domingo, 19 de março de 2023

TRÊS AMIGOS FIÉIS

 

 

 

                              TRÊS AMIGOS FIÉIS

 

                                             Edmílson Martins de Oliveira

                                             Rio, março/2023

 

Eram três amigos fiéis. O cachorro, que se chamava Piau; o gato, que se chamava Mimoso e o coelho, que se chamava simplesmente Coelho. Os três estavam sempre juntos da gente, trocando carinhos e afagos.

 

Eu e meus irmãos tínhamos por eles muita afeição. Eram nossos xodós. O cachorro, de cor cinza e olhos brilhantes e o gato, branco, olhos de gato, charmoso, sempre nos acompanhavam. Quando saíamos pelas estradas, o cachorro andava junto e o gato, como tradicionalmente, não se dava com o cachorro, nos acompanhava, à distância, entre o mato e a beira da estrada. Eram fiéis e pacíficos.

 

O cachorro, às vezes, acompanhava meu pai em suas viagens. Meu pai ia montado num cavalo e ele ia, a trote, atrás. Quando meu pai tinha que deixar o cavalo amarrado em algum lugar, dizia ao cachorro: “tome conta do cavalo, não deixe ninguém encostar nele. O pedido era uma ordem. Ninguém encostava no cavalo.

 

Quando a gente voltava pra casa de alguma viagem, vinha ele correndo, dá as boas - vindas, saltitando, alegre e, como o cachorro da música de Roberto Carlos  “O Portão”, sorria, latindo, demonstrando grande satisfação pelo reencontro. Seus afagos e entusiasmo revelavam a saudade do amigo.

 

O gato Mimoso não negava o nome. Gostava de carícias e mimos. Quando a gente sentava em algum lugar, ele se aproximava em busca de carinho. Quando a gente deitava na rede, ele vinha e se aconchegava, querendo calor humano.

 

Ah! ia esquecendo o coelho. Era uma graça. Tão mimoso quanto o gato. Em casa, onde a gente estava, ele estava junto. Ainda me lembro dele: branco, olhos vermelhos, orelhas grandes. Nas refeições, estava sempre ao pé da mesa, esperando comida. Não saía de dentro de casa, no máximo ia ao terreiro. Um dia – que tristeza! – ele sumiu. Foi procurado por toda parte, mas não foi encontrado. Nunca mais apareceu. Foi difícil esquecê-lo.

 

Ficaram o gato e o cachorro. Sempre amigos fiéis, choramingavam com a gente o sumiço do coelho, que também era amigo deles. Ficaram com a gente durante muito tempo. Amigos inseparáveis, de todos os dias e de todas as horas.

 

Aqueles três amigos fiéis marcaram profundamente o meu tempo de criança, quando  eu e meus irmãos os tínhamos como crianças também. Com eles convivíamos, brincávamos e os tratávamos com o carinho de irmãos.

 

O tempo passou e cada um de nós foi conhecendo outras realidades e, sem querer, veio a separação porque, infelizmente, se separam as pessoas à medida que o tempo passa. Mas ficou a lembrança daqueles três amigos. Na verdade,  os amigos fiéis podem até se separar fisicamente, mas estão sempre presentes na memória e no coração.

 

Essas recordações ternas de companheirismo, fidelidade, amizade e solidariedade alegram o coração da gente e são um grito de alerta e protesto contra o ultraindividualismo, ódio, violência e guerras fratricidas reinantes nos dias de hoje. São revelações de memórias para combater o bom combate, para dizer que os seres humanos precisam ser amigos fiéis, como o cachorro, o gato, o coelho...       

 

 

 

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