domingo, 5 de junho de 2022

política e POLÍTICA

 

 

 

                        política e POLÍTICA

 

                                      Edmílson Martins

                                      Junho/2022

 

Em 1978, por insistência de amigos, fui candidato a deputado estadual pelo então MDB, um dos dois únicos partidos criados pela ditadura. O partido tinha duas vertentes. Uma tradicional, conservadora, sem propostas de mudança e outra que desejava mudança, que propunha a luta pela democracia, combatendo a ditadura. Eu atuava nessa segunda posição, chamada de “Grupo dos Autênticos”.

 

Na verdade, eu atuava mesmo era nos Movimentos Populares da Igreja Católica e no Movimento Sindical. Mas com a intervenção no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, do qual eu era presidente, estava proibido pela ditadura de exercer cargo sindical. Proibido de exercer cargo sindical, mas não proibido de exercer mandato parlamentar. Apoiado pela família e por muitos outros amigos, aceitei a candidatura para ter mais condições de atuação na luta junto à população.

 

Naquele momento, para lutar pela reconquista da democracia, era importante um cargo parlamentar, por causa de algumas imunidades políticas constitucionais que esse cargo oferecia. A ditadura tinha imposto algumas restrições à liberdade de participação política, mas não pôde tirar todas as garantias constitucionais de atuação partidária.

 

Os governos da ditadura, com a máquina governamental, a força da repressão e controle da justiça eleitoral, conseguiam eleger a maioria de deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores. O esquema de corrupção política e eleitoral era generalizado.

 

No Rio de Janeiro, no MDB, a facção dominada pelo governador nomeado Chagas Freitas, estabelecera grande esquema de corrupção administrativa, política e eleitoral. Era o grupo dos conservadores e aliados da ditadura. Controlava o sistema eleitoral e elegia quem queria na apuração dos votos. Uma coisa escandalosa.

 

Na campanha eleitoral, eu e outros candidatos do grupo dos autênticos, combatíamos a corrupção e a ditadura, e pregávamos a reconquista da democracia, com ampla participação do povo. A conquista das liberdades sociais, dos direitos humanos, da moral, da ética e a construção de uma nova sociedade, com organização e participação dos movimentos sociais, eram as nossas propostas na campanha eleitoral.

 

Mas a política e os políticos, como ainda hoje, estavam muito corrompidos. Política como ciência moral normativa do governo da sociedade civil e como “a forma mais nobre de serviço à comunidade”, no dizer do papa Paulo VI, estava fora de moda. O que persistia, como hoje, era a política apequenada, servindo a interesses pessoais e de grupos econômicos poderosos.

 

E o pior é que quase toda a sociedade estava envolvida, e ainda está, no conceito errado de política e do fazer política. As campanhas eleitorais eram feitas na base das promessas e mentiras, enganando a população. Os acordos e alianças eram realizados, como são hoje, para adquirir votos e o poder a qualquer preço.

 

Na campanha, eu e os companheiros militantes denunciávamos esse jeito espúrio de fazer política. Tentávamos mostrar à população que essa prática era muito nociva, prejudicial à sociedade e que só atendia aos interesses da classe dominante, que só pensava, como hoje, em lucro e riqueza.

 

A população, contaminada pelo vírus da corrupção política, muito pouco ouvia a nossa pregação. E até mesmo candidatos e militantes do grupo autêntico do MDB achavam que, com aquele discurso, eu não teria votos. Preferiam adotar o discurso tradicional e corrompido. Não fui eleito. Mas os motivos foram outros, não o discurso.

 

Infelizmente, essa prática nefasta da pequena política continua hoje. As campanhas eleitorais, que deviam ser um processo de educação cidadã, colaborando para o crescimento social e político do povo, descambam sempre para a eleição de candidatos, a qualquer custo, com acordos e alianças espúrios e deprimentes. Até quando isso vai continuar? Quando o povo vai acordar?

 

 

 

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