sexta-feira, 6 de maio de 2022

MÃE: SER SAGRADO

 

 

 

                         MÃE: SER SAGRADO

                                         Edmílson Martins

                                         Maio/2022

 

Na cultura popular, mãe sempre foi um ente sagrado. “Que ninguém toque na minha mãe”. É essa a advertência. E são muitos os exemplos de reação, quando alguém trata a mãe do outro com desdém, ou com palavras impublicáveis. Parafraseando Chico Buarque: se alguém desafia e bota a mãe no meio, é pernada a três por quatro, sem nem se despentear.

 

Lembro-me de que no ambiente de trabalho, quando alguém chamava outro de filho dessa ou daquela outra, mesmo de brincadeira, havia sempre uma advertência: “Mãe não, mãe é sagrado”. E logo paravam as brincadeiras.

 

Quando eu era criança, assisti a muitas brigas, por causa da mãe. Se um garoto xingava outro, por exemplo, de filho da puta, o pau quebrava. A briga começava e os dois rolavam pelo chão. E ainda havia os que provocavam, fazendo dois riscos no chão: “Aqui é sua mãe e aqui é a mãe dele”. Se um pisasse no risco que representava a mãe do outro, era briga com certeza.

 

Na cidade de Crato- Ceará, onde morei, certa vez houve um julgamento de um homem que matara outro. O advogado de defesa, muito esperto, assim falou:

- Senhor juiz, este homem merece complacência, porque foi induzido a matar o outro. A vítima o provocou muito, ofendendo a sua moral e da sua família. Chamou o acusado de filho duma égua, e mais senhor juiz e senhores jurados, chamou-o de filho da puta.

 

Um dia, Rinaldo, meu filho, com seis anos, chegou da rua aborrecido. Sentou-se, demonstrando tristeza. Aí, a Maria José perguntou:

- Meu filho, por que você está tristinho? O que houve?

Ele respondeu prontamente:

- O meu colega xingou você, me chamando de filho da puta.

- Você sabe o que é isso, meu filho – indagou a Maria José.

Ele respondeu, revelando sua intuição:

- Não, mas sei que é uma coisa feia. Ele ofendeu você. Não gostei.

 

Maria José, compreendendo a indignação do filho, tentou explicar o que aquilo significava, concluindo:

- Deixe pra lá, você sabe que eu não sou isso.

Esclarecido, ele voltou ao normal e foi brincar com os amigos.

 

Em 1972, quando fui preso pela ditadura, por causa de minhas atividades sindicais e políticas, o delegado que me interrogou me chamou de filho da puta. Naquele momento, lembrei-me do meu tempo de criança, o sangue subiu-me à cabeça e tive que contar até dez para não avançar sobre o delegado.

 

É muito forte essa ideia do sagrado em torno da figura da mãe. É uma tradição e vem desde os tempos antigos. Mãe é uma figura tão forte, que se tornou musa para os poetas. “Ela é a palavra mais linda/ Que um dia o poeta escreveu”. (Toquinho).  “Mãe, na sua graça, é eternidade. “Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca” (Carlos Drummond de Andrade).

 

Enfim, mãe é um ser misterioso, amado, considerado, cantado em verso e prosa, eternizado pelos poetas: “Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não se apaga”. (Drummond). “Mãe, renovadora e reveladora do mundo/A humanidade se renova no teu ventre”. (Cora Coralina).

 

Mãe, criada por Deus para ser ternura, brandura, tolerância, realmente, “não tem limite, é eterna, é luz que não se apaga”. Pela sua missão criadora, coragem e disposição de enfrentar dificuldades no processo da criação, merece ser amada e homenageada, com todo o carinho e respeito, sempre, todos os dias, meses e anos.

 

 

 

 

 

 

 

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