domingo, 6 de dezembro de 2020

TRISTE MADRUGADA

 

 

               

            TRISTE MADRUGADA...

                Edmílson Martins

                Novembro de 2020

 

O quadro político reinante nos últimos tempos em nosso país, incluindo as eleições municipais de 2020 e as eleições presidenciais de 2018, me faz lembrar o samba “Triste Madrugada”, de Jorge Costa, celebrizado nas vozes de Jair Rodrigues e Beth Carvalho: “Triste madrugada foi aquela/Que eu perdi meu violão/Não fiz serenata pra ela/E nem cantei uma linda canção”.

 Pois é, que triste madrugada estamos vivendo na política do Brasil. Perdemos nosso violão: o povo nas ruas, e não fazemos serenata para a Democracia. Não cantamos uma linda canção. Uma canção para quem amamos, que sai do coração dizendo assim: “Abre a janela amor, abre a janela, dê um sorriso e joga uma flor para nós”.

 Parece que a nossa namorada, prisioneira dos seus algozes, não consegue abrir a janela, não pode dar seu lindo sorriso, nem pode jogar uma flor para nós. Estamos sem violão e sem a namorada, tristes na madrugada.

 Aliás, isso não é novo. Há cinquenta e tantos anos, Chico Buarque, na sua linda canção “Roda Viva”, já dizia: “Não posso fazer serenata/A roda de samba acabou/A gente toma a iniciativa/Viola na rua, a cantar/Mas eis que chega a roda-viva/E carrega a viola pra lá”.

 Ontem, como hoje, sempre a tentativa tirânica de impedir a prática da liberdade, a vivência do amor, o exercício democrático da cidadania, a convivência pura com o que amamos.

 A perda do nosso violão, isto é, do povo participando com o seu legítimo direito de exercer, com ética e liberdade a cidadania, não nos deixa fazer serenata pra ela, pra Democracia, nem cantar uma linda canção. As eleições têm sido uma serenata sem violão. Com nossa voz rouca, sem eco, sem a ajuda do violão, a nossa namorada não pode ouvir a nossa serenata. Nossa voz ficou sem eco. E não podemos cantar aquela linda canção.

 Mas vamos refletir com Milton Nascimento, que há cinquenta anos, na canção “Travessia”, desprezava o usurpador e retomava a caminhada, com coragem e ardor: “Vou seguindo pela vida me esquecendo de você/Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver/Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer/Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver”.

 E ainda com Chico Buarque, que também há cinquenta anos, na canção “Apesar de Você”, semeava a esperança, lançando um grito de alerta, com grave advertência:

“Apesar de você/Amanhã há de ser/Outro dia/Eu pergunto a você/Onde vai se esconder/Da enorme euforia/Como vai proibir/Quando o galo insistir/Em cantar/Água nova brotando/E a gente se amando/Sem parar”.

 
Enfim, mesmo sem violão, vamos em frente inspirados nesses versos da linda canção antiga “Malandrinha”, de 1927, que dizem ser do compositor Freire Junior, eternizada na voz retumbante do cantor Francisco Alves e de outros cantores da MPB:

“Acorda minha bela namorada/A Lua nos convida a passear/Seus raios iluminam toda a estrada/Por onde nós havemos de passar”.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário