeitado. E eu acho que herdei um pouco disso dele: negociador, conseguia entrosar as pessoas, uma espécie de liderança, muito respeitado naquela região, a intransigência na defesa dos direitos. Eu me lembro que os outros pequenos proprietários da região foram vendendo, as suas glebas para os latifundiários e ele acabou ficando sozinho, a gleba de terra que ele comprou acabou ficando espremida entre as terras dos grandes latifúndios. Aí, o dono do latifúndio tentou comprar a terra dele, mas ele não vendeu, com aquela preocupação de ficar para os filhos, para ganharmos nossas vidas. Mas esse latifundiário, quando não conseguia comprar, ia tomando “na marra”, passando cercas. Ele tinha poder e muitos reclamavam, mas não adiantava nada. E assim ele fez com meu pai: passou a cerca numa parte do terreno. Meu pai reclamou, mas não adiantou, foi uma peleja na justiça, mas, como eles dominavam a justiça local, não adiantou nada e meu pai acabou perdendo. E, como eles sentiram que foi fácil, passaram outra cerca que tomava quase dois terços do terreninho de meu pai. Aí, meu pai mandou meu irmão mais velho dar um recado para esse latifundiário: “diga a ele que, amanhã, nós vamos lá derrubar a cerca e quem mais for para lá”. Meu pai tinha um rifle velho, nem sei se aquilo atirava. No dia seguinte, ainda de madrugada, meu pai pegou o rifle e algumas foices e machados, juntou os filhos maiores de quinze anos e foi, decidido, para derrubar a cerca. Eu, entusiasmado, queria ir também, mas fiquei com os outros menores e minha mãe. E eles foram lá, derrubaram a cerca e não apareceu ninguém para impedir. Eu lembro que, essa decisão de garantir os seus direitos, isso me marcou muito. Voltando aqui para o Rio, 1960, eu já andava meio desanimado com aquela dificuldade de arranjar emprego. Cheguei em março e em julho ainda não tinha arrumado nada. Falava para o meu irmão e, um dia, ele me levou a uma reunião dos Congregados Marianos, congregação a qual ele pertencia e que tinha um grupo de jovens muito animado que se reunia depois da missa de domingo. Chegamos à missa, sete horas da manhã, e realmente havia um grupo de jovens que recebia as pessoas que chegavam e chamando para a reunião depois da missa. E nós fomos: havia uns trinta jovens e teve uma palestra onde o palestrante falou da mudança do mundo, na transformação da sociedade, do dever que todos tínhamos de trabalhar para mudar a sociedade para melhor, mais justa, com mais igualdade entre as pessoas.
Fita I, lado B:
Edmílson: Enfim, se falava da necessidade de trabalhar pela transformação do mundo, do papel que todos temos nesse sentido, sobretudo os cristãos e pessoas de boa-vontade. E aquele pessoal novo que estava lá participava, fazia perguntas e falavam que as congregações marianas da Igreja Católica foram fundadas por grupos de jovens, em Roma, que estavam preocupados com as mudanças sociais no mundo, e que fundaram essas congregações para se preparar, para se mudarem e mudar o mundo também. E o papo foi por aí. Nesse dia, eu me lembro que saí entusiasmado, cheio de vontade. E, a partir daí, começou mudar a minha visão de vida: eu, que tinha vindo para o Rio para “ganhar a vida”, arrumar um emprego e um salário bom, entrar para o Banco do Brasil, já fiquei um pouco estremecido e minha visão de vida começou a mudar. Já não bastava mais ter um bom emprego, tinha mais alguma coisa, aquilo que mexeu comigo naquela reunião. E, a partir daí, eu comecei a participar das reuniões, dos movimentos, debater as questões colocadas. E, para completar, veio o Concílio Ecumênico Vaticano Segundo, que veio “botando pra quebrar”, exigindo mudanças no mundo.
Renato: Era baseado na encíclica “Rerum Novarum” ou “Mater et Magistra”?
Edmílson: A encíclica “Rerum Novarum” é de Leão XIII, de 1894. Aí, veio o Concilio Ecumênico, com o Papa João XXIII, em 1962 ou 1963, lembrando a “Rerum Novarum”, com a “Mater et Magistra”, “Pacem in Terris”, abrindo a Igreja para o mundo.
Renato: Esse Papa tinha umas posições muito interessantes.
Edmílson: É, ele marcou uma época, não só para Igreja Católica, mas para o mundo.
Renato: Ele retomou um rumo para a Igreja num momento complicado, não é?
