BRINCADEIRAS DE RODA
Edmílson Martins
Julho/2019
Hoje, vivemos um tempo de decadência
na educação e uma quase total destruição da cultura popular. Essa situação
causa muita indignação a todos os que temos sensibilidade, porque cultura e
educação são valores intrínsecos ao ser humano.
Esse quadro triste me faz voltar ao
tempo da minha infância, nas décadas de 1940/1950. Tempo das brincadeiras de
roda e outras manifestações populares. Eram atividades que encantavam, divertiam
e educavam crianças, jovens e adultos. ´
Nessa época, eu vivia no Sítio
Ipueira, município de Barro, no sertão do Ceará, onde não havia escola, nem os
meios de comunicação, hoje oferecidos pela tecnologia. Era escasso o contato
com a cultura urbana e com o vasto mundo. Mas o povo cultivava sua própria
cultura.
No grande terreiro da casa onde eu
morava, a criançada reunia-se, à noitinha, depois do jantar, sob os olhares dos
adultos, para as brincadeiras de roda. Essas atividades eram sempre dirigidas
por uma menina de mais idade, já com aptidões naturais de professora.
A brincadeira que mais marcou a
minha memória foi à chamada “Terezinha de Jesus”, cuja composição ainda sei de
cor:
“Terezinha de Jesus/Deu uma queda, foi ao chão/ Acudiram três
cavalheiros/ Todos de chapéu na mão. O primeiro foi seu pai/O segundo, seu
irmão/O terceiro foi aquele/Que a Tereza deu a mão”.
A música, cantada e teatralizada, tinha a participação de todas as
crianças. E todos os meninos queriam ser o terceiro cavalheiro, a quem a Tereza
daria a mão. Para a escolha dos três tinha que haver um sorteio.
E seguiam outras brincadeiras, como
“sou pobre, pobre, pobre” {sou pobre, pobre, pobre de marré, marré...); “boca
de forno” ("boca de forno"! "forno"!...; “três, três
passará” (três, três passará, o derradeiro ficará...) etc. E tinha também
teatro de bonecos, cujo herói da criançada era o Casimiro Coco, além de
estórias fantásticas e engraçadas, contadas por competentes contadores de
estórias, homens, supostamente rudes, com imensa criatividade.
Eu nasci e vivi, até os 16 anos,
nesse valioso ambiente cultural, de brincadeiras de roda, poesias populares,
teatro de bonecos e estórias de Trancoso, fantasias que encantavam crianças e
adolescentes e ajudavam a formar sua personalidade e os sentimentos de
convivência e solidariedade humanas. Aliás, eu aprendi a ler, escrever e a ter
gosto pela literatura, ouvindo, lendo e recitando estórias em versos de cordel.
Sem saudosismo, acho importante resgatar esse forte legado cultural
deixado por nossos antepassados. São valores cultivados através dos tempos, que
influenciaram e vitalizaram várias gerações. Vida, educação e cultura andam
juntas. Não podem ser desprezadas. São valores e direitos humanos.
Que estejam sempre vivas a nossa
cultura e a nossa História, riquezas inalienáveis do nosso povo.
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