O AÇUDE GRANDE
Edmílson Martins
Janeiro/2020
Continuando a
desengavetar minhas memórias, lembrei-me dos banhos aos domingos no Açude
Grande do sítio Ipueira, no sertão do Ceará, lugar onde nasci e do qual guardo
ternas recordações.
O Açude Grande era
assim chamado porque era o maior da redondeza, Acumulava milhões de litros de
água e resistia às secas frequentes, somente secando quando a estiagem era
muito longa.
Era nesse açude que,
aos domingos, meninos, meninas, rapazes e moças reuniam-se para tomar banho,
nadar e brincar. Era o piscinão sertanejo e área de lazer da população.
Primeiro iam às
mulheres e depois os homens. Naquele tempo, décadas de 1940/1950, ainda não
existia por lá o short de banho e o maiô. Todos tomavam banho sem roupa.
Os homens davam um
tempo para que as mulheres tomassem seu banho, nadassem e brincassem. Depois,
iam e ficavam atrás da alta parede do açude. E gritavam: “Já acabaram”? Elas respondiam: “Ainda não”! Os homens esperavam mais algum tempo e
gritavam outra vez: “Já terminaram”? Elas respondiam: “Ainda não, estamos
terminando”! Até que terminavam e
gritavam de lá: “terminamos, podem vir”. E se retiravam, enquanto os homens
começavam o seu lazer.
As mulheres voltavam
para casa e, como sempre, tratavam de preparar o almoço. Naquele tempo era
assim: geralmente, as mulheres cuidavam das coisas de casa e os homens
trabalhavam na roça o dia todo. Então era normal que aos domingos as mulheres
preparassem as refeições.
Ficávamos no açude,
nadando, brincando, tagarelando, num gostoso convívio de lazer e alegria, que
durava algumas horas, até a hora do almoço, quando voltávamos para casa,
limpos, cansados e famintos.
Conversando com
alguns sobrinhos, filhos do meu irmão Emídio (de saudosa memória), que
conservam o pequeno sítio, onde eu e meus dezoito irmãos nascemos, perguntei
sobre os banhos no Açude Grande,
eles me responderam: “Tio,
ninguém mais toma banho lá não. Agora, com água encanada, banheiro e chuveiro
em casa, todo mundo toma banho de chuveiro”.
Lamentei e fiquei
triste, ao lembrar que os banhos no Açude Grande, aos domingos, era um motivo
de reunião de irmãos, primos e outros amigos. Era momento de lazer em conjunto,
de longas conversas e reflexões.
Com os avanços da
tecnologia, o mundo mudou, as pessoas mudaram, as relações mudaram, as
condições de vida mudaram. Mas fica no ar a pergunta: será que, no conjunto, o
mundo mudou pra melhor? As pessoas
Teoricamente
melhoraram de vida. Mas, são mais, ou menos felizes?