Edmílson: É, abriu a Igreja para o mundo, pois o Papa anterior, o Pio XII, era muito ligado no céu e desligado dos problemas da terra. E o João XXIII veio ligando a Igreja ao céu e à terra, dizendo que é preciso que a gente cuide disso aqui. E esse Concilio Ecumênico veio em um momento em que havia muitas tentativas de mudanças no mundo: a Revolução Cubana, com Fidel Castro; o assassinato de Kennedy; Martin Lutherking; os questionamentos contra a guerra do Vietnã. Isso tudo estava nesse bojo e influenciou toda a juventude daquela época. E aquele momento me influenciou muito e, a partir daí, eu fiquei mais voltado para a questão social. E, ainda no Banco de Crédito Real, eu já comecei a entrar no movimento sindical.
Renato: Foi levado por alguém?
Edmílson: Ninguém me levou, foi o próprio momento. Isso foi em 1960, 1961 e o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro já estava bem atuante. Eu me lembro que a greve de 61 ou 62 mexeu muito, eu participei, as assembléias eram no salão do Automóvel Clube, e foi então que eu me associei ao Sindicato. E havia todas essas lideranças: o Palhano, Olympio de Melo, o Humberto Campbell, o Pereirinha, o Viégas. Havia um grupo muito atuante do Credireal, com o Toledo e o João Alberto também. A atuação desses companheiros me influenciou muito. E esse foi também o momento da transição do Jânio Quadros para o João Goulart: O Jango toma ou não toma posse; impede, não impede. Se discutia muito isso.
Renato: No Sindicato?
Edmílson: Não, dentro dos bancos. Mas o Sindicato, naquele momento, estava bem integrado nos movimentos políticos. Apoiava a posse do Jango, contra o golpismo. Eu ainda não tinha participação sindical, mas os panfletos do sindicato chegavam lá no banco. O sindicato tinha uma atuação bem de frente. Você falou da questão de visão de mundo: na verdade, aquelas lideranças daquele momento, da década de 60, que já vinham da década de 50, era uma liderança muito conscientizada politicamente. Estes que citei, por exemplo, e outros daquele tempo, eram lideranças que não faziam sindicalismo simplesmente no sentido do sindicato ser um órgão reivindicador de salário. Havia um sentido muito mais amplo do movimento dos trabalhadores: viam o sindicato como um instrumento de transformação da sociedade e não simplesmente para garantir emprego e salário. Isso funcionava, mas não era o principal. Tudo tinha que estar ligado a um sentido maior da sociedade: da dignidade do trabalho; do respeito à dignidade do trabalhador. O trabalhador, sendo a mola da produção e da construção da sociedade, tinha que ser respeitado como parte desse contexto, tinha que ser valorizado. Também se defendia muito, naquela época, a participação do trabalhador na gestão da empresa, eu me lembro. Então, toda essa efervescência política, desde a Revolução Cubana até a luta pela posse de João Goulart - porque eles queriam dar o golpe ali, o golpe de 64 era para ser dado ali, na renúncia de Jânio Quadros, impedir a posse de João Goulart – havia todo um clima, com o movimento dos trabalhadores rurais, as Ligas Camponesas, sobretudo em Pernambuco, com Francisco Julião. Havia uma grande efervescência, inclusive com a atuação da Igreja Católica, que tomava posição firme, a partir da ala mais progressista, liderada por Dom Élder Câmara, que incentivava a participação e a organização dos trabalhadores, no campo e nas cidades. E nós éramos influenciados por aquele momento, muitas lideranças sindicais, inclusive em outras categorias, surgiram a partir daquela efervescência política. Noutro dia, eu comentava com o Jorge Couto, que aquelas greves bancárias que nós vivemos eram movimentos não só de reivindicação de salário e por melhorias nas condições de trabalho: eram movimentos de conscientização política. Muitas lideranças surgiram nos piquetes. Hoje se paga pessoas para fazer piquete. Naquela época os trabalhadores se engajavam nos piquetes, no nosso caso bancários, e muitas lideranças surgiram nos piquetes, como o Percinoto, por exemplo.
Renato: E como isso se realizava: pela ação de estar nos piquetes, conversando com os outros, ou havia alguma que o sindicato fazia para atrair as pessoas, distribuindo, por exemplo, algum documento; fazendo alguma discussão; pessoas do sindicato que se dedicavam mais a atrair as novas lideranças?
