domingo, 13 de agosto de 2023

TIA LIRA PARTIU COM 106 ANOS

 

TIA LIRA PARTIU COM 106 ANOS

 

                 Edmílson Martins de Oliveira

                 27 de julho de 2023

 

Depois de viver 106 anos neste planeta Terra, gloriosa, partiu tia Lira para outra dimensão da vida. Foi pro Céu encontrar seus pais, meus avós e seus irmãos e irmãs, meus tios e tias e todos que outrora partiram.

 

-Por que você demorou tanto, Lira? – perguntaram todos. Ao que ela respondeu:

- Porque o Pai me reservou uma missão que só agora pude concluir. Cumprida a missão, o Pai me chamou, aqui estou.

E a festa de boas-vindas, preparada pra ela, rolou.

 

Foi, na família, a que mais tempo viveu aqui na Terra. Certamente porque o Pai precisou dos bons serviços prestados por ela em benefício do Projeto do Reino. E ela desempenhou sua missão com muita categoria, muita força e coragem.

 

Por isso, na sua partida, lembrando a música Fita Amarela, de Noel Rosa, não cabe “choro, nem vela, mas uma fita amarela, gravada com o nome dela”, para que nunca seja esquecida. Não cabe tristeza, mas só louvação pela graça de viver tanto tempo a serviço da vida.

 

Ainda me lembro das minhas passagens na casa dela, no sítio Lagoa de Vaca, na minha infância e adolescência, quando ia com meus pais à cidade de Crato. Passávamos lá às seis horas da manhã. Ela nos recebia com muito carinho e oferecia sempre café, leite, bolo de milho e tapioca. Estava sempre alegre e cheia de ternura.

 

Criou vários filhos. Foi trabalhadora incansável. Resistiu aos embates da vida e do mundo com muita bravura, tal como a índia “Iracema, a virgem dos lábios de mel, morena que corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua  guerreira tribo, da grande nação Tabajara”. Iracema, por amor, resistiu a tudo e a todos até à morte, conforme o romance do escritor cearense José de Alencar.

 

Tia Lira, sertaneja, antes de tudo uma forte, como ao sertanejo se refere o escritor Euclides da Cunha no livro “Os sertões”, é da estirpe de Bárbara de Alencar, a Dona Bárbara de Crato, líder da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, de 1824, que teve como um dos  líderes principais o Frei Caneca.

 

Tia Lira está entre aquelas mulheres a que se refere Milton Nascimento na canção Maria, Maria: “uma mulher com força, gana, que misturava a dor e alegria e possuía a estranha mania de ter fé na vida”.

 

Ela viveu intensamente, enfrentando dissabores e sofrimentos, mas viveu em busca da felicidade, sem ter vergonha de ser feliz. Mostrou, na sua trajetória, que a vida é isso: é luta, combate, composta de vitórias e derrotas. E mostrou que a vida vivida com amor é bonita, é bonita, é bonita, como diz a canção do Gonzaguinha. E mostrou também, conforme Vinícius de Morais, que “A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”.

 

Quem viveu 106 anos, na verdade, amava a vida e a achava bonita. Viveu a vida. Cumpriu a missão que lhe foi confiada. Parafraseando o apóstolo Paulo, combateu o bom combate, completou a corrida e guardou a fé. Agora, está no Céu, onde lhe está reservada a coroa da justiça divina.

 

A bênção, tia Lira. Fica com Deus e os santos e peça a eles por todos nós, que continuamos por aqui, ainda em peregrinação.

 

 

 

 

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