quinta-feira, 25 de julho de 2019

ALMA DO OUTRO MUNDO




ALMA DO OUTRO MUNDO
Edmílson Martins
Julho/2019


Ele era uma figura folclórica em Crato, cidade situada na região do Cariri, sul do Ceará. Não me lembro do nome dele. Era tão exótico que chamava a atenção de todos, por onde passava. O seu aspecto físico e o seu jeito de ser, de se comportar deixava todo mundo boquiaberto.

Vivi em Crato durante dez anos, a partir dos doze anos de idade. Sempre o encontrava pelas ruas. Seu tipo despertava atenção. Era alto, rosto comprido, queixo fino, nariz grande e pontudo, cabelos lisos, olhos vivos e orelhas grandes. Usava terno, e gravata borboleta. O paletó ia até os joelhos, tipo o “finado era maior”. Calça larga, cobrindo os sapatos , que, por sua vez, eram bem maiores do que os pés. E usava um chapéu de abas largas.

O homem era realmente esquisito e fazia questão de ser assim. Quase não falava, nem cumprimentava. Andava sempre com uma pasta embaixo do braço, parecendo um homem de negócios. E quando ele passava, as pessoas, abismadas, ficavam comentando a sua esquisitice.
Contava-se na cidade muitas estórias em torno da figura dele. Uma delas dizia que um dia, por volta das onze horas da noite, ele pegara um taxi na cidade vizinha de Juazeiro do Norte. Nesse tempo gastavam-se, mais ou menos, uns quarenta minutos para chegar ao Crato.
 

Chegando ao destino indicado, quase meia noite, pediu ao motorista que esperasse que ia pegar o dinheiro em casa. Desceu do carro e entrou por um portão. A noite estava muito escura.
O motorista esperou. Passaram-se uns dez minutos e nada do homem voltar. Meia hora e nada. Já passava de meia noite. Ia passando uma pessoa na rua e o motorista resolveu indagar:
- Amigo, por favor, o senhor pode me informar quem mora nessa casa, com esse paredão tão alto? E explicou que esperava um passageiro que tinha ido pegar o dinheiro da corrida, e já passava mais de meia hora e ele não voltava.

O transeunte parou, atendendo ao motorista, e falou:
- Amigo, o senhor está diante do cemitério. Aí só mora gente que já morreu.


O motorista, assustado, entrou no carro, rápido e exclamou:
- Eu bem desconfiava que aquele cara é uma alma do outro mundo. E acelerou o carro, partindo sem mais demora.


O homem, com o seu jeito estranho, acabava ganhando a admiração da população, que se divertia, contando e ouvindo estórias engraçadas sobre ele. Todos o achavam esquisito, mas o respeitavam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário