SINDICATO DOS BANCÁRIOS DO RIO DE JANEIRO
Edmílson Martins
Abril/2022
Cheguei ao Rio de Janeiro em 1960 e logo me tornei bancário. Ou melhor, continuei bancário, pois já o era desde 1958, em Crato-Ceará. No Rio, logo fiz concurso para o Banco de Crédito Real de Minas Gerais e lá fui trabalhar.
Naquele momento, o mundo andava em efervescência. A Revolução Cubana, iniciada por 12 jovens idealistas, liderados por Fidel Castro, derrubando Fulgêncio Batista, governante corrompido, empolgava a juventude, que sonhava com mudanças sociais.
Por outro lado, o papa João XXIII organizava o lançamento do Concílio Vaticano II, que propunha profundas mudanças na Igreja, engajando-a na luta por um mundo justo e fraterno. E havia em povos de todo o mundo um forte desejo de mudanças.
O início da década de 1960 foi marcado pelo idealismo e espírito de luta do povo, que, diante dos acontecimentos mundiais, queria participar das lutas por mudanças sociais e políticas. Havia uma certa rebeldia contra o estado de coisas reinante em todo o universo.
Eu participava de debates na Igreja, onde se refletia, à luz do Evangelho, sobre a conjuntura mundial e a necessidade de mudanças urgentes. Já se tinha noções básicas dos princípios da Doutrina Social da Igreja, princípios que vieram à tona, com muita ênfase, com o lançamento do Concílio Vaticano II.
Sendo bancário, encontrei no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro jovens idealistas e entusiasmados, que organizavam o sindicato como instrumento de luta pelos direitos dos trabalhadores e por transformações sociais.
Eu, que viera para o Rio a fim de ganhar a vida, arrumando um bom emprego, entendi logo que ganhar a vida seria participar da luta por um mundo melhor. Parafraseando Geraldo Vandré, na canção “Disparada”, vi que tudo estava fora de lugar e era preciso viver pra consertar.
Na Igreja, eu aprendia os princípios básicos, que me animavam a participar da luta social. O sindicato era o instrumento de luta. A categoria bancária o campo de batalha. Eu via muitos companheiros empenhados altruisticamente na luta sindical, não somente por reivindicações salariais, mas também pela conquista de uma sociedade mais justa e fraterna, sem desigualdades. Isso me animava a participar com intensidade.
Eu ficava entusiasmado vendo a grande quantidade de militantes, uns mais e outros menos conscientes politicamente. Dentro dos bancos, percebia e participava de discussões calorosas em torno da situação social e política dos trabalhadores, do Brasil e do mundo.
As assembleias para discussão das questões de acordos salariais e condições de trabalho eram amplas. Em certos momentos, reuniam-se em assembleias dez, quinze, até vinte mil bancários, que levavam para os locais de trabalho o calor das discussões das assembleias.
A atuação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro tinha repercussão nacional e ganhava o respeito de sindicatos de trabalhadores de todo o país e de outras organizações sociais. Nas assembleias havia sempre a presença de representantes de organizações atuantes, como a UNE (União Nacional dos Estudantes}, que levavam o apoio de suas categorias.
Tudo isso era muito bonito e construtivo. A categoria bancária do Rio de Janeiro crescia politicamente a passos largos e servia de exemplo para outras categorias de trabalhadores e outras organizações sociais.
Por isso, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro foi um dos mais perseguidos pela ditadura. Com o golpe, o sindicato foi imediatamente ocupado por forças militares, com destituição da diretoria, perseguição e prisão das principais lideranças bancárias.
Mas houve resistência. A militância, aguerrida, continuou exigindo o funcionamento do sindicato. Manteve-o aberto até 1972, quando eu fui presidente. Naquele ano, momento mais violento da ditadura, houve intervenção agressiva no sindicato, com minha prisão e de outros companheiros, com destituição de toda a diretoria. Houve um processo, coordenado pela Polícia Federal, logo arquivado pela Segunda Auditoria da Marinha.
A continuação da resistência à intromissão da ditadura no sindicato e pelas liberdades sindicais e políticas continuou. Depois de sete anos de intervenção, o sindicato foi reaberto e o movimento sindical bancário teve continuidade, enfrentando a ditadura militar, que terminava e a ditadura do poder econômico, que permanece até hoje.
Infelizmente, apesar da resistência, a ditadura implantou o sistema neoliberal, que favorece os banqueiros e o grande capital, em detrimento dos trabalhadores. Com isso, a categoria bancária encolheu. E no Rio de Janeiro, como em todo o país, ficou bastante reduzida.
Mas, quero dizer que, entre vitórias e derrotas, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro participou decisivamente da defesa e construção da democracia, contribuindo para o amadurecimento e crescimento sociais e políticos de muitos companheiros bancários e de outras organizações sociais.
No poema “Mar Português, de Fernando Pessoa, pergunta o poeta: “Valeu a pena”? Ele mesmo responde: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Pois é, o importante na luta não é a vitória imediata, mas o combate incansável, o caminho percorrido, a boa semente semeada. Como disse outro poeta: “A vida é luta renhida. Viver é lutar”. Entre vitórias e derrotas, nada é fracasso. O importante é o bom combate, a guarda da fé e da esperança e a certeza de que a verdade vencerá.
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