(Depoimento do companheiro e amigo Elso Rodrigues-Banco Real) (2010(
Esse companheiro, uma grande liderança no Banco Ítalo Belga e na categoria bancária, pagou o preço pelo seu destemido enfrentamento aos poderosos.
No sindicato dos bancários, editava, juntamente com Roberto Martins e Imbiriba da Rocha, o Jornal Bancário, nas gestões de José de Andrade Guedes e de Edmílson Martins (1968/72)
Naquela época, imperava a linha dura do regime militar. Zé Rodrigues, como era conhecido, criou a coluna “De Banco em Banco”, com muito sucesso na categoria. Nela, criticava duramente os banqueiros, que, apadrinhados pelo regime, praticavam arbitrariedades dentro dos bancos e, nas entrelinhas, dava espetadelas no modelo econômico do governo militar, que arrochava os trabalhadores e os amordaçava.
Zé Rodrigues tinha uma profunda consciência de classe e foi um dos primeiros a clamar pela anistia no Brasil, através do Jornal Bancário. Essa sua atuação destemida, através do sindicato, causou grande reação da parte dos opressores. O Banco Ítalo Belga, onde trabalhou durante quase trinta anos, demitiu-o por justa causa, usando os recursos do sistema repressor
Mesmo assim, fora do banco, perseguido pelo regime e incompreendido pelos familiares, continuou na luta pela libertação dos companheiros diretores destituídos do sindicato pela intervenção, presos e processados na Segunda Auditoria da Marinha. O Zé Rodrigues programou várias campanhas de finanças para custear os honorários dos advogados que defendiam os nossos companheiros. Resistiu o quanto pôde, enquanto manteve vivo o sonho de ver o país livre, democrático e justo.
Ao se sentir frustrado em seus sonhos, sofreu uma forte pressão psicológica. Perseguido por todos os lados, foi forçado a desistir da vida e, assim, praticou o seu último ato de protesto contra a ditadura militar.
Procurou-me, numa tarde triste e chuvosa, do ano de 1975, lá Banco Real, como, aliás, vinha fazendo todos os dias, e me disse que não estava mais agüentando a pressão e que, inclusive, os familiares o culpavam pelas dificuldades que estavam vivendo. Olhou bem para mim e disse:
- Vim me despedir de você.
- Você vai viajar – perguntei.
- Mais ou menos isso – respondeu.
- Não se afaste de mim agora, preciso de sua orientação – pedi-lhe.
- Fique tranqüilo, eu sempre estarei com você – retrucou.
Eu, embora estranhando aquela conversa, bem diferentes das anteriores, fiquei tranqüilo e o aconselhei a ir para casa descansar. No dia seguinte, ele não apareceu, no outro dia também não. No terceiro dia, chegou a notícia de que o Zé fora encontrado enforcado, numa casa em construção, na Ilha do Governador, onde residia. Havia no seu peito uma faixa que dizia: ANISTIA.
Tombava ali aquele grande guerreiro, sendo mais uma vítima do perverso regime político implantado no Brasil, que trouxe muitos problemas para o povo. brasileiro
O nosso companheiro José Rodrigues foi um bravo, um herói de nosso povo, da categoria bancária e da classe trabalhadora. Ele merece ser reverenciado pelos trabalhadores e pela nação brasileira.
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