quinta-feira, 14 de setembro de 2023

AÇÃO POLÍTICA E MUNDO NOVO

 

AÇÃO POLÍTICA E NOVO MUNDO

                        Edmílson Martins de Oliveira

                        Setembro/2023    

                             A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única –

                                          de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros”(papa Paulo VI.                       

                                               

Corria o ano de 1977. A ditadura civil/militar governava o Brasil, comandada pelo ditador de plantão general Ernesto Geisel, a serviço do capital nacional e internacional, com os Estados unidos dando as cartas.

 

Nosso país, sob censura, ainda na escuridão, com algum vislumbre no final do túnel. Com os sindicatos de trabalhadores fechados, o Movimento Estudantil abafado, os movimentos populares sob controle, restavam poucas possibilidades de participação do povo na luta pelas reivindicações de seus direitos.

 

Eu, que tivera o mandato de presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro cassado, com a supressão de direitos sindicais, estava praticamente proibido de participar de movimentos populares e organizações dos trabalhadores.

 

Mas, teimosamente, participava de Movimentos da Igreja Católica, espaço ainda pouco controlado pela ditadura. Naquele tempo, era a Igreja considerada a voz do povo. Através dos espaços da Igreja, estavam surgindo  alguns movimentos populares. Na Igreja , ainda era possível reuniões para reflexões e discussões das questões sociais.

 

Em certo dia, Ivan Pinheiro, colega do Banco do Brasil, engajado na luta pelas liberdades democráticas, procurou-me e falou:

- Edmílson, ano que vem haverá eleições parlamentares e eu quero propor que você seja candidato a deputado Estadual pelo MDB (movimento Democrático Brasileiro).

 

Nas eleições de 1974, tínhamos participado em campanhas de candidatos do grupo chamado “Autênticos do MDB”, uma espécie de esquerda do partido, que tentava fazer uma verdadeira oposição ao regime militar. Majoritariamente, o MDB colaborava com o regime.

 

Depois, procurou-me também o Alfredo Maciel, militante do grupo “Autênticos do MDB”, fazendo-me a mesma proposta:

- Edmílson, eu e um grupo de militantes do MDB propomos que você seja candidato a deputado estadual. Propomo-nos a ajudar na campanha. Acrescentando: - você tem os direitos sindicais cassados, mas não os direitos políticos.

 

Levei a ideia aos companheiros do Movimento Sindical Bancário e ao pessoal do Grupo de Jovens da Igreja, que tinha a assessoria do saudoso então padre Celso José Pinto da Silva, vicário episcopal do Vicariato Oeste da cidade do Rio de Janeiro, logo depois, sagrado bispo auxiliar da Diocese e, mais tarde, nomeado bispo de Vitória da Conquista e a seguir, arcebispo de Teresina-PI.

 

Com o apoio desses companheiros, da Maria José, minha esposa e de outras lideranças populares, decidi aceitar o desafio da candidatura. Era um momento difícil. Além da repressão da ditadura e a corrupção que reinava na atividade política, tínhamos que enfrentar a descrença do povo. Com a descrença e o alheamento político, o povo votava em candidatos interesseiros e corruptos, a troco de promessas falsas. E ainda tínhamos que enfrentar a tragédia do roubo na  apuração dos votos, colocados nas urnas em cédulas.

 

De qualquer maneira, entramos em campanha, que foi muito movimentada e bonita. Fomos ao povão, levando a ideia de moralização e revitalização da política. Encontramos recusas, mas também muita aceitação. Tivemos derrotas e vitórias. Mas o saldo foi positivo.

 

Através da campanha eleitoral, incrementamos grandes debates e mobilizações, pelas liberdades democráticas e fim da ditadura em nosso país. E foi grande a participação da juventude, que com sua garra e energia levou às ruas as campanhas populares.

 

As campanhas eleitorais, as atividades políticas, naquele momento, favoreceram o recomeço das organizações populares, a reabertura dos sindicatos e o interesse do povo pela política. Esses eram os objetivos das candidaturas populares.

 

Lamentavelmente, hoje, após quase quarenta anos do fim da ditadura, a participação do povo na política é quase nada. Limita-se à votação nas eleições. Os eleitos, que deviam colocar os mandatos a serviço da organização popular, não o fazem. Submetem-se às regras dos poderes institucionais, a serviço do nefasto poder econômico, que no fundo conduz a política do jeito que lhe interessa.

 

Por tudo isso, há que haver uma profunda reflexão, autocrítica e revisão  de comportamento dos que lutavam pelas liberdades democráticas, contra a ditadura. Todos lutavam pela efetiva participação do povo na construção da sociedade democrática, com o combate a sistemas políticos e econômicos que oprimem e excluem, em favor de seus interesses gananciosos.

 

O que temos visto, após fim da ditadura, são governos que se sucedem, adaptando-se às regras desses sistemas, com alianças espúrias, colaborando com a perpetuação da ganância, do acúmulo de riquezas nas mãos de poucos, gerando assim, exclusão, pobreza, miséria e dependência.

 

Isso não pode continuar, os jovens, os trabalhadores, o povo de um modo geral têm que se organizar, participar e conquistar sua liberdade, o direito de conduzir os seus destinos. E, particularmente, como outrora, é fundamental a efetiva participação da juventude, esperança de um mundo novo.

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