segunda-feira, 6 de março de 2023

A PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS

 

 

 

A PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS

                                                  Edmílson Martins de Oliveira

                                                   Março/2023

 

A praça sempre foi um local que marcou a vida cultural e histórica do povo brasileiro. E em cada cidade a praça tem sua história. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos a Praça da República, Praça Tiradentes, Praça XV de Novembro etc., todas ligadas a fatos históricos relevantes ocorridos em nosso país. Temos também a Pra Saenz Peña, Afonso Pena, Siqueira Campos etc., ligadas a atividades culturais do povo.

 

Li o texto da escritora Márcia Heliane Gomes, minha preferida poetisa e memorialista mineira, de Tiradentes, que  fala da Praça das Mercês. Fala com tanta alma e inspiração, guardando-a na memória e no seu coração, que deixa a gente também encantado. Após a leitura, me veio a vontade louca de falar da praça que encantou a minha vida, que nunca mais saiu da minha  lembrança e ficou entranhada no meu coração.

 

Falo da Praça Siqueira Campos. Ficava bem no centro da cidade de Crato, Sul do Ceará, região do Cariri. Havia mais duas praças. A que ficava em frente à igreja de São Vicente, onde eu ia à missa aos domingos e a chamada Praça da Estação, em frente à estação ferroviária.

 

Mas é a Praça Siqueira Campos o motivo desta crônica. Era bem cuidada, com jardins floridos, árvores bem tratadas, vários bancos de mármore com encosto, pisos desenhados, construída acima do nível da rua. Ficava no coração da cidade, para onde tudo convergia.

 

 Ali, se reuniam, principalmente, aos sábados e domingos, as classes média e  alta cratenses. Rapazes e moças, adolescentes e jovens, e pessoas de mais idade  encontravam-se para agradáveis conversas. Era ponto de encontro semanal. Eu, apesar de pertencer à classe pobre, por causa dos meus destaques na escola e nos empregos nas Casas Pernambucanas e no Banco de Crédito Comercial, convivia com aquelas duas classes sociais.

 

Os rapazes, geralmente, ficavam sentados nos bancos, em animados papos, ou em pé ao redor da praça e as moças, aos pares, ficavam andando e conversando. Surgiam flertes e namoros. Próximo, um serviço de alto-falantes, com músicas e informações sociais. O ambiente era bem romântico e inebriante.  Ao som de boleros e sambas-canções, próprios da década de 1950, nas vozes de Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Anísio Silva etc., as conversas eram animadas e saborosas.

 

Na praça, conversava-se sobre tudo: política, futebol, música, religião, cinema, namoros etc. E havia, ali, casos hilariantes, que se espalhavam nas rodas sociais da cidade. Entre esses, o caso de um rapaz metido a galanteador que ao se aproximar de uma moça, para impressioná-la, tentava falar palavras difíceis, sem saber os verdadeiros significados. Assim:

- Sabe que você é uma menina muito bonita e volúvel?

- O quê? – respondia a moça, demonstrando repulsa.

Ele, tentando consertar dizia:

- Quero dizer que você é bonita e leviana.

 

Piorava a situação. Sem conhecer os significados de “volúvel e leviana”, pensava que estava elogiando e ficava espantado com a repulsa da moça. E dizia:

- Ela não entendeu o meu galanteio. Que burrinha!

 

Ele contava isso aos amigos, que davam gargalhadas e tentavam explicar os significados daquelas palavras. Ele ouvia, mas não aceitava as explicações.

Preferia ficar com suas convicções. Tinha certeza de que estava elogiando. A menina não entendera. E continuava com seus galanteios.

 

A Praça Siqueira Campos, que tem esse nome em homenagem ao comerciante Manoel Siqueira Campos, que se estabeleceu em Crato no início do Século XX, ficou na memória da sociedade cratense. Além de ser ponto de encontro da juventude, a praça também se tornou palco de eventos políticos, sociais e culturais.

 

Do lado da praça havia o cinema “Cassino”, onde assisti a muitos filmes. Um pouco mais afastado, o cinema “Moderno”, também muito frequentado. Lá, no meu tempo de criança, participava de muitas matinês, assistindo a muitos seriados: Tarzan, Zorro, filmes de cowboy, desenhos animados etc.

 

Havia também o famoso “Café Palheta”, onde se tomava o cafezinho quente, antes dos papos na praça. Também, as duas lanchonetes ao lado da praça, onde se tomava sorvetes e pequenos lanches. Era uma festa aquela praça.

 

Hoje, depois de mais de setenta anos, dizem-me que a praça existe, mas completamente modificada. Dizem que já não tem os mesmos encantos daquela época. Mas, para mim, continua a Praça Siqueira Campos dos papos, dos boleros e sambas-canções, dos sábados e domingos à noite. É sempre a praça dos meus encantos, que guardo com muito carinho, com belas e inesquecíveis recordações.

 

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