Edmílson: Quando se preparava uma greve, pois a greve era preparada com antecedência, com a participação das comissões sindicais organizadas dentro dos bancos. O Banco do Brasil, por exemplo, tinha uma comissão sindical que tinha umas 250 pessoas; o BEG também tinha uma muito atuante; o Banco de Crédito Real e outros. E, quando se decidia uma greve, antes passava por uma discussão interna em todas as comissões e, nessas discussões, a orientação da direção sindical – porque a direção sindical não era simplesmente a diretoria, porque a diretoria dirigia o sindicato com todas essas comissões de base - antes ouvia esse pessoal todo. Eram verdadeiras assembléias para discutir antes de decidir uma greve e, nessas condições, se debatia a necessidade da organização para a greve ser vitoriosa, como uma necessidade para o crescimento do movimento dos trabalhadores. E, geralmente, nos piquetes, para os quais os bancários eram convidados a participar, em cada piquete havia um coordenador, uma pessoa politizada, com essa visão de organização, de atrair as pessoas. Eu me lembro que o Percinoto contava que o Arildo Dória coordenava o piquete onde ele participava. E o trabalho não era só de conscientizar os trabalhadores do piquete, mas também a população sobre o porquê da greve, de sua justeza. Daí, a denúncia dos banqueiros, dos altos lucros, das tramóias: se fazia um verdadeiro trabalho político nos momentos de greve. O pessoal ia passando e se empolgava, o bancário acabava se integrando aos piquetes, era uma coisa impressionante. E foi nessa efervescência política que surgiram muitas lideranças. E isso também me influenciou, como a muita gente que surgiu naquele momento. Mas com o golpe de 64, quando a repressão veio baixando o cacete, muita gente que surgiu naquele momento, que estava participando, se recolheu por causa do medo. E as lideranças que não se recolheram, que continuaram participando de alguma forma, foram exatamente os que tinham mais visão política, mais consciência ideológica. O Viégas, por exemplo, um marxista de corpo e alma, ideológico, com uma visão de mundo ampla. Como eram o Palhano, o Campbell, o Toledo, e muitos outros. Eu não tinha essa visão marxista da vida, mas tinha a visão cristã que, em muitos casos, se assemelha à marxista. O pessoal sempre me convidava para entrar para o Partido – na década de 60 o Partido era clandestino, mas existia – e eu sempre alegava: Primeiro, eu não sou marxista. Ideologicamente eu sou cristão – existe aquela pequena diferença entre a espiritualidade e o ateísmo, que, naquele tempo, era mais forte. Mas não é por isso não: eu estou satisfeito com a minha condição de cristão, porque acho que o que a filosofia cristã me oferece para a mudança do mundo se iguala com a que vocês também defendem. Na verdade, o que nós defendemos é a mesma coisa: defendemos um mundo mais justo; com igualdade entre as pessoas; com respeito à dignidade; uma sociedade onde não haja patrão nem empregado, não é isso? Então eu não preciso entrar para o Partido para estar lutando junto. E eles me davam razão e não insistiam mais. E vamos andar juntos porque defendemos as mesmas coisas. Eu acho que algumas diferenças são muito teóricas. Na prática, no contexto da luta por um mundo melhor – eu já tinha essa visão – isso de fé e ateísmo não atrapalha muito não. Eu conversava com meus amigos do Partido, que essa visão que existia sobre os marxistas que os taxava de ateus, contra Deus, contra a família, contra a espiritualidade. Eu, simplesmente, não via isso: eram preocupados com as pessoas, tinham famílias bem estruturadas, cuidavam uns dos outros. Isso era tudo mentira e o pessoal tinha uma filosofia, tinha consistência. E é isso que se defende na Igreja Católica: a necessidade do preparo interior para você poder superar as dificuldades da realidade do mundo. Quem não tem essa visão de vida transcendental – e o marxismo é transcendente, porque todas as filosofias de vida, preocupadas com a transformação do mundo são transcendentais, mesmo que diga que não tenha Deus, mas ela é além do humano, do simplesmente material. E eu dizia para o meu amigo Fagundes: “Não há nada mais transcendental que o marxismo. Um marxista é tão transcendental quanto um cristão”. Porque, por exemplo, agüentar o que o Che Guevara agüentou, enfrentar aquele estilo de vida que ele assumiu, que ele optou, como ele agüentou, e dar a própria vida. Eu tenho um filho que é funcionário da justiça, é também sindicalista, e dizia que o Guevara era mais herói do que Cristo. E eu falo: “aí você já está exagerando!”. Mas ele largou sua posição, largou um cargo de ministro em Cuba, para se dedicar à revolução continental, que ele acreditava, e ir lutar nas selvas da Bolívia. Isso é ser transcendentalista. Eu argumentava isso com alguns camaradas: ninguém agüenta fazer uma coisa dessas se não tiver um ideal transcendental. Então, esse pessoal teve essa época que favoreceu.
