COLUNA E CALCANHAR
Edmílson Martins
Outubro 2021
De repente, uma dorzinha nos quadris e perna direita e no calcanhar esquerdo. Não dei muita importância. Mas a dor foi aumentando, aumentando, de forma que num dado momento, não mais conseguia andar, nem mesmo ficar em pé.
Oxente! Pensei com meus botões.– Que é isso? Parece velhice. Eu tenho apenas 83 anos! Não estou entendendo. Na minha família, as pessoas costumam passar dos 90 anos, numa boa. Sem artroses, artrites, ou coisas parecidas.
Minha mãe viveu neste planeta 98 anos, muito alegre e fagueira. E gerou, com meu pai, que viveu 86 anos, 19 filhos. Tenho três tias vivas, com mais de 90 anos, sendo uma, tia Lira, com 105 anos. E se diz muito esperta, faz de tudo em casa, não se entrega.
Eu sou o quarto, na ordem decrescente dos oito irmãos vivos, na terra. Éramos dezenove. Onze já partiram. Apenas duas irmãzinhas partiram com tenra idade. Os outros, quase todos, sempre acima de 85 anos.
Então, que história é essa de dores, por causa da idade? Com 83 anos, estou em plena juventude, com grandes projetos a desenvolver. Nada de dores lombares, artrites, artroses, ou desgastes da coluna vertebral.
Em todo caso, meus filhos me levaram à clínica ortopédica para uma consulta. A médica, depois de várias indagações, requisitou uma série de exames: ultrassonografia, radiografia e outros.
Fui a uma sala, depois a outra sala e depois ao terceiro andar do prédio para um exame de nome esquisito: eletroneuromiografia. Nunca levei tanto choque.
Finalizados os exames, voltei ao consultório com os resultados. Após análise detalhada, disse a médica:
- Você tem um probleminha na coluna vertebral e algumas tendinites, sendo a principal no calcanhar, no tendão.
Ah O calcanhar! pensei logo na tragédia grega, no calcanhar de Aquiles, filho do rei Peleu e da deusa Tétis. Aquiles morreu, ferido no calcanhar, única parte vulnerável do seu corpo. Fiquei preocupado. Meu Deus! lesado logo no calcanhar?
Perguntei à médica se a situação era grave. Ela respondeu com muita delicadeza:
- Nada tão grave, mas é preciso tratar para não haver progressão. E fez várias recomendações, receitando remédios e fisioterapias.
Aí, me lembrei da tia Lira, 105 anos. Quando lhe perguntaram se ela ia ao médico, respondeu:
- Eu! Ir a médico pra ele me arrumar doença? De jeito nenhum...
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