sábado, 9 de março de 2024

A CASA DE REPOUSO

 

 

 

A CASA DE REPOUSO

 

               Edmílson Martins de Oliveira

               Março/2024

 

Chama-se Recreio da Terceira Idade e está situada na Estrada dos Bandeirantes, Vargem Grande, no sopé da Serra da Grota Funda, por onde passaram os Bandeirantes, no Século XVI, em busca de pedras preciosas. É uma área ampla, aprazível, bem arborizada, beneficiada pelo vento verde que sopra da ampla, fechada e ecológica floresta que enfeita toda a serra.

 

São mais de  oitenta idosos, a maioria mulheres, que habitam aquele espaço. Os cabelos brancos, a curvatura dos corpos, o andar, (alguns de muletas, outros de cadeira rodas), tudo denota o peso da experiência de longos anos de vida e de luta. Com saúde precária, todos estão ali em busca de conforto e melhor qualidade de existência.

 

Toda essa gente está sob os cuidados de enfermeiras, cuidadoras, psicólogos, fisioterapeutas, lavadeiras, cozinheiras, médico, além do pessoal encarregado da faxina e de manter o ambiente bem tratado e arrumado. São várias equipes bem preparadas e organizadas para fazer funcionar toda a estrutura da casa. São jovens da segunda idade, que, além de prestar valiosos serviços, aprendem com mestres formados na Escola da Vida.

 

Para fazer funcionar todo esse complexo estrutural, há um competente corpo de administradores, sempre atento às necessidades e bem-estar dos que lá são hospedados. O tratamento é carinhoso, cuidadoso e eficiente. São dignos de nota a delicadeza, a paciência e compreensão dos administradores, cuidadoras  enfermeiras e terapeutas em relação aos idosos e idosas.

 

Semanalmente, eu, Maria José e filhos visitamos Margarida de 94 anos e Terezinha, de 82, respectivamente, cunhadas, irmãs e tias, que lá estão há mais de um ano. Percebendo-as e analisando-as, a gente nota que elas estão, na casa de repouso, bem melhores individual e socialmente, do que estariam em sua casa, com empregadas domésticas. Pode-se dizer que lá elas vivem a “fraternidade e amizade social”.

 

Todos ali, tanto idosos, como servidores vivem uma interação social, através dos cuidados, das atividades individuais e coletivas, do diálogo, da convivência diária, etc. Nunca as pessoas estão sozinhas. Tem sempre alguém por perto, ajudando, conversando, esclarecendo. Uma verdadeira vida comunitária, com entrelaçamento permanente entre cuidadores e pessoas cuidadas. Pelos propósitos e objetivos da casa, pelas necessidades dos idosos, pela solidariedade e fraternidade, parecem todos e todas um só coração.

 

Posso dizer, sem medo de errar, que as visitas são um aprendizado. A rápida convivência semanal com aquela gente, que já viveu tanto, que já enfrentou desafios e problemas, ajuda a gente compreender melhor a vida, tão curta e passageira, neste planeta, com seus encontros e desencontros. A gente fica feliz, vendo aquela gente resistindo, querendo viver mais. E vendo tanta gente dedicada aos cuidados daqueles seres humanos, tão carentes de atenção, após tantos anos de vida, vividos, muitas vezes, com dificuldades.

 

Eu, com meus quase 86 anos de passagem pela Terra, tendo também já passado por muitos desafios e problemas, identifico-me muito com aquela gente, que com muita garra, curte, com alegria, a última fase da vida terrena. Última fase de preparação para a vida em outra dimensão. E faz isso como se estivesse começando agora, vivendo sonhos e esperança.

 

Esse tratamento humanizado devia estender-se a todas as pessoas idosas da nossa sociedade. Mas, infelizmente, isso não acontece porque temos ainda estruturas sociais injustas e excludentes,  que negam à maioria das pessoas tratamento mais justo e mais humano.

 

O tema da Campanha da Fraternidade de 2024, promovida pela Igreja Católica desde 1964, é: “Fraternidade e Amizade Social”, com lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). No cartaz da Campanha, a casa é o ambiente geral. Casa, que é referência ao lar, onde acolhemos irmãos e amigos para partilha do alimento e da vida; as diversas personagens, cada uma com suas singularidades – etnias,  condições físicas, idades, etc. – todas se apoiam alegremente, dando expressão à fraternidade e à amizade social.

 

É isso que queremos para o nosso país. Uma casa comum, onde todos sejam fraternos, solidários, com amplas condições de igualdade, expressando assim o valor e a beleza da fraternidade humana, para que a paz seja realidade entre todas as pessoas. Que assim seja. E assim será.

 

 

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