sábado, 10 de setembro de 2011

O elogio da violência e da morte

O ELOGIO DA VIOLÊNCIA E DA MORTE
Ou “o assassinato de Bin Laden”
Edmílson Martins (08/052011)
No século VI antes de Cristo, o profeta Isaías já proclamava a vitória da vida sobre a morte. “O Senhor fará desaparecer a morte para sempre” (Is 15,25.8) Jesus, no momento da sua prisão, assim falou: “Quem usa a espada, morrerá pela espada, advertindo o discípulo Simão Pedro, que puxou a espada e cortou a orelha de um dos soldados, tentando reagir à prisão. Jesus reagiu àquela violência de forma pacífica e ressuscitou para mostrar que a vida prevalece sobre a morte. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos”- dissera o Mestre em outra ocasião (Lc 20,38).
Paulo apóstolo, que com violência perseguira os cristãos, convertido alguns anos após a ressurreição de Jesus, interroga e desafia: “Morte, onde está tua vitória?” Morte, onde está o teu grilhão?”(1cor 15,55-56).
No Século XX, surgiram os profetas da não-violência: Gandhi, líder pacifista indiano –morto por um ato violento-, Martin Luther King, pastor e líder pacifista americano- também vítima da violência-, Dom Helder Câmara, bispo da Igreja Católica, entre outros. Eles pregaram com muita veemência a luta pela paz, através de métodos pacíficos, mostrando a necessidade da compreensão e respeito entre os seres humanos. Ensinaram que os homens foram criados para a vida em liberdade, no clima de fraternidade e partilha.
Podemos ver na Bíblia, no Gênese, que Deus criou a vida e que o ser humano foi criado para viver em harmonia consigo mesmo, com o seu próximo, com a natureza e com o Criador. A morte aparece quando o homem torna-se autossuficiente, transformando as relações de fraternidade em relações de poder e opressão e a relação de partilha em exploração do homem pelo homem.
Mas o ser humano, colocado no Jardim do Edem para administrá-lo e cultivá-lo, pouco aprendeu sobre a valorização e cultivo da vida. Continua vivendo o culto da morte, apoiando projetos e ações violentas que matam milhares de pessoas todos os dias.
E assim, a nação mais poderosa e autossuficiente da terra, acompanhada de outras nações também poderosas, espalha a violência por todos os recantos, hipocritamente em nome da paz e, se dizendo cristã, em nome de Deus.
Na segunda metade do Século XX, a partir de 1960, fomentou ditaduras na América Latina, usando a mentira do combate ao comunismo, com opressão, perseguição, torturas e mortes; ocupou militarmente o Vietnam do Sul, provocando uma das guerras mais sangrentas da História, com a crueldade e matança de milhares de vietnamitas e morte de muitos jovens americanos; invadiu o mundo árabe, com ocupações violentas no Iraque e Afeganistão, implantando o terror, com a morte de milhares de pessoas.
Tudo isso com fundamentações falsas e mentirosas, trazendo como conseqüência outras ações violentas, como a tragédia das torres gêmeas em Nova Iorque, em 2001 e muitos outros atentados terroristas pelo mundo afora.
Agora esse país, além de fomentar guerras e sistemas econômicos perniciosos às comunidades humanas e à convivência social, vangloria-se pelo assassinato do suposto líder terrorista Bin Laden e estimula o culto da morte, com o presidente Obama sendo popularizado como herói, por ser o cérebro desse assassinato, atentado tão terrorista quanto o atribuído ao Bin Laden.
Hoje, todos os veículos de comunicação são utilizados para valorizar a morte como vitória da paz, influenciando milhões de pessoas em todo o planeta. O mundo torna-se uma grande arena do Império Romano, quando as multidões, incentivadas pelo imperador, divertiam-se com os leões estrangulando pessoas ou com os gladiadores se matando em lutas cruéis.
Com essa estupidez o imperador se tornava popular, como hoje o presidente Obama se torna popular com a prática de um ato cruel e sanguinário.
Esse esquema de violência organizado por essas nações poderosas, usado como arma de dominação, está causando estragos nas relações humanas em todo o planeta. O instinto de violência disseminado por esse esquema apodera-se da sociedade, provocando o caos generalizado. E as pessoas, sem saber por que, se agridem e se matam.
Como ensina o Documento de Aparecida, organizado pela Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, há que se escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte. Caminhos da morte são os que traçam uma cultura animada pelos ídolos do poder, da riqueza e da ganância, que usam a violência como arma para suas conquistas. Caminhos de vida são os que traçam uma cultura animada pela pregação e realização da paz, da justiça, da não-violência e da harmonia entre os seres humanos, diz o documento.
O elogio da violência, ou seja, o culto da crueldade não pode continuar, porque valoriza os caminhos que traçam a cultura da morte. É preciso valorizar a cultura da vida e respeitar a criatura humana, feita para viver na harmonia e na paz. “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”, disse Jesus Cristo.
A paz não se conquista com guerras ou confrontos violentos, mas com projetos que promovam o ser humano e a harmonia social. “Justiça é o novo nome da paz”, já disse o papa Paulo V1. E hoje, mais do que nunca, é necessário lutar para a construção de um mundo mais justo e fraterno, porque “Quem quer a paz luta pela Justiça”, advertiu o papa.

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