Renato: Você quer dizer a conjuntura dessa época, como você descreveu?
Edmílson: É, a conjuntura. Tinha um companheiro do Banco do Brasil, o Roberto Martins, que se dedicava ao movimento sindical, ele coordenava o pessoal do Partidão no Sindicato dos Bancários. E ele tinha uma capacidade de trabalho impressionante: o jornal Bancário, que hoje é feito todo eletronicamente, ele, o José Rodrigues e o Imbiriba (Antonio Imbiriba da Rocha), os três faziam todo o jornal. A gente até colaborava, escrevíamos um artigo ou outro, mas eram os três que faziam tudo mesmo.
Renato: E eles eram diretores do Sindicato?
Edmílson: Não, nenhum deles. O Imbiriba era do Banco da Amazônia (Basa) e foi, antes de 64, Deputado Estadual lá no Pará, acho que pelo PTB. Depois do golpe ele veio para o Rio de Janeiro. E, tanto ele como o Roberto Martins, nunca quiseram ser diretores do Sindicato. Na verdade, eles atuavam como assessores da diretoria na minha gestão.
Renato: Mas em que condições? Eles tinham liberação dos bancos? Recebiam pela assessoria que prestavam?
Edmílson: Não, eles não eram remunerados nem tinham liberação dos bancos. Cumpriam o expediente nos bancos em que trabalhavam e depois iam para o sindicato. Os diretores também não recebiam nada, eram só liberados para o trabalho sindical.
Renato: Mas o Sindicato tinha essa figura de assessor no quadro funcional?
Edmílson: Não. Eles estavam assessores para nos ajudar, porque eram mais experientes politicamente.
Fita II, lado A:
Renato: Você dizia que essas pessoas não eram funcionárias do sindicato; que atuavam como assessores como uma forma de militância.
Edmílson: É, pela sua experiência sindical, seu conhecimento, visão de mundo, eles ajudavam a diretoria. Então, o Roberto Martins, o Imbiriba e o José Rodrigues faziam o jornal Bancário: eles tinham uma capacidade de trabalho muito grande. Esse José Rodrigues, por exemplo, era poliglota: sabia Inglês, Francês, Russo, Alemão, latim e grego. Ele era do Banco Ítalo-Belga e era um estudioso: vivia estudando. Tinha uma visão muito forte de sindicalismo e política e era o revisor do jornal, além de fazer a coluna “De banco em banco”, muito lida e apreciada pelos bancários. Eles três faziam o jornal; revisavam as matérias; levavam para a gráfica e acompanhavam a impressão até de madrugada. E eles já faziam isso antes da minha gestão: desde a direção anterior, a do Guedes, que eles assessoravam a diretoria do sindicato. O Zé Rodrigues era um bravo. Ele enfrentava a direção do Banco Ítalo-Belga, com suas arbitrariedades, sozinho e, fiel às suas convicções, morreu vítima da opressão dos banqueiros e da ditadura. O Zé Rodrigues merece a homenagem da categoria bancária. Se a geração de hoje o conhecesse o admiraria muito.
Renato: Mas você vinha falando daquela conjuntura anterior, quando você e outros começaram a se formar sindicalmente: como foi isso?
Edmílson: Eu dizia que aquela efervescência do movimento sindical do início da década de 60 influenciou muito na minha participação. Isso e as mudanças na orientação da Igreja Católica, o incentivo do Concílio Vaticano II pela participação dos cristãos na mudança do mundo, nos movimentos sociais, sindicais e populares. E foi assim que eu me conscientizei e iniciei a minha atuação, me aproximei do movimento sindical e comecei a ter uma participação mais de frente, pois, até aquele momento, (1961, 62) eu era sindicalizado e participava das greves, mas não tinha muito envolvimento. A partir de 1963 é que eu comecei a participar das assembléias, das reuniões de banco, do sindicato. Mas, aí, veio o Golpe de 64, as perseguições e a debandada geral: Palhano e Viégas foram para o exílio; Pereirinha e Campbell foram presos. Daqueles que tinham uma atuação mais de frente, os que não se exilaram foram presos. O Olympio de Melo o único que não foi preso nem se exilou, mas, acho que, por ele ter sido Juiz Classista no Tribunal Superior do Trabalho, é que não fizeram nada com ele. Mas, mesmo assim, também não pode ter mais atuação nenhuma. Então esse pessoal todo foi banido do movimento, restando uma militância que não estava à frente da direção do sindicato: aquela militância dos piquetes, das comissões sindicais de banco, que, por não estarem à frente do sindicato, não eram muito visados pela repressão. Então, Degerando, Fagundes, Jorge Couto, Percinoto, Barata, José Rodrigues, além do pessoal mais ligado à direita, como eram o Laécio, o Cardoso, o Guedes.
