UNIVERSIDADE GAMA FILHO: DE CENTRO DO SABER A CENTRO DE LAZER
Edmílson Martins de Oliveira
Outubro/2023
A Universidade Gama Filho, centro de desenvolvimento do saber, é transformada em centro de lazer. Ou seja, passa da cultura do “ser” para a cultura do “ter”. Integra-se à lógica capitalista do consumo da diversão e do prazer. Do prazer pelo prazer, sem crítica, sem reflexão, sem questionamentos.
Havia na universidade vários cursos: Letras, psicologia, advocacia, jornalismo, Engenharia, medicina, pedagogia, biologia, etc. Era um grande centro de conhecimentos e preparação de profissionais para as diversas áreas de interesses da sociedade.
Lá, estudei durante quatro anos, de 1969 a 1973, no curso de Português/Literatura, formando-me para o magistério. Era um curso noturno, com suas fragilidades, mas com excelentes professores. Mestres que muito contribuíram para o meu interesse nos estudos da Língua Portuguesa e da Literatura.
Foi no curso de Letras que entrei em contato com os clássicos da literatura portuguesa, saboreando a epopeia e o lirismo de Camões; o teatro de Gil Vicente; o trovadorismo português da Idade Média; o romantismo de Camilo Castelo Branco; o realismo de Eça de Queiroz; a poética moderna de Fernando Pessoa, etc.
Na literatura brasileira, foram intensos e prazerosos os estudos dos nossos clássicos, desde Tomaz Antônio Gonzaga, com seu poema Marília de Dirceu, aos romances românticos de José de Alencar, à poesia romântica de Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, aos romances realistas de Machado de Assis, aos modernistas Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e os que vieram depois, na prosa e na poesia.
Durante os quatro anos, foram, também, intensos os estudos da Língua Portuguesa, a estrutura, gramática, etc. Também os estudos de Linguística, fundamentais para maior compreensão da linguagem, com suas variantes.
Todos esses conhecimentos foram desenvolvidos a partir de muitas informações, reflexões e troca de opiniões entre alunos e professores. A faculdade é realmente um centro de desenvolvimento do saber, um laboratório, onde se aprende pesquisando, fazendo descobertas, adquirindo sempre um novo conhecimento, mantendo e desenvolvendo sempre a cultura.
Por tudo isso, é lamentável o fechamento de uma universidade. É um golpe na cultura, no saber, na ciência. É um retrocesso, um passo para trás. Na verdade, uma violência contra a sociedade. Um centro de lazer jamais poderá substituir um centro da cultura e do saber.
A cultura, a educação, o conhecimento, o preparo para a vida não interessam ao sistema capitalista, para o qual tudo é consumo, lucro e acúmulo de riquezas. Até mesmo as áreas de lazer, que deviam ser utilizadas como centros de desenvolvimento cultural e educacional, são usadas apenas para entretenimentos e consumo.
“Penso, logo existo”, frase de autoria do filósofo francês René Descartes (1596 – 1650), é, hoje, substituída pela frase “consumo, logo existo”. Lógica que desvaloriza o ser humano e a vida. O ser humano para o terrível sistema é apenas um instrumento de produção de lucro.
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