PRISÃO DOMICILIAR
Edmílson Martins
Janeiro 2016
Pardais, sabiás, rolinhas
Cantavam bem estridentes
Perguntei-lhes: por que gritam?
Eles falaram dolentes
Não os vemos no quintal
Convivendo com a gente.
Expliquei-lhes comovido
Estamos trancafiados
Eles cantaram tristonhos
E muito desconsolados
A invenção de gaiolas
É coisa de retardados.
Continuando o lamento
Os pássaros informavam
As plantações do jardim
Hoje também reclamavam
As roseiras por protesto
Perfume não exalavam.
Nossa irmã Lavadeira
Que com Zezé conversava
Tá sentindo falta da água
Com que sempre se banhava
Pois quando abria a torneira
Água limpa se espalhava.
Eu quis explicar aos pássaros
A questão da segurança
Que entre os seres humanos
Não existe confiança
Que diferente das aves
O homem só faz lambança.
Disse-lhes que fomos vítimas
Do desatino humano
Que nos prenderam em casa
Jovens perdidos e insanos
Que a própria sociedade
Leva-os a causar danos.
Os homens fazem gaiolas
Para prender passarinhos
E hoje também por medo
Resolvem viver sozinhos
Nas suas próprias prisões
Cercados e cordeirinhos.
Sentimos que os passarinhos
Tentando nos confortar
Disseram cantando alto
Não vale desanimar
Pois é preciso ter forças
Bater asas e voar.
Um querido Bem-te-vi
Que estava fora daqui
Hoje voltou solidário
Com o seu canto bonito
Dizendo trazer seu grito
De pássaro libertário.
Passando pelo jardim
Ouvi da rosa amarela
Quero saber da Zezé
Tou sentindo falta dela
Não conheço jardineira
Carinhosa como ela.
E hoje pela manhã
Bem na hora do café
Na cozinha dois pardais
Chegaram pé-ante-pé
Cantarolando disseram
Bom dia, dona Zezé.
A natureza reclama
Não perdoa a insensatez
De criaturas insanas
Com a sua sordidez
Que deixa mundo caótico
Com a sua estupidez.
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