Renato: Estes também se organizavam como católicos lá no sindicato?
Edmílson: Sim, mas era um grupo mais conservador. Alguns eram anti-comunistas.
Renato: Havia algum outro grupo de católicos mais progressistas que atuavam organizadamente no sindicato?
Edmílson: Atuando organizadamente, não. No Sindicato dos Bancários, atuando organizadamente só os católicos mais conservadores, mais à direita: eles se organizavam em torno da Associação de Bancários Católicos.
Renato: Que já vinha de uma tradição mais antiga, não é?
Edmílson: É, era mais antiga. Eles tinham uma capacidade extraordinária de reunir bancários católicos. Todo ano, no dia de Corpus Christi, essa Associação, onde estavam o Guedes, o Laécio, o Alceu João Batista, Xerez, Cardoso e outros, reunia 10 mil bancários na Igreja da Candelária para fazer a Páscoa dos Bancários: tinha uma missa e todos comungavam. Mas, naquela época, eu já criticava essa prática de vivência cristã, que não se comprometia em nada com a mudança do mundo, da sociedade. Assumiam, simplesmente, essa coisa muito ritualística.
Maria José: Obrigatória, não é? Isto é, é um mandamento da Igreja Católica: confessar e comungar pelo menos uma vez por ano, na Páscoa da ressurreição.
Edmílson: É, obrigatória e superficial, sem compromisso de mudança. A igreja progressista, a igreja realmente comprometida com Cristo, sempre disse que Cristo foi crucificado justamente por seu compromisso com o mundo, com a humanidade, com as mudanças. E foram aqueles que não aceitavam mudanças na sociedade daquela época que o mataram. Como matam até hoje, como mataram o Che Guevara e matam muitos até hoje. Nós já criticávamos muito isso: não tem sentido ser católico, comungar e ir à missa todo domingo e não se comprometer com a mudança da sociedade: é uma contradição. E nessa época eu já criticava isso: esse pessoal que se diz cristão, que vai à Candelária, descomprometido com o movimento sindical para mudar a história dos trabalhadores, dos bancários. Eu dizia aos meus companheiros da Igreja: quem eu vejo participar são os marxistas, que são ateus, mas participam de corpo e alma.
Maria José: Mas nessa época já havia, como o bispo de São Paulo, Dom Evaristo, cristãos comprometidos.
Edmílson: É, havia, mas no Sindicato, o que havia mais organizado eram os conservadores.
Maria José: E o Edmilson, como militante cristão lá no Sindicato, atuava sozinho.
Edmílson: E, depois de 64, os que restaram da militância sindical eram aqueles formados nos piquetes, que se reaglutinaram e pressionaram para que houvesse eleição, pois o sindicato estava sob intervenção. Foi exatamente depois do golpe de 64, com a intervenção, que entrou esse pessoal ligado à Associação de Bancários Católicos, como o Alceu João Batista. Ele não apareceu como interventor, mas influiu na indicação dos interventores, porque ele era liderança desse movimento. E o Guedes estava junto desse grupo. Mas em 66, depois do golpe, havia ainda alguma margem de atuação dos movimentos sociais, até pelas contradições e disputas internas entre os grupos que apoiaram o Golpe de 64: Entre os militares e os civis; entre os grupos de pressão, Lacerda. Então, diante da pressão, eles concordaram em estabelecer uma eleição. Aí, se formaram duas chapas: Uma encabeçada pelo José de Andrade Guedes, onde entraram o Alceu João Batista, o Zimerman, o Laécio, esse pessoal mais conservador. E uma outra, do pessoal da esquerda, era encabeçada pelo Jales Assunção. Tanto o Guedes quanto o Jales eram do Banco do Brasil. Quando houve a eleição, a categoria votou em peso na chapa mais progressista, porque os componentes da outra chapa não tinham tradição sindical na categoria: eles nunca ocuparam direção sindical, nunca ganharam uma eleição na categoria. Mas, terminada a eleição, como eles viram que iam perder, o delegado do trabalho mandou anular a eleição, sem sequer permitir a abertura das urnas para a contagem dos votos. Anulada a eleição, esse mesmo delegado regional do trabalho chamou os representantes das duas chapas e disse: só vai ter nova eleição se houver chapa única. Não pode haver disputa, vocês têm que se acertar. A questão, então, era garantir a presença dessa direita na direção do Sindicato. Naquele momento houve muita discussão, muitas divergências, mas depois de uma avaliação de ordem mais política, mais geral, de que não tinha como enfrentar a ditadura “no peito e na raça”. Ia morrer todo mundo, pois eles vieram para ficar, pelo menos por algum tempo. E se chegou à conclusão de que era melhor compor do que manter o Sindicato sob intervenção. E fomos negociar a chapa com o pessoal da direita.
