A CHUVA, O PAVOR, A ALEGRIA
Edmílson Martins de Oliveira
22 de março de 2024
Depois de uma temporada de calor abrasador, com temperatura apresentando sensação de mais de 60 graus, no Rio de Janeiro, chegou a chuva. Não aquela chuva tipo dilúvio que foi anunciada, causando pavor e insegurança em toda a população.
Prefeito, governador, governo federal decretaram ponto facultativo em organismos municipais, estaduais e federais. Escolas municipais e estaduais não funcionaram. Houve recomendações para escolas particulares também não funcionarem; a população foi aconselhada a não sair de casa e o comércio a encerrar o expediente mais cedo.
A chuva, que é uma graça caída do Céu para beneficiar todo mundo e o meio ambiente, no Rio de Janeiro, tornou-se um instrumento do medo e de insegurança. Os estragos, decorrentes da incompetência administrativa, da negligência, da covardia dos governos, são debitados às chuvas, que nada têm a ver com os descuidos dos governantes e do povo, que não preservam o seu meio ambiente.
Esse terror implantado na população dá razão aos versos da música “No Ceará não tem disso não”, popularizada na voz de Luiz Gonzaga: “Tenho visto tanta coisa/Nesse mundo de meu Deus/Coisas que prum cearense
Não existe explicação/Qualquer pinguinho de chuva/Fazer uma inundação”.
Olhando a chuva, eu me lembro da minha infância no sertão do Ceará. Lá, pouco chovia, mas quando a chuva chegava era uma festa. O povo ficava mais alegre, os passarinhos cantavam mais; os sapos coaxavam; os patos e marrecos nadavam nos açudes; as árvores voltavam a ser verdes e sorriam. A natureza toda se alegrava. Como diz a música do Luiz Gonzaga: “Ai, ai, o povo alegre/Mais alegre a natureza”.
O povo não tinha medo da chuva. Pelo contrário, louvava a Deus pela chuva que caía do Céu. Lembro-me que eu e criançada íamos pro terreiro tomar banho de chuva. Era uma farra. E ainda me lembro da musiquinha que cantarolávamos: “Chuva, chovendo/ a goteira pingando/Abre a porta morena/Que estou me molhando”.
Quando a chuva pesada cessava, mesmo com chuva fina, íamos todos pra roça cuidar das plantações. Era uma alegria imensa, no caminho da roça, ver os riachos correndo, os açudes cheios, o verde ressurgindo nas capoeiras e nas várzeas. Vendo a nossa felicidade e alegria, as árvores, as aves, os animais ficavam mais alegres e felizes. Enfim, toda a natureza mostrava sua gratidão pela vinda das chuvas. Ninguém pensava em catástrofes.
Por causa da ausência das chuvas e da sequidão, os sertanejos pediam, em oração, para chover, e chover “três dias sem parar”. Daí, a música de Gordurinha, compositor cearense: “Oh! Deus, perdoe este pobre coitado/
Que de joelhos rezou um bocado/Pedindo pra chuva cair sem parar”. Por isso, as chuvas, mesmo pesadas, enchendo rios, riachos, açudes era uma felicidade.
Finalmente, a gratidão do sertanejo é expressa nesses versos da música “A volta da Asa Branca, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga: “A seca fez eu desertar da minha terra/Mas felizmente Deus agora se alembrou/De mandar chuva pra esse sertão sofredor/Sertão das muié' séria, dos home' trabalhador”
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