terça-feira, 11 de novembro de 2025

LEMBRANÇAS DA MINHA ADOLESCÊNCIA

 

 

 

 Pode ser um doodle de uma ou mais pessoas

    LEMBRANÇAS DA MINHA ADOLESCÊNCIA

                       Edmílson Martins de Oliveira

                        Novembro/2025

 

Como já falei, aos doze anos de idade, saí do Sítio Ipueira, no sertão e fui para a cidade de Crato, região do Cariri, considerada o “oásis no sertão”, por causa da Serra do Araripe, com vasta floresta e fontes de água. Crato, situada no pé da serra, tem os benefícios oriundos daquela chapada do Araripe.

 

Chegando ao Crato no início da minha adolescência, tive alguma dificuldade de adaptação. Sendo da roça, do alto sertão do Ceará, onde as informações eram muito restritas, eu ficava acanhado, no contato com colegas da escola. Tinha pouca conversa. Ficava tímido, sem assunto.

 

E tive que enfrentar os preconceitos que existiam em relação às pessoas da roça, que eram chamados de “matutos”, ou “beradeiros”, “roceiros”, etc. Com isso, as pessoas da roça sentiam-se inferiorizadas. Na verdade, quem morava na cidade era mais bem informado, sabia das coisas. Hoje, com o advento do rádio, da televisão e da internet desapareceu a diferença entre citadinos e sertanejos. Todos têm os mesmos acessos à informação.

 

Nos contatos, sentia-me inseguro. Na cidade, tudo era diferente dos costumes do sertão. Só com o tempo e esforços, fui me ambientando e me adaptando. Penei, mas me adaptei. Aos poucos, fui observando, aprendendo e ensinando. Na roça, aprende-se muitas coisas que na cidade não se aprende.

 

Na escola, embora convivesse com meninos de classe média e, até de classe rica, convivia também com meninos de classe pobre. Com esses, por serem simples como eu, me identificava e me relacionava melhor. Geralmente, a gente se sente melhor, com quem se identifica.

 

Depois de uns três ou quatro anos, quando eu já me destacava, em notas, como primeiro aluno da turma, fui adquirindo mais segurança. Os colegas já me davam mais atenção. Com isso, fui me desembaraçando e me tornando mais bem relacionado.

 

Com um relacionamento social mais amplo, cresceu a quantidade de amigos. A adolescência ficou mais descontraída, mais alegre e romântica, como deve ser essa fase da vida. Com mais relacionamentos, mais amizades, mais emoções, sonhos e fantasias, essa fase é saborosa, multicolorida, com festas, flertes, namoros e outras emoções.

 

Havia na cidade as três classes sociais: pobre, média e rica. Os jovens de classe pobre que estudavam no grupo escolar municipal, geralmente, terminando a quinta série, paravam de estudar. O ensino médio só existia no Colégio Diocesano, masculino e Colégio Santa Teresa, feminino, para jovens ricos ou de classe média, e na Escola Técnica de Comércio da Associação dos Empregados no Comércio de Crato. Escola noturna. Geralmente, lá estudava quem trabalhava no comércio.

 

Durante toda minha adolescência, porque trabalhava no comércio, estudei nessa escola. Concluí o curso comercial básico e o técnico de contabilidade. Lá, conquistei muitos amigos, com os quais passei alegres momentos. Juntos estudamos, trabalhamos, nos divertimos, sonhamos e embelezamos aquela fase da vida com muitas emoções. Tempo inesquecível. A gente revive quando se lembra daquela época.

 

Crato era uma cidade alegre, divertida, considerada o centro cultural da região do Cariri. Lá, eu vivi intensa e gostosa atividade social, até com alguma participação política. Lembro-me do movimento estudantil, com a União dos Estudantes de Crato (UEC), que movimentava muito a juventude estudantil. Lembro-me também dos anos de eleições, dos comícios, das campanhas eleitorais. Ali, comecei a participar da vida social e política, começando também a entender o significado de cidadania.

 

Aos vinte e um anos de idade, quando terminava aquele tempo de adolescência, parti para o Rio de Janeiro, com as lembranças, sonhos e fantasias, em busca de novas aventuras. Já mais amadurecido, sem perder os sonhos e emoções, iniciei outra fase da vida, certamente, com outras características sociais e nova visão de mundo, já contadas em livros e textos, escritos em prosa e versos.

