quinta-feira, 25 de setembro de 2025

ATÉ QUE ENFIM, NO BRASIL

 

                     ATÉ QUE ENFIM, NO BRASIL

 

                            Edmílson Martins de Oliveira

                            Setembro/2025

 

Em 1964, tutelados pelos Estados Unidos da América, os militares deram um golpe no Brasil. Derrubaram um presidente legitimamente eleito pelo povo, fecharam as instituições democráticas, perseguiram, prenderam, torturaram e mataram cidadãos brasileiros que lutavam por uma verdadeira democracia.

 

Em vários outros países da América Latina aconteceu a mesma coisa. Tratava-se de um projeto de dominação, pelas armas, da nação mais belicosa do planeta. Os Estados Unidos queriam, e querem até hoje, as riquezas de outros países e, covardemente, dos países mais desprotegidos.

 

Entre 1964 e 1975, eu vi companheiros serem perseguidos, presos, torturados e, alguns, mortos e sumidos pela ditadura. Os registros mostram que foram muitos os perseguidos, muitos os presos e torturados e muitos os mortos e desaparecidos políticos.

 

Os militares no poder, ao lado de civis, poderosos empresários, promoveram o cerceamento das liberdades do povo e montaram um plano cruel de prisões, torturas e assassinatos. Quartéis das forças armadas e presídios foram transformados em masmorras, com carrascos psicopatas torturando e matando a sangue frio.

 

Eu mesmo fui vítima da brutalidade da ditadura, quando, em 1972, fui preso arbitrária e violentamente, simplesmente porque era presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de janeiro e lutava pelos direitos dos trabalhadores. Jogaram-me no cárcere por 46 dias, com 15 dias sumido. A família, amigos e companheiros, nos primeiros 15 dias, não sabiam onde eu estava.

 

Depois de 46 dias na prisão, sendo tratado com humilhações e como criminoso, fui libertado, graças às ações de dois advogados competentes, Dr. Tércio Lins e Silva e Dr. Nilo Batista. Contei também com a sensibilidade de um juiz Justo, Dr. Paulo Simões Correa, da Auditoria da Marinha. Esse juiz, examinando as acusações, não viu nada que justificasse minha prisão. Determinou minha libertação, como a de companheiros que comigo estavam presos.

 

Em países da América Latina, principalmente, na Argentina e no Chile, onde as ditaduras foram muito violentas, militares e outros responsáveis por atrocidades foram julgados e condenados à prisão. No Chile e na Argentina, entre os punidos, havia generais que dirigiram aqueles países com mão de ferro, torturando e matando cidadãos. No Chile, assassinaram o presidente Salvador Allende dentro do palácio do governo.

 

No Brasil, os golpistas de 1964 não foram punidos e muitos ainda foram beneficiados pela anistia, de 1979, a perseguidos políticos. Aboliram o Estado Democrático de Direito, participaram de organização criminosa, deram um golpe de estado, suprimiram as liberdades, perseguiram, prenderam e mataram cidadãos, destroçando famílias, e entregaram o país a nações estrangeiras e tudo ficou por isso mesmo.

 

Agora, até que enfim, no Brasil, golpistas são julgados, condenados e presos. São filhotes daqueles de 1964. E são julgados, condenados e presos com ampla liberdade de defesa. Bem diferente de 1964, quando as prisões, julgamentos e condenações foram arbitrárias, com sacrifícios de vidas humanas. Certamente, se esses golpistas tivessem tido êxito em suas tentativas de golpe, muitos cidadãos brasileiros seriam presos e condenados injustamente, como em 1964.

 

E a novidade nisso tudo é que pela primeira vez na História do Brasil, generais e outros oficiais das forças armadas são julgados, condenados e presos. E por um tribunal civil, o Supremo Tribunal Federal, que tem como função, entre outras, ser guardião da Constituição Federal.