Renato: Nessa época não houve divisão no campo da esquerda?
Edmílson: Não, a esquerda estava unida, junta. Naquela época a hegemonia era do PCbão. Além do Partidão, havia o PCBR, do Mariguhella e o PCdoB, que ainda eram muito fracos, não tinham atuação nos bancários. O Toledo, depois, foi para o PCdoB, mas ele era sozinho. As divisões vieram depois, mas as discussões de fundo já estavam colocadas. Se avaliou muito sobre se nós tínhamos condições para fazer um enfrentamento mais aberto à ditadura. E os militantes da Igreja Católica - como o pessoal da Ação Católica Operária (ACO), da Juventude Operária Católica (JOC), da Juventude Universitária Católica (JUC), os bispos mais progressistas - chegamos à conclusão, inclusive, de que não tínhamos condições para dar passos mais ousados. Como o povo não estava preparado para esse enfrentamento, não adiantava as lideranças radicalizarem que acabariam indo à frente sozinhos. Vão “levar pau” sozinhos. Precisávamos é construir a resistência, ver os caminhos que poderíamos tomar. Nós dizíamos: “vamos ter de engolir muitos sapos”. E optamos por negociar com nossos adversários para não ficarmos isolados do povo, que é o que interessava à ditadura. Decidimos que não íamos perder nosso espaço junto ao povo, junto à categoria bancária, que iríamos continuar nosso trabalho, mais devagar, mas consistente. E fomos negociar a chapa, chamamos todo mundo e fomos negociar. Nessa época eu não participava diretamente dessas negociações, mas o pessoal me contava. Tinha o Fagundes, companheiro muito valoroso nesta década de 60. Ele é pouco valorizado, mas foi um cara importantíssimo: dedicado, aguerrido, participante nessas horas de dificuldades. Trabalhávamos na mesma agência e conversávamos sobre tudo. Ele era um cristão marxista. Era espírita, até hoje é. E me colocava por dentro de tudo. As duas partes negociaram e concordaram no seguinte: o Jales e o Guedes, que encabeçavam as duas chapas, concordaram em não vir como cabeça de chapa. O grupo do Guedes apresentou o Ney Pimenta, o Cardoso, e o Orlando Freitas Gomes. E o nosso pessoal colocou o Roberto Percinoto e o Mauro Cavalcante. Nessa época a executiva era composta por cinco diretores. O mandato era de dois anos, gestão 67 a 68. A intervenção, feita em 64, tinha se prolongado até esse ano de 66. Essa chapa toma posse no final de 66, em dezembro, fruto dessa conciliação. Então, a militância dos dois grupos se juntou para assessorar essa diretoria, que era pouco experiente.
Fita II, lado B:
Edmílson: Então, como eu dizia, essa diretoria, que era encabeçada pelo Ney Pimenta, era frágil. E o pessoal resolveu acompanhar, de perto, a atuação dela. Então, nós fazíamos reuniões semanais no Sindicato com todo mundo para monitorar e assessorar a gestão dessa diretoria. E discutia-se desde os problemas da categoria até as questões administrativas. E cada um queria dar sua opinião, as reuniões eram intermináveis, acabavam tarde. Mas as questões discutidas, as propostas, acabavam não sendo encaminhadas pela diretoria, onde o grupo deles, que era menor e menos representativo, tinha maioria. E o Percinoto, o Mauro e o Degerando, que estava liberado pela Federação, mas fazia trabalho de base lá no Sindicato, se destacavam por sua atuação. Eles saíam para a rua, com a bandinha, iam de porta em porta visitando os bancos, no centro e nos bairros. E, nessa época, isso era uma atuação fantástica.
Renato: Você me falou de um caso de desfalque no Sindicato, como é essa história?
Edmílson: Eu não vou citar nomes, mas era pessoa do Sindicato, ligada a esse grupo mais conservador, que, como se descobriu e comprovou, havia desviado um dinheiro do sindicato. E o caso foi apurado, o sujeito reconheceu, assumiu a culpa, disse que pagava e tal. Mas, e aí? O quê fazer com ele? Esse era o impasse: ele é denunciado, expulso da direção e demitido, com a declaração da diretoria que o afastava por roubo ou então a gente negocia com ele, que paga o que deve ao Sindicato e renuncia. O problema era que, se fosse denunciado, teria que ser comunicado o motivo à Delegacia Regional do Trabalho, o que certamente abria espaço para o Ministério decretar nova intervenção na entidade e afastando a diretoria toda por corrupção. Além disso, os banqueiros também poderiam se aproveitar disso para demitir o bancário e desmoralizar o Sindicato. Então, optou-se pela negociação com ele, que ressarciu o sindicato e se exonerou. Mas você não cite nomes, por favor.
