quinta-feira, 25 de julho de 2019

FOGUEIRA DE SÃO JOÃO




            












    FOGUEIRA DE SÃO JOÃO
                               Edmílson Martins
                              Junho/2019

Todo ano, no dia 23 de junho, véspera do dia de São João, eu e alguns dos meus irmãos mais velhos éramos dispensados do trabalho da roça, para catarmos madeira para a fogueira.
            Íamos pelas capoeiras à procura de troncos secos de árvores. Quando não encontrávamos troncos suficientes, completávamos com madeira verde. Catávamos também talos secos para ajudar no acendimento da fogueira.
            Quando voltávamos pra casa, com vassouras do mato, ajudávamos nossas irmãs na varredura do vasto terreiro, onde à noite se realizaria a tão esperada festa junina. E logo após o preparo do terreiro, começava a montagem da grande fogueira, que, geralmente, tinha uns três metros de altura.
            Fazia parte das alegrias da festa, as roupas novas que nossa mãe fazia, principalmente, para as crianças e adolescentes. Eu e meus irmãos ficávamos todos muito felizes com a roupa que a minha mãe fazia e com as sandálias feitas pelo meu primo Antônio Domingos.
            Durante todo o dia, tudo se arrumava para os festejos, que começavam por volta das 19 horas.  Além do preparo do terreiro e da montagem da fogueira, as comidas típicas: Bolo de puba, pamonha, canjica de milho verde. E mais tarde, a batata doce e espigas de milho verde, assados nas brasas da fogueira.
            A fogueira já estava queimando, quando as pessoas começavam a chegar e se cumprimentavam, iniciando alegres e longas conversas. As crianças brincavam de roda e soltavam estalinhos, os adultos soltavam balão e explodiam fogos. E começavam os comes-e-bebes.
            Mais tarde, em volta da fogueira, crianças e jovens, perante São João, se comprometiam. E ali, muitos namoros começavam, namoros que muitas vezes acabavam em casamentos. E seguiam os rituais.
 As crianças: “São Pedro dormiu, São João acordou, você vai ser meu padrinho (ou madrinha) que São João mandou”.
Os jovens: “São Pedro dormiu, São João acordou, você vai ser meu compadre (ou comadre) que São João mandou”.
            Assim, a festa rolava até de madrugada, ou ao amanhecer do dia. Às vezes, tinha sanfoneiros, zabumbeiros e repentistas, que meu pai convidava, para alegrar mais ainda os festejos.
          Tudo ao som da música sentimental do Luiz Gonzaga, música que mexia com o coração do povo do sertão: ”Crianças brincando de roda/Velhos soltando balão/Moços em volta à fogueira/brincando com o coração”. Ou, “A fogueira tá queimando/Em homenagem a São João...”. Ou ainda, “Olha pro céu, meu amor/veja como ele está lindo”... Tudo era muito bonito e muito saboroso. Lembranças que nunca me saem da memória.
            Como se sabe, os festejos juninos e joaninos acontecem em homenagem a São João Batista, que no deserto pregava a vinda do libertador, que implantaria na Terra o Reino de Deus. “Apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele” (Jo 1,6-7).
                A fogueira é o símbolo da luz que o sertanejo precisa para iluminar a longa noite do vasto e seco sertão; da esperança do povo em um mundo melhor, com paz, justiça, amor e alegria. Representa o desejo de participar na construção de um mundo novo, com ousadia e ardor. Daí, os versos da música “São João, São João/Acende a fogueira do meu coração”.
            Tempos bons aqueles da minha infância no sertão, quando havia pobreza, mas as diferenças eram superadas pela convivência e desejo de um mundo solidário. Reuniam-se na festa joanina pessoas das mais diversas condições sociais de vida. Ficavam ali, todos juntos, curtindo a mesma alegria. Não havia crianças, jovens ou idosos ricos, nem pobres. Ali, eram todos iguais, vivendo fraternalmente a mesma alegria.
           
           
           

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