domingo, 24 de janeiro de 2016

A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E A RESISTÊNCIA À DITADURA










A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E A RESISTÊNCIA
                                          Edmílson Martins de Oliveira 
                                              Rio, 2009

            A resistência à ditadura militar, iniciada em 1964 com final em 1985, foi cercada de poesias e músicas, cantadas e vividas pelo povo brasileiro. São obras de artistas populares, engajados na luta pelas liberdades, que encantaram toda a nação e ajudaram o povo a se indignar contra a opressão.

            Primeiro, com Chico Buarque, fomos “ver a banda passar, cantando coisas de amor”. E, quando “tudo tomou seu lugar, depois que a banda passou”, voltamos à dura realidade e, com Geraldo Vandré, “aprendemos a dizer não, ver a morte sem chorar” e resolvemos “viver para consertar”, porque “tudo estava fora de lugar”.

            Depois, com Chico, “queríamos em nosso destino mandar, mas eis que chega roda-viva e carrega o destino pra lá”. E fizemos apelos à Carolina, que não viu “o tempo passar na janela”. E, ainda com Chico, apelamos para a ironia: “Por este pão pra comer, por este chão pra dormir, por me deixar respirar, por me deixar existir, pela cachaça de graça que a gente tem que engolir..., Deus lhe pague”.

            Com Milton Nascimento, na escuridão da ditadura, fizemos ecoar o nosso lamento/ protesto: “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver, forte sou, mas não tem jeito, hoje tenho que chorar, minha casa não é minha, nem é meu este lugar”. E "soltamos a voz nas estradas e já não podíamos parar. Como podíamos sonhar, se nosso caminho era de pedra?" E “não queríamos a morte, tínhamos muito que viver”. Então, tomamos a decisão de “fazer com nosso braço o nosso viver”.

            Acompanhamos Geraldo Vandré, “caminhando e cantando e seguindo a canção”, por sermos “todos iguais, braços dados ou não” e conclamamos: “Vem, Vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

            Outra vez, com Chico, dirigimo-nos àquele que “inventou de inventar toda a escuridão” e fizemos uma dura advertência: “Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada neste meu penar”. E profetizamos: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.E continuamos na luta, apesar “do amor reprimido, do grito contido e do samba no escuro”. E fizemos um apelo dramático ao Pai: “Afasta de mim este cálice, de vinho tinto de sangue”. E gritamos: “mesmo calada a boca, resta o peito” e “quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado”.

            Com João Bosco, Aldir Blanc e Elis Regina, “sonhamos com a volta do irmão do Henfil (Betinho) e de tanta gente que partiu num rabo de foguete’ e sabíamos "que uma dor assim pungente, não haveria de ser inutilmente a esperança” de um dia vermos, com Chico, “uma cidade inteira a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear”.

            Finalmente, gritamos, com Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a certeza de ser um eterno aprendiz”. Porque sabemos que “A vida devia ser bem melhor e será” e  “é bonita, é bonita, é bonita”.

            Tudo isso vivemos e cantamos e devemos lembrar sempre, como forma de fixação desse capítulo tenebroso da nossa História, para que não fique, como diz o Chico, como “uma passagem desbotada na memória de nossas novas gerações”. Para que “a nossa pátria mãe não durma mais tão distraída, sem perceber que é subtraída em tenebrosas transações”. Valeu a pena a nossa luta? Quem responde é o grande poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

 
                                                                       
                                                              
                        
                                  


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