 

 

 

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

TEMPOS DE SONHOS

 

TEMPOS DE SONHOS

 

                                    Edmílson Martins de Oliveira

                                    Novembro/2025

 

Primeiro, eu alimentava o sonho de ir para a escola. Alfabetizado por José, meu irmão mais velho, de saudosa memória, queria continuar os estudos. No seco sertão onde eu morava não havia escola. Meu irmão Agostinho, que no mês de agosto de 2025 completou 100 anos, morava na cidade de Crato-Ceará e pra lá me levou. Comecei a estudar em escola formal. Sonho realizado.

 

Depois, comecei a sonhar com a busca de melhores condições de vida. Entendi logo que para realizar esse sonho teria que estudar muito. Naquele tempo, ter um emprego no Banco do Brasil era o meu sonho, como o de muitos jovens da minha geração. Era o melhor emprego do país.

 

Foram cinco anos de estudos intensivos. Morando no Rio de Janeiro, em 1962, fiz o concurso, tornei-me funcionário do Banco do Brasil. Sonho realizado. Consegui, a duras penas, o emprego que queria. Foram 24 anos de trabalho no banco, onde adquiri as melhoras condições de vida desejadas.

 

Mas não parei de sonhar. Queria algo mais. Sonhava, e ainda sonho, com um mundo sem desigualdades sociais, sem miséria, sem fome, sem violência, sem guerras, ou seja, um mundo conforme pregou Jesus Cristo no Sermão da Montanha. Ele pregou a implantação do Reino de Deus, com libertação total dos seres humanos. No tempo da Criação, no Jardim do Éden, fora assim.

 

Mas, parafraseando o poeta e compositor Geraldo Vandré, nos sonhos que fui sonhando, as visões foram-se clareando, aprendi a dizer não, porque tudo estava fora de lugar e era preciso viver para consertar. Com vontade firme e braço forte, seria preciso construir um Reino que não tem rei.

 

Então já não me bastava o sonho de estudar e ter um bom emprego. Aprendi com a Igreja, a partir dos Evangelhos e dos documentos sociais do Concílio Vaticano II, que é preciso mudar o mundo, sendo necessário para isso, mudanças pessoais e engajamento nas lutas sociais. Conforme Raul Seixas, “Sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só / Mas sonho que se sonha junto é realidade". A partir dessa compreensão, muitos estudos, reflexões e ações.

 

A utopia, a busca, a esperança de um mundo melhor permanecem, com a certeza na frente e a História na mão, como diz a canção do Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei de flores”. É difícil? Sim. Mas eu fico com o pensamento do poeta Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... ora! /Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas”!

 

Os sonhos só se realizam na teimosia da busca, no combate incansável e permanente, na certeza de que a vitória é certa. O mais construtivo e emocionante não é o sonho realizado, mas o combate, o empenho, a persistência pela realização do sonho. Estive e ainda estou engajado nesse projeto até o final da corrida. E convido todos a se engajarem. Vale a pena se a alma não for pequena, conforme o poeta Fernando Pessoa, em “Mar Português”.

 

 

 

PRODUTO DE ESTRUTURAS PERVERSAS

 

   PRODUTO DE ESTRUTURAS PERVERSAS

                         Edmílson Martins de Oliveira

                         Novembro/2025

 

Ele nasceu e se criou

No meio da perdição

Sem escola sem trabalho

Só consumo e submissão

Com o canto das sereias

É levado à ilusão

 

Ganhar dinheiro no tráfico

Sem pensar na maldição

Os convites do consumo

Lhe geram muita ambição

Pra ganhar uma miséria

Um emprego não quer não

 

É fácil entrar no crime

Embora sair não possa

Compensa dinheiro fácil

Melhor que ficar na fossa

Quer ficar dentro da moda

Porque o consumo lhe força

 

Hoje o crime organizado

Pra ele é profissão

E se sente muito livre

Melhor do que ter patrão

Tráfico é coisa livre

Emprego é sujeição

 

Do poderoso chefão

Que vive nos bastidores

É apenas funcionário

Livres ficam os senhores

Vivendo na escravidão

Ele fica com as dores

 

 

Esse menino, coitado

É vítima de covardes

De sujeitos desumanos

Que matam com muito alarde

E ainda louva o malfeito

Pousando com muito charme

 

Os sistemas sociais

Que causam desigualdades

Criam muitas condições

Para desumanidades

Corrompendo a juventude

A matam sem piedade

 

Governantes sem decência

Sem moral sem dignidade

Que fingem manter a ordem

Matando com crueldade

Não têm lugar na História

E não deixarão saudade

 

Eles promovem o crime

E negam vida decente

Depois corrompem o jovem

E o chamam de delinquente

Para depois o matar

Dizendo que não é gente

 

Chega de hipocrisia

O povo tem que acordar

Contra os sistemas danosos

Todos temos que lutar

Já chega de consumismo

Esse mal tem que acabar