quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NATAL - Rinaldo Martins




Foto de  Jesus cuidado dos pobres
 
NATAL: Deus assume a condição de homem oprimido.

 Rinaldo Martins de Oliveira.

18/12/13

 Sou cristão. Mas posso dizer que as igrejas em geral – principalmente a muitas das suas autoridades - sempre pregaram aos fiéis e disseminaram nas sociedades um Jesus Cristo muito diferente e até oposto ao identificado nos próprios Evangelhos.
No que se refere ao Natal, essa importante passagem bíblica acabou sendo historicamente destituída do seu contexto social e político conforme registrado por Mateus e Lucas. Para o senso comum, Natal - quando entendido no seu sentido religioso - ainda sim é apenas uma sentença teológica abstrata: o “nascimento do Filho de Deus que veio salvar os homens do pecado”.

Não obstante, a narrativa do Natal, na perspectiva dos evangelistas, sem deixar de ser uma interpretação religiosa dos desígnios de Deus para a humanidade, explicita uma realidade concreta a partir da qual esse projeto se insere. Jesus nasce na extrema pobreza, sem teto para se abrigar (cf. Lc 2,6-7) e já perseguido por um detentor do poder político-econômico, o Rei Herodes (Mt 2, 1-18). Isso, nos Evangelhos, não é informação complementar ou incidental, mas sim matéria essencial para o correto entendimento da citada verdade de fé.

Deus, desse modo, não assume só a forma humana, mas a situação específica dos homens vitimados pelo sistema opressor. Ou seja, ao se colocar nessa condição, deixa claro, em primeiro lugar, sua solidariedade ativa aos que sofrem as injustiças estruturais, tornando-se também agora um deles;  em segundo lugar, em decorrência disso, ratifica e aprofunda todo o seu projeto de “salvação da humanidade” a partir da “salvação do oprimido”, como já explicitado no Antigo Testamento (“Eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel”, Cf. Ex 3,7-8).
Já no início da sua vida pública, Jesus diz a que veio: “Para anunciar a Boa Notícia aos pobres; para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” (Lc 4,18-19). Irá confirmar a sua posição rigorosamente ao lado dos vitimados e contrária ao sistema opressor dominante,  o que lhe causará a perseguição, prisão, tortura e morte pelos detentores do poder religioso e político de então.

Por isso, não for o Natal compreendido com esse rigor político com o qual os evangelistas pretendem registrá-lo, então esse importante acontecimento para a fé cristã e também para a fé antropológica dos homens de boa vontade, se reduz a uma mera especulação teológica, servindo – como tem ocorrido – para tão somente legitimar a ideologia de que Deus veio, sem distinção, para todos, opressores e oprimidos.
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2013.
Rinaldo Martins de Oliveira.

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