quinta-feira, 20 de junho de 2024

LEMBRAR SEMPRE, DESANIMAR JAMAIS

 

 

              LEMBRAR SEMPRE, DESANIMAR JAMAIS

                           

                              Edmílson Martins de Oliveira

                              Junho/2024

 

No domingo, terceiro dia após a crucificação de Jesus, estavam os discípulos escondidos, com medo dos judeus, quando chegou Maria Madalena e disse: “Gente, alegria, ânimo, o mestre está vivo, ressuscitou. Eu o vi, conversei com ele”. Os discípulos duvidaram. Madalena insistiu: “Ele voltou, está vivo. Pediu para avisar a vocês”.

 

Terça – feira, 18 de abril de 1972, dia nacional do livro infantil, em homenagem a Monteiro Lobato, um lutador pelas liberdades em nosso país. Os diretores  do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro estavam reunidos, com medo da repressão, na CONTEC (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito), sem saber o que fazer.

 

Estavam todos tristes e desanimados, porque eu tinha sido preso, no dia anterior, por ser presidente do sindicato. Preso, com outros companheiros, por causa da luta pelas liberdades democráticas, suprimidas pela ditadura militar, implantada em 1964. O clima era de terror, pavor. Era aterrador e assombroso. A ditadura reprimia, prendia, torturava e matava.

 

Os diretores estavam cabisbaixos, tristes e assustados, quando chegou a Maria José, minha esposa. Vendo-os naquele estado disse: “Gente, coragem, ânimo, o Edmílson está bem, está vivo, vamos à luta”. Eles disseram: “Não sabemos o que fazer, estamos desnorteados”. Maria José retrucou: “Pra começar, vamos rezar, pedir a Deus coragem. Eu trouxe comigo a Bíblia. Depois, vamos procurar outros companheiros, contatar advogados e entidades civis, em busca de ajuda.

 

Sempre uma mulher trazendo esperança. A História está cheia delas. Olhando as Sagradas Escrituras, vemos, entre outras, a história de Judite e Ester, que com suas ações decisivas, salvaram o povo de Israel, do Antigo Testamento. Depois, no Novo Testamento, tivemos Maria, mãe de Jesus, que, correndo riscos, assumiu o Projeto de libertação da humanidade, trazido pelo Filho. Tivemos Maria Madalena, a primeira a anunciar a ressurreição de Jesus, enfrentando a descrença dos discípulos.

 

Entre nós, na luta sindical, tivemos a Maria José, animando os diretores do sindicato, enfrentando  corajosamente a ditadura. E havia mais duas Marias: Maria Emília, vice-presidente do sindicato e Maria Luísa, esposa do Roberto Martins, que comigo estava preso. Todas essas Marias representam a fé, a força, a coragem, a resistência das mulheres, já contadas e cantadas em prosa e verso, em toda nossa História. Elas representam as mulheres da História, anônimas, ou não, corajosas e lutadoras, enfrentando todo tipo de opressão política e social.

 

Hoje, apesar dos desencantos do mundo, é preciso sempre lembrar a luta dos nossos antepassados, da nossa História e nunca desanimar. Como o velho timbira do poema de Gonçalves Dias I-Juca-Pirama, que animava os jovens da tribo, contando a história, a memória e a luta do seu povo, a bravura dos seus guerreiros, as glórias da sua tribo.

 

Jesus disse aos discípulos de Emaús, que voltavam pra casa, desanimados, por causa da crucificação: “Vocês esqueceram a História, as Escrituras e os profetas. Está lá toda a história da libertação e do Projeto de Deus para a humanidade”. E falou-lhes dos livros sagrados, de Moisés aos profetas, levando-os a rememorar a História, abrindo-lhes os olhos e as mentes.

 

Então, aconteça o que acontecer, precisamos estar sempre atentos aos sinais dos tempos, aos ensinamentos da História, à memória e à luta dos nossos antepassados. Como disse o papa Francisco aos jovens: “Se vocês tiverem memória e se tiverem coragem, serão esperança para o futuro”. Por isso, enfatizamos: Lembrar sempre, desanimar jamais.

 

 

 

 

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