quinta-feira, 25 de julho de 2019

BRINCVADEIRAS DE RODA





                      







   BRINCADEIRAS DE RODA
                                         Edmílson Martins
                                         Julho/2019
                                   
            Hoje, vivemos um tempo de decadência na educação e uma quase total destruição da cultura popular. Essa situação causa muita indignação a todos os que temos sensibilidade, porque cultura e educação são valores intrínsecos ao ser humano.
            Esse quadro triste me faz voltar ao tempo da minha infância, nas décadas de 1940/1950. Tempo das brincadeiras de roda e outras manifestações populares. Eram atividades que encantavam, divertiam e educavam crianças, jovens e adultos. ´
            Nessa época, eu vivia no Sítio Ipueira, município de Barro, no sertão do Ceará, onde não havia escola, nem os meios de comunicação, hoje oferecidos pela tecnologia. Era escasso o contato com a cultura urbana e com o vasto mundo. Mas o povo cultivava sua própria cultura.
            No grande terreiro da casa onde eu morava, a criançada reunia-se, à noitinha, depois do jantar, sob os olhares dos adultos, para as brincadeiras de roda. Essas atividades eram sempre dirigidas por uma menina de mais idade, já com aptidões naturais de professora.
            A brincadeira que mais marcou a minha memória foi à chamada “Terezinha de Jesus”, cuja composição ainda sei de cor:
“Terezinha de Jesus/Deu uma queda, foi ao chão/ Acudiram três cavalheiros/ Todos de chapéu na mão. O primeiro foi seu pai/O segundo, seu irmão/O terceiro foi aquele/Que a Tereza deu a mão”.
            A música, cantada e teatralizada, tinha a participação de todas as crianças. E todos os meninos queriam ser o terceiro cavalheiro, a quem a Tereza daria a mão. Para a escolha dos três tinha que haver um sorteio.
            E seguiam outras brincadeiras, como “sou pobre, pobre, pobre” {sou pobre, pobre, pobre de marré, marré...); “boca de forno” ("boca de forno"! "forno"!...; “três, três passará” (três, três passará, o derradeiro ficará...) etc. E tinha também teatro de bonecos, cujo herói da criançada era o Casimiro Coco, além de estórias fantásticas e engraçadas, contadas por competentes contadores de estórias, homens, supostamente rudes, com imensa criatividade.
            Eu nasci e vivi, até os 16 anos, nesse valioso ambiente cultural, de brincadeiras de roda, poesias populares, teatro de bonecos e estórias de Trancoso, fantasias que encantavam crianças e adolescentes e ajudavam a formar sua personalidade e os sentimentos de convivência e solidariedade humanas. Aliás, eu aprendi a ler, escrever e a ter gosto pela literatura, ouvindo, lendo e recitando estórias em versos de cordel.
            Sem saudosismo, acho importante resgatar esse forte legado cultural deixado por nossos antepassados. São valores cultivados através dos tempos, que influenciaram e vitalizaram várias gerações. Vida, educação e cultura andam juntas. Não podem ser desprezadas. São valores e direitos humanos.
            Que estejam sempre vivas a nossa cultura e a nossa História, riquezas inalienáveis do nosso povo.
      
              
             
           
           
           

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