Renato: Claro. A descrição da situação é que é interessante.
Edmílson: É, muito interessante, pois o que importava ali era manter o espaço da categoria. A questão deixou de ser moralista para ser política.
Renato: Você cita no seu livro a realização de uma Convenção dos Bancários em julho de 1967, e a Segunda Conferência Nacional de Dirigentes Sindicais, em novembro do mesmo ano, ambas no Sindicato dos Bancários. E geralmente não se tem idéia de que o movimento sindical, nessa época, realizasse grandes Encontros. Você pode nos falar um pouco disso?
Edmílson: É, eu tenho, inclusive, algumas matérias de jornais sobre esse assunto. Como você sabe, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro era uma referência nacional, não só para os bancários. Aqui, no Rio, era o centro dos acontecimentos políticos e culturais naquela época.
Renato: Como esses Encontros eram nacionais, como vocês se relacionavam com a delegação de São Paulo? Havia lideranças importantes que vinham de lá?
Edmílson: Havia muita colaboração, mas, depois do golpe de 64, São Paulo passou um período meio apagado em termos de movimento sindical.
Renato: Em 1968 também houve uma Convenção Interestadual da Federação e um Encontro Nacional, em julho, realizado em São Paulo. Havia muitos Encontros nessa época, mesmo depois do Golpe de 64?
Edmílson: Sim, porque, como eu falei, entre 66 e final de 68 houve um período de efervescência política e cultural, pois a ditadura ainda não estava consolidada. Foi justamente o AI5, decretado em dezembro de 1968, que consolidou a ditadura, como se diz, “o golpe dentro do golpe”, quando assume o grupo mais linha-dura do General Médici. Mas, neste período de 1966 até final de 68, houve muita efervescência política: os estudantes organizaram a famosa “Passeata dos Cem Mil”, o movimento de trabalhadores se manifestando nacionalmente, etc. A Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), por exemplo, foi fundada neste período, num congresso realizado, inclusive, lá no nosso sindicato.
Renato: Você também cita em seu livro que, em 71, três anos depois do AI5, já na sua gestão no sindicato, vocês faziam reuniões por banco com a participação de 60, 70 bancários. Como foi isso?
Edmílson: Pois é, a explicação é a seguinte: quando acabou aquela gestão de 1967 a 68, houve uma mudança nos Estatutos do Sindicato e o mandato passou a ser de três anos: 1968 a 71. Então, o pessoal fez um acordo com o José de Andrade Guedes, que, apesar de ter apoiado o golpe, estava desencantado com o regime e se afastou daquele grupo e se aproximou do nosso grupo. Então, o pessoal chamou ele para encabeçar uma chapa, mas, agora, com mais nomes comprometidos com o movimento sindical mais atuante. Assim, continuavam o Mauro, o Percinoto, o Degerando. Entrou uma indicação do Auri do Banco Lar Brasileiro, que era o Manoel Messias, o Fagundes, o Augusto César, do Banerj. Eu já entrava aí, como Suplente do Conselho Fiscal, com a Maria Emília. Ainda foi uma composição, onde o Laécio, o Sodré e o Ney Pimenta também participavam, mas agora sem expressão na chapa. Foi uma composição melhorada, mas o presidente ainda tinha muito poder, o Guedes era muito hábil, e manipulava. Era um período difícil, pois havia muita infiltração de gente do aparato repressivo nos sindicatos, inclusive o nosso. E o Sindicato foi se burocratizando.
Renato: Como era isso?
Edmílson: Por exemplo: assuntos relativos aos funcionários, se gastavam reuniões e mais reuniões discutindo a questão. O Guedes manipulava, com o poder da presidência que ocupava, e o pessoal ficava atolado na burocracia e o movimento junto à categoria ficava em segundo plano. Dessa forma, foi uma gestão relativamente tranqüila, mas sem muita ação sindical. A gente fazia muitos Encontros, mas era só coisa de cúpula, não repercutia na base.
Renato: Mas nesses Encontros tinha disputas de projetos políticos, de visões de mundo?
