quarta-feira, 12 de maio de 2021

MINHA MÃE

 

 


                  

 

 

 

 

 

           MINHA MÃE                                                                       

                                            Edmílson Martins

                                             09 de maio de 2021

 

Minha mãe. Joana Maria.  Conhecida por Nem. Dona Nem. Partiu para a eternidade em 2003. Tinha noventa e oito anos de caminhada neste planeta. Partiu, não morreu. Como disse Drummond: “Mãe não morre nunca. Mãe, na sua graça, é eternidade”.

 Minha mãe, sertaneja forte, nascida e criada no sertão do Ceará. Teve dezenove filhos. Todos em casa, com parteira, dona “Das dores”, madrasta do meu pai. Dos dezenove filhos, só dois partiram ainda tenros. Rosa, com três anos e outro, que nasceu e logo a seguir partiu.

 Os dezessete que ficaram cresceram sob os cuidados da dona Joana Maria, auxiliada por meu pai. Ninguém morreu. Nove já partiram, quase todos acima de oitenta anos. Só um, Luiz, partiu com menos de oitenta, mas acima de setenta e cinco anos.

 Minha mãe, ao lado de meu pai, muito agitado, era a serenidade em pessoa. Não se afobava. E acalmava meu pai nos momentos de nervosismo. Quando ele se exacerbava, ela somente dizia: “calma, homem”. E ele se acalmava.

 Minha mãe, super-religiosa, muito devota de São Francisco, sempre ia, em romaria, à cidade de Canindé, santuário franciscano, celebrizado pela Música “Estrada de Canindé”, cantada por Luiz Gonzaga: “Ai, ai, que bom/Que bom, que bom que é/Uma estrada e a lua branca/ No sertão de Canindé”. E quando podia, ela ia sempre à festa da padroeira, comemorações do Natal e Semana Santa, na cidade mais próxima.

 Todos os dias, após o jantar, ela juntava a meninada e ensinava as principais orações: Pai Nosso, Ave Maria, Ato de contrição, Salve Rainha, com a reza do terço. E ao final das orações, contava histórias.

 Ainda guardo na memória uma das suas histórias. A do “pássaro azul”, ao qual uma menina afeiçoara-se. Um dia o pássaro fugiu da gaiola, voando pra bem longe. A menina, tristonha, sempre implorava: “Pássaro azul, Pássaro azul, volta”. Um dia, ele voltou e se transformou em um rapaz muito bonito. Era um príncipe encantado.

 Essa história e outras encantavam todos. Autodidata, ela usava essa estratégia das histórias para haver interesse pelas orações. Todos ficavam ansiosos para chegar o dia seguinte, para rezar e ouvir as histórias.

 Além dos cuidados da casa, ela ainda encontrava tempo para costurar. Ainda me lembro dela, sentada na sala, costurando roupas com sua máquina a manivela. Costurava para os filhos e aceitava encomendas. Na sala, enquanto costurava, recebia as amigas para conversar.

 Tranquila, compenetrada, atenciosa, sempre rejeitava as fofocas. Quando alguém tentava contar alguma coisa que cheirava a fofoca, ela simplesmente falava: “deixa isso pra lá, mulher”. E o assunto encerrava-se.

 Ela adorava participar das solenidades da Igreja. E manifestava sempre o desejo de morar em lugar, onde próximo houvesse uma igreja. Meu pai era avesso às solenidades da Igreja, mas sempre a acompanhava. E dizia, brincando: “vou falar com o padre para você morar dentro da igreja”.

 Hoje, ela está lá no Céu, na Igreja, como sempre desejou, participando de todas as solenidades e rezando para todos nós, que continuamos peregrinando aqui na terra, combatendo o bom combate, até completarmos a corrida. 

 


 

 

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