terça-feira, 27 de maio de 2025

PAPÁ BABUDO, NÃO

 

                              PAPÁ BABUDO, NÃO

                                               Edmílson Martins de Oliveira

                                               23 de maio de 2025

 

Rinaldo, meu filho, completa hoje cinquenta e cinco anos. É bom que chegue aos cem, para acompanhar a tradição da família. Meu irmão Agostinho completará em agosto próximo cem anos. Minha tia Lira partiu há alguns anos com cento e seis anos. E assim por diante. Gente dura na queda!

 

Em 1972, ele tinha dois anos e eu era presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. Se alguém perguntava por mim, ele prontamente respondia: “sinicato”, querendo informar que eu fora pro sindicato.

 

Depois, eu fui preso, por causa da perversa intervenção no sindicato feita pela ditadura civil/militar, que não gostava de militantes sindicais. Fiquei quinze dias sumido. Ninguém sabia onde eu estava. Alguns já suspeitavam que eu já estaria na barriga de alguma baleia ou tubarão. Corriam notícias de que presos políticos estariam sendo jogados em alto mar.

 

Mas, quinze dias depois, me encontraram num cárcere da Polícia Federal, Praça Quinze. Alívio para a família, amigos e companheiros de luta. Foi difícil e penosa a busca.

 

Diante de indícios de que eu estaria preso na Polícia Federal, Maria José, com amigos, fora me procurar. Um inspetor da Polícia expulsou-a de lá, aos gritos. Mas um carcereiro, homem simples, lhe falou, ao pé do ouvido: “Ele está aqui”. Ela, então, espalhou pra todo mundo.

 

Num domingo à tarde, vários amigos e familiares foram me visitar. Maria José levou Maurício, quatro anos e Rinaldo, dois anos. Este, quando me viu barbudo, estranhou e disse: “Papá babudo, não”. Foi difícil convencê-lo de que o “babudo” era seu pai.

 

Detalhe, tempos depois, ele se tornaria sindicalista e dirigente sindical, militante político e, hoje, escritor. Não funcionou o terror implantado pela ditadura. Pelo contrário, aquele fato colaborou para desenvolver sua consciência política e histórica, como também do seu irmão Maurício e suas irmãs, Eliane e Rosane, que nasceram depois.

 

Parabéns, moleque. E não se esqueça. Olhe a tradição familiar. De cem pra cima. Você ainda tem muito que navegar por este oceano de ondas turbulentas, que é o planeta Terra. Não largue os remos, até completar a travessia.

 

DE VOLTA À PRAÇA AMOROSA

 

    DE VOLTA À PRAÇA AMOROSA

                    Edmílson Martins de Oliveira

                    Maio/2025

 

Sentados na mesma praça

Onde tudo começou

Pois foi num tempo passado

Que começou o nosso amor

Vendo meninos brincando

Lembramos nosso vigor

 

Era uma praça simples

Hoje já modificada

Como nos modificamos

Lutando na caminhada

É praça pra nós presente

E por nós enamorada

 

O nome dessa pracinha

É Rio Grande do Norte

Lá no Engenho de Dentro

Onde há vida não morte

Crianças, jovens e velhos

Numa convivência forte

 

Passeando com Zezé

Observamos dois pombinhos

Em carícias de amor

Muita meiguice e carinhos

Lembrando nosso passado

E namoro bem juntinhos

 

A praça é lugar mágico

Transmite vida e paixão

E lembra coisas guardadas

No fundo do coração

Lembranças que resgatadas

Provocam grande emoção

 

Voltando à praça amorosa

Lugar de encontros sagrados

Lembramos juras de amor

De eternos namorados

Que perfumavam com flores

Um conviver encantado

 

A praça com suas árvores

Hoje ainda verdejantes

É cúmplice e testemunha

Das juras dos dois amantes

Que após sessenta e um anos

Estão juntos como antes.

 

Na praça à noite ficávamos

Nas noites enluaradas

Luar com céu das estrelas

Como nós enamoradas

A lua com luz brilhante

Deixa praças encantadas

 

Hoje a lua fica triste

Por causa de arranha-céus

Nossa praça ficou escura

Quase não se vê o céu

Não se tem mais segurança

A noite ficou cruel

 

Já não se pode cantar

 Noite é dos namorados

Já não se pode mais ver

O bonito céu estrelado

Por isso estamos de dia

Em nossa praça sentados

sexta-feira, 9 de maio de 2025

A HÉRNIA JÁ SE FOI

 

A HÉRNIA JÁ SE FOI

        Edmilson Martins de Oliveira

28/02/25

 

A moça má  foi embora

E para mim já foi tarde

É senhora sem decência

E foi sem criar alarde

Pois quem não tem razão

Se mostra sempre covarde

                            

Agora fico liberto

Da intrusa companheira

Fico só com a Zezé

Minha amiga verdadeira

Minha parceira dileta

Com fidelidade inteira

 

Companheiras tipo hérnia

Se Deus quiser nunca mais

Pra continuar na luta

Preciso viver em paz

É preciso ter saúde

Para se ser mais capaz