Edmilson Martins de Oliveira
O texto “Torre de Papel” do jornalista e hábil escritor Ivan Alves Filho, no qual ele narra como aprendeu a escrever, como escreve e porque escreve, inspirou-me contar o processo de aprendizagem que me levou a hoje escrever razoavelmente.
Infelizmente, não tive ambiente cultural que me favorecesse o hábito de escrever. Até os doze anos de idade, vivi na roça, no seco e isolado sertão do Ceará, distante da escola e dos livros.
Alfabetizado, aos doze anos, iniciei estudos na cidade, mas o acesso aos livros e à literatura continuou precário até à conclusão do Segundo Grau. Até essa fase, já aos 21 anos, tinha lido dois livros (Vida de Jesus, de Plínio Salgado e “A Carne”, de Júlio Ribeiro) e alguns textos literários inseridos nos livros de gramática. Na escola, o incentivo à leitura era quase nenhum.
Escrever, para mim, era muito embaraçoso. Não conseguia dissertar sobre qualquer assunto. Ainda me lembro quando fiz o primeiro concurso. Parte da prova era uma dissertação. Foi um terror. Não consegui escrever cinco linhas. Sabia tudo de gramática, mas redigir eu não sabia. Entendi que tinha que fazer alguma coisa para aprender a escrever. A motivação eram os concursos que eu precisava enfrentar.
Já no Rio de Janeiro, em 1960, comentava com amigos sobre a minha dificuldade. Eles me recomendaram muita leitura. E me diziam: “leia Machado de Assis”. E depois, “leia Machado de Assis”. E aí os mestres vieram em meu socorro. Não só Machado de Assis, mas José de Alencar, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Fernando Sabino, Millôr Fernandes e outros. Também muita leitura de jornais.
Em 1963, no concurso do Banco do Brasil, o tema para dissertação foi “A importância da cultura na vida moderna”. Suei frio. Valia 50 pontos. Salvei-me na parte gramatical. Acertei tudo. Com muita dificuldade, fiz a dissertação. Consegui quinze pontos. Passei no concurso.
A essa altura, ler e escrever já não era uma obrigação, mas uma necessidade vital e um prazer. E isso até me motivou a fazer o curso de Português/Literatura. E aí intensifiquei a prática de exercícios de redação. Passei a escrever textos para o jornal do movimento da Igreja em que participava (Congregação Mariana) e para o jornal do sindicato dos bancários. Para o jornal da Igreja, eu fazia o editorial, com a eficiente revisão do Paulo Pacheco (de saudosa memória), que dominava com facilidade a Língua Portuguesa e escrevia muito bem. Era um craque em redação.
Gosto de escrever. Para mim, é uma forma de desenvolver o raciocínio e a criatividade, de aprofundar e comunicar visão de mundo. Na escrita tento colocar o que penso, o que vivo e vivi, sempre com a intenção de colaborar. Acho que o ato de escrever é um serviço. Tem um sentido social .
A escolha do tema tem que ser livre. Se determinarem o assunto sobre o qual tenho que escrever, fico atrapalhado. O tema tem que vir de dentro pra fora, do meu interior, da minha sensibilidade. Do contrário, posso até desenvolver o assunto proposto, mas sem sal, sem sabor.
Ainda hoje, confesso, não desenvolvo um texto com facilidade. Antes de escrever, fico matutando-o, organizando-o na cabeça durante horas e, às vezes, durante dias. A partir daí, começo a elaborá-lo. Faço e refaço o texto várias vezes, usando várias folhas de papel. Depois o levo para o computador. Digito, corrijo e modifico algumas vezes. Termino o texto, mas sempre o acho incompleto e fraco. Fico aguardando a opinião dos primeiros leitores, que, geralmente, são generosos na apreciação.
O processo de aprendizagem continua e creio que ainda vou aprender a escrever. Sei que ainda vou aprender. É uma questão de vontade, busca, exercício e tempo.
Rio, março de 2009
Edmilson Martins de Oliveira
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