sexta-feira, 8 de julho de 2011

SAUDADES DO BANCO DO BRASIL

SAUDADES DO BANCO DO BRASIL
Edmílson Martins (2006)

Tenho saudades do Banco do Brasil do passado. Não é saudosismo, mas saudade terna, memória viva, boas lembranças que bem poderiam iluminar o presente. Dizia-se que o banco era uma mãe. Havia verdades nessa observação, embora, em alguns momentos, agisse como madrasta, digamos, generosa. Mas, de um modo geral, o banco era pai e mãe, generoso para com seus funcionários, valorizados como parte integrante do seu patrimônio.
Toda a trajetória de vida no Banco do Brasil começava na preparação para o concurso. Eram pelo menos quatro anos de estudo específico - a duração de um curso universitário. Não havia exigência de conclusão do Ensino Médio, (ou Científico, naquela época). Muitos foram aprovados no concurso apenas com a conclusão do Curso Ginasial ( hoje, Fundamental). Mas as matérias exigidas eram as do Ensino Médio: Português, Matemática, Contabilidade, Francês, Inglês e datilografia. Era um concurso difícil. Os candidatos tinham que estudar muito. Quem podia pagava cursinho, quem não podia estudava sozinho. Eu, por exemplo, estudei sozinho. Foram longas noites e longos fins de semana de estudo. As provas eram assim: uma redação, questões de gramática, dez problemas de Matemática, dez questões de Contabilidade, textos de Inglês e Francês para traduzir. Datilografia, 150 toques, mínimo, por minuto, com duração de 6 minutos. As provas valiam 100 pontos cada, com média geral de 60 pontos. Todos os rascunhos acompanhavam as provas e, em Matemática, os problemas tinham que ser desenvolvidos no rascunho.
A aprovação no concurso era uma grande emoção, porque era a realização de um sonho. Era, talvez, o melhor emprego do país. A emoção era ampla. Emocionava-se o candidato, emocionava-se a família, emocionavam-se os amigos. Lembro-me que meus pais espalharam entre todos os seus amigos e parentes: “Edmílson, nosso filho, passou no concurso do Banco do Brasil!”. Era uma festa.
No banco, a emoção da posse e do primeiro dia de trabalho. O ambiente era de boas vindas, com apresentações aos colegas mais antigos, que tratavam de favorecer a ambientação do novo colega. O ambiente de trabalho facilitava o relacionamento entre os colegas, era fraterno. O banco pagava bem. Eram três salários de gratificação anual, mais o décimo terceiro e, às vezes, tinha uma gratificação extra. E havia licença-prêmio- três meses a cada cinco anos-, cinco dias de abono por ano e aos dez anos de trabalho, o funcionário tinha direito a se inscrever para adquirir o financiamento da casa própria pela Previ. O empréstimo acontecia, geralmente, entre um e dois anos após a inscrição. Havia um Quadro de carreira regular, com promoções automáticas.
Além das vantagens financeiras e das boas condições de trabalho, o novo funcionário já encontrava no Banco do Brasil uma tradição de luta do funcionalismo em defesa dos seus direitos e do banco, enquanto instituição dedicada ao serviço do povo e ao desenvolvimento do país. A Previ, a Cassi , outras organizações sociais e a manutenção, por muito tempo, de uma estrutura salarial sólida, são frutos dessa luta, empreendida através da história.. Foram muitos, e acho que ainda hoje são, os lideres sindicais, políticos, sociais e os valores acadêmicos, artísticos e literários surgidos entre o funcionalismo do Banco do Brasil. Não foi por acaso que a repressão da ditadura militar agiu com tanta violência dentro do banco, punindo, demitindo e prendendo funcionários ativistas.
Tomei posse no banco em 1963, na Agência Madureira-RJ, depois transferido para a Agência Centro-Rio, onde me aposentei em 1987. Participei ativamente do movimento sindical e até fui presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, em 1972 – bem no tempo da “ditadura escancarada”(como diz Hélio Gaspare). Foi em função dessa participação que escrevi o livro “Bancários – Anos de resistência -1964-1979”, editado pelo Sindicato dos Bancários –RJ.
Foram 30 anos de vida bancária, com 24 anos no Banco do Brasil. Foram 30 anos de aprendizado, de boa convivência, de luta, de alegrias e decepções, de vitórias e derrotas, sem dúvida, com saldo positivo. Valeu a pena? Respondo com o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Com as mudanças havidas no banco e no tratamento aos seus funcionários, em decorrência da implantação do Sistema Neoliberal, que prioriza o lucro, em detrimento dos valores humanos, a situação mudou... pra pior. Não sei se os colegas que se aposentarão no futuro guardarão as mesmas saudades que guardo do passado, como funcionário daquela instituição. Mas acho que o funcionalismo de hoje pode e deve lutar com todas as suas forças e a capacidade que tem, para que a sua vida no banco deixe saudades que sejam memória viva para as futuras gerações. O Banco do Brasil sempre foi, e creio que é e sempre será um celeiro de cidadãos e cidadãs conscientes da sua cidadania e dedicados ao crescimento humano da nossa sociedade e ao desenvolvimento do nosso país. Que assim seja .
Edmílson Martins de Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2006.

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