AS MANGUEIRAS MAL ASSOMBRADAS 2
Edmílson Martins
Maio/2019
No texto anterior
sobre as mangueiras mal assombradas, relatei o drama do meu irmão Raimundo,
quando saía, às dez horas da noite, da casa da namorada, depois de beber vários
copos d´água, e tinha que passar embaixo das tais mangueiras, na mais completa
escuridão.
Enviei o texto pra ele, pelo whatsapp. Imediatamente,
ele me respondeu dizendo o seguinte: “Gostei muito do texto e da lembrança. Foi
aquilo mesmo. Mas você não relatou a parte do cachorro”.
- Que parte do cachorro? – perguntei.
Ele esclareceu:
- Quando saí da casa
da namorada, morrendo de medo e com a barriga cheia de água, andei em direção
às mangueiras, com passos lentos e trôpegos. Penetrando na escuridão, ouvi
alguma coisa se mexer à minha frente, fazendo barulho nas folhas do chão.
Pensei logo: deve ser a alma, mas não vou voltar. Saquei da faca que levava na
cintura e, mesmo com as pernas bambas, continuei, pensando: “seja o que for,
vou enfrentar”.
- E depois, o que
aconteceu? – perguntei.
Ele me respondeu, com
alguma emoção, como se estivesse vivendo aquele momento:
- O barulho
continuava à frente e eu andava, resoluto, com a faca na mão. Depois de alguns
minutos, que pareciam horas, cheguei ao outro lado, onde tinha uma cancela.
Percebi, então, que a “alma” era um cachorro que me acompanhava, passando à
minha frente, sem que eu percebesse.
Depois do sufoco e já
aliviado, disse-me ele que desabafou em cima do cão:
- Ah! Cachorro
desgraçado! fazer-me passar tanto aperto e apreensão!
O medo, a apreensão e
a emoção não o deixaram compreender que o cachorro queria somente ser seu
companheiro e queria lhe dá força e coragem.
Esses são detalhes de uma das muitas estórias que ouvi
e que marcaram a vida de gerações, obrigadas a andar, muitas vezes, na
escuridão das noites sem lua, enfrentando, mesmo com medo, o desafio de
encontrar “almas do outro mundo”.
O medo e a valentia do meu irmão Raimundo, como de
muitos outros, confirmam a frase do escritor Euclides da Cunha, autor do livro
“Os sertões”, quando afirmou: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
Tem razão o poeta, quando fala da valentia do sertanejo,
mas esqueceu um detalhe:
“O sertanejo é forte, não tem medo de nada, a não ser
de assombração”.
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