quinta-feira, 19 de junho de 2025

AS CHUVAS NO SERTÃO

 

                                   AS CHUVAS NO SERTÃO

                                 Edmílson Martins de Oliveira

                                       Junho/2025

Lembro-me ainda das chuvas no sertão, no meu tempo de criança. Pouco chovia, mas às vezes  a chuva caía pesada. Rapidinho enchia os açudes. As águas corriam em pequenos riachos, onde as crianças brincavam de fazer pequenas represas.

Quando isso acontecia, era uma festa no sertão. O verde voltava, as plantas nasciam. As águas corriam pelo chão, tornando a terra fértil. Os animais alegravam-se, os pássaros cantavam mais alto. Enfim, toda a natureza ficava feliz.

Às vezes, a gente ia dormia, quando começava a chover. Durante a noite toda chovia. Chuva forte. A gente dormia, embalado pelo barulho da chuva no telhado e das goteiras, que derramavam as águas da chuva no chão. Era uma verdadeira sinfonia.

Cedinho, todo mundo despertava, com a cantarola dos sapos no açude. Cantavam alegres porque o açude estava cheio e eles podiam mergulhar e nadar. Conforme Jackson do Pandeiro, era assim que os sapos cantavam: - Tião/ - Oi!/ - Foste?/ - Fui!/ - Compraste?/ - Comprei!/ - Pagaste?/- Paguei!/ - Me diz quanto foi?/ - Foi quinhentos réis.

Com o cantarolar dos sapos, corríamos para o açude e o via cheinho. As águas saindo pelo sangradouro. Que alegria! Quanta água! Para celebrar a graça caída do Céu, cantávamos juntos com os sapos.

Toda a natureza se encantava: os homens iam para a roça, enxada ou foice ao ombro, assobiando ou cantando, aliados  ao canto dos passarinhos e ao som do ronco dos riachos, cujas águas rolavam, espalhando-se pelo canavial.

As chuvas, graça de Deus, renovavam as esperanças dos sertanejos, que trabalhavam com mais vontade e vigor. Mulheres e homens, em funções específicas, trabalhavam com afinco nas plantações de milho, arroz e feijão.

Enquanto os adultos trabalhavam na roça, ou em casa, as crianças brincavam nos pequenos riachos e nas águas do açude, pescando pequenos peixes, que surgiam com as enchentes.

As chuvas eram o resultado das permanentes preces dirigidas a Deus e aos santos, principalmente, ao senhor São José. Dezenove de março era o dia esperado para a chuva cair. Se chovesse no dia de São José, estaria garantida a safra. A partir desse dia a chuva continuaria.

Eu e outras crianças também fazíamos nossas preces quando gritávamos pelas estradas: “manda Deus chuva pra nós comer arroz”. Feijão e milho eram mais comuns. Arroz era mais escasso, porque dependia de muita chuva.

Tempo bom aquele! Tempo de bonança. Alegria sem igual. Chovendo, o sertanejo deliciava-se, plantando, cultivando e colhendo o produto do seu trabalho. Felicidade geral. A tristeza ia-se embora. O povo e toda a natureza encantavam-se com as chuvas.

 

Daí, aquele trecho da música “A Volta da Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas:  “Rios correndo, as cachoeiras tão zoando/Terra molhada, mato verde, que riqueza/E a asa branca, tarde canta, que beleza/Ai, ai, o povo alegre, mais alegre a natureza”.

E as crianças, envolvidas nesse clima saudável, viviam felizes, sem traumas, ou depressão, como nas grandes cidades. Sem ansiedade e livres dos sistemas que hoje escravizam, impondo o consumo do que não é necessário, cresciam saudáveis, criativas e autônomas.

Essas lembranças me tocam profundamente e me ajudam a pensar na necessidade dos cuidados que todos devem ter com a natureza,  hoje tão violentada, por causa da ganância dos lucros e da sede de poder.

Só com a natureza, o meio ambiente, o planeta, nossa casa comum, bem cuidados e cultivados, poderemos viver em paz e felizes. Isso só será possível, quando vivermos em Harmonia conosco mesmo, com os outros, com a natureza e com o Criador.

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