segunda-feira, 21 de março de 2022

MEUS AVÓS MATERNOS

 

 

 

MEUS AVÓS MATERNOS

                      Edmílson Martins

                       Março/2022

 

Disse o filósofo grego Epicuro: As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”.

 

Por isso, é com gratidão e alegria e sem medo do futuro que tento resgatar valores da nossa História, homenageando, nesta crônica, com muito respeito e consideração, meus queridos avós maternos, de saudosa memória.

 

Ele se chamava José Matias e ela Rosa Maria. Eu e meus irmãos os chamávamos, carinhosamente, de Pai Matias e Mãe Rosinha. Tiveram quatorze filhos: dez mulheres e quatro homens. Serenos, trabalhadores do campo, sempre cultivaram a vida e a natureza. Criaram os filhos com muita sabedoria e carinho. Pela trajetória de vida e postura humana, foram benquistos e admirados por todos aqueles que os cercavam.

 

Lembro-me de que, entre três e quatro anos de idade, minha mãe me levava pra casa deles, num sítio chamado Olho D´água. O meu irmão João, que vivia com eles, levava-me para ver as roças e eu achava muito bonito o milharal verde, cheio de espigas. Eu o ajudava a colher algumas espigas verdes que levávamos para casa e minha avó, Mãe Rosinha, fazia deliciosa canjica, da qual eu gostava muito.

 

Depois, eles saíram do sítio Olho D’água e foram morar na Serra do Araripe bem distante do lugar onde eu morava, sítio Ipueira, bem no seco sertão. A Serra do Araripe é uma espécie de oásis, onde a chuva é mais frequente, o verde mais presente e o cultivo das plantas é mais seguro e constante. Lá, eles cultivavam, principalmente, mandioca, para a fabricação de farinha.

 

Por causa da distância, o convívio com eles ficou mais difícil. Depois do tempo de criança, lembro-me do Pai Matias quando já era pré-adolescente. Já idoso e doente foi levado por meus pais para o sítio Ipueira, para ter cuidados especiais. A serra onde morava era muito fria e ele era portador de uma artrite reumatóide. Quanto à vó Rosinha, eu a via algumas vezes, quando ia visitá-la na Serra do Araripe e, mais tarde, quando ela, já bem idosa, foi morar na cidade de Missão Velha.

 

Pai Matias e mãe Rosinha, como meu avô paterno, José Bembém, e minha avódrasta, Dasdores, pelo seu exemplo de serenidade, resistência, vida íntegra e produtiva, tiveram influência marcante em minha vida e nas comunidades em que viveram.  Guardo na memória a sua luta incansável, a persistência no trabalho, a esperança. Nunca demonstravam desânimo. Cultivavam a vida com entusiasmo.

 

Lembrando-me deles, lembro os valores históricos do nosso país, dos personagens, explícitos ou anônimos, que, com sua bravura, luta e persistência, contribuíram para a construção de um Brasil justo, livre e democrático.

 

Infelizmente, as forças dominantes, com seus podres poderes, geralmente, tentam jogar na vala do esquecimento os valores e personagens históricos, para que não sirvam de exemplo para as novas gerações.

 

Por isso, a necessidade de evocarmos sempre a luta dos nossos antepassados, dos nossos heróis, das pessoas que plantaram e cultivaram valores permanentes, que não podem ser esquecidos, nem destruídos. Lembrar o passado é valorizar a cultura e a luta dos nossos ancestrais, contribuindo para a construção do presente e do futuro.

 

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