" Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". (Cora Coralina)
domingo, 16 de dezembro de 2012
HISTÓRIAS DOS ANOS DE CHUMBO
Edmílson Martins - Rio, 2010
Corriam os anos 60. O nosso país, nocauteado pelo golpe militar, estava tonto e cambaleante. Os militares, “perdidos de armas na mão”, não sabiam como conduzir os acontecimentos. Viam inimigos do regime em toda esquina.
“Para se manterem no poder, os golpistas estabeleceram a “caça às bruxas”“. Isso consistia em perseguir, prender, torturar e até matar aqueles que, de uma forma ou de outra, se manifestassem contra a ditadura. Pretexto: “são comunistas e subversivos”. Daí a repressão aos trabalhadores, estudantes, artistas, intelectuais e à cultura em geral.
Nessa euforia repressiva, multiplicaram-se os agentes do regime, os “dedos-duros”, o autoritarismo e os fatos ridículos. Muitos se sentiam com o dever de prender qualquer cidadão que se manifestasse contra a ordem estabelecida. Nesse sentido, surgiram muitas piadas e estórias, umas verdadeiras, outras, fruto da criatividade do povo brasileiro.
Uma dessas estórias conta que um delegado, no Estado do Paraná, acompanhado de soldados armados, chegou a um teatro, onde estava sendo apresentada a peça “Electra”, para prender o autor. Quis saber dos atores onde se encontrava o tal de Sófocles, perigoso comunista, autor da peça subversiva. E não acreditou quando informaram que Sófocles, autor de várias outras obras da Mitologia Grega, viveu 500 anos antes de Cristo, na Grécia. Foi difícil convencer o delegado, que durante algumas horas ameaçava prender todos e não dissessem onde se encontrava o autor.
Outra estória que se contava com muita graça era a do coronel que, discordante do regime, andando à paisana nas ruas, gritava: “Essa revolução é uma merda”! “Essa revolução é uma merda”! Um sargento, ouvindo-o, deu-lhe voz de prisão. Levou-o para a cadeia. Lá ficou preso em uma cela. Quando os oficiais superiores souberam da prisão do coronel, foram lá libertá-lo. Então o coronel, ao passar em frente à cela onde já estava preso o sargento, falou, com ironia: “Não te falei, sargento, que essa revolução é uma merda”?
Outra estória (com feições de verdadeira) foi sobre a música “Apesar de Você”, feita por Chico Buarque, claramente contra a ditadura, no seu momento mais cruel, no governo Médici, início da década de 1970. Durante um ano a música ficou nas paradas de sucesso em todo o Brasil. O povo entendeu logo o recado. As pessoas pilheriavam: “Ué, a censura da ditadura só entendeu depois de um ano”?
Eram estórias engraçadas, irônicas e picantes, que tinham por objetivo desmoralizar a ditadura, usadas como forma de resistência.
Essas estórias corriam de boca em boca e se alastravam pelo país. Eram contadas nas universidades, nos meios sindicais, nos ambientes de trabalho, nos meios populares etc., sem que a censura pudesse impedir. Regime nenhum pode controlar a imaginação e criatividade do povo.
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