segunda-feira, 30 de maio de 2022

RIVALIDADES E POLARIZAÇÕES

 

 

                            RIVALIDADES E POLARIZAÇÕES

                                                      Edmílson Martins

                                                      Maio/2022

 

No Ceará existem quatro grandes cidades: Fortaleza (capital), Sobral, Juazeiro do Norte e Crato. Entre as três últimas cidades, sempre houve uma espécie de competição. Cada uma querendo ser maior e mais importante, cultural, econômica e politicamente.

 

Entre Crato e Juazeiro, por longo tempo, houve acirrada rivalidade. Na década de 1950, morando em Crato, presenciei, muitas vezes, brigas de grupos juazeirenses e cratenses. Quando um grupo de jovens de Juazeiro ia ao Crato e se deparava com um grupo cratense, havia provocações e, em consequência, briga. O mesmo ocorria quando um grupo de Crato ia ao Juazeiro. Essa rivalidade tinha consequências: às vezes, terminava em mortes.

 

Eu tinha medo, quando eu ia a Juazeiro visitar parentes. Sempre evitava dizer que era de Crato, para não ouvir provocações. Quando alguém de Juazeiro, principalmente, jovem, ia ao Crato, geralmente, não se identificava como juazeirense. Mas em grupo a coisa era diferente.

 

Eu não entendia o porquê daquela rivalidade. Fui pesquisar e descobri  

que tudo tinha raízes históricas e se originava em torno da figura do padre Cícero Romão Batista, líder religioso e político, nascido em Crato, mas radicado em Juazeiro. E tudo começou quando Juazeiro, distrito de Crato, quis tornar-se independente. Com a discordância do prefeito de Crato, os comerciantes de Juazeiro passaram a não pagar impostos, gerando graves conflitos.

 

As rivalidades aprofundaram-se com as questões religiosas em torno das ações pastorais e políticas do padre Cícero. Ele foi punido pela Igreja, com suspensão da ordem, em 1894, acusado de manipulação da crença popular. Cresceu na população de Juazeiro e de romeiros de outros estados a crença de que o padre Cícero era santo, por causa dos milagres a ele atribuídos.

 

Na década de 1950, um padre de Crato escreveu um artigo num jornal da região, dizendo que o padre Cícero teria sido excomungado pela Igreja, era um impostor e que não teria realizado nenhum milagre. Por causa desse artigo, houve, em Juazeiro, grandes manifestações de desagravo e defesa do padre.

 

Aliás, as rivalidades, a nível mundial, são históricas e muito ligadas ao caráter do ser humano e à questão do poder. A Bíblia, no Gênese, que fala da criação do ser humano, já revelava a rivalidade entre Caim e Abel. Na História de Abrahão, há a questão de Ismael, que originou o povo palestino e Isaac, que originou o povo israelita. Sabemos do antagonismo entre esses dois povos. Há também rivalidades entres os filhos de Isaac, Esaú e Jacó. Também entre os filhos de Jacó, conforme a história de José do Egito.

 

Enfim, toda a história da humanidade está repleta de antagonismos, rivalidades e polarizações. E tudo acontece por causa da disputa pelo poder. Esse vírus do poder está entranhado na humanidade e nas sociedades organizadas, inclusive nas relações familiares e individuais. E isso, lamentavelmente, tem provocado guerras, tragédias e carnificinas. No romance “Romeu e Julieta”, Shakespeare revela a tragédia provocada pela polarização entre duas famílias.

 

Hoje, com as polarizações políticas, em torno da conquista do poder, vivemos essa situação das rivalidades. A disputa pelos cargos políticos, no sistema democrático, devia ser pacífica, respeitosa, tendo como objetivo os interesses do bem comum, da construção da sociedade justa e igualitária. Mas essa disputa tem gerado ódio, desavenças, inimizades, coisas bastante prejudiciais à convivência humana, que deve ser pacífica, terna e amorosa. Discordar, tudo bem, faz parte do crescimento humano. Mas discordar provocando ódio, violência, destruição só prejudica a construção da democracia e a paz entre os povos.

 

 

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