quinta-feira, 17 de junho de 2021

AS TENTAÇÕES DO PODER

 




                        AS TENTAÇÕES DO PODER

 

                                                    Edmílson Martins

                                                     JUNHO/2021

 

Jesus resolveu recolher-se em lugar distante das aglomerações para refletir sobre o Projeto de implantação do Reino do Pai aqui na Terra. O mundo estava muito complicado, caótico. Era preciso conectar-se com o Autor do Projeto, aconselhar-se e saber como começar.

 

Tudo estava muito difícil, a humanidade muito alienada, apegada demais às coisas terrenas e submetida às ardilosas ações de Satanás. Deus confiara demais nos seres humanos, que não souberam corresponder a essa confiança. Foram na onda das falsas promessas dos dominadores.

 

Jesus estava no seu recolhimento, meditando, conversando com o Pai, quando chegou Satã, sorrateiro, cheio de boa vontade, fazendo belas propostas. E falou a Jesus:

- Olha aqui, você está querendo encontrar um jeito de governar o mundo, para melhorar a vida das pessoas. E sabe que isso é difícil, porque as estruturas reinantes dificultam a governabilidade, Certo? Mas eu posso ajudar.

 

Jesus, que conhecia as astúcias do tinhoso, as suas intenções malévolas, disfarçadas de benevolências, e tendo absoluta certeza do que devia fazer, ficou calado, nada respondeu. Lembrou-se das tentações através da História. Aquelas que começaram com o primeiro casal habitante da Terra. Lembrou-se de Salomão e Jeroboão, que cederam às tentações do poder, do luxo e da riqueza, com alianças espúrias, causando decadência em seus governos. Mas lembrou-se também da resistência de Abrahão, de Moisés e dos profetas, que não arredaram pé dos caminhos traçados por Deus.

 

O diabo, sabendo do compromisso de Jesus com o Pai, insistiu, dizendo que o tal Projeto de Deus para o mundo era muito complicado, muito exigente, com soluções a longo prazo. O povo precisava de coisas mais imediatas. Como, por exemplo, tomar o café da manhã, almoçar, jantar e, nos fins de semana poder ir à praia, ou à piscina e tomar sua cervejinha. Precisava ter um carnaval, futebol, ir ao shopping, etc.

 

- Então, que tal? – insistiu o Belzebu. Essas coisas são fáceis de fazer. O povo vai ficar satisfeito, você será adorado e governará com facilidade. Não precisa ficar pensando em mudança de estruturas, ou mudança na cabeça do povo. Não perca tempo. Ninguém quer mudar.

 

Jesus levantou a cabeça e disse, com muita autoridade:

- Satã, nem só de pão e lazer vive o homem, mas de valores que o ajudam a viver verdadeiramente feliz. O homem precisa de conhecimento, cultura, saúde, educação, tudo que ajude no seu crescimento e na busca da vida eterna.

 

Mas Satanás não se contentou. Jesus estava na montanha, lugar de comunicação com o Altíssimo. Havia ali um grande precipício. Contemplava as belezas naturais vistas do alto. O demônio, observando tudo, fez a segunda tentativa para desviar Jesus do caminho indicado pelo Pai. E propôs:

- Você tem poderes. Pode até pular neste precipício. Faça alguma coisa extraordinária para chamar a atenção do povo e ele o acompanhará. Faça em nome de Deus. Você será considerado mito. Qualquer coisa que pareça ser extraordinária, feita em nome de Deus, levará o povo a admirá-lo e segui-lo.

 

Mais uma vez, Jesus, que não aceita enganar o povo, recusou a proposta de Satã, citando ensinamento das Sagradas Escrituras:

- Está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus”.

Quis dizer: as pessoas têm todas as condições, já dadas por Deus, para resolver os seus problemas, não precisam ser conduzidas por ninguém.

 

Por último, Satã, do alto da montanha, apontou para todos os reinos do mundo e disse:

- Eu tenho domínio sobre todos esses reinos e posso lhe ceder tudo, se você fizer aliança comigo, aceitando as minhas condições. Quer dizer, submeter-se às minhas exigências, adorando-me.

 

Jesus, iluminado pelo Pai, com muita firmeza, expulsa Satanás, com veemência, citando outra vez as Sagradas Escrituras:

- Afasta-te de mim, Satanás. Está escrito: “Somente a Deus adorarás”.

 

Portanto, a implantação do Projeto do Reino de Deus, ou seja, da sociedade justa, fundamentada na verdade, ética e valores perenes, exige coerência de princípios inegociáveis. Alianças são cabíveis, mas dentro desses princípios, nunca com enganações, ou subterfúgios.

 

Depois do recolhimento, Jesus partiu para a luta, levando ao povo o Projeto do Reino, nas cidades, nas praças, sinagogas e todos os lugarejos. Procurando concretizar a verdadeira aliança, a Aliança proposta por Deus à humanidade, ia aonde o povo estava, convocando-o para a construção da sociedade justa e fraterna.

 

Aí, Jesus enfrentou outras tentações. Os poderosos, representantes de Satã, tentaram afastá-lo das suas pregações em torno da construção do Reino de Deus. E, certamente, propuseram alianças que o livrariam do sacrifício da cruz. Mas Ele preferiu manter fidelidade aos princípios que defendia. O projeto que ele abraçava ia muito além dos interesses de governos, partidos e grupos, que, na verdade, não queriam mudanças.

 

O projeto de Jesus previa mudanças definitivas na sociedade. E não admitia conchavos, nem alianças espúrias. Não estava Jesus preocupado com governabilidade, mas com a defesa da vida, da verdade, da justiça e da paz. Todos, sem exclusão, eram convidados a participar desse projeto, num grande mutirão para a construção de uma sociedade feliz.

 

O projeto de sociedade apresentado por Jesus, cujas bases estão no Sermão da Montanha (Evangelho de Mateus, caps.5 a 7) é, inegavelmente, verdadeiro e eficaz. Contém os valores necessários para fazer o povo feliz. Mas, para colocá-lo em prática é necessário enfrentar oposições, prepotências e perseguições. Diante disso, Jesus ensinou: Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tenham medo daqueles que podem arruinar a alma e o corpo no inferno.

 

A postura ética de Jesus, a coerência em relação aos princípios, diante dos obstáculos que se apresentavam, enquanto mostrava ao povo o projeto do Reino, precisa ser olhada com atenção pelos que desejam lutar por mudanças sociais.

 

Como disse o poeta, é preciso ter: “A certeza na frente, a história na mão/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Aprendendo e ensinando uma nova lição”. E a luta tem que ser: “Nas escolas, nas ruas, campos, construções”. Ou seja: É preciso ter um projeto verdadeiro, ter firmeza de princípios e estar sempre junto ao povo, não em conluios com a elite dominante.


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