AS
TENTAÇÕES DO PODER
Edmílson Martins
JUNHO/2021
Jesus resolveu
recolher-se em lugar distante das aglomerações para refletir sobre o Projeto de
implantação do Reino do Pai aqui na Terra. O mundo estava muito complicado,
caótico. Era preciso conectar-se com o Autor do Projeto, aconselhar-se e saber
como começar.
Tudo estava muito difícil, a humanidade muito
alienada, apegada demais às coisas terrenas e submetida às ardilosas ações de
Satanás. Deus confiara demais nos seres humanos, que não souberam corresponder
a essa confiança. Foram na onda das falsas promessas dos dominadores.
Jesus estava no seu recolhimento, meditando, conversando
com o Pai, quando chegou Satã, sorrateiro, cheio de boa vontade, fazendo belas
propostas. E falou a Jesus:
- Olha aqui, você está querendo encontrar um jeito de
governar o mundo, para melhorar a vida das pessoas. E sabe que isso é difícil, porque
as estruturas reinantes dificultam a governabilidade, Certo? Mas eu posso
ajudar.
Jesus, que conhecia
as astúcias do tinhoso, as suas intenções malévolas, disfarçadas de
benevolências, e tendo absoluta certeza do que devia fazer, ficou calado, nada
respondeu. Lembrou-se das tentações através da História. Aquelas que começaram
com o primeiro casal habitante da Terra. Lembrou-se de Salomão e Jeroboão, que
cederam às tentações do poder, do luxo e da riqueza, com alianças espúrias, causando
decadência em seus governos. Mas lembrou-se também da resistência de Abrahão,
de Moisés e dos profetas, que não arredaram pé dos caminhos traçados por Deus.
O diabo, sabendo do
compromisso de Jesus com o Pai, insistiu, dizendo que o tal Projeto de Deus para
o mundo era muito complicado, muito exigente, com soluções a longo prazo. O povo
precisava de coisas mais imediatas. Como, por exemplo, tomar o café da manhã,
almoçar, jantar e, nos fins de semana poder ir à praia, ou à piscina e tomar
sua cervejinha. Precisava ter um carnaval, futebol, ir ao shopping, etc.
- Então, que tal? –
insistiu o Belzebu. Essas coisas são fáceis de fazer. O povo vai ficar
satisfeito, você será adorado e governará com facilidade. Não precisa ficar
pensando em mudança de estruturas, ou mudança na cabeça do povo. Não perca
tempo. Ninguém quer mudar.
Jesus levantou a cabeça e disse, com muita autoridade:
- Satã, nem só de pão
e lazer vive o homem, mas de valores que o ajudam a viver verdadeiramente
feliz. O homem precisa de conhecimento, cultura, saúde, educação, tudo que
ajude no seu crescimento e na busca da vida eterna.
Mas Satanás não se
contentou. Jesus estava na montanha, lugar de comunicação com o Altíssimo.
Havia ali um grande precipício. Contemplava as belezas naturais vistas do alto.
O demônio, observando tudo, fez a segunda tentativa para desviar Jesus do
caminho indicado pelo Pai. E propôs:
- Você tem poderes.
Pode até pular neste precipício. Faça alguma coisa extraordinária para chamar a
atenção do povo e ele o acompanhará. Faça em nome de Deus. Você será
considerado mito. Qualquer coisa que pareça ser extraordinária, feita em nome
de Deus, levará o povo a admirá-lo e segui-lo.
Mais uma vez, Jesus, que não aceita enganar o povo,
recusou a proposta de Satã, citando ensinamento das Sagradas Escrituras:
- Está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus”.
Quis dizer: as pessoas têm todas as condições, já
dadas por Deus, para resolver os seus problemas, não precisam ser conduzidas
por ninguém.
Por último, Satã, do alto da montanha, apontou para
todos os reinos do mundo e disse:
- Eu tenho domínio
sobre todos esses reinos e posso lhe ceder tudo, se você fizer aliança comigo,
aceitando as minhas condições. Quer dizer, submeter-se às minhas exigências,
adorando-me.
Jesus, iluminado pelo
Pai, com muita firmeza, expulsa Satanás, com veemência, citando outra vez as
Sagradas Escrituras:
- Afasta-te de mim,
Satanás. Está escrito: “Somente a Deus adorarás”.
Portanto, a
implantação do Projeto do Reino de Deus, ou seja, da sociedade justa,
fundamentada na verdade, ética e valores perenes, exige coerência de princípios
inegociáveis. Alianças são cabíveis, mas dentro desses princípios, nunca com
enganações, ou subterfúgios.
Depois do
recolhimento, Jesus partiu para a luta, levando ao povo o Projeto do Reino, nas
cidades, nas praças, sinagogas e todos os lugarejos. Procurando concretizar a
verdadeira aliança, a Aliança proposta por Deus à humanidade, ia aonde o povo
estava, convocando-o para a construção da sociedade justa e fraterna.
Aí, Jesus enfrentou
outras tentações. Os poderosos, representantes de Satã, tentaram afastá-lo das
suas pregações em torno da construção do Reino de Deus. E, certamente,
propuseram alianças que o livrariam do sacrifício da cruz. Mas Ele preferiu
manter fidelidade aos princípios que defendia. O projeto que ele abraçava ia
muito além dos interesses de governos, partidos e grupos, que, na verdade, não
queriam mudanças.
O projeto de Jesus
previa mudanças definitivas na sociedade. E não admitia conchavos, nem alianças
espúrias. Não estava Jesus preocupado com governabilidade, mas com a defesa da vida,
da verdade, da justiça e da paz. Todos, sem exclusão, eram convidados a
participar desse projeto, num grande mutirão para a construção de uma sociedade
feliz.
O projeto de sociedade
apresentado por Jesus, cujas bases estão no Sermão da Montanha (Evangelho de
Mateus, caps.5 a 7) é, inegavelmente, verdadeiro e eficaz. Contém os valores
necessários para fazer o povo feliz. Mas, para colocá-lo em prática é
necessário enfrentar oposições, prepotências e perseguições. Diante disso,
Jesus ensinou: Não tenham medo daqueles
que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tenham medo daqueles que podem
arruinar a alma e o corpo no inferno.
A postura ética de
Jesus, a coerência em relação aos princípios, diante dos obstáculos que se
apresentavam, enquanto mostrava ao povo o projeto do Reino, precisa ser olhada
com atenção pelos que desejam lutar por mudanças sociais.
Como disse o poeta, é
preciso ter: “A certeza na frente, a
história na mão/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Aprendendo e
ensinando uma nova lição”. E a luta tem que ser: “Nas escolas, nas ruas, campos, construções”. Ou seja: É preciso ter
um projeto verdadeiro, ter firmeza de princípios e estar sempre junto ao povo,
não em conluios com a elite dominante.
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