JESUS VAI NASCER EM GAZA

 

 

JESUS VAI NASCER EM GAZA NESTE NATAL

                                Edmílson Martins de Oliveira

                                Dezembro/2023

 

Pedro, o apóstolo, fugia da perseguição aos cristãos, perpetrada pelo imperador Nero, após o incêndio de Roma. Enquanto ele fugia, os cristãos estavam sendo jogados às feras no Coliseu. No caminho, encontra Jesus indo no sentido de Roma. Então pergunta: Aonde vais Senhor (Quo vadis, Dominus)? Jesus responde: “Vou a Roma para ser crucificado outra vez”. Quis dizer que ia se solidarizar com seu povo, que estava sendo assassinado por Nero.

 

Num dia da semana do Natal, Jesus estava no aeroporto, preparando-se para viajar. Alguém o reconheceu e perguntou: Aonde você vai, Jesus? Todos estão se preparando para celebrar o seu nascimento. As pessoas estão comprando bebidas, comidas, enfeitando as casas e convidando familiares e amigos. Nas lojas, nos shoppings, multidões estão comprando presentes para a troca. Dizem que é um gesto de amizade.

 

Tudo em sua homenagem, por causa do seu aniversário. E nos templos, todos ornamentados, muitas celebrações e reflexões em torno da sua vinda. É a maior festa do ano. É a festa que dá mais lucro às empresas. Tudo em seu nome. E você, o centro das festividades, afasta-se, viaja. Para onde?

 

Jesus, encarando seu interlocutor, com voz grave e denunciadora, diz: “Eu nasci numa estrebaria, entre os animais. Para me homenagear, chegaram humildes pastores, encaminhados pelo anjo. Depois, chegaram os três reis magos, orientados pela estrela, louvando-me e entregando presentes significativos.

 

A reunião desses amigos, com meus pais e eu, foi realizada na estrebaria. Não tinha comidas, nem bebidas, nem trocas de presentes. Mas profundas reflexões sobre os objetivos do meu nascimento. Ali, não houve uma festa, mas manifestações de alegria. Todos conscientes do que eu representava para o mundo e para a vida de todos.

 

Isso que fazem em meu nome não está de acordo com a mensagem que eu vim trazer. Eu vim trazer a paz. Como disseram os anjos aos pastores, a Glória de Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade. Mas o mundo está em guerra, a criação do Pai está sendo ultrajada, a dignidade humana continua desrespeitada.

 

Por isso, vou viajar. Vou para Gaza, onde os Herodes de hoje estão exterminando as criancinhas e trucidando também seus pais e avós. Vou nascer lá para me solidarizar com as vítimas desse terrível genocídio. Eu não quero festas, quero compromisso com a paz, com a solidariedade, com a dignidade humana.

 

Você me pergunta aonde eu vou. Diga aos que comem e bebem e trocam presentes em meu nome que estou indo aonde filhos de Deus estão sendo sacrificados, bombardeados e destruídos. Estou indo a Gaza, Coliseu de Israel, onde crianças, jovens e idosos estão sendo massacrados, não por leões, mas por bombas, tanques, metralhadores e balas. Diga-lhes também que não ficaria bem em uma festa com tanta fartura e esbanjamento, enquanto pessoas de rua dormem ao relento e passam fome, vivendo abaixo da linha de pobreza.

 

As festas natalinas deviam ser um grande movimento de protesto contra a guerra, contra as injustiças sociais e de solidariedade ao povo palestino. Herodes, em Belém, cego pelo poder, mandou matar todas crianças até dois anos de idade, porque achava que entre elas Eu, anunciado como Rei, poderia estar.  É dessa maneira que age o governo de Israel, hoje, massacrando todo o povo de Gaza, com o pretexto de exterminar o Hamas. Prática perversa de quem está cego pelo poder e pela sede de dominação”.

 

Essa foi a dura resposta de Jesus. Enquanto no tempo da perseguição do Império Romano, Pedro fugia para não ser preso e morto no Coliseu, Jesus se dirigia a Roma para ficar ao lado do seu povo, que estava sendo jogado às feras. Hoje, Jesus recusa a euforia e farra das festas, supostamente em sua homenagem, e  vai para Gaza, para apoiar o seu povo, colocando-se ao lado dos oprimidos, vítimas dos impérios romanos de hoje.