ATÉ QUE ENFIM, NO BRASIL
Edmílson Martins de Oliveira
Setembro/2025
Em 1964, tutelados pelos Estados Unidos da América, os militares deram um golpe no Brasil. Derrubaram um presidente legitimamente eleito pelo povo, fecharam as instituições democráticas, perseguiram, prenderam, torturaram e mataram cidadãos brasileiros que lutavam por uma verdadeira democracia.
Em vários outros países da América Latina aconteceu a mesma coisa. Tratava-se de um projeto de dominação, pelas armas, da nação mais belicosa do planeta. Os Estados Unidos queriam, e querem até hoje, as riquezas de outros países e, covardemente, dos países mais desprotegidos.
Entre 1964 e 1975, eu vi companheiros serem perseguidos, presos, torturados e, alguns, mortos e sumidos pela ditadura. Os registros mostram que foram muitos os perseguidos, muitos os presos e torturados e muitos os mortos e desaparecidos políticos.
Os militares no poder, ao lado de civis, poderosos empresários, promoveram o cerceamento das liberdades do povo e montaram um plano cruel de prisões, torturas e assassinatos. Quartéis das forças armadas e presídios foram transformados em masmorras, com carrascos psicopatas torturando e matando a sangue frio.
Eu mesmo fui vítima da brutalidade da ditadura, quando, em 1972, fui preso arbitrária e violentamente, simplesmente porque era presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de janeiro e lutava pelos direitos dos trabalhadores. Jogaram-me no cárcere por 46 dias, com 15 dias sumido. A família, amigos e companheiros, nos primeiros 15 dias, não sabiam onde eu estava.
Depois de 46 dias na prisão, sendo tratado com humilhações e como criminoso, fui libertado, graças às ações de dois advogados competentes, Dr. Tércio Lins e Silva e Dr. Nilo Batista. Contei também com a sensibilidade de um juiz Justo, Dr. Paulo Simões Correa, da Auditoria da Marinha. Esse juiz, examinando as acusações, não viu nada que justificasse minha prisão. Determinou minha libertação, como a de companheiros que comigo estavam presos.
Em países da América Latina, principalmente, na Argentina e no Chile, onde as ditaduras foram muito violentas, militares e outros responsáveis por atrocidades foram julgados e condenados à prisão. No Chile e na Argentina, entre os punidos, havia generais que dirigiram aqueles países com mão de ferro, torturando e matando cidadãos. No Chile, assassinaram o presidente Salvador Allende dentro do palácio do governo.
No Brasil, os golpistas de 1964 não foram punidos e muitos ainda foram beneficiados pela anistia, de 1979, a perseguidos políticos. Aboliram o Estado Democrático de Direito, participaram de organização criminosa, deram um golpe de estado, suprimiram as liberdades, perseguiram, prenderam e mataram cidadãos, destroçando famílias, e entregaram o país a nações estrangeiras e tudo ficou por isso mesmo.
Agora, até que enfim, no Brasil, golpistas são julgados, condenados e presos. São filhotes daqueles de 1964. E são julgados, condenados e presos com ampla liberdade de defesa. Bem diferente de 1964, quando as prisões, julgamentos e condenações foram arbitrárias, com sacrifícios de vidas humanas. Certamente, se esses golpistas tivessem tido êxito em suas tentativas de golpe, muitos cidadãos brasileiros seriam presos e condenados injustamente, como em 1964.
E a novidade nisso tudo é que pela primeira vez na História do Brasil, generais e outros oficiais das forças armadas são julgados, condenados e presos. E por um tribunal civil, o Supremo Tribunal Federal, que tem como função, entre outras, ser guardião da Constituição Federal.
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