BANCÁRIOS E ANOS DE CHUMBO
(Memória
Histórica)
Edmílson
Martins
Abril de
2021
A partir de 1974, depois
dos cinco anos de chumbo, do perverso esquema de repressão da ditadura militar,
começaram a ressurgir grupos populares, que se organizavam para lutar pela
redemocratização do país.
Isso acontecia de
norte a sul do Brasil, em todos os setores da sociedade civil. Mas era na
classe trabalhadora, a mais atingida pela repressão, que esses grupos surgiam,
com forte ativismo social e político, todos inspirados nos ideais de luta pelas
liberdades.
Eu trabalhava na
agência Centro do Banco do Brasil, na Rua Primeiro de Março, no centro do Rio
de Janeiro. Antes, em 1972, fora presidente do Sindicato dos Bancários do Rio
de Janeiro, que sofrera intervenção do governo ditatorial.
Depois de quarenta e
seis dias no cárcere da ditadura, fora localizado na agência centro-Rio. Antes
de assumir a presidência do sindicato, trabalhara na agência de Madureira, Zona
Norte do Rio de Janeiro, durante nove anos.
Pois bem, com o
sindicato sob intervenção, eu e alguns companheiros sindicalistas exercíamos
uma atividade sindical, quase clandestina. Tentávamos, de alguma forma, manter
contatos com a categoria bancária.
Na sequência,
começaram a surgir grupos ativistas, formados, sobretudo por jovens estudantes,
que se tornavam bancários, a maioria do Banco do Brasil. Eram rapazes e moças
idealistas, que sonhavam com um mundo melhor. Constituíam grupos que se sentiam
na clandestinidade. E agiam com todos os cuidados, para não serem
identificados.
A partir de 1974,
quando no campo político partidário, o MDB, partido de oposição, crescia
eleitoralmente, intensificou-se a repressão, com cassação de alguns mandatos
políticos e prisão de alguns militantes de grupos considerados clandestinos.
Vários militantes do PCB, partido proibido, foram presos e submetidos a inquérito
policial/militar. A partir daí, os organismos de segurança da ditadura reforçaram
as buscas de militantes dos grupos que se organizavam.
O terror tomou conta
desses grupos. Os militantes, quase todos jovens, sem experiência política,
ficavam apavorados e viam agentes policiais em toda parte. Entre colegas de
trabalho, em clientes que entravam na agência, etc. Quaisquer estranhos que
chegavam ao amplo saguão da agência centro eram suspeitos.
Em torno dessa
situação, vários fatos curiosos aconteceram. Por exemplo, um dia, um colega,
jovem militante de um desses grupos, ia saindo, no final do expediente, quando,
de longe avistou dois homens estranhos. Voltou correndo pra seção, muito
espavorido, achando que estava sendo perseguido.
E perguntou a um colega:
- E agora, como vou sair da agência? Eles estão me procurando.
O colega, que também
participava de um grupo, considerado clandestino, apresentou a solução:
- eu sempre trago comigo
alguns comprimidos de dienpax, que uso nas horas de aperto. Você ingere alguns
comprimidos, vai apagar e sairá daqui de ambulância. E assim foi feito. O
rapaz, apagado, foi levado numa maca, por dois enfermeiros, para uma ambulância
e levado para um hospital.
No Banco do Brasil concentrava-se
a maioria de idealistas, ativistas sindicais. No Banerj, Banco do Estado de São
Paulo e noutros bancos oficiais também havia muitos ativistas, bem como em
bancos particulares.
Muitas outras
situações tristes e hilariantes ocorreram naqueles tempos de opressão. Ao lado
da repressão real, o combate no escuro levava a ver fantasmas, ou seja, às
vezes, viam-se espiões que não existiam. Tudo provocado pelo perverso poder
militar/empresarial, que proibia, pela força bruta, a prática dos direitos
democráticos, tentando sufocar o desejo de liberdade existente nos corações
humanos.