Edmílson: Tinha sim, mas era tudo muito misturado, tinha muito policial infiltrado, ficava todo mundo “pisando-em-ovos”, pois ninguém sabia quem era quem. Os movimentos estavam todos infiltrados pelo SNI. Mas aquela diretoria do Guedes, que nós achamos que poderia ser um passo à frente, foi muito complicada, controlada pela burocracia. E, para agravar ainda mais a situação, no primeiro semestre de 69, logo depois da decretação do AI5, destituíram o Percinoto, o Degerando e o Augusto César. E em agosto do mesmo ano, são presos pelo DOPS o Percinoto, o Auri, o Toledo, o Hélio França, os irmãos Marcos e José de carvalho e o Marchesini, todos nos locais de trabalho. E, com isso, o pessoal mais consistente da diretoria ficava perdido quanto à atuação no sindicato: levava para o grupo discutir, mas o momento era mesmo difícil. O Fagundes, por exemplo, começou a ter umas crises de vômitos. Foi ao médico e ele perguntou como estava no trabalho. Quando ele contou, o médico falou que, como ele estava trabalhando naquele clima, sempre contrariado, tendo que “engolir sapos” o tempo todo, os sapos que ele tinha que engolir estavam voltando, era a forma dele colocar para fora aquilo tudo por que estava passando no sindicato.
Renato: Foi isso que estimulou o pessoal a articular a sua chapa, em 1971, com um perfil mais sólido?
Edmílson: É. Dentro da relatividade das coisas, com um perfil melhor. O Fagundes, o Péricles e o Jorge Couto pressionavam por uma composição melhor, mas quem viria como cabeça de chapa? O presidente, como nós vimos, era um cargo fundamental, mas não havia um nome viável naquele quadro. Aí, sugeriram o meu nome e o pessoal da esquerda toda aceitou. Aí o Fagundes chegou no banco e me falou: olha, nós chegamos à conclusão que o melhor nome para cabeça de chapa é o seu. E eu levei um susto: “mas eu não tenho condições, não tenho experiência para assumir isso não”. E fui lá, numa reunião, onde eles colocaram a situação: “olha, nós precisamos de um cabeça de chapa que amplie, que não seja visado, que tenha capacidade de diálogo e seja correto e respeitado. E, nessas condições, achamos que o melhor nome é o seu”. Eu coloquei meus argumentos, então veio a pergunta: “pois então, qual é o nome que você sugere, dentro desse perfil que nós traçamos?”. Como eu não tinha a resposta, acabei sendo convencido a aceitar aquele enorme desafio. E fomos eleitos para o mandato de 1971 a 1974 com uma expressiva votação da categoria (cerca de 70% dos votos). Mas o Ministério do Trabalho impediu que o Jorge Couto, o Degerando, o Nelson Ferreira Pedrosa, o Vitoriano Xerez, o Péricles, o Nilson Tavares e o Fagundes tomassem posse. Isso foi um baque, mas, mesmo assim, nós tomamos posse. Com um presidente pouco conhecido e com o expurgo dos mais ligados à esquerda, os conservadores e os órgãos de repressão, penso eu, deviam achar que não havia mais riscos de ter uma direção que incomodasse, sobretudo depois de alguns anos sem problemas com o Sindicato dos Bancários, devido aos fatos que já mencionei. Mas, quando começamos nosso mandato, e tiramos a seguinte estratégia: Levantamos algumas ações que o Sindicato havia ganhado na justiça do trabalho e que os banqueiros, acobertados pela política econômica do regime, não cumpriam, e fomos cobrar das direções dos bancos. Com a resposta dos bancos, positiva ou negativa, fazíamos boletins e íamos aos locais de trabalho, conversando com os bancários e convocando os companheiros para reuniões na sede do Sindicato. O resultado é que, de janeiro a fevereiro, período em que não há campanha salarial, conseguimos realizar reuniões por banco com a presença de 50 a 60 bancários, apesar de todo o medo causado pela repressão. Organizamos o Sindicato e “botamos o bloco nas ruas”. Tudo que acontecia nos bancos, o sindicato estava lá: demissões, perseguição de trabalhador, trabalho fora do horário, até bebedor quebrado, o sindicato se fazia presente. Visitávamos as agências e departamentos, víamos as condições de trabalho do pessoal e, quando havia alguma irregularidade, denunciávamos e procurávamos as direções dos bancos, cobrávamos soluções dos banqueiros, da Delegacia do Trabalho e das autoridades, como você poderá ver mais detalhadamente no meu livro. Assim, eles devem ter percebido que cometeram um erro de avaliação ao dar posse àquela diretoria. E, quatro meses depois da nossa posse, o Sindicato sofreu nova intervenção. Eu, Imbiriba, Xerez e o Roberto Martins fomos presos e os demais diretores destituídos.
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