sábado, 26 de abril de 2025

RUA PRIMEIRO DE MARÇO, 66

 

RUA PRIMEIRO DE MARÇO 66

                          Edmílson Martins de Oliveira     

                          Abril/2025

 

Ali, onde hoje funciona o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e onde houve Exposição “Primeiro de Março 66 – Arquitetura de Memórias”, de 29 de junho a 16 de dezembro de 2024, funcionava a Agência Centro – Rio do Banco do Brasil. Dessa arquitetura de memórias faz parte nossa memória política.

 

Trabalhavam na agência centenas de funcionários. No quarto andar estava o gabinete do Presidente do banco, que na época era Nestor Jost. No prédio, se estabeleciam alguns diretores do banco.

 

Aquela agência era um celeiro histórico de militantes sindicais. Algumas das grandes lideranças da categoria bancária trabalharam lá: Aloísio Palhano, (perseguido, morto e sumido pela ditadura), Olímpio de Melo, Humberto Campbel, que fora presidente do sindicato, preso, cassado e demitido do banco em 1964 e vários outros que se destacaram no movimento sindical do Rio de Janeiro.

 

A agência tinha uma longa história de efervescência política sindical e intelectual. Além de lideranças sindicais, vários colegas entraram para vida política partidária e se tornaram parlamentares. Outros se tornaram jornalistas, escritores, advogados, professores, médicos, dentistas, etc.

 

Cheguei àquela agência, em 1972, após nove anos de trabalho na Agência Madureira, de onde saí em dezembro de 1971, para assumir a presidência do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro.

 

Aconteceu que depois de quatro meses na direção do sindicato, após uma atividade intensa  em defesa dos direitos dos trabalhadores, a entidade sofreu a intervenção da ditadura, que estava a serviço dos banqueiros, ficando eu e mais alguns companheiros presos, injustamente, durante quarenta e seis dias.

 

Libertado da prisão, pedi à direção do banco para ser alocado na Agência Centro, onde há algum tempo desejara trabalhar. Eu quisera trabalhar na Agência Centro, justamente pela efervescência política que lá existia. Era um ambiente de amplas participações.

 

Naquele local, respirava-se política. As sementes que antigos companheiros semearam germinavam e davam muitos frutos. Apesar da repressão, o ambiente era de permanente debate político. A herança deixada por combatentes anteriores era forte. Sobreviveu.

 

A partir de 1975, uma nova geração de funcionários surgiu no banco. Eram jovens idealistas, vários oriundos do Movimento Estudantil. E mostraram muito interesse em participar da luta sindical, tendo em vista as mudanças sociais.

 

A ação desses jovens militantes sinalizava o descontentamento da sociedade brasileira com o regime militar, que se impunha pela mentira e força bruta. Os veteranos da luta sindical, muito vigiados pela repressão, viam com bons olhos o surgimento desses novos militantes. Sangue novo. Novas ideias. Novo vigor.

 

E começaram a surgir grupos ideológicos como a então Convergência Socialista, hoje, PSTU. Todos tinham o mesmo objetivo: a luta pelas liberdades democráticas, contra a ditadura. Eu e mais alguns companheiros veteranos tínhamos a preocupação de unir todos esses grupos em torno dos objetivos comuns. Se todos queríamos as liberdades, a defesa dos direitos dos trabalhadores, o fim da ditadura, por que não lutarmos juntos?

Pregávamos a unidade democrática pela conquista da democracia, da sociedade sem classes e sem desigualdades.

 

Recomeçava a luta do povo brasileiro pela construção da sociedade democrática. Na Agência Centro concentravam-se muitos combatentes, antigos e novos. A agência revivia o passado histórico de efervescência política e sindical. A História de grandes líderes e ativistas sindicais que por ali passaram, estimulava as novas gerações de ativistas, mostrando como são importantes os valores da História.

 

Guardo bem vivo na memória aquele momento tão rico e promissor. Havia muitas conversas, debates e análises profundas. Guardo na mente e no coração muitos amigos e companheiros, com quem convivi, em torno da luta por uma sociedade mais justa e democrática. Velhos tempos, com novas propostas de vida social.

 

 

        

 

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