NOVENAS DE MAIO NO SERTÃO
Edmílson Martins
Maio de 2021
Vivemos tempos duros: de violência, mediocridades, maus governantes e corrupção. Situações criadas e mantidas por sistemas políticos e econômicos que priorizam o consumo e o lucro, em detrimento dos valores que ajudam no crescimento humano. Por isso, é preciso resgatar os valores da nossa tradição cultural. Um povo que não preserva sua história e sua cultura é presa fácil dos dominadores.
Nasci e cresci no sertão nordestino, Ceará, convivendo com as múltiplas e ricas atividades culturais, que encantaram gerações. A lembrança delas sempre me emociona. Entre as diversas práticas que compunham a cultura popular, havia as festas religiosas.
Todo ano, no mês de maio, acontecia a novena de Nossa Senhora. Além de forte demonstração de fé, a novena era festa popular e fazia parte da tradicional cultura do povo sertanejo.
Cada dia, era realizada na casa de uma família devota. Reunia toda a população. O evento era tão forte que atraía famílias de lugares os mais distantes. Famílias inteiras caminhavam à noite, pelas estradas escuras, quando não tinha a luz do luar, até o local do Encontro.
As pessoas, ás vezes, gastavam até uma hora caminhando pelas estradas e se divertiam cantando músicas religiosas. Isso é bem lembrado na música “Estrada de Canindé”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga:
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé.
Na novena, rezava-se, cantava-se, confraternizava-se. Velhos, jovens, crianças, homens e mulheres. Todos se juntavam e formavam uma grande família. Nesses encontros fraternais, era muito comum surgirem namoros, que, muitas vezes, levavam ao casamento.
A família que recebia os devotos e amigos, preparava adequadamente a casa. E ao final da reza, tinha bate-papos, com aluá, bolo de puba, pamonha, tapioca, beiju, etc.
As novenas funcionavam como prática de louvor, amadurecimento na fé e diversão. Aprendiam-se as principais orações e cantos religiosos, com breves informações sobre os Evangelhos e vida dos santos.
Hoje, infelizmente, desapareceram as novenas e outras tradicionais práticas da cultura popular. Tudo por causa de um sistema fundamentado no consumo, lucro e acúmulo de riquezas nas mãos de poucos, com desprezo de seres humanos e de seus valores e direitos fundamentais.
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