BANCÁRIOS E ANOS DE CHUMBO
(Memória
Histórica)
Edmílson
Martins
Abril de
2021
A partir de 1974, depois
dos cinco anos de chumbo, do perverso esquema de repressão da ditadura militar,
começaram a ressurgir grupos populares, que se organizavam para lutar pela
redemocratização do país.
Isso acontecia de
norte a sul do Brasil, em todos os setores da sociedade civil. Mas era na
classe trabalhadora, a mais atingida pela repressão, que esses grupos surgiam,
com forte ativismo social e político, todos inspirados nos ideais de luta pelas
liberdades.
Eu trabalhava na
agência Centro do Banco do Brasil, na Rua Primeiro de Março, no centro do Rio
de Janeiro. Antes, em 1972, fora presidente do Sindicato dos Bancários do Rio
de Janeiro, que sofrera intervenção do governo ditatorial.
Depois de quarenta e
seis dias no cárcere da ditadura, fora localizado na agência centro-Rio. Antes
de assumir a presidência do sindicato, trabalhara na agência de Madureira, Zona
Norte do Rio de Janeiro, durante nove anos.
Pois bem, com o
sindicato sob intervenção, eu e alguns companheiros sindicalistas exercíamos
uma atividade sindical, quase clandestina. Tentávamos, de alguma forma, manter
contatos com a categoria bancária.
Na sequência,
começaram a surgir grupos ativistas, formados, sobretudo por jovens estudantes,
que se tornavam bancários, a maioria do Banco do Brasil. Eram rapazes e moças
idealistas, que sonhavam com um mundo melhor. Constituíam grupos que se sentiam
na clandestinidade. E agiam com todos os cuidados, para não serem
identificados.
A partir de 1974,
quando no campo político partidário, o MDB, partido de oposição, crescia
eleitoralmente, intensificou-se a repressão, com cassação de alguns mandatos
políticos e prisão de alguns militantes de grupos considerados clandestinos.
Vários militantes do PCB, partido proibido, foram presos e submetidos a inquérito
policial/militar. A partir daí, os organismos de segurança da ditadura reforçaram
as buscas de militantes dos grupos que se organizavam.
O terror tomou conta
desses grupos. Os militantes, quase todos jovens, sem experiência política,
ficavam apavorados e viam agentes policiais em toda parte. Entre colegas de
trabalho, em clientes que entravam na agência, etc. Quaisquer estranhos que
chegavam ao amplo saguão da agência centro eram suspeitos.
Em torno dessa
situação, vários fatos curiosos aconteceram. Por exemplo, um dia, um colega,
jovem militante de um desses grupos, ia saindo, no final do expediente, quando,
de longe avistou dois homens estranhos. Voltou correndo pra seção, muito
espavorido, achando que estava sendo perseguido.
E perguntou a um colega:
- E agora, como vou sair da agência? Eles estão me procurando.
O colega, que também
participava de um grupo, considerado clandestino, apresentou a solução:
- eu sempre trago comigo
alguns comprimidos de dienpax, que uso nas horas de aperto. Você ingere alguns
comprimidos, vai apagar e sairá daqui de ambulância. E assim foi feito. O
rapaz, apagado, foi levado numa maca, por dois enfermeiros, para uma ambulância
e levado para um hospital.
No Banco do Brasil concentrava-se
a maioria de idealistas, ativistas sindicais. No Banerj, Banco do Estado de São
Paulo e noutros bancos oficiais também havia muitos ativistas, bem como em
bancos particulares.
Muitas outras
situações tristes e hilariantes ocorreram naqueles tempos de opressão. Ao lado
da repressão real, o combate no escuro levava a ver fantasmas, ou seja, às
vezes, viam-se espiões que não existiam. Tudo provocado pelo perverso poder
militar/empresarial, que proibia, pela força bruta, a prática dos direitos
democráticos, tentando sufocar o desejo de liberdade existente nos corações
humanos.