 

 

 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

APRENDIZES DE GOLPISTAS

 

 

APRENDIZES DE GOLPISTAS

                                Edmílson Martins de Oliveira

                                 Setembro/2025

Eles trazem nas entranhas o germe do autoritarismo e das ideias envenenadas do golpismo. Os seus pais foram profissionais de golpes, mas não souberam preparar seus filhotes, que na primeira tentativa falharam feio.

 

Os seus pais ficaram cegos por causa da prepotência, sede de poder e submissão a outros interesses. Por isso, não viram a necessidade de passar aos seus fedelhos os ensinamentos de tramas golpistas.

 

Em alguns momentos da nossa História, os anciões golpistas souberam aplicar com competência suas ideias malévolas. Em outros momentos, não. Foram muitas as tentativas de golpe no Brasil por essas forças antidemocráticas e contrárias à participação do povo na condução dos destinos do país.

 

Em 1964, os golpistas estavam preparados, depois de algumas tentativas frustradas. Estavam articulados. Souberam aproveitar as circunstâncias políticas e a forte adesão do império do norte, useiro e vezeiro na preparação e promoção de golpes pelo mundo afora. Deu certo. Submeteram o nosso país aos caprichos econômicos do império do norte, durante vinte e um anos.

 

Mas os seus pirralhos, mal formados, mal informados e incompetentes, tentaram o golpe, mas se ferraram. Não viram que a era do golpismo, da forma como fora perpetrado no passado, passou. O mundo mudou e as estratégias dos golpistas também mudaram.

 

Hoje, eles têm outras formas de dominação. Metamorfosearam-se, aprenderam técnicas sutis. Aproveitam o avanço da tecnologia para conquistarem corações e mentes. Com a força que têm vão corroendo corações, corrompendo mentes e instituições, degenerando as relações e os interesses humanos.

 

Esses filhotes, mal preparados, aprendizes de feiticeiros, meteram os pés pelas mãos, fizeram o feitiço e não souberam como desfazê-lo. Agora estão em palpos de aranha. Em apuros. Tentam negar o que disseram e fizeram, ou tentaram fazer.

 

Revolucionários como Tiradentes, Frei Caneca, padre Bororó, Bárbara de Alencar, Zumbi e outros sustentaram, alguns até à morte, o que disseram e tentaram fazer. Não se acovardaram, tiveram dignidade. Diferentemente desses filhotes, que negam tudo. Acovardam-se. Não têm princípio, nem dignidade, nem moral para serem governantes.

 

Eles são pobres coitados, aves em galinheiros, que se deixam submeter às raposas, que as devoram, quando querem saciar sua fome. Na verdade, são vítimas, mas delinquentes, que merecem algumas chineladas ou palmadas educativas como advertência, para que parem de fazer coisas erradas.

 

Nossas preocupações devem estar centradas além deles, ou seja, naqueles que os corrompem. Há um sistema tenebroso que vive da ganância, do lucro e concentração de riquezas, explorando as pessoas sem piedade. É contra esse sistema perverso que devemos concentrar nossas forças.

 

Esse sistema astucioso, manipulador e diabólico é o responsável pelo assustador esquema de corrupção que envolve nossas instituições e todo o povo brasileiro. Aos poucos, ardilosamente, vai corrompendo a alma da nação, fragilizando o nosso povo, que fica sem condições de reagir.

 

Essas futricas políticas e o suposto combate à corrupção fazem parte do plano de dominação. Enquanto ficamos entretidos com as cenas que aparecem no palco, não vemos o que acontece atrás das cortinas. É lá nos bastidores onde são organizadas as grandes armações, planejados os esquemas de controle da sociedade. É como diz Ney Matogrosso: “É debaixo do pano/ que a gente entra pelo cano sem ninguém ver”.

 

Não vamos cair nessa armadilha. Vamos construir, com muita luta e participação de todo o povo, um projeto de sociedade que garanta igualdade, liberdade fraternidade e felicidade. Só assim podemos nos livrar das futricas políticas, da corrupção e das armações maquiavélicas.