quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A PRAÇA SÃO VICENTE - CRATO-CE

 

 

 

A PRAÇA SÃO VICENTE - CRATO-CE

 

                       Edmílson Martins de Oliveira

                        Outubro/2023

 

As praças sempre fizeram parte do folclore das cidades. Foram sempre locais de encontro da família, das conversas animadas entre moças e rapazes. Das emoções de adolescentes, meninos e meninas, na troca de olhares enamorados. As praças foram também sempre locais de eventos sociais, festivos e políticos.

 

A magia das praças encantou gerações, que a elas acorriam em busca de emoções, de lazer e de relacionamentos entre os diferentes. Ambiente democrático, as praças ofereciam a sensação de liberdade, de prazer e de alegria. As praças, às vezes, mal iluminadas pela luz elétrica, mas bem iluminadas pela luz romântica da lua, foram, também, para muitas gerações, palcos de encontros enamorados e românticos. “A lua é dos namorados”, diz a canção.

 

Na cidade de Crato-CE, onde vivi minha adolescência e parte da minha juventude, havia quatro praças principais: Praça Siqueira Campos, Praça da Sé, Praça da Estação e Praça São Vicente. Pela sua magia, pelo seu encanto, ficaram presentes na História da cidade e na memória de várias gerações.

 

Hoje, o assunto desta crônica é a Praça São Vicente, que ficava no centro da cidade, em frente à igreja de São Vicente, que, na década de 1950, tinha como pároco o Padre Frederico, um alemão muito engraçado. Do lado da praça, existia A Escola Técnica de Contabilidade da Associação dos Empregados no comércio de Crato, onde estudei e me formei.

 

As aulas começavam às 19 horas. Muitos alunos chegavam antes, para ficar batendo papo na praça. Na hora do recreio, todo mundo descia das salas de aula direto pra praça, para pequenos lanches e bate-papos. A praça ficava repleta de jovens, uns parados em grupos e outros andando em dupla, ao redor dela, todos em animadas conversas.

 

Na praça havia um coreto, onde muitas vezes, nos fins de semana, a rapaziada se reunia para fazer serenata. Sempre tinha alguém com um violão e os demais cantando as músicas românticas da época. Era tudo muito divertido e a vida muito cheia de ternuras. Ainda me lembro dos versos de uma das músicas que cantávamos: “Quem será aquela mulher tão bela/Que vive sempre na janela/Daquele bangalô”?...

 

Aos domingos, missa, às nove horas, na igreja de São Vicente. A rapaziada chegava mais cedo e ficava na praça, conversando até a hora da missa. Quando começava a celebração, ficávamos na final da assembleia, próximo da porta de saída e nos divertíamos com as piadas do padre Frederico. Ele colocava um padre para fazer a celebração e ficava fazendo comentários sobre as partes da missa. Era nesses comentários que saíam as piadas. O pessoal ria e ele dizia que não era pra rir. “Ele faz piadas e não quer que a gente ria”- comentávamos.

 

A praça era também lugar de eventos sociais e políticos. O diretor da Escola Técnica de Comércio, quando se candidatava a prefeito, ali realizava seus comícios. Era uma festa democrática, que reunia uma grande quantidade de pessoas. Foi ali que comecei a participar das atividades políticas.

 

As festas populares promovidas pela igreja de São Vicente também eram realizadas na praça, com barraquinhas, comidas, bebidas, leilões, danças folclóricas etc., sempre com o padre Frederico à frente, fazendo gracejos e conversando com todos.

 

Ao lado dos comícios, das atividades festivas e de lazer na praça São Vicente, houve também atividades políticas de protesto contra o descaso da prefeitura, que dela não cuidava. Um dia, um grupo de jovens ativistas, em protesto contra a falta de iluminação por várias semanas e meses, decidiu quebrar todos o globos das lâmpadas apagadas na praça. O fato teve uma forte repercussão na cidade, levando a prefeitura a tomar providências.

 

Enfim, a Praça São Vicente, como outras praças, deixou seu nome na História. Merece ser lembrada e homenageada. Para mim, ficou sendo a praça da igreja de São Vicente, a praça da escola onde estudei, a praça dos papos e serenatas ao luar. Ficou gravada na minha memória e no meu coração.

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