DOCE MANIA
Edmílson Martins de Oliveira
Novembro/2023
Eu tenho muitas manias. Algumas, consigo desfazer. Mas há uma mania que carrego comigo por toda a vida. A mania de ler. E, ligada a esta, carrego também a mania de escrever. Tenho esses vícios desde os tempos de criança, quando, entre dez e doze anos, fui alfabetizado pelo meu irmão José, o mais velho dos dezessete irmãos.
A alfabetização despertou-me para as primeiras leituras. Descobri em casa os livros intitulados Primeiro, Segundo e Terceiro, adotados no Ensino Primário, adquiridos pelo meu irmão alfabetizador. Esses livros continham textos de diversos autores. Eu lia todos, repetidas vezes.
Eu queria mais leitura para aprender a ler, mas não havia mais livros e não havia onde adquiri-los. Morava na roça, distante da cidade. E não tinha dinheiro para comprá-los. Mas, meu pai gostava muito de histórias em versos de cordel. Quando ia à cidade, comprava os folhetos na feira. Eu lia todas as histórias. Intuitivamente, eu seguia o conselho atribuído ao escritor Monteiro Lobato: "Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê". E para treinar a caligrafia, eu copiava os textos que lia.
Aos doze anos, fui para a cidade de Crato para iniciar o curso primário. Meu irmão Agostinho, que já cursava o Segundo Grau, tinha dois livros: “O homem Perante a Vida”, de Alexis Carrel e “O homem que Calculava”. de Malba Tahan. Os livros eram avançados para minha idade, mas os li com muita voracidade. Foram os primeiros livros que li.
Aos quinze anos de idade, fui tomar conta de uma banca de revistas do meu primo. Lá, me esbaldei. Lia tudo: revistas em quadrinhos; a revista “Seleções”; a revista “Cruzeiro”, onde, além das notícias nacionais, havia textos de escritores famosos. E lia outras revistas.
Depois, já no Terceiro Ano Comercial Básico, o professor de Língua Portuguesa indicou a gramática de Artur de Almeida Torres. Além da parte gramatical, o livro continha biografias e textos de autores famosos. Foram os primeiros contatos com Machado de Assis, José de Alencar, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e outros.
Na minha formatura de Técnico em Contabilidade, em 1959, o professor de Francês, muito culto, foi o paraninfo da turma. No seu discurso, tentando motivar, dizia: “Leiam, leiam, leiam”. E disse que alguém perguntara a ele o que devia ler para aprender a escrever. Ele respondera o seguinte: Leia Machado de Assis. A pessoa perguntara: E depois? Ele respondera: Leia Machado de Assis.
As palavras do paraninfo multiplicaram a minha vontade de ler. Mas em Crato não havia biblioteca e eu não podia comprar livros. Fiquei ansioso e tive que fazer alguma coisa para saciar minha fome de leitura.
Eu conhecia um senhor que tinha uma pequena livraria e papelaria, onde vendia objetos e livros religiosos. Perguntei a ele se tinha algum livro que eu pudesse comprar. Ele me apresentou o livro “Vida de Jesus”, de Plínio Salgado, com 539 páginas. Como não era caro, comprei- o. Fiquei uns dois meses lendo-o, saboreando-o, da primeira à última página. Tenho esse livro até hoje. Foi minha primeira leitura sobre a História completa de Jesus, fundamentada nos quatro Evangelhos adotados pela Igreja Católica.
Apesar de não gostar das posições políticas do autor, que era integralista, gostei muito do livro, porque através dele, cheguei à leitura dos Evangelhos e do Antigo Testamento. Livro bem escrito, de fácil leitura, com fartos recursos de linguagem e bem fundamentado em pesquisas históricas e teológicas. O seu valor linguístico, literário, histórico e religioso contribuiu muito para o meu aprendizado, através dos tempos.
Quando, em 1960, vim para o Rio de Janeiro, logo fui aprovado em concurso do Banco do Brasil e iniciei a seguir o curso de Português/Literatura, na saudosa Universidade Gama Filho. Ali, dei continuidade à minha mania de leituras, por força de exigência das matérias do curso de letras.
Ainda que timidamente, comecei a ler os clássicos das Literaturas Portuguesa e Brasileira. De saída, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Camões, Fernando Pessoa, Gil Vicente, o trovadorismo da Idade Média, etc. Li algumas obras famosas desses autores, que se destacaram na Literatura Portuguesa.
Na Literatura Brasileira, pra começar, os clássicos Machado de Assis, José de Alencar, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Gonçalves Dias, Castro Alves, e outros autores de contos, crônicas e poesias. Na faculdade também tive a acesso a estudos de autores clássicos da Literatura Grega e da Literatura Latina.
Após minha aposentadoria no Banco do Brasil, em 1987, com mais tempo livre, radicalizando a mania de ler, entrei de corpo e alma na leitura, a partir dos clássicos da literatura mundial. Aí vieram Shakespeare, Dante Alighieri, Miguel de Cervantes. Também a intensificação da leitura dos clássicos da Literatura Brasileira e Portuguesa e de clássicos da América Latina.
Além dos clássicos e veteranos escritores, tenho lido os novos, como o poeta Elesbão Joaquim Ribeiro Pinto Novo, a poetisa mineira Márcia Heliane Gomes, a poetisa carioca Sônia Brandão, o escritor documentarista Ivan Alves Filho, crônicas, contos e poemas de Maurício, meu filho, poemas de Rinaldo, meu outro filho, textos deliciosos da Eliane , minha filha. E estou aguardando os textos da minha outra filha, Rosane.
Agora, com 85 anos de idade, não largo essas manias. Não tem mais jeito. Escritores e livros não faltam. São tantos e bons que fica difícil estabelecer prioridades. Estou relendo as obras principais de Machado de Assis, a Divina Comédia de Dante Alighieri, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. E lendo, com destaque, cordéis de muitos poetas populares brasileiros.
Desembestei mesmo. Já tenho uma seleção de vários livros para ler, alguns da coleção “Os pensadores”: Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Montaigne, os Pré-socráticos, Karl Marx, etc. E, claro, tenho como leitura permanente os livros da Bíblia, Antigo e Novo Testamento, minhas fontes de inspiração. De Karl Marx, acabei de ler os Manuscritos Econômicos e filosóficos. Estou lendo também as análises políticas, sociológicas, psicológicas de Erich Fromm.
Com essa mania de ler, tenho desenvolvido a mania de escrever. Aliás, mania que tenho desde criança, quando copiava textos de cordel e outros pequenos textos que lia. Por consequência, já tenho quatro livros publicados: “Bancários: Anos de Resistência-1964/1979; “Removendo Pedras (memórias); “Conversas de Papel” (crônicas); “Livro dos Cordéis (poemas). E vários poemas e crônicas ainda não publicados em livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário