segunda-feira, 10 de novembro de 2025

TEMPOS DE SONHOS

 

TEMPOS DE SONHOS

 

                                    Edmílson Martins de Oliveira

                                    Novembro/2025

 

Primeiro, eu alimentava o sonho de ir para a escola. Alfabetizado por José, meu irmão mais velho, de saudosa memória, queria continuar os estudos. No seco sertão onde eu morava não havia escola. Meu irmão Agostinho, que no mês de agosto de 2025 completou 100 anos, morava na cidade de Crato-Ceará e pra lá me levou. Comecei a estudar em escola formal. Sonho realizado.

 

Depois, comecei a sonhar com a busca de melhores condições de vida. Entendi logo que para realizar esse sonho teria que estudar muito. Naquele tempo, ter um emprego no Banco do Brasil era o meu sonho, como o de muitos jovens da minha geração. Era o melhor emprego do país.

 

Foram cinco anos de estudos intensivos. Morando no Rio de Janeiro, em 1962, fiz o concurso, tornei-me funcionário do Banco do Brasil. Sonho realizado. Consegui, a duras penas, o emprego que queria. Foram 24 anos de trabalho no banco, onde adquiri as melhoras condições de vida desejadas.

 

Mas não parei de sonhar. Queria algo mais. Sonhava, e ainda sonho, com um mundo sem desigualdades sociais, sem miséria, sem fome, sem violência, sem guerras, ou seja, um mundo conforme pregou Jesus Cristo no Sermão da Montanha. Ele pregou a implantação do Reino de Deus, com libertação total dos seres humanos. No tempo da Criação, no Jardim do Éden, fora assim.

 

Mas, parafraseando o poeta e compositor Geraldo Vandré, nos sonhos que fui sonhando, as visões foram-se clareando, aprendi a dizer não, porque tudo estava fora de lugar e era preciso viver para consertar. Com vontade firme e braço forte, seria preciso construir um Reino que não tem rei.

 

Então já não me bastava o sonho de estudar e ter um bom emprego. Aprendi com a Igreja, a partir dos Evangelhos e dos documentos sociais do Concílio Vaticano II, que é preciso mudar o mundo, sendo necessário para isso, mudanças pessoais e engajamento nas lutas sociais. Conforme Raul Seixas, “Sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só / Mas sonho que se sonha junto é realidade". A partir dessa compreensão, muitos estudos, reflexões e ações.

 

A utopia, a busca, a esperança de um mundo melhor permanecem, com a certeza na frente e a História na mão, como diz a canção do Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei de flores”. É difícil? Sim. Mas eu fico com o pensamento do poeta Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... ora! /Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas”!

 

Os sonhos só se realizam na teimosia da busca, no combate incansável e permanente, na certeza de que a vitória é certa. O mais construtivo e emocionante não é o sonho realizado, mas o combate, o empenho, a persistência pela realização do sonho. Estive e ainda estou engajado nesse projeto até o final da corrida. E convido todos a se engajarem. Vale a pena se a alma não for pequena, conforme o poeta Fernando Pessoa, em “Mar Português”.

 

 

 

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