JOVEM EXCLUÍDO, QUASE ENLOUQUECIDO
Edmílson Martins de Oliveira
Fevereiro/2023
Domingo, 12 de fevereiro de 2023, Engenho de Dentro, Rua Pernambuco, oito horas da manhã. Eu e a Maria José estávamos na calçada, esperando minha filha Eliane partir para Botafogo, em um táxi rio. A porta do carro ainda aberta.
De repente, surge um jovem, de, mais ou menos vinte e dois anos. Agitado, gritando, olhos vermelhos e esbugalhados. Parecia enlouquecido. Eliane fechou a porta do táxi e ele ainda bateu na porta, querendo pedir alguma coisa. O carro partiu amedrontado. Eu e Maria José entramos, também amedrontados, fechamos o portão do jardim.
O rapaz ficou na calçada, esbravejando, xingando, revoltado, dizendo que não queria roubar. Perguntei qual era o problema dele. Disse que era catador, ia pro ferro velho, que estava fechado. Queria ir para um outro bairro, depois de Madureira, precisava do dinheiro da passagem.
Ficou na calçada esperando. Com o portão trancado, entrei em casa para pegar o dinheiro da passagem. Quando voltei, ele estava deitado no meio-fio, de papo pro ar, braços abertos. Perguntei por que estava deitado. Disse-me que estava conversando com o pai. Certamente, pedindo socorro.
- Onde está seu pai? – perguntei. Ele disse que estava no Espírito Santo. Era de lá.
- Você tem família aqui? – indaguei. Disse que não. Estava sozinho na rua, não conhecia ninguém, estava desesperado.
Dei-lhe o dinheiro da passagem, ele agradeceu e saiu, cabisbaixo, demonstrando tristeza e desalento, indo pegar o saco de produtos apanhados no lixo, para levar para o ferro velho, onde ia vender para adquirir alguns trocados.
Se o rapaz estava falando a verdade, não sei. Neste país, já, infelizmente, se acostumando com mentiras e já assimilando uma cultura de inverdades, como se fossem coisas certas, a gente fica confuso, sem saber ao certo quando é verdade ou mentira aquilo que falam. A que ponto chegamos!
O fato é que o jovem, com a idade do meu neto, perambula por aí, como milhares de outros jovens, sem perspectiva de vida, sem saber o que fazer, sem condições de existência, sem direito à ambição, aos direitos fundamentais da pessoa humana.
Um jovem, como tantos outros, marginalizado, excluído da vida por um sistema capitalista perverso, que despreza o ser humano, que prioriza o lucro, o acúmulo de riquezas, criando desigualdades, sofrimento e mortes.
Os bens da terra foram criados por Deus em benefício de todos, sem exclusão, não em benefício de uma minoria privilegiada. A defesa da justa distribuição desses bens é um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, que os donos do capital, sedentos de lucro e poder, desprezam, com muita perversidade.
O jovem, de olhos tristes, esbugalhados e vermelhos recebeu o dinheiro da passagem e saiu, cabisbaixo, demonstrando humilhação, sentindo-se um traste, inferiorizado. Tão envergonhado, nem olhou pra mim. Afastou-se com passos trôpegos e desorientados.
Fiquei pensando: que tristeza! Que mundo insano! Até quando se sustentará um mundo assim? Até quando a sociedade continuará fazendo vista grossa sobre situação tão repugnante? Esses contrastes, umas pessoas com fartura em excesso e outras, muitas, sem nada, são as causas da insegurança, da violência, do medo, do mal estar sociais. Isso tem que acabar. Ou construiremos uma sociedade com igualdades sociais, ou nunca teremos paz,