sexta-feira, 22 de março de 2024

MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA CRISTÃ

 

 

MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA CRISTÃ

 

                                        Edmílson Martins de Oliveira

                                         Março/2024

 

Nasci numa família católica. Ainda bebê, fui levado à igreja para ser batizado. O batismo seria a adesão a Jesus e ao seu projeto de libertação. Meus pais, com o batismo, assumiriam, perante a Igreja, o compromisso de passar para mim os principais valores da doutrina cristã.

 

Eles não tinham conhecimentos profundos das Sagradas Escrituras, Antigo e Novo Testamentos, mas tinham consciência clara dos valores que significam o Projeto de libertação contido nas Sagradas Escrituras: o amor, a fraternidade, a justiça e a paz.

 

Esses valores me foram sendo passados pelos meus pais, à medida que eu ia crescendo, através de palavras e obras. E, principalmente, através de obras. Seus exemplos de trabalho construtivo, de fraternidade, amizade, respeito aos outros, humanismo e persistência na luta falaram mais alto do que qualquer sermão.

 

Depois, já mais crescido, fui levado outra vez à igreja para receber o sacramento da Confirmação. Seria uma adesão mais consciente e amadurecida à proposta do Reino, apresentada por Jesus. Isso ocorreu depois de alguns anos de experiência de vida junto aos meus pais, meus irmãos,  parentes e amigos da família. Quer dizer, depois de algum aprendizado junto à comunidade.

 

Ainda criança, eu ia todo ano, com meus pais, às festas da padroeira e do Natal. Nada entendia das cerimônias na igreja, mas achava tudo muito bonito. As cerimônias traziam para mim algo mágico, emoções, alguma coisa diferente, fora do comum. Hoje, eu diria que me mostravam o transcendental.

 

Aos doze, ou treze anos, meu irmão me levou para a Congregação Mariana, em Crato-CE. Não gostei. Talvez porque os participantes eram todos mais velhos do que eu. Eu tinha doze anos, os outros tinham acima de vinte e cinco anos. Eu não entendia nada do que era falado nas reuniões. Limitei-me, até os vinte e um anos, às missas aos domingos.

 

A partir de 1960, já no Rio de Janeiro, voltei à Congregação Mariana, na igreja do Imaculado Coração de Maria, no Méier, outra vez levado pelo meu irmão Agostinho. A partir dali, as visões foram-se clareando. Fui descobrindo o verdadeiro Jesus da História e da Justiça Social. A Doutrina Social da Igreja me apresentou um Jesus verdadeiramente encarnado  na humanidade.

 

O Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, com suas encíclicas sociais, me empolgou, como a muitos, porque mostrou a face profundamente humana de Jesus. Mostrou um jesus parceiro na luta de restauração da dignidade humana.

 

Foram as encíclicas sociais que me levaram a uma leitura mais atenta dos Evangelhos e do Antigo Testamento. A partir daí, comecei a entender as promessas do Batismo e do sacramento da Confirmação (Crisma). Foi no engajamento social, dentro e fora da Igreja, que passei a levar a sério os compromissos exigidos por aqueles sacramentos de  adesão.

 

E aí vieram as participações em diversos movimentos organizados da Igreja, nos movimentos populares, na luta dos trabalhadores e na luta política. Tudo em favor da construção do Reino de Deus, pregado por Jesus, isto é, em favor da construção de uma sociedade livre, justa, fraterna e democrática. Sociedade em que os direitos humanos sejam preservados e a dignidade humana seja restaurada em sua plenitude.

 

Nos movimentos sociais da Igreja, nos movimentos populares, no movimento sindical e na política, surgiram muitos companheiros de boa vontade, cristãos ou não, cuja energia me deu forças. E na caminhada surgiu a Maria José e depois nossos quatro filhos Maurício, Rinaldo, Eliane e Rosane, que, batizados e crismados, engajaram-se na luta de libertação social.

 

Meus pais me passaram os primeiros ensinamentos e a Igreja os completou. Tudo o mais, venho aprendendo, na luta, na derrota e na vitória, convicto, cada vez mais, da esperança de um mundo melhor. E essa convicção está fundamentada no mistério da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ele disse: “Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”. E disse, com a ressurreição, ter vencido a morte. Mostrou que a vida é eterna e divina, por isso, vale a pena lutar por ela.

 

 

 

Nessa trajetória, diante de um mundo tumultuado, com forças negativas, que sempre puxam para baixo, confesso, muitas vezes fui tentado a desanimar, deixar tudo pra lá. Mas sempre uma força que vem do alto me diz: não tenha medo, a verdade vencerá. E aí me vem à mente versos da música “Cidadão”, do compositor e cantor Zé Geraldo.

 

É assim: o trabalhador ajudou a fazer o prédio e um cidadão não o deixou olhar; ajudou a construir a escola e lá a filha não pôde estudar. Aí, ele trabalhou na igreja e diz:

“Lá foi que valeu a pena/Tem quermesse, tem novena/E o padre me deixa entrar/
Foi lá que Cristo me disse/Rapaz deixe de tolice/Não se deixe amedrontar/Fui eu quem criou a terra/Enchi o rio, fiz a serra/Não deixei nada faltar. Hoje o homem criou asa/E na maioria das casas/Eu também não posso entrar”.

 

“Combatendo o bom combate e guardando a fé”, como o apóstolo Paulo, acreditando, na Justiça e na Esperança, como o patriarca Abrahão, resistindo às prepotências, como Jesus, apesar das tentações do desânimo, do medo e da desesperança, persisto na luta, com os irmãos de fé e jornada, até o final da corrida, e à glória  final.